sexta-feira, 12 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19973: Memórias de Gabú (José Saúde) (85): "Exército" de abelhas (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série. 

As minhas memórias de Gabu 

A mata e os seus mistérios
“Exército” de abelhas

Num esmiuçar de imagens que nos transportam aos tempos da guerra, viajo por terras de Gabu e recordo aquelas horas passadas no mato em que o perigo espreitava e o pessoal era, num outro prisma, também fustigado por um “exército” de abelhas que não davam tréguas ao mais resistente combatente.

Caminhando à toa e sempre pensando no IN que poderia “andar ali perto”, ainda que por outro lado a mensagem passada assentasse basicamente por não descuidar os princípios que a guerrilha impunha, a mata escondia mistérios que muito surpreendia o previdente caminhante.

O habitual camuflado que transportávamos no corpo no interior declarava-se, também, como uma peça fundamental que nós não dispensávamos perante as adversidades que a dureza do matagal envolto em segredos impunha a cada momento.

Procuro o significado de camuflado, melhor, recorro à definição do verbo camuflar, sendo a resposta que aquele usual fardamento era um investimento para “disfarçar ou encobrir” as nossas presenças perante a minuciosa miragem de um IN sempre atento às movimentações das nossas tropas.

Hoje, traga-vos como recordação os austeros momentos em que os enxames de abelhas colocavam o pessoal num autentico frenesim. Sabeis, por certo, que as suas picadas não eram, e nem tão-pouco o são, “coisa” meiga de aguentar, logo as suas surpreendentes “emboscadas” impunham respeito.

Resguardadas em refinadas “trincheiras” de defesa, espreitavam o inimigo que, naquele caso, se julgava imune a eventuais ciladas destes laboriosos “bicharocos”, uma vez que depois de incomodadas soltavam os seus ferrões em direção a um prossuposto adversário que se via completamente desorientado face ao mordaz ataque do tão nefasto e émulo “opositor”.

Este pequeno introito esbarra numa situação em que assisti a um “ataque” de abelhas na região de Gabu. Íamos no mato, há um camarada que inadvertidamente tocou numa árvore e num repente tínhamos em cima de nós um batalhão destes perniciosos “bichos”.  

Os zumbidos eram assustadores, houve camaradas com o ferrão destes maliciosos “insetos” cravados na pele, a malta correu desalmadamente por tudo o que era sítio, existiu, evidentemente, uma momentânea dispersão, seguindo-se o toque a reunir mas com os olhos bem abertos não fosse o diabo tece-las.

Após reunir as tropas a malta comentou o sucedido, houve quem se divertisse com a marosca e outros queixosos pelo então infeliz ataque. Tudo, porém, se enquadrava com o teor do terreno pisado. 

Nas minhas memórias de Gabu guardo, religiosamente, situações em que também fui um agente que interveio nas mais diversificadas situações, sendo que os meus neurónios, não adormecidos, ainda conseguem relatar nacos de um passado distante mas sempre atuais e essencialmente de acordo com as lembranças de todos os meus caríssimos camaradas. 


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________

Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

29 DE JUNHO DE 2019 > Guiné 61/74 - P19930: Memórias de Gabú (José Saúde) (84): Rapaz franzino, de reposta fácil e acertada. O Dias e sua rebeldia. (José Saúde)

2 comentários:

Valdemar Silva disse...

Zé Saúde
No nosso Quartel de Baixo, em Nova Lamego, surgiu um exame de abelhas na grande árvore da parada que servia de sombra ao refeitório dos soldados.
Como as abelhas começaram a incomodar toda a gente, o 2º. Sargente Almeida, também conhecido por 'Velho Lacrau', resolveu tratar do assunto.
Munido com uma tocha subiu à árvore até ao ninho das abelhas e começaram os problemas. Com o fogo da tocha incendiou o 'coração' da árvore e em vez de descer rapidamente, fugiu das abelhas para a ponta de um ramo.
Conclusão, o ramo partiu-se e o Almeida caiu, as abelhas fugiram e a árvore começou a deitar fumo que nem a chaminé da Sacor.
O 'Velho Lacrau', todo vaidoso, andou de costelas ligadas durante algum tempo, ao mesmo tempo e durante vários dias tentamos à mangueira apagar o fogo no interior da árvore que teve de ser abatida por ameaçar derrocada sobre o refeitório da rapaziada.
Ab.
Valdemar Queiroz

p.s. O Abel Santos que lá esteve antes de nós lembra-se dessa árvore.

Valdemar Silva disse...

Rectifico, evidentemente que queria dizer 'enxame de abelhas'.

Valdemar Queiroz