domingo, 30 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19933: Blogpoesia (626): "Inspiração", "Zona da arrebentação" e "Asas largas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Inspiração

Retiro as cinzas.
Acendo o forno de inspiração.
Lhe sopro ideias.
Fico a vê-las em combustão lenta.

Soltam faúlhas.
Delineiam-se formas.
Esboçam-se temas.
Se alinham palavras,
Buscando sentido.

Depois eu leio-as.
Têm sabor.
Querem brilhar.
Enchem meu peito.
Fazem sonhar.

Brotam poemas.
Falam das horas que passam na gente.
Boas e não.
Inspiram caminhos.
Alcançam lonjuras,
procurando amigos.
Pode ser que encontrem quem precise de lê-las
e fique melhor...

Mafra, 27 de Junho de 2019
7h50m
Jlmg

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Zona da arrebentação

As nossas ideias navegam no mar.
Como ondas vêm de longe, com energia,
Correm incessantes nas águas profundas.
Perdem a força quando chegam à costa.
Quebram confusas.
Fazem espuma.
Desprendem as algas.
Apanham incautos.
Se espraiam na areia em agonia.
Ficam atónitas.
Para ir ou ficar?

Assim as ideias.
No oceano da mente.
Onde impera a verdade.
Se vestem palavras.
Carregadas de cores e de sombras.
Avançam serenas.
Se combinam em temas,
Com forma e sentido.
Carregam mensagens.
Dizem imagens.
De ilusão e verdade.

Brilham ao sol.
Pedaços de estrelas.

Iluminam as almas.
Negrura das noites.
Dão-lhes o norte e o sul.
Por vezes seduzem.
Iludem.
O que parecem não são.

Queimam agruras.
Saram feridas.
Amainam ardores.
Sons que comovem.
Pintam quadros.
Escrevem poemas.
Seu mar é o belo e a paz...

ouvindo Mozart - Piano Concertos No.11,12,13,14,17,18,19

Mafra, 26 de Junho de 2019
17h16m
JLmg

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Asas largas

As aves de asas largas batem-nas menos para voar.
Voam mais alto.
Mais seguras.
Enxergam melhor o chão.
Mais amplo.
Mais alimento para apanhar.
Os passaritos de asas curtas mal se lhes vê o bater das asas.
De tão velozes.
Se cansam mais.
Voam mais baixo.
Perto do chão.
Para descansar.
Menos seguras.
Se escondem nas árvores.
São menos livres.
Voam em bandos.
Por precaução.
Cantarolam mais.
Se sentem importantes.
Para afugentarem o medo.
São atrevidas.
Poisam nas casas.
Como se fossem delas.
Fogem das escolas.
Têm medo das fisgas, armadilhas e dos traquinas.
É a tendência da natureza:
Quanto mais fraco, mais afoito...

Ouvindo Beethoven - Sonata ao Luar

Mafra, 25 de Junho de 2019
7h56m
O sol e a chuva à porfia 
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19912: Blogpoesia (626): "Sábado de sol", "Sempre de pé" e "Um cacho de flores vermelhas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

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