terça-feira, 2 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19939: Efemérides (307): 0s 600 anos da Madeira e Porto Santo


Região Autónoma da Madeira > Funchal > Lido > Baía e ilhéu do Gorgulho > 2019


Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Ontem, 1 de julho de 2019, foi o Dia da Região Autónoma da Madeira e das Comunidades Madeirenses, pelo que nos cabe saudar todos os nosos amigos e camaradas da Guiné que nos acompamham, neste blogue, quer vivam na região autónonma ou na diáspora madeirense.

Este ano celebram-se também os 600 anos da chegada dos primeiros portugueses aquele arquipélago.  Lê-se na página oficial dos 600 Anos da Madeira Porto Santo


(..) "1418, é o ano apontado como o ano da descoberta da Ilha do Porto Santo, circunstância ocorrida após uma tempestade em alto mar que desviou da rota uma embarcação que seguia pela costa africana. Gonçalves Zarco e a sua tripulação foram salvos por este pequeno bocado de terra ao qual batizaram de Porto Santo.

Um ano mais tarde, em 1419, avistou-se outro bocado de terra, o qual foi designado por Madeira, devido à abundância desta matéria-prima.

Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo são os três navegadores que aqui chegaram e aqui ficaram, cada um com a sua capitania. Porto Santo a Bartolomeu Perestrelo, Machico a Tristão Vaz Teixeira e, Funchal a Gonçalves Zarco, isto, alguns anos mais tarde, em 1440, após se ter dado início ao Ciclo do Povoamento, em 1425, por ordem do D. João I."


Descoberta, achamento, (re)descoberta,  chegada oficial,  ocupação, povoamento, colonização...Os termos não querem dizer exatamente o mesmo.  Há controvérsia, entre os historiadores, sobre quem foram os "primeiros" a chegar ao arquipélago da Madeira (sete ilhas e cerca de 3 dezenas de  ilhéus...). Nem isso é relevante. Estas ilhas atlânticas já eram referidas na Antiguidade Clássica. A história não pode nem dever ser "glorificadora",  comoo foi claramente durante o Estado Novo e a guerra colonial. Essa função pode competir à arte, à poesia, à literatura... Como foi o caso de "Os Lusíadas" (, canto V, 5/00):

"Passamos a grande Ilha da Madeira,
Que do muito arvoredo assim se chama,
Das que nós povoamos, a primeira,
Mais célebre por nome que por fama:
Mas nem por ser do mundo a derradeira
Se lhe aventajam quantas Vênus ama,
Antes, sendo esta sua, se esquecera
De Cipro, Gnido, Pafos e Citera."


Interpretação: as lhas gregas, no Mediterrâeno,  como  Cipro (Chipre), Gnido, Pafos e Citera, estavam para os poetas clássicos como as ilhas atlânticas, com a Madeira em destaque, passam a estar para a poesia europeia, renascentista. E  amor de Vénus era a medida de todas as coisas...E não é pro acaso que nós a chamamos "Pérola do Atlântico".

Do ponto de vista geológico. a ilha da Madeira é mais nova (c. 7 milhões de anos, da idade miocéncia a holocénica) do que a ilha do Porto Santos (é do Miocénico Inferior, c. 18  milhões de anos)... Umas "criancinhas", quando comparadas com a "minha terra": a formação Lourinhã é do Jurássico Superior (c. 150 milhões de anos).

A portugalidade e a madeirensidade dos madeirenses, essas, têm 600 anos. E a efeméride precisa de ser comemorada (*). Neste(s) dia(s) não esqueçamos que os nossos camaradas madeirenses e porto-santenses que morreram pela Pátria, entre 1961 e 1974, na(s) guerra(s) colonial(ais). Cerca de duas centenas.




Região Autónoma da Madeira > Funchal > Sé do Funchal. >  Detalhes do Políptico da Capela-mor da Sé do Funchal (1512-1517), do Mestre da Lourinhã e ajudantes, composto por doze painéis, e que faz parte do retábulo do altar-mor...

É considerada uma das raras obras retabulares da primeira metade do século XVI, no nosso país, que permaneceu intacta até aos nossos dias. 

Dos doze panéis, há pelo menos 4 que, pelas suas caterísticas técnicas, temáticas e estilísticas, são atribuídas especificamente ao Mestre da Lourinhã,  sendo as restantes pintadas pelos seus ajudantes. Este pintor,  cuja ainda identidade se desconhece,  tem no núcleo museológico da Misericórdia da Lourinhã, duas  das suas obras-primas, o São João  em Patmos (c. 1510)  e o São João Baptista no Deserto (c. 1515... 

Tive o privilégio de há um mês, no Funchal,  observar, "in loco", este esplendoroso conjunto de trabalhos da pintura portuguesa do séc. XVI, uma provável encomenda régia, resultado da riqueza criada pelo ciclo do açúcar, o "ouro branco"...

O cultivo da cana-de-açúcar foi introduzido no arquipélago da Madeira, por finais da primeira metade do século XV. A produção de açúcar em larga escala permitiu  a sua exportação para portos da Flandres, através de Lisboa,  numa primeira fase e depois diretamente.  O consumo de açucar  começou a vulgarizar-se na Europa quinhentista, com implicações  na alimentação humana, na gastronomia, na medicina e na farmácia.  Em consequência do comércio do "ouro branco", aumentou  a importação também,  para o arquipélago, de bens "sumptuários" (, obras de pintura, escultura, ourivesaria, etc.),  satisfazendo as necessidades e exigências de "status" da elite local que enriqueceu  com a economia açucareira.

De novembro de 2017 a março de 2018, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, a exposição "As Ilhas do Ouro Branco" permitiu conhecer melhor "as elites comitentes locais através das suas encomendas – obras de pintura, escultura ou ourivesaria – provenientes da Flandres, do continente e até do Oriente. Numa última sala, expõem-se as mais destacadas obras-primas encomendadas, sintetizando, com particular brilho, a riqueza do património madeirense dos séculos XV e XVI, resultante do esplendor cultural proporcionado pelo ciclo económico do 'ouro branco'. Marcando o arranque das Comemorações dos 600 Anos do Descobrimento da Madeira e Porto Santo, esta embaixada cultural do arquipélago em Lisboa é constituída por 86 obras de arte."


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Por outro lado, alguns camaradas da Guiné, da nossa Tabanca Grande, a começar pelos nossos editores Luís Graça e Carlos Vinhal,  têm uma "relação especial" com a Madeira,  tendo formado companhia ou batalhão no Funchal (Carlos Vinhal) ou tendo combatido, no teatro de operações da Guiné, com camaradas oriundos do arquipélago da Madeira (Luís Graça).

No meu cso, recordo-me de, no regresso a casa, em março de 1971, o T/T Uíge ter parado no Funchal o tempo suficiente para nós irmos, em grupo (em bando!), cantar e dançar o bailinho da Madeira na famosa Rua do Comboio, em casa do Sousa, a mesa farta, e à volta uma alegre e numerosa família madeirense, jovial, simpatiquíssima, alegre, de que guardei para sempre a melhor memória...



Região Autónoma da Madeira > Funchal > 2 de Janeiro de 2008 > A Rua do Comboio (também conhecida por Caminho de Ferro: Vd. fotos antigas do Funchal)...onde morava, em 1971, a família do José Luís de Sousa. Por aqui passava até aos anos 40 do séc. XX o Caminho de Ferro do Monte (vulgarmente conhecido como Comboio do Monte ou Elevador do Monte), uma ferrovia de via única em cremalheira que ligava o Pombal, no Funchal, ao Terreiro da Luta, no Monte  numa extensão de quase 4 km.

A família do Sousa, o nosso Zé da Ila - era assim que o tratavamos, afectuosamente - , os seus numerosos manos e manas, ainda hoje os associo, a todos, por um qualquer automatismo da memória, ao filme Música no Coração...

Foi um momento único e mágico na viagem do nosso regresso a Lisboa...Vocês, amigos e camaradas da Guiné, não imaginam a alegria que foi, naquela casa, o regresso do mano Sousa, vivinho da costa, devolvido aos pais e irmãos, rodeado por todos os cacimbados dos seus camaradas, os furriéis e alferes da CCAÇ 12 (**).




Região Autónoma da Madeira > Funchal > Rua do Bispo > 31 de Dezembro de 2008 > O ex-fur mil at inf José Luís Sousa, da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), mais conhecido entre os seus camaradas da Guiné pelo petit nom de Zé da Ila, mediador de seguros com escritório na centralíssima Rua do Bispo... Tropecei literalmente com ele, nas minhas férias madeirenses de fim de ano de 2008...

Na altura fiquei  com o contacto da sua empresa: José Luís Sousa - Mediação de Seguros, Lda, R. Bispo 36, 1º - B, Funchal, Madeira 9000-073, Tel: 291200410... Presuno  que ele já deve estar reformado...

Ele mudou de mail, mas eu registei o endereço numa folha de jornal... que foi parar ao cesto dos papéis... O José Luís era/é  um profissional competentíssimo na área dos seguros. Tive o prazer de conhecer o filho, com quem trabalhava. Era/é, além disso, um homem de muitas contactos: num ápice arranjou-me um transitário e um sucateiro de automóveis, dois contactos precisosos para o meu sobrinho, médico, que estava a mudar-se para o Porto, depois de um ano de trabalho no Serviço Regional de Saúde.

O Sousa foi meu duplo camarada, além de ter sido e continuar a ser um querido amigo: formámos companhia em Santa Margarida (CCAÇ 2590/CCAÇ 12), fizémos a guerra juntos, dormimos no mesmo quarto (eu, ele, o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Marques, o Joaquim Fernandes) em Bambadinca, de julho de 1969 a março de 1971...

Ele era o mais educado, o mais afável, o mais calmo, o mais polido, o mais correcto, de todos nós: um verdadeiro gentleman funchalense... possivelmente com costela britânica... A preocupação em afirmar-se como funchalense, levava-o a falar sem dizer os lhês... para evitar a armadilha do cerrado sotaque madeirense... Daí ter ficado conhecido como Zé da Ila... Era além disso um dos nossos tocadores de viola e baladeiros, ajudando a tornar menos penosas as nossas noites entre duas saídas para o mato.

Pertencia a uma numerosa e simpática família que morava na Rua do... Comboio. Uma família encantadora e prendada onde, rapazes e raparigas, tocavam e cantavam... É essa imagem que eu ainda guardo, da primeira vez que pisei a terra madeirense, no regresso da Guiné. O Uíge, em Março de 1971, parou umas horas no porto do Funchal, o que nos permitiu participar na festa de recepção que a família e os amigos do José Luís de Sousa lhe quiseram oferecer, a ele e aos demais camaradas metropolitanos da CCAÇ 12 que regressavam a casa, em rendição individual... 

Nunca mais esqueci o insólito nome da rua... que me pareceu mais íngreme e mais estreita na altura do que agora... (e seguramente com menos casas). Do comboio já não havia vestígios... Tratava-se de um elevador que ligava a baixa do Funchal ao Monte, começando na Rua das Dificuldades e escalando a Rua do Comboio... A linha foi extinta em 1943, se não me engano.

Recordei esta história na visita ao valiosíssimo e belíssimo Photografia - Museu 'Vicentes', instalado no antigo estúdio fotográfico de Vicente Gomes da Silva (1827 – 1906)...

Por outro lado, ligam-me à Madeira outros laços,  afetivos e profissionais... Tenho lá ido em trabalho e em lazer, desde o início dos anos 90 do sécuo passado, e feito bons amigos: por exzemplo, o Rui, a Cristina, a Sara, a Teresa, o Francisco, a Catarina...  Sem esquecer o meu cirurgião ortopedista, e camarada da Guiné,o Francisco Silva, que já me operou a um joanete e me fez uma artroplastia total da anca...

Last but the least, vou ter, vamos ter, eu e a Alice, uma neta madeirense, uma Clarinha...

Por estas muitas e boas razões brindo um Madeira à Madeira e a Porto Santo!...Ao passado, ao presente e sobretudo ao futuro!


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:


10 comentários:

Valdemar Silva disse...

Luis
Melhor sorte a vossa, paragem e visita à Madeira no regresso da guerra na Guiné.
Nós, os da, ainda, CART2479, também paramos na Madeira quando fomos, no 'Timor',
para Guiné. Paramos, mas não saímos do navio, e nem sequer fomos a terra para aliviar dos enjoos da viajem de Lisboa.
A paragem foi para ir buscar tropa ao Funchal. Chegamos de madrugada avistando o deslumbrante 'presépio' das luzes acesas ilha acima. Valeu isso para combater o mal estar geral de quem ia prá guerra.
Ab.
Valdemar Queiroz

p.s. Interessante os portugueses terem chegado às Ilhas Canárias (c. 1340)
e cerca de 80 anos depois a Porto Santo.

Valdemar Silva disse...

Luis
Melhor sorte a vossa, paragem e visita à Madeira no regresso da guerra na Guiné.
Nós, os da, ainda, CART2479, também paramos na Madeira quando fomos, no 'Timor',
para Guiné. Paramos, mas não saímos do navio, e nem sequer fomos a terra para aliviar dos enjoos da viajem de Lisboa.
A paragem foi para ir buscar tropa ao Funchal. Chegamos de madrugada avistando o deslumbrante 'presépio' das luzes acesas ilha acima. Valeu isso para combater o mal estar geral de quem ia prá guerra.
Ab.
Valdemar Queiroz

p.s. Interessante os portugueses terem chegado às Ilhas Canárias (c. 1340)
e cerca de 80 anos depois a Porto Santo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, se Portugal tivesse conseguido manter a soberania das Canárias, o que teria acontecidos aos "guanches", os aborígenes que lá viviam, muito provavelmente de origem protobérbere ?... Os castelhanos exterminaram-nos em pouco mais de um século... O arquipélago da Madeira, felizmente para nós, era desabitado...

https://pt.wikipedia.org/wiki/Guanches

Valdemar Silva disse...

Pois Luis
A questão da Beltrajana inviabilizou a nossa soberania nas Canárias.
Calhando, sempre ficariam uns guanches, mais não fosse, como aconteceu, para serem levados como escravos para a Madeira.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Então, Valdemar, amigo e camarada, e o lusotropicalismo, os brandos costumes, a assimilação, a mestiçagem, a salvação das almas, a dilatação da fé e do império (que oficialmente nunca existiu), o Portugal do Minho a Timor...?

Não testemunhaste isso na Guiné ? Que raio é que andaste lá a fazer ?... O colonialismo português foi coisa que nunca existiu... muito menos na Madeira e nos Açores.

Não havendo "guanches", na Madeira, Porto Santos, Selvagens e Desertas, por que é o que o Jardim andou aqueles anos a "diabolizar" o continente e os "cubanos" que cá viviam, oprimiam os madeirenses ? Tu, eu e outros pobres diabos, otários, que nunca deviam ter entrado neste filme de índios e cobóis... nem sequer como figurantes!... Eu costumo dizer que fui apanhado na rede como um cão... E tu, Valdemar ?

Valdemar Silva disse...

Luis, apanhado na rede não diria, não era nenhum rafeiro vadio ah!ah!ah!
Mas, também entrei no filme, embora com uma 'representação' de figurante e nada à António Lopes Ribeiro.
Realmente, com pouca produção e fraco enredo, mas com uma grande temporada em exibição, todos entramos nesse filme.

Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Os 500 anos do alem mar português só foi possível com a colaboração de quem lá vivia.

Esses tais de guanches até talvez alinhassem e até se desmultiplicariam.

E até ajudassem a captar escravos para o Brasil como colaboraram muitos outros, pois nós eramos tão pouquinhos que sozinhos não íamos lá.

Na Guiné os mais indomáveis devem ter sido os papeis, em Angola foi a rainha Ginga e em Moçambique o Gungunhana.

Mas com a ajuda dos vizinhos, "levámos a agua ao nosso moinho".

Só mesmo quando os "principais colaboradores" acharam que já estavam a "ficar para traz" é que fundaram o PAIGC, a FRELIMO e o MPLA, e tudo se esboroou.

Esses tais guanches, a ficarem connosco, viriam a ter o mesmo caminho.

Até a Madeira chegou a ameaçar com a FAMA.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sê bem aparecido, Rosinha!...

Querias dizer FLAMA, e não FAMA... É o acrónimo de Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira, que surgiu no pós-25 de Abril e era descrito como um movimento separatista, independentista, paramilitar, bombista... Está por fazer, ao que julgo, a sua história...

https://pt.wikipedia.org/wiki/Frente_de_Liberta%C3%A7%C3%A3o_do_Arquip%C3%A9lago_da_Madeira

A este movimento separatista foi atribuída a autoria de quase uma centena de atentados bombistas, perpetrados ente 1975 e 1978, curiosamente o ano em que Alberto João Jardim Jardim ascendeu à presidência do governo regional.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... Felizmente que em 1976 a Madeira tornou-se,constitucionalmente, uma região autónoma, isto é, com autonomia política e administrativa...e hoje faz parte da Repúbica Portuguesa e da União Europeia...

A independência seria uma desastre, de qualquer modo Lisboa sempre "tratou mal" o arquipélago, com destaque para o regime derrubado em 25 de Abril... Sem ter sido, tecnicamente, uma "colónia", como a Guiné, persistiram, até ao 25 de Abril, na Madeira, formas de exploração pré-capitalistas como a "colonia" que nem a República nem o Estado Novo quiseram (ou puderem) extinguir ou modificar...

Entendo muito bem a amargura e o rancor de muitos madeirenses que, tendo lutado arduamente, corajosamente, generosamente, na guerra do ultramar / guerra colonial, tiveram que continuar a emigrar, como os seus pais e avós...

Carlos Vinhal disse...

Luís, permite que discorde de ti. A Madeira em 1969/70 não era mais atrasada do que qualquer cidade das beiras interiores, Trás-os-Montes ou Alentejo. Em termos sociais, a cidade do Funchal, bem mais movimentada do que o Porto, por exemplo, mercê do contacto com os turistas, estava muito mais desenvolvida, era vulgar as miúdas irem sozinhas aos cafés à noite, coisa que não era muito vista no Continente, e quase toda a gente arranhava o inglês para poder vender qualquer coisa aos "camones". Claro que as infraestruturas viárias eram muito deficientes, mas se entendermos que fazer estradas naquelas montanhas encavalitas umas nas outras, não era nada barato, pois obrigava a muitas obras de arte (pontes ou viadutos).
O Continente estava dividido em Lisboa e Província (ainda hoje), na Madeira havia o Funchal e o Campo, com grandes diferenças entre si, notoriamente.
Com respeito à emigração, os ilhéus da Madeira e dos Açores sempre tiveram necessidade de viajar, procurando outras oportunidades e mais espaço físico.
Carlos Vinhal