Capa e contracapa do livro de Fernando Penim Redondo, "Crónicas de um tenente: Guiné-Bissau, 1968-2018". Lisboa: Edições Colibri, 2019, 188 pp. Preço de capa: 15 €, (Prefácio: Mário de Carvalho)
A. Marques Lopes |
[cor art DFA, na reforma, ex-alf mil art, CART 1690, Geba, e CCAÇ 3, Barro (1967/68)];autor de "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial" (Lisboa, Chiado Editora, 2015, 582 pp.); tem mais de 240 referências no nosso blogue; lisboeta, vive em Matosinhos]
Não conheci o meu amigo Fernando Penim Redondo na Guiné, embora, pelo que vejo, ele tenha passado várias vezes pelo sítio onde fui colocado na segunda vez em que fui mandado para a Guiné, também em Maio de 1968, Barro, quase pegado às margens do Cacheu.
Conhecemo-nos e fomos amigos, ele e a Rosa, mulher dele, nos tempos memoráveis de 1974 e 1975.
Diz o Fernando no início do seu livro:
"No dia 1 de Maio de 1968, o Tenente largou do Tejo, rumo à Guiné, a bordo da fragata Corte Real. Era então um jovem fuzileiro, de 22 anos, recém-casado, que interrompera os estudos de Economia na Universidade de Lisboa.
Em Bissau integrou a 6, a Companhia, aquartelada no INAB, junto ao Geba. A missão consistia essencialmente na escolta de comboios de embarcações que abasteciam os quartéis do Exército no interior do território.
Subiu e desceu os principais rios da Guiné comandando as missões a partir das lanchas da Armada.
Navegou no Cacheu até Farim, no Mansoa, no Geba e no Rio Grande de Buba. Ligou por mar a foz desses grandes rios e também foi a Catió, a Bolama e aos Bijagós.
A guerra era uma realidade penosa para quem como ele, jovem militante comunista, se opunha ao domínio colonial e defendia a independência das colónias. Partilhou esse drama pessoal com a sua mulher, que trabalhou como professora de História no então Liceu Honório Barreto.
A fotografia constituiu um paliativo. Ao fotografar a dignidade do povo guineense, a beleza das suas mulheres, o porte dos seus homens e o encanto das suas crianças, ele tinha a impressão de estar a fazer um gesto de amizade no contexto da guerra.
Tal como muitos outros jovens da sua geração aprendeu, 'no terreno', a grande lição da relatividade da nossa própria cultura. »
2. Sinopse da obra
No corredor da prisão instalara-se um caos, cada um tentando perceber se iam ser fuzilados ou libertados. Ao fim de algum tempo lá apareceu um oficial, mais sensível, que lhes explicou o que estava a acontecer. Começou então a longa espera até que a Junta de Salvação Nacional aceitasse libertar todos os presos e não apenas alguns. A comunhão dentro da prisão era completa e o Tenente reencontrou a sua mulher que, sem ele saber, se encontrava na outra ala do edifício prisional.
Como se formava um jovem progressista nos turbulentos anos 60?
Como se lutava contra a guerra colonial, antes e depois de nela ter participado?
Como se navegava, e encalhava, nos rios da Guiné com incêndios, abalroamentos e bazucadas?
Como podem a poesia e a fotografia ajudar um combatente contrariado?
Como reagir quando nos entra pela cela dentro um camarada de armas, durante uma inesperada revolução?
Como se sente o regresso, 50 anos depois, ao lugar da guerra e da juventude?
/Este não é / um livro de fotografia / mas tem muitas imagens
/Este não é / um livro de poesia / mas tem vários poemas
/Este não é / um livro biográfico / mas conta certas estórias / que mostram / o sentido de uma vida.
Diz o Fernando no início do seu livro:
"No dia 1 de Maio de 1968, o Tenente largou do Tejo, rumo à Guiné, a bordo da fragata Corte Real. Era então um jovem fuzileiro, de 22 anos, recém-casado, que interrompera os estudos de Economia na Universidade de Lisboa.
Em Bissau integrou a 6, a Companhia, aquartelada no INAB, junto ao Geba. A missão consistia essencialmente na escolta de comboios de embarcações que abasteciam os quartéis do Exército no interior do território.
Subiu e desceu os principais rios da Guiné comandando as missões a partir das lanchas da Armada.
Navegou no Cacheu até Farim, no Mansoa, no Geba e no Rio Grande de Buba. Ligou por mar a foz desses grandes rios e também foi a Catió, a Bolama e aos Bijagós.
A guerra era uma realidade penosa para quem como ele, jovem militante comunista, se opunha ao domínio colonial e defendia a independência das colónias. Partilhou esse drama pessoal com a sua mulher, que trabalhou como professora de História no então Liceu Honório Barreto.
A fotografia constituiu um paliativo. Ao fotografar a dignidade do povo guineense, a beleza das suas mulheres, o porte dos seus homens e o encanto das suas crianças, ele tinha a impressão de estar a fazer um gesto de amizade no contexto da guerra.
Tal como muitos outros jovens da sua geração aprendeu, 'no terreno', a grande lição da relatividade da nossa própria cultura. »
2. Sinopse da obra
No corredor da prisão instalara-se um caos, cada um tentando perceber se iam ser fuzilados ou libertados. Ao fim de algum tempo lá apareceu um oficial, mais sensível, que lhes explicou o que estava a acontecer. Começou então a longa espera até que a Junta de Salvação Nacional aceitasse libertar todos os presos e não apenas alguns. A comunhão dentro da prisão era completa e o Tenente reencontrou a sua mulher que, sem ele saber, se encontrava na outra ala do edifício prisional.
Como se formava um jovem progressista nos turbulentos anos 60?
Como se lutava contra a guerra colonial, antes e depois de nela ter participado?
Como se navegava, e encalhava, nos rios da Guiné com incêndios, abalroamentos e bazucadas?
Como podem a poesia e a fotografia ajudar um combatente contrariado?
Como reagir quando nos entra pela cela dentro um camarada de armas, durante uma inesperada revolução?
Como se sente o regresso, 50 anos depois, ao lugar da guerra e da juventude?
/Este não é / um livro de fotografia / mas tem muitas imagens
/Este não é / um livro de poesia / mas tem vários poemas
/Este não é / um livro biográfico / mas conta certas estórias / que mostram / o sentido de uma vida.
(i) nasceu em Lisboa, em 1945;
(ii) estudou economia no ISCEF, curso que não concluiu:
(iii) adere ao Partido Comunista Português em 1966 e é eleito, no mesmo ano, para a Direcção do Cineclube Universitário de Lisboa;
(v) especializado em gestão da produção, automação e CAD/CAM, conduziu projectos em dezenas de empresas industriais portuguesas mas fez carreira, durante 23 anos, como Systems Engineer na IBM (1970-1993) - e posteriormente como gestor;
(vi) em paralelo com a carreira profissional mantém sempre a actividade política: é preso em 18 de Abril de 1974 e libertado pela Revolução dos Cravos; é eleito para a CT da IBM de 1974 a 1975 e de 1981 a 1993; é eleito para a direcção do Sindicato do Comércio e Serviços (CESL) de 1989 a 1993.
(vii) a partir de 2000 dedica-se a actividades de jornalismo tecnológico com base na Internet;
(viii) tem página no Facebook.
(vi) em paralelo com a carreira profissional mantém sempre a actividade política: é preso em 18 de Abril de 1974 e libertado pela Revolução dos Cravos; é eleito para a CT da IBM de 1974 a 1975 e de 1981 a 1993; é eleito para a direcção do Sindicato do Comércio e Serviços (CESL) de 1989 a 1993.
(vii) a partir de 2000 dedica-se a actividades de jornalismo tecnológico com base na Internet;
(viii) tem página no Facebook.
Fonte: Adapt. de Edições Colibri
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Nota do editor:
12 comentários:
NINGUÉM GANHA UMA GUERRA COM GENTE ASSIM...
Abraço.
Foi assim que perdemos tudo, o nosso Império.
Agora, vivemos à custa de esmolas da Europa e da Comunidade Internacional, e sem liberdades nenhumas, uma vez que perdemos a nossa SOBERANIA NACIONAL.
Apoio o comentário anterior.
Virgilio Teixeira
Há guerras que não são para se ganhar pois não tem futuro as sociedades daí resultante. Quanto há nossa independência perdemo-la quando negociamos mal com a Europa e deixamos que Portugal entregasse os sectores chave da nossa economia , deixasse destruir as nossas pescas, agricultura pois nos convenceram que era mais barato comprar que produzir.
A propósito da música.
Não se sabe ao certo e, por isso, haver várias teorias sobre a sonoridade dos violinos Stradivarius.
Uns dizem que o segredo está no verniz utilizado no banho do instrumento, outros era que eram feitos da madeira de barcos naufragados e que a água salgada endurecia a madeira e, ainda, outros por ter havido na Europa épocas de longos invernos chuvosos e temperatura muito baixas e que as madeiras ficaram mais rijas.
Valdemar Queiroz
Aos camaradas que foram mobilizados para o TO da Guiné não foi perguntado qual era o seu "credo" religioso, filosófico ou político...A guerra foi feita por portugueses, católicos, cristãos de outras confissões (protestantes, evangélicos...), muçulmanos, animistas, ateus, agnósticos, da situação e do reviralho, políticos e apolíticos, militaristas e pacifistas...
Ao fim destes anos todos a blogar (e já lá vão quinze!), aprendemos a viver e a conviver, aqui, e nossas tabancas e encontros regulares, com as nossas diferenças... Não julgamos ninguém, quando se trata de camaradas operacionais... Mas também não é por acaso que não devemos trazer para o blogue as questões da atualidade político-partidária, da religião (proselitista) e do clubismo (futebolístico)... Porque essas são questões "fracturantes"...
O autor deste livro, que foi oficial da Armada, fuzileiro, não é o primeiro nem será o último dos combatentes no TO da Guiné a assumir publicamente, hoje, que era militante do PCP quando foi mobilizado... A verdade é que fez a guerra e não desertou.
Mas ainda há um certo "pudor" nestas confissões, e nomeadamente no nosso blogue: ter pertencido ao PCP, ser do "reviralho", ter pertenciado a outros partidos ou movimentos que combatiam o Estado Novo e a Guerra Colonial, ter andado no seminário, ter desertado ou pensado em desertar, ter feito um filho na Guiné, ter matado ou torturado, ter ajudado o PAIGC, ter uma orientação sexual diferente...
O editor Luís Graça
Luís és o maior por isso consegues blogar durante quinze anos com sucesso, quanto ao ao Juvenal opinião minha não nos fizeram crer: mas alguém oportunista ficou com o grosso da maquía e distribuiu uns míseros escudos com o povo, dos outros comentários, as opiniões aqui são livres.
Obrigado, Zé Colaço, pelo "elogio"... Mas eu não quero (nem posso) ser o "maior" e muito menos o "melhor"... Quero ser todos os dias "melhor", isso, sim, na manutenção deste blogue que é obra coletiva... Não o fiz para mim, nem tenho nenhuma "causa" ou "agenda escondida"...
É ou deve ser o blogue de TODOS os amigos e camaradas da Guiné que se encontram e reveem na Tabanca Grande, portugueses e guineenses... A mim compete-me algum trabalho de discreta liderança: motivar, facilitar, apoiar, também dirigir, sobretudo "ouvir e saber ouvir", e claro respeitar e fazer respeitar as nossas regras de sã e bom convívio... Mas não cultivo nem quero cultivar o "culto da personalidade"...
Um "quebra-costelas"...Luís
Bons dias!
O Valdemar tem razão. Nesta altura do campeonato, é preferível falar de stradi... varius.
Alberto Branquinho
Luís, é por isto, pelo teu apego a esta causa, que ainda vou 'comentando' mal para alguns, e mais ou menos para outros, já disse que não sou filosofo nem musico.
Se não fosses tu a deitar água (bastante água) na fervura, já isto estava a explodir como uma mina A/C. (não sei como é o estrondo, porque nunca estive lá perto).
É mesmo um 'quebra-costelas'
E sobre a situação do país, cada um pense o que quiser, ninguém nos perdoa a dívida 'impagável' que temos, como estão a fazer com tanto 'homem grande' por este país fora. Valha-nos Deus, para quem acreditar ainda nisso.
Vamos em frente, que atrás vem gente...
Virgilio Teixeira
A.Marques Lopes
11 jul 2019 16:59
O Fernando Penim Redondo já me disse:
«Eu pertenci à Companhia nº6 dos fuzileiros (Tinha um comandante, um imediato- ambos do quadro- e três tenentes da Reserva Naval, que era o meu caso).
Embora eu fosse "fuzileiro especial" não estive num Destacamento, que faziam mais operações em terra.
Na companhia era responsável pelos morteiros e fiz dois ou três desembarques para comandar o tiro dos morteiros no âmbito de operações mais gerais.
Por mim podem publicar o que entenderem.»
Abraço, ML
... sobre o tópico em questão, factos:
1.- nada nem ninguém forçou Fernando José, aos 22 anos de idade e recém-casado com Maria Rosa, a alistar-se em 02Set1967 na Escola Naval;
2.- nada nem ninguém forçou Fernando José, no dia 05Abr1968 a Jurar Bandeira;
3.- não é verdade que Fernando José, 2º tenente da reserva naval, tivesse o curso de fuzileiro especial, apenas o curso de fuzileiro concluído no 11ºCFORN.
Pois... Nada me espanta. Infelizmente...
Abraço,
JS
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