domingo, 7 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19954: Blogpoesia (627): "Manhã de Domingo no 'Polo Norte'", "Chuva de adversidades" e "Caderno diário", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Manhã de Domingo no "Polo Norte"

Frente ao convento de Mafra.
Fervilha de gente sentada.
Mesas repletas.
A fila de espera vem lá de fora.
Ao balcão não há mãos a medir.
Bolos preciosos. Galões e cafés.
É Domingo.
As famílias se aliviam da tarefa do pequeno-almoço.
As crianças satisfeitas lambem os beiços e jogam na tablete.
Há os isolados que lêem a "Bola" ou o CM.
Atentos como se na escola.
Lá fora, já há disparos de turistas sobre o Convento, a partir das esplanadas.
Ao lado, já vende a tendinha do "pão de Mafra".
Mafra agora é colorida pelas ruas.
Era cinzenta e recheada de tropa, quando por cá passei, nos anos sessenta...

ouvindo Mozart: Complete Piano Sonatas
Mafra, Bar Polo Norte, 30 de Junho de 2019
11h13m
Jlmg

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Chuva de adversidades

Por vezes a vida é flagelada por uma chuva de adversidades.
Dentro e fora de nossas casas.
Vem fustigada pelos ventos desenfreados.
Está tudo errado.
Parece o fim do mundo.

Quando tudo parecia sorrir.
A estabilidade.
Filhos bem arrumados.
A casa paga.

Como um raio, vem a doença.
Tudo escurece.
Lá se foi o gosto.

Só há Um que pode ajudar.
Tudo comanda.
Fé e esperança.
Não se podem perder.
A chave está nas Suas mãos...

Bar 7momentos, arredores de Mafra,
1 de Julho de 2019
dia de sol duvidoso
Jlmg

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Caderno diário

Aquele encanto. Novinho em folha.
Com uma linha ou duas.
Para cópias e redacções.
Na capa se escrevia o nome.
Propriedade nossa.
Por cinquenta centavos.
Nele se aprendia a escrever.
E a aperfeiçoar a caligrafia escolhida.
Redonda ou inclinada.
Uma descoberta que nunca acaba.
Foi na primária e secundária, dentro.

Depois, se assenta ao nosso jeito.

A mim, só quando estudei grego.
Aqueles caracteres diferentes me encaminharam para a que ficou para sempre.
Não é redonda, mas também não é deitada.
Agora, com o computador, tudo ficou ultrapassado.
Se escreve directo. Com o teclado.
Facilita muito.
Com um clique apenas, se apaga ou emenda.

Mafra, 4 de Julho de 2019
19h20m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19933: Blogpoesia (626): "Inspiração", "Zona da arrebentação" e "Asas largas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

5 comentários:

Anónimo disse...

Belas imagens, em particular de Mafra.
Agora não é cinzenta, e passou a Patrimonio Universal da Humanidade.
O Palácio de Mafra, e o Bom Jesus de Braga.

Bom domingo,

Virgilio Teixeira

Hélder Valério disse...

Caro amigo J.L. Mendes Gomes

Acho que já algumas vezes disse que leio as tuas poesias (ou poemas...), com agrado, embora não me alargue em comentários, pois não tenho muito jeito para fundamentar as minhas apreciações. Gosto ou não gosto, compreendo (ou julgo compreender) ou não.
Reparo, contudo, que as escreves ora da Alemanha ora de Lisboa ou, principalmente, Mafra.

Numa ou noutra situação, quase sempre num café ou bar. E ao som (real ou imaginário e/ou proposto) de músicas que nos elevam.
Na pastelaria Polo Norte também costumava beber um café acompanhado com um dos variados e saborosos bolos lá fabricados, quando há uns anos atrás frequentava umas aulas dadas por uma amigo J. Medeiros, aí em Mafra, aos domingos de manhã. Com ele visitei também essa maravilhosa construção, agora também Património Universal.
No teu primeiro poema reflectes, acho eu, os "sinais dos tempos", com o incremento do turismo.
No segundo poema reflectes sobre "os altos e baixos" das vidas das pessoas mas que a constante deveeá ser a "confiança em Deus".
No terceiro, colocas em contraponto as memórias, boas, de infância, com os famosos "cadernos de linhas", com a praticabilidade "impessoal" dos teclados de computador e das suas "correcçóes automáticas".
Pois.... já li algures que um dos paradoxos dos tempos actuais é querer que os homens se comportem como máquinas, que produzam como máquinas, que reajam como máquinas, enquanto há esforços para que as máquinas tenham sentimentos e comportamentos como os homens.
Mas enfim, lá vamos.... será que "cantando e rindo"?

Abraço
Hélder Sousa

Valdemar Silva disse...

Mendes Gomes
Parece que o frade franciscano confessor da D. Ana d'Áustria ou percebia de obstetrícia ou jogou à sorte (vulgo fezada), para convencer ao D. João V a erigir um Convento em honra do nascimento de um herdeiro varão.
E nasceu o D. José e lá se esturraram os milhões do Brasil em Conventos, Igrejas e Madres Paulas.
Vá lá que naquele tempo ainda havia chuva com a regularidade das estações do ano, agora, como dizia a minha mãe, desde que foram 'lá cima' o tempo nunca mais foi como dantes.
Ab.
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Meu caro amigo Mendes Gomes:

O nosso camarada e amigo Hélder Valério, disse aquilo que eu em parte já tinha pensado mas nunca o escrevi, as dúvidas dele, são as mesmas que tenho eu.
Com a agravante de não saber, não ter o tal jeito para comentar estes poemas, de uma grande doçura, digo eu, e assim cá esperamos a tua resposta.

Eu não frequento a pastelaria Polo Norte, não sei se já existia nos passados anos 67, mas depois desse tempo, só fui a Mafra uma única vez, mostrar à minha mulher, e meus filhos ainda sob o nosso manto, onde o pai esteve em tempos idos a preparar-se para uma guerra, que não fazia ideia para quê, agora já sei.

Abraço,

Virgilio Teixeira




Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Olá a todos. Comentários muito interessantes. É bom que leiam e digam alguma coisa.

O ouro do Brasil. Ainda bem que aplicaram uma grande parte nesta obra eterna e monumental. Que nos honra. Da outra parte, ninguém sabe onde foi gasto...

As muitas toneladas de oiro que Salazar juntou, à custa do sacrifício dos mais fracos, sem assistência e que viviam a pão e caldo, quem sabe quem os devorou em proveito próprio. Ou melhor, até sabemos...
Enfim, pobre País que tem seus órgãos de soberania escravizados ao poder da camarilha do Ricardo Salgado e de quem ele comprou. Com nosso dinheiro...


Um abraço. Haja saúde e muita paciência.
Joaquim