Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BART 2917 (1970/72) > Convívio no bar de sargentos, em meados 1970, ou em 30 de novemhro de 1970, no 38º aniversário do 1º sargento Fernando Brito; ou ainda, festa de Natal de 1970?
Inicialmente inclinava-me para a hipótese de ter sido em "meados de 1970", ainda estávamos em "lua de mel", os "velhinhos" da CCAÇ 12, e os "piras" do BART 2917, aqui representados, à direita, pelo 2º Comandante, maj art José António Anjos de Carvalho, sempre fardado, hoje cor art ref, e à esquerda, pelo 1º srgt art Fernando Brito (1932-2014)...
As senhoras: à direita do Brito, a Helena, mulher do alf mil at inf António Manuel Carlão, do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (o casal vive hoje em Fão, Esposende); à direita do Anjos de Carvalho, a esposa do major art, Jorge Vieira de Barros e Bastos (mais familiarmente conhecido por Bê Bê, era o major de operações do comando do BART 2917; hoje cor art ref); e à sua direita, Isabel, a esposa do José Alberto Coelho, o fur mil enf da CCS/BART 2917 ) (o casal vive hoje em Beja).
Mas tudo indica que se trata da festa de aniversário do 1º Brito, em 30/11/1970, apesar de, nessa altura, as relações com o major art Anjos de Carvalho, a três meses de acabar a nossa comissão, serem muito crispadas e tensas... Dias antes, tínhamos sofrido em brutal revés, no subsetor do Xime, com 6 mortos e 9 feridos graves (Op Abencerragem Candente)...
A CCAÇ 12, como companhia de intervenção, africana, estava adida ao comando do setor L1. Inclino-me mais para a festa de anos do 1º Brito, que era de facto um "senhor 1º sargento", e que mantinha com a malta da CCAÇ 12 uma "relação muito especial"... Se se reparar bem na imagem, o Brito ostenta uma chucha, ao pescoço, sinal de que fazia anos... 38 anos!... A festa não poderá, pois, ter ocorrido nos primeiros tempos, após a chegada do BART 2917 a Bambadinca, que veio render o BCAÇ 2852 (1968/70), em finais de maio de 1970...
Na altura, estas eram as três senhoras, brancas, que existiam no quartel de Bambadinca (, não contando com a senhora professora do ensino primário, cabo-verdiana, que raramente era vista, mas que vivia dentro das nossas instalações militares, no edifício da escola, a dona Violete da Silva Aires). E não havia miúdos, a não ser os da escola e da população local... Os militares guineenses (da CCAÇ 12 e outras subunidades, como os Pel Caç Nat que estiveram connosco) em geral eram casados e tinham consigo as famílias mas fora do arame farpado, vivendo em Bambadinca ou em Bambadincazinho.
Foto (e legenda): © Vitor Raposeiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Coimbra > 2012 > O Fernando Brito, major art ref, (1932-2014) e o neto, Claúdio Brito, finalista da Universidade de Coimbra, ano letivo de 2011/2012 (Cortesia do Cláudio Brito, da sua página no Facebook).
Foto (e legenda): © Cláudio Brito (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
As senhoras: à direita do Brito, a Helena, mulher do alf mil at inf António Manuel Carlão, do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (o casal vive hoje em Fão, Esposende); à direita do Anjos de Carvalho, a esposa do major art, Jorge Vieira de Barros e Bastos (mais familiarmente conhecido por Bê Bê, era o major de operações do comando do BART 2917; hoje cor art ref); e à sua direita, Isabel, a esposa do José Alberto Coelho, o fur mil enf da CCS/BART 2917 ) (o casal vive hoje em Beja).
Mas tudo indica que se trata da festa de aniversário do 1º Brito, em 30/11/1970, apesar de, nessa altura, as relações com o major art Anjos de Carvalho, a três meses de acabar a nossa comissão, serem muito crispadas e tensas... Dias antes, tínhamos sofrido em brutal revés, no subsetor do Xime, com 6 mortos e 9 feridos graves (Op Abencerragem Candente)...
A CCAÇ 12, como companhia de intervenção, africana, estava adida ao comando do setor L1. Inclino-me mais para a festa de anos do 1º Brito, que era de facto um "senhor 1º sargento", e que mantinha com a malta da CCAÇ 12 uma "relação muito especial"... Se se reparar bem na imagem, o Brito ostenta uma chucha, ao pescoço, sinal de que fazia anos... 38 anos!... A festa não poderá, pois, ter ocorrido nos primeiros tempos, após a chegada do BART 2917 a Bambadinca, que veio render o BCAÇ 2852 (1968/70), em finais de maio de 1970...
Na altura, estas eram as três senhoras, brancas, que existiam no quartel de Bambadinca (, não contando com a senhora professora do ensino primário, cabo-verdiana, que raramente era vista, mas que vivia dentro das nossas instalações militares, no edifício da escola, a dona Violete da Silva Aires). E não havia miúdos, a não ser os da escola e da população local... Os militares guineenses (da CCAÇ 12 e outras subunidades, como os Pel Caç Nat que estiveram connosco) em geral eram casados e tinham consigo as famílias mas fora do arame farpado, vivendo em Bambadinca ou em Bambadincazinho.
Foto (e legenda): © Vitor Raposeiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Coimbra > 2012 > O Fernando Brito, major art ref, (1932-2014) e o neto, Claúdio Brito, finalista da Universidade de Coimbra, ano letivo de 2011/2012 (Cortesia do Cláudio Brito, da sua página no Facebook).
Foto (e legenda): © Cláudio Brito (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Fado "Brito... que és militar!"(*)
Letra: Tony Levezinho
[Adapt: Fado "Povo que lavas no rio"
[Música: Fado Victória, composição original de Joaquim Campos (1911-1981)
Letra: Pedro Homem de Melo
Criação de Amália Rodrigues, 1961] [Uma interpretação de Amália pode ser aqui ouvida, no YouTube -ficheio apenas áudio]
Refrão
Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.
Fui ver à secretaria,
Por ouvir a gritaria
Que fazia confusão:
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão!
Filho da puta e sacana,
É o que eles te chamam,
Tenho a mesma condição:
- Mamadús, eu vos adoro,
Se for preciso eu choro,
Mas Patacão... é que não!
Refrão
Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.
[Recolha: Gabriel Gonçalves / Revisão, fixação de texto: LG]
1. Este fado faz parte do Cancioneiro de Bambadinca, logo, deve integrar o Cancioneiro da Nossa Guerra (**).
Quem o salvou, do limbo do esquecimento, foi o Gabriel Gonçalves, o 1º Cabo Cripto da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Eu reconheci a letra e o autor da letra, o nosso querido amigo Tony Levezinho.
Quem o salvou, do limbo do esquecimento, foi o Gabriel Gonçalves, o 1º Cabo Cripto da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Eu reconheci a letra e o autor da letra, o nosso querido amigo Tony Levezinho.
Quanto ao homenageado, era o Fernando Brito, o 1º Sargento da CCS/BART 2917, que chegou a Bambadinca, para tomar conta do Sector L1, em finais de maio de 1970, quando a malta da CCAÇ 12 já pertencia à velhice, com um ano de porrada e outro batalhão em cima (CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)..
O Fernando Brito (1932-2014) era um senhor, que se impunha não só pelo seu físico e pelo verbo fácil como pela tarimba e pela autoridade... Naturalmente, suscitava amores e ódios, devido à sua personalidade excessiva... Era sobretudo um grande sedutor...
Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia gala de referir-se à esposa, de ascendência ou de apelido russo, Natacha.
Fazia questão de sublinhar, perante os reles infantes, que pertencia à orgulhosa arma de artilharia. Quando ouvíamos um disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele:
- Lá se foi mais um fato completo, com gravata se seda e tudo!... (Era o preço de uma granada de obus 10.5; em Bambadinca, nesse tempo, não havia artilharia)...
Não sei porquê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso Primeiro Brito, o chefão dos periquitos da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).
A nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12 tinha deixado cedo de ter 1º sargento (O Fragata, de cavalaria, foi tirar o curso de oficial, na Escola Central de Sargentos, em Águeda), sendo essas funções desempenhadas interionamente pelo nosso querido 2º sargento inf José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande compincha, grande amigo... [Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3]...
Qualquer deles, o Brito e o Piça, alinhavam nas nossas noitadas, loucas, de Bambadinca. O Brito tinha, além disso, um "tabanca" (leia-se: uma morança, dentro do perímetro de arame farpado do quartel, mas na parte civil, junto aos correios, escola, casa do chefe de posto)... Era um refúgio, para nós... Íamos lá beber uns copos... Ele e o 2º comandante, o Anjos de Carvalho, não se coziam lá muito bem (, segundo ele me confirmou, mais tarde, ainda em vida)... Nós, por nosso lado, detestávamos o "militarista" do 2º comandante, o senhor professor da Academia Militar Anjos de Carvalho... Mas a "tabanca do Brito" provocava algumas ciumeiras, já que nem todos tinham acesso ao "sítio"... Só os amigos ou os que ele considerava como tais...
Há 43 anos, desde março de 1971, que deixei de ter notícias dele, do nosso "primeiro Brito"... Acabei por ter a felicidade de ainda o apanhar com vida, a um mês de ele morrer, subitamente, antes de completar os 82 anos... Falámos longamente ao telefone... Vivia em Coimbra, já viúvo. Era major, reformado. Fez ainda uma segunda comissão no CTIG, como 1º sargento [1ª CCAÇ / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74)], antes de frequentar a extinta Escola Central de Sargentos, em Águeda.
Morreu em 19 de fevereiro de 2014. Era (é) o nosso grã-tabanqueiro nº 641. O seu neto Cláudio Brito honra-nos também com a sua presença na Tabanca Grande, com o nº 697.
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Notas do editor:
O Fernando Brito (1932-2014) era um senhor, que se impunha não só pelo seu físico e pelo verbo fácil como pela tarimba e pela autoridade... Naturalmente, suscitava amores e ódios, devido à sua personalidade excessiva... Era sobretudo um grande sedutor...
Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia gala de referir-se à esposa, de ascendência ou de apelido russo, Natacha.
Fazia questão de sublinhar, perante os reles infantes, que pertencia à orgulhosa arma de artilharia. Quando ouvíamos um disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele:
- Lá se foi mais um fato completo, com gravata se seda e tudo!... (Era o preço de uma granada de obus 10.5; em Bambadinca, nesse tempo, não havia artilharia)...
Não sei porquê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso Primeiro Brito, o chefão dos periquitos da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).
A nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12 tinha deixado cedo de ter 1º sargento (O Fragata, de cavalaria, foi tirar o curso de oficial, na Escola Central de Sargentos, em Águeda), sendo essas funções desempenhadas interionamente pelo nosso querido 2º sargento inf José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande compincha, grande amigo... [Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3]...
Qualquer deles, o Brito e o Piça, alinhavam nas nossas noitadas, loucas, de Bambadinca. O Brito tinha, além disso, um "tabanca" (leia-se: uma morança, dentro do perímetro de arame farpado do quartel, mas na parte civil, junto aos correios, escola, casa do chefe de posto)... Era um refúgio, para nós... Íamos lá beber uns copos... Ele e o 2º comandante, o Anjos de Carvalho, não se coziam lá muito bem (, segundo ele me confirmou, mais tarde, ainda em vida)... Nós, por nosso lado, detestávamos o "militarista" do 2º comandante, o senhor professor da Academia Militar Anjos de Carvalho... Mas a "tabanca do Brito" provocava algumas ciumeiras, já que nem todos tinham acesso ao "sítio"... Só os amigos ou os que ele considerava como tais...
Há 43 anos, desde março de 1971, que deixei de ter notícias dele, do nosso "primeiro Brito"... Acabei por ter a felicidade de ainda o apanhar com vida, a um mês de ele morrer, subitamente, antes de completar os 82 anos... Falámos longamente ao telefone... Vivia em Coimbra, já viúvo. Era major, reformado. Fez ainda uma segunda comissão no CTIG, como 1º sargento [1ª CCAÇ / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74)], antes de frequentar a extinta Escola Central de Sargentos, em Águeda.
Morreu em 19 de fevereiro de 2014. Era (é) o nosso grã-tabanqueiro nº 641. O seu neto Cláudio Brito honra-nos também com a sua presença na Tabanca Grande, com o nº 697.
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(*) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
(**) Postes anteriores da série:
16 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19020: O Cancioneiro da Nossa Guerra (10): O fado "Tudo isto é tropa" (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)
14 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18921: O Cancioneiro da Nossa Guerra (9): Os bravos de Bambadinca
29 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18692: O Cancioneiro da Nossa Guerra (8): A Balada de Béli (recolha de José Loureiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 1790 / BCAÇ 1933, Madina do Boé e Béli, 1967/69)
19 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18537: O Cancioneiro da Nossa Guerra (7): "Marcha de Regresso" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)
16 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18528: O Cancioneiro da Nossa Guerra (6): "Os Homens não Morrem" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)
28 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O Cancioneiro da Nossa Guerra (5): O hino dos "Unidos de Mampatá", a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)
27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O cancioneiro da nossa guerra (4): "o tango dos periquitos" ou o hino da revolta da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) (Silvino Oliveira / José Colaço)
27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)
8 de novembro de 2017> Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha
30 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17811: O cancioneiro da nossa guerra (1): "Asssim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude"... 4 dezenas de quadras populares, do açoriano Eduardo Manuel Simas, ex-sold at inf, CCAÇ 4740, Cufar
(**) Postes anteriores da série:
16 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19020: O Cancioneiro da Nossa Guerra (10): O fado "Tudo isto é tropa" (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)
16 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18528: O Cancioneiro da Nossa Guerra (6): "Os Homens não Morrem" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)
28 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O Cancioneiro da Nossa Guerra (5): O hino dos "Unidos de Mampatá", a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)
27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O cancioneiro da nossa guerra (4): "o tango dos periquitos" ou o hino da revolta da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) (Silvino Oliveira / José Colaço)
27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)
8 de novembro de 2017> Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha
30 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17811: O cancioneiro da nossa guerra (1): "Asssim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude"... 4 dezenas de quadras populares, do açoriano Eduardo Manuel Simas, ex-sold at inf, CCAÇ 4740, Cufar
11 comentários:
Foi no aniversário do Brito, sim senhor. Eram 30 do mês de Novembro de 1970 e eu estava há menos de uma semana em Bambadinca, chegadinho de fresco de Lisboa, após curta estadia em Bissau. Obviamente que também eu (pese embora a minha condição de simples pira)estive presente na festa do nosso primeiro, que decorreu, pela noite dentro, na concorrida, mas não tão animada quanto seria de esperar, messe de sargentos - quisera a má sorte que o brilho pretendido para a festa de uma das mais fortes personalidades do baluarte de Bambadinca tivesse sido ofuscado pela maldita abencerragem que dias antes se abatera sobre quem por aquelas bandas andava na paz do senhor.
Mário Migueis
Já agora...
Em 30 de Novembro de 1970 tinha eu 21 dias de Guiné.
E estava quase a partir para Piche, com passagem (paragem) por Nova Lamego, designação à data de Gabú.
Mais tarde, em Abril de 1971 é que passei e parei em Bambadinca onde estive com o Vítor Raposeiro, autor da foto, antes de chegar ao Xime e "apanhar" a Bor para Bissau.
Como escreve o nosso jubilado Briote "outras vidas"!...
Hélder Sousa
Caro Hélder:
Pelos vistos, foi mesmo por um preguinho que não nos encontrámos em Bambadinca - devo ter terminado o estágio e regressado a Bissau em finais de Fevereiro ou princípios de Março/71. Quanto ao Vitor Raposeiro, que lá conheci, e considerando que ainda o apanhaste em Abril, a que unidade é que ele realmente pertencia?!... Não era à mesma CCAÇ (12) do Luís Graça, do Levezinho, do Carlão, do Humberto, do Almeida, do Branquinho e do Roda & Ca?!... Se sim, sabes dizer-me em que altura é que esta malta regressou à metrópole?...
Uma vez que, segundo creio, pertenceste ao Centro de Escuta, aproveito o ensejo para te perguntar quem é que chefiava o Centro na altura. É que eu, já instalado no Saltinho, colaborei, com informações para o Centro, no esforço de pesquisa desenvolvido além fronteiras, tendo até - pasme-se! - recebido os parabéns no Com Chefe pelo frutuoso trabalho realizado - gaba-te, cesta... Os parabéns chegaram na pessoa do capitão que estaria à frente do Centro, cujo nome esqueci completamente. Saberás dizer-me algo sobre a personalidade em apreço?!...
Obrigado e um grande abraço do
Mário Migueis
Mário, satisfazendo a tua curiosidade:
O Vitor Raposeiro era Fur Mil, Radiotelegrafista, STM, de rendição individual, que passou por Aldeia Formosa, Bambadinca, Bula e Bissau, 1970/72; na parte final da sua comissão, viria a integrar o conjunto musical das Forças Armadas, que costumava acompanhar as visitas da Cilinha. Saiu de Bambadinca ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Em 2011, ainda fazia o gosto ao dedo, tocando guitarra eléctrica no conjunto 4 Sixties, de Setúbal. O Hélder Sousa conhece-o.
Tem 12 referências no nosso blogue. Tens aqui fotos dele:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Vitor%20Raposeiro
Mário, é de facto o jantar de aniversário do "nosso primeiro Brito", em 30 de novembro de 1970... Há mais fotos deste evento, do álbum fotográfico do Vitor Raposeiro... Não ideia, felizmente, de ter estado presente... Reconheço um ou outro camarada meu, da CCAÇ 12, entre os convivas... Estás lembrado: quatro dias antes, eu tinha insultado, na parada, o comando do BART 2917. Os meus insultos iam direitinhos para o 2º comandante... Podia ter apanhado uma porrada... Não o fizeram, ainda hoje me interrogo porquê...
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(...) Em 26 de Novembro de 1970, a escassos três meses da minha rendição individual e do meu regresso a casa, mandei impunemente à merda toda a hierarquia militar do aquartelamento de Bambadinca, do tenente-coronel aos majores e capitães, depois de termos sofrido um dos nossos piores reveses militares, a CCAÇ 12 e a CART 2714 [Companhia de Artilharia aquartelada no Xime] , no decurso da Operação Abencerragem Candente: seis mortos e nove feridos graves...
Tudo aconteceu por grave erro que na altura imputámos ao major, segundo comandante do BART 2917, um militarão de artilharia que não gozava da simpatia dos alferes e furriéis milicianos. Abreviando razões, o comandante da força, que integrava a fatídica Operação Abencerragem Candente [vd. o meu post de 25 de Abril de 2005], obrigara-nos a repetir o percurso de véspera (25 de Novembro de 1970), a caminho da Ponta do Inglês (Região do Xime, na confluência dos Rios Geba e Corubal)... Contra as mais elementares regras de segurança militar! É que na Guiné bichos e homens sabiam que nunca se pisava duas vezes o mesmo trilho e nunca se bebia duas vezes a água do mesmo rio...
Ainda recordo, com nitidez, as palavras que dirigi, depois do regresso a Bambadinca, na parada, alto e em bom som, frente às instalações do comando do BART [Batalhão de Artilharia] 2917, utilizando a mesma linguagem de caserna com que me fizeram soldado à força "contra a minha própria guerra" (Manuel Alegre): "Assassinos, criminosos de guerra, limpo o cu às folhas do RDM [ Regulamento de Disciplina Militar]"...
Podiam ter-me mandado prender por insubordinação, por grave infracção ao RDM, por crime de lesa-pátria... Não o fizeram, não tiveram coragem de o fazer: pediram apenas ao médico (miliciano) que me desse um Valium 10; o meu capitão, por seu turno, achava que eu andava muito cansado... Diagnóstico: distúrbio emocional, muito frequente na época entre as NT (nossas tropas). " (...)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2004/04/guine-6971-ii-excertos-do-diario-de-um.html
Vou reeditar estas fotos, a preto e branco, do Vitor Raposeiro... LG
Luís:
Obrigado pelo esclarecimento. Lembro-me perfeitamente do Vitor Raposeiro na minha passagem por Bambadinca, mas já não fazia ideia de qual era o papel dele na nossa guerra e, muito menos, das suas invejáveis competências musicais - a única figura de Bambadinca associada à guitarra (ou viola) de que me lembro era o nosso estimado Vacas de Carvalho, grande animador de algumas noitadas na messe de sargentos.
Um grande abraço,
Mário Migueis
Luís:
Quanto ao teu grito de revolta face à incompetência e irresponsabilidade eventualmente demonstrados pelo comando do coiso no tocante à operação consabida, quero dizer-te que tomei conhecimento ainda em Bissau da gravidade do ocorrido (as n/baixas)no próprio dia da emboscada, pois logo constaram no Com Chefe certos pormenores nada abonatórios para quem conduziu a operação - aliás, o puxão de orelhas do Spínola não se faria esperar. Cheguei a Bambadinca para o meu estágio de informações precisamente no dia seguinte à emboscada (ainda estavam dois dos mortos na capelinha), tendo podido acompanhar o clima de tensão que se gerou no próprio dia e nos dias que se seguiram no seio dos quadros da CCAÇ 12, embora nenhum destes, senão tu, tenha chegado ao insulto direto dos supostamente responsáveis morais pelo sucedido. Na minha opinião, só não levaste pela medida grande porque estes preferiram abafar e engolir os insultos a correrem o risco de novas chamadas de atenção para quem, lá do alto, lhes tinha, há muito, os olhos em cima. Só te digo que, dos escassos três meses que passei em Bambadinca, muito levei que contar.
Mais um abraço,
Mário Migueis
Olá Mário
Quanto ao Vítor Raposeiro, o Luís já disse quase tudo.
Posso acrescentar que era de um Curso de TSF anterior ao meu, o mesmo do Torres Couto (que ficou pela Secretaria) e que aqui por Setúbal, no tempo das alcunhas, o Vítor era conhecido por "Vítor Caniços", numa referência às suas pernas fininhas, segundo me disseram, pois não vivia cá nesse tempo.
Quando passei por Bambadinca, isso foi em 15 de Abril, e foi lá que ele me disse que no dia anterior, portanto a 14 de Abril de 1971, tinha havido um forte ataque a Catió e do qual resultou, entre outros danos, ferimentos do Furriel Trms TSF Nelson Batalha, do meu Curso e com o qual joguei às moedas para saber quem iria para Piche (fui eu) ou para Catió (foi ele). Esses ferimentos levaram a evacuação para o Hospital em Bissau. Mais tarde, por "culpa" dele vim trabalhar e viver em Setúbal, foi meu padrinho de casamento da cerimónia religiosa ocorrida 26 anos depois da civil e entretanto já faleceu.
Em relação, ainda, ao Vítor Raposeiro, pois já estive com ele algumas vezes.
No que diz respeito ao Centro de Escuta, de facto fui cooptado para lá no final de Maio de 1971, quando dei por terminada a missão em Piche, com uma "entrevista" caricata com o Comandante da Companhia de Transmissões, o Sr. Capitão Cordeiro (não me recordo neste momento do nome próprio, julgo ser José), e por lá desempenhei funções até ao último dia da comissão.
Nessa altura ainda não tinham sido criadas as instalações do Agrupamento de Transmissões e o Centro de Escuta (às vezes pomposamente designado por "guerra electrónica") estava na dependência directa do Cmdt. da Companhia de Transmissões.
Alguns anos mais tarde, já cá em Portugal, voltei a ver esse Sr. Cap. Cordeiro, na altura já Ten-Coronel, salvo erro, na chefia do CEU (Centro Emissor Ultramarino).
Nas instalações da "Escuta", quando fui para lá, havia um Alferes (Vasconcelos) que, alegadamente, superintendia no Serviço mas pouco ou nada se deixava ver.
Duas salas grandes com vários operadores a captar emissões em grafia e em fonia, sob a orientação diurna dum 1º Sargento. Uma sala com vários rádios e gravadores para captação e gravação das emissões de várias Estações radiofónicas e de teletipo, cujos barulhentos aparelhos impressores estavam noutro pequeno compartimento (o que seria a cozinha da vivenda). Este sector de actividade estava sob a responsabilidade diurna dos Furriéis que, na altura estavam lá destacados (Eduardo Pinto, José Fanha, Hélder Sousa, Nelson Batalha, Manuel Martinho, todos do mesmo Curso, embora mais tarde tivessem estado outros elementos) os quais também supervisionavam durante a noite os outros sectores de fonia e grafia, com pessoal mais reduzido.
Além disso os Furriéis da "Escuta" também colaboravam em acções de radiolocalização para as quais contribuíam as informações que chegavam do "interior", de modo a se poderem planear os locais mais plausíveis de pesquisa.
Como acrescento às características do Cap. Cordeiro posso dizer que era pessoa de bom trato, afável e justo. Era cunhado do também Cap. Oliveira Pinto que na ocasião chefiava o STM (Serviço de Telecomunicações Militares) que era (tinha sido) guarda-redes de andebol na Academia Militar, e que acabou por morrer cedo em consequência de um problema qualquer de saúde. Ambos eram Tenentes a fazer o tirocínio para Capitães quando eu e os outros estávamos no BT a fazer a especialidade de TSF e já nos conhecíamos desde então e daí ele ter ido buscar-nos para desenvolvermos o "Centro".
Abraço, Mário
Hélder,
Obrigado por tanta atenção dispensada. Pode realmente tratar-se do capitão em serviço no Com Chefe a quem eu me referia. O apelido Cordeiro é que não me soou a familiar, mas também não será de admirar, pois só por duas vezes tive oportunidade de lhe falar pessoalmente. Achei imensa graça ao teu acrescento, pois, para lhe definires o carater, quase repetiste completamente as aquelas palavras que eu próprio escolhera mentalmente dias antes ao recordá-lo: perspicaz, afável e de fino trato (talvez por isso o seu registo se mantenha vivo nos nossos corações).
Um abraço amigo,
Mário Migueis
Cláudio Brito,
domingo, 8/09/2019, 18:38
Info - Cláudio Brito, Neto do Major Fernando Brito, mas sempre mais conhecido por Capitão Fernando Brito
Saudações, Sr. Dr. Luís Graça,
Espero que este email o encontre bem.
Li atentamente esta página do seu blogue.
Com o texto e a fotografia a suscitar-me a emoção e a comoção próprias da saudade.
Estou colocado em Faro, a dar aulas, este ano na Pinheiro e Rosa, por isso vou mudar de Coimbra para o Algarve.
Este ano deixo aqui uma promessa. Vou reunir o material fotográfico da longa vida militar do meu avô, especialmente os anos de guerra (de Goa a Guiné), e enviá-lo a si, a fim de que lhe dê o melhor uso para debate e divulgação, assim como património e coleção de valor histórico.
A vida é sempre carregada de mudanças e correrias, mas este ano não falha isso.
Se tiver acesso ao Senhor Vitor Raposeira (desconheço a sua patente), diga-lhe que estou sumamente interessado nas fotografias dessa festa, que são referidas nos comentários, especialmente por lá figurar o meu avô.
Enfim, um forte abraço, obrigado e aguardo notícias,
Cláudio Brito
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