Lourinhã > Marquiteira > Associação da Marquiteira > Festa anual da Marquiteira, "em honra do senhor Jesus do Carvalhal" > 8 de julho de 2019 > A tradicional batatada de peixe seco > Centenas de convivas. muitos quilos de peixe seco, batatas e cebola: só de "arraia" seca foram 70 quilos... fora a sapata, o cação, o safio... Sentados nas "manjedouras" é que a gente se sente verdadeiramente "companheiros" [do latim cum + pane, o que come o (mesmo) pão à (mesma) mesa...)].
Não há, no litoral português, de Norte a Sul, uma tradição festiva como esta... A Marquiteira e a Ventosa do Mar já a incoporaram nas suas festas anuais há mais de 3/4 décadas... Uma tradiçao cada vez mais viva... É uma alegria para os sentidos... O peixe nobre é a "raia", a "arraia", como diz aqui o povo miúdo, um peixe que se come todo, da "chicha" àa cartilagens e que é bom, divinal, de todas as maneiras e feitos: fresco ou seco, frito, cozido, grelhado, assado, estufado...Tão bom ou melhor que o bacalhau...
Outro peixe nobre da "batatada" aqui da Lourinhã é a sapata...(que só come camarão, e não tem um única espinha...). Na batatada de eixe seco, a sapata vem em iletes, que delícis, que delicadeza de sabor!.
A batata e a cebola são fundamentais neste prato (único) da Lourinhã... A Nazaré tem o carapau (seco)... Como eu costumava dizer, ao meu velhote: "Peixe seco da Louirnhã ?!... Olhe que no céu não há disto!"... Filho de peixeiros, neto de pescadores, ele chamava-lhe um figo, ao peixe, de todas as maneiras e feitios.. Herança cultural (, mais do que genética), eu também sou "mais peixeiro do que carneiro",,,
No inverno, era guardado nos baus, na palha do trigo... Era a nossa "reserva alimentar" do inverno... Quem não tem esses sabores da infância, nºão pode perceber a fecidade destas centenas de pessoas que se juntam, um vez por ano, na Marquiteira ou na Ventosa, para comer a comida dos "pobres", a batada com peixe seco"...Hoje comida de risco, ao preço que está raia, no mercado (12, 13, 14, 15 euros o quilo, a raia inteira, ao quilo).
Lourinhã > Ventosa do Mar > ACR (Associação Cultural e Recreativa da Ventosa) > 31 de julho de 2017 > 35º aniversário > Tradicional batatada de peixe seco da Ventosa do Mar, que rivaliza com dos vizinhos da Marquiteira (sede da freguesia de Santa Bárbara)... Vou lá hoje "provar" a da Marquiteira...
Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
João Duarte (#) se faz eco
Na sua terra natal:
“Confraria do peix’ seco
É promessa eleitoral.”
É terra maravilhosa,
Com vista de serra e mar,
Quem não conhece a Ventosa,
Nada mais tem p'ra contar.
Mas eu hoje vim à Marquiteira,
P’ra provar a batatada,
E por ser a vez primeira,
Não opino ainda nada.
Para já vai o meu louvor
Pr’a Santa Bárbara e sua gente,
Tiro o chapéu, sim, senhor,
A quem vem cá dar ao dente.
Se o peixe seco é bom,
A batata é do melhor,
Receber bem é um dom,
E esta santa é a maior.
Não vamos pôr a concurso
As versões desta iguaria,
João Duarte fica piurso,
Há guerra na freguesia.
Uma confraria, já,
P’ró peixe seco com batata,
Junte-se o melhor que há,
Nesta nossa terra amada.
Marquiteira e Ventosa,
São terras de gente chã,
Hospitaleira e amistosa,
Do concelho da Lourinhã.
Pode-se juntar Ribamar
E à volta os seus casais,
Temos tudo a ganhar
E todos não somos demais.
Minhas senhoras, meus s’nhores,
Vamos todas puxar p’ra cima,
Temos cá a matéria-prima,
Temos os saberes e os sabores.
Viva a confraria da tradicional batatata de peixe seco!
Marquiteira,8 de julho de 2019,
Luís Graça (**)
(#) Atual presidente da Câmara Municipal da Lourinhã; é natural da Ventosa, freguesia de Santa Bárbara, e fã da batatada de peixe seco...
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17639: Os nossos passatempos de verão (19): Cantigas de escárnio e mal-dizer, à desgarrada... Parte IV: Loas à Tabanca de Porto Dinheiro, ao peixe seco "gourmet" da ACR da Ventosa do Mar, e à sua futura confraria... (Assim Deus queira e o povo ajude!)
(**) Último poste da série > 6 de julho de 2019 >Guiné 61/74 - P19952: Os nossos seres, saberes e lazeres (337): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (4) (Mário Beja Santos)
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17639: Os nossos passatempos de verão (19): Cantigas de escárnio e mal-dizer, à desgarrada... Parte IV: Loas à Tabanca de Porto Dinheiro, ao peixe seco "gourmet" da ACR da Ventosa do Mar, e à sua futura confraria... (Assim Deus queira e o povo ajude!)
(**) Último poste da série > 6 de julho de 2019 >Guiné 61/74 - P19952: Os nossos seres, saberes e lazeres (337): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (4) (Mário Beja Santos)
1 comentário:
Luis
Só de ver as imagens dá cá uma fomeca.
No Algarve, zona de Olhão, pelo Natal come-se peixe seco com batatas.
Trata-se do litão, ou leitão, um pequeno tubarão pintado, parecido com o pata-roxa, que é seco como a moreia depois salgado e cozido.
Ab.
Valdemar Queiroz
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