quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20246: Episódios da minha guerra (Manuel Viegas, ex-fur mil, CCAÇ 1587, Empada, Catió e Ilha do Como, 1966/68) - Parte I: O ataque ao destacamento avançado, "Rancho da Ponderosa", na tabanca de Ualada, subsetor de Empada


Guiné > Região de Quínara > Empada > CCAÇ 1587 (Cachil, Empada, Bolama e Bissau, 1966/68) > Ualada > Destacamento "Rancho da Ponderosa> O soldado Jorge Patrício, à porta do destacamento. A tabanca terá sido abandonada pela população e o destacamento desativado no segundo semestre de 1968 (, facto a confirmar), na sequência da retração e racionalização  do dispositivo no CTIG, no início do "consulado" de Spínola, altura (2º semestre de 1968/ 1º semestre de 1969) em que foram abandonadas outras posições como Ponta do Inglês, Gandembel,  Ganturé, Cacoca, Sangonhá, Beli, Madina do Boé, Cheche... (Em 2009, o José Patrício vivia em Viseu, já aposentado da função pública.)

O destacamento deve ter sido construído pela CCAÇ 1423 (RI 15, Tomar), que  ocupou o aquartelamento de Empada entre janeiro de 1966 e dezembro do mesmo ano, seguindo depois para o Cachil.  [Foi comandada pelo Capitão de Infantaria Artur Pita Alves, Capitão de Infantaria João Augusto dos Santos Dias de Carvalho, Capitão de Cavalaria Eurico António Sacavém da Fonseca, de novo Capitão de Infantaria João Augusto dos Santos Dias de Carvalho, e de novo Capitão de Infantaria Artur Pita Alves. Ostentou como Divisa “Firmes e Constantes”.]


(i)  a CCAÇ 616 (RI 1, Amadora), ocupou o aquartelamento entre abril de 1964 e janeiro de 1966, quando acabou a comissão. [Foi comandada pelo nosso grã-tabanqueiro , de Ferrel, Peniche,   alf mil Joaquim da Silva Jorge,  pelo cap mil inf  Francisco do Vale,  cap inf  José Pedro Mendes Franco do Carmo, de novo pelo alf mil inf Alferes Miliciano  Joaquim da Silva Jorge e cap cav Germano Miquelina Cardoso Simões; ostentou como Divisa “Super Omnia”]M

(ii) segui-se a Companhia de Milícias n.º 6, do recrutamento local, quem ocupou o aquartelamento entre Janeiro de 1965 e Dezembro de 1971, até à extinção da força.

Por informação posterior, do nosso amigo e camarada Joaquim Jorge, ficamos a saber que "quem "fundou e construiu a 'Ponderosa' foi a CCAÇ 616 da qual eu era comandante em 17 de Março de 1965."
Fonte: Cortesia do CM - Correio da Manhã, edição de 4/10/2009. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > 1972 > Entrada do quartel dos Duros de Nova Sintra, a CART 2711, 1970/72... É possível que este pórtico, "!Rancho dos Duros", tenha sido inspirado pelos vizinhos,  mais antigos, do "Rancho da Ponderosa", destacamento de Ualada, subsetor de Empada,  ao tempo da CCAÇ 1587 (1966/68).

Foto (e legenda): © Herlander Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagen complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


[Foto à esquerda: Manuel Rosa Viegas, ex-Furriel da Companhia de Caçadores, nº 1587, Empada , Catió e ilha do Como, entre 1966 e 1968; vive em Faro; é o mais recente membro da Tabanca Grande, nº 798 (*)]


Episódios da minha guerra (Manuel Viegas, ex-fur mil, CCAÇ 1587, Empada, Catió e Ilha do Como, 1966/68) - Parte I:  O ataque ao destacamento avançado, "Rancho da Ponderosa", na tabanca de Ualada, subsetor de Empada.


É com profunda nostalgia e tristeza que irei narrar algumas das operações em que colaborei e ataques e flagelações que sofri.

O episódio que irei transcrever em 1º lugar, não é o que mais me marcou psicologicamente, mas sim fisicamente.

Estava colocado em Empada e calhou a primeira vez, juntamente com o meu pelotão , que estava no destacamento avançado,  a cerca de cinco quilómetros de Empada, de nome "Rancho da Ponderosa" (**).

Tinha como finalidade fazer a segurança a uma pequena tabanca [, Ualada, a sudoeste de Empada,]   e ao mesmo tempo servia para resguardar a retaguarda da companhia de Empada.

O Rancho tinha uma circunferência de duzentos metros aproximadamente , e era ladeado de abrigos . Ao aproximar-se o sol posto e após os soldados terem jantado , aproximei-me deles e disse-lhes para iram para os abrigos , mas alguns deles não gostaram muito e um deles ainda disse “ o furriel Viegas é sempre o mesmo” , e três ou quatro por represália foram para a capelinha que lá tínhamos.

Acabei por me dirigir a eles diplomaticamente e fazer-lhes ver que estava na hora do inimigo atacar, a muito custo abandonaram a capelinha , tendo ficado para trás o Manuel dos Santos , que por coincidência era dos que com quem eu me dava melhor . A capelinha ficava junto ao abrigo do morteiro 81, passados alguns minutos dos soldados se retirarem para os abrigos , quase simultaneamente, atacaram-nos de norte para sul com canhões sem recuo , talvez tenha sido a primeira vez que utilizaram os mesmos.

Entretanto eu saltei para o buraco do morteiro , e o Manuel dos Santos rastejou até ás granadas que estavam próximas do morteiro , mas tanto ele como eu não tínhamos experiência de mandar as morteiradas , foi a nossa sorte, a falta de experiência , estas caíram próximas dos nossos abrigos onde eles estavam a alvejar o aquartelamento. Além das granadas que lhes caíram em cima, os dos abrigos responderam com todo o material que tinham.

O ataque não demorou muito, cerca de vinte minutos,  eles foram bastante flagelado, deixando algum material abandonado na sua retirada .

Uma das granadas caiu no aquartelamento , em cima da mesa do refeitório onde tínhamos acabado de jantar, os pratos, os púcaros e os tachos ficaram todos furados.

Eles estavam preparados para dar um golpe de mão, e matar-nos a todos, só que as coisas correram mal para eles, para nosso bem. Só com um senão da nossa parte que fica para toda a vida,  o Manuel dos Santos ficou surdo oito dias e eu fiquei surdo de um ouvido, e tanto ele como eu ficámos com um zumbido para toda a vida.

PS. - Supomos que eles tinham tudo planeado para dizimar o Rancho do Ualada ("Ponderosa") , porque nessa mesma noite eles anunciaram na rádio que tinham feito uma limpeza total e só se safou um cão.

Aproveito para dizer que a minha companhia até ao dia do embarque trouxe três flâmulas de ouro, salvo erro quem trouxe mais do que nós foram os paraquedistas  [, do BCP 12,] com cinco.

Manuel Rosa Viegas,
ex-fur mil, CCAÇ 1587 (1966/68)



Guiné > Região de Quínara > Carta de Empada (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Empada e, a sudeste, Ualala.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
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Vd. postes de 


(...) Houve uma Companhia que em memória da célebre série da TV, "Bonanza",  fez um pórtico com o nome "Rancho da Ponderosa" e este vingou, ficando a ser conhecida por todo o branco como Ponderosa. 

(...) Em 1969 a Tabanca [, de Ualada, a sudoeste de Empada) ] estava deserta. Tinha sido abandonada e a população recolhida em Empada. Como tinha um bolanha muito produtiva, a população ia todos os dias para lá trabalhar nos campos de arroz e a minha Companhia fazia deslocar 2 Secções para o local, no sentido de proteger a população. Algumas das fotos que te envieiforam tiradas lá (, uma em cima de um bagabaga, pro exemplo). Vou ver se consigo um foto que já vi,  com o pórtico do Rancho da Ponderosa. (...)

9 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10643: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte V): O subsetor de Empada

(...) Ualada era uma tabanca junto à bolanha do mesmo nome, e junto à qual existiu um destacamento defendido por 2 grupos de combate. Tendo o destacamento sido abandonado e destru[ido pelas nossas tropas, a população de Ualada refugiou-se em Empada. (...)

8 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não sei se havia mais ranchos na Guiné, como estes...Já havia o Forte Apache no Cachil, também abandonado em 1968... Aquilo estava a ficar giro, tipo Faroeste... E de facto andamos a brincar todos aos índios e aos cobois....
O

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... se não erro a série Bonanza apareceu no final dos anos 50, princípios de 60, na véspera da guerra...Devíamos ter desconfiado... Eu confesso que era fã... Vi

Anónimo disse...

Joaquim da Silva Jorge
16 out 2019 18:30

Caro Amigo Luís Graça:

O destacamento "Rancho da Ponderosa" foi construído e ocupado pela CCAÇ 616
no dia 17 de Março de 1965.

Tem uma história de luta entre mim e o comandante de Sector, Coronel Roldão, sediado em Bolama.

A companhia de Milícias nº 6 também foi formada e treinada pela CCAÇ 616.

Um abraço
Joaquim Jorge

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Joaquim, tiraste-nos essa grande dúvida. Fica o assunto esclarecido.

Agora falta saber quando é o "Rancho" foi abandonado (depois de destruído pelas NT), por ordem do Com-Chefe brigadeiro Spínola, presume-se... Talvez o Manuel Serôdio ou o José Teixeira nos possam elucidar sobre este ponto...

Honra e Glória aos camaradas que defenderam o "Rancho da Ponderosa",sem esquecer os habitantes da pequena tabanca de Ualala (que se recolheram para Empada).

UM abraço fraterno, Luís

PS - Desejo que estejas a recuperar bem da tua operação à coluna. Há dias, na 2ª feira, 14, foste lembrado, na nossa almoçarada anual, em Ribamar, Lourinhã, que reuniu 80 "manos" e algumas manas... Esteve lá malta do teu "Chão", o João Trindade o Luís Manuel Silva, o João Sebastião e outros...

Anónimo disse...

Joaquim da Silva Jorge
16 out 2019 18:43


Caro Luís Graça:
A primeira finalidade da criação da Ponderosa era proteger os nossos
nativos nos trabalhos agrícolas da bolanha de S.Miguel (Beafada) que fica em frente.
Um abraço
Joaquim Jorge


Anónimo disse...

Afinal, a série "Bonanza" foi estreada na RTP já depois da guerra do ultramnar ter começado... Com a devida vénia, aqui fica um excerto do sítio, na Net, "Cais da Memória".

LG
___________


https://ocaisdamemoria.com/2015/05/15/serie-bonanza-rtp/


(...) SÉRIE BONANZA – RTP
May 15, 2015
15 de Maio 1961

Com efeito, a série “Bonanza” dominou a televisão americana ao longo de 14 anos, entre 1959 e 1973, tendo sido transmitida para quase todo o mundo e chegando pela primeira vez a Portugal, em 1961, dois anos depois da sua estreia na América.

Quando a série “Bonanza” estreou entre nós, a 15 de Maio de 1961, na RTP, tal constituiu um verdadeiro acontecimento televisivo, pois, até então, o público português apenas conhecia e tinha oportunidade de ver os filmes do género western (popularmente apelidados de “filmes de cowboys”) no cinema.

De facto, esta fantástica saga da família Cartwright ofereceu e proporcionou, a todos os telespectadores portugueses da época, um verdadeiro espectáculo de acção, aventura, romance, comédia, drama e, por vezes, também morte e tragédia. A acção de “Bonanza” decorre no rancho “Ponderosa”, um império de gado, madeiras e minas, situado perto do “Lago Tahoe”, nas montanhas do “Nevada”.

O dono do rancho e chefe da família, Ben Cartwright, tem três filhos, todos de mulheres diferentes, de quem foi enviuvando. São eles: Adam, o mais velho e o intelectual do grupo; Hoss, um bom gigante, bonacheirão, de coração aberto e bondoso; Little Joe, o mais novo, um jovem idealista e romântico. Porém, apesar das diferenças que existem entre eles, todos possuem, em comum, três características que os une fortemente: o sentido da honra e da justiça e a coragem. Neste ambiente patriarcal e machista, profundamente e inteiramente dominado por homens, facilmente se percebe a razão pela qual as mulheres não conseguem adaptar-se ou integrar-se e, muito menos, entrar para o seio da família Cartwright. (...)

Julio Madaleno disse...

Também eu como tu vim surdo do ouvido direito para o resto da vida e nunca procurei apoio médico na tropa. Disparate meu. Hoje ando no SNS que não me liga puto. Passei de Fajonquito para Gandembel em rendição individual e foi lá que com tanto rebentamento devido aos ataques e respostas e posteriormente com o nosso morteiro 120 que era manobrado por mim, fui progressivamente perdendo audição. Hoje uso prótese auditiva que tive que pagar, que remédio...
Júlio Madaleno F.Milº ccaç1685 e 2317 1967/69

José Teixeira disse...

Quando a C.Caç 2381 chegou a Empada ida de Buba em Junho de 1969 já o Rancho da Ponderosa /Ulalada esta abandonado. Todos os dias seguia um unimog com uma secção e alguns civis. Estes iam trabalhar na bolanha no cultivo do arroz e os militares montavam segurança ao local para evitar surpresas. Como enfermeiro integrava o grupo. Nunca tivemos contato com o inimigo na Ponderosa.
José Teixeira