terça-feira, 15 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20243: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (112): Notícias do Fernando Jorge Gonçalves, o "Spinolazinho", mascote da CCAÇ 3373 (Empada, maio de 1971/ maio de 1972), filho da professora da escola primária local, e amigo do alf mil Quintas, infelizmente já falecido


Foto nº 1A > Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/3 > O "Spinolazinho", a mascote da CCAÇ 3373 (que esteve aqui entre maio de 1971 e maio de 1972).


Fotoi nº 1> Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/72  > O "Spinolazinho", a mascote da CCAÇ 3373 (que esteve aqui entre maio de 1971 e maio de 1972).


Foto nº 2A > Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/1972 > CCAÇ 3373 > O "Spinolazinho", a mascote da companhia, no jipe do alferes Quintas, mais a mãe, professora da escola primária e que na foto transporta um bebé ao colo


Foto nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/1972 > CCAÇ 3373 > O "Spinolazinho", a mascote da companhia, no jipe do alferes Quintas, mais a mãe, professora da escola primária. Ao fundo, aspeto parcial de Empada, "pequena mas bonita vila"


Foto nº 3A > Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/1972 > CCAÇ 3373 > O alferes Quintas, um berço com um bebé,  e a mãe do "Spinolazinho", a professora da escola primária local


Foto nº 3 >  Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/1972 > CCAÇ 3373 > O alferes Quintas, mais a mãe do "Spinolazinho", e  professora da escola primária.

Fotos (e legendas): ©    Fernando Jorge Gonçalves (2019). [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Recebemos a seguinte mensagem do nosso leitor Artur Araújo, em nome de Fernando Jorge Gonçalves_

Data: segunda, 30/09/2019 à(s) 21:01

Assunto: Procura-se o Alferes Quintas da Companhia de Caçadores 3373 que esteve em Empada (ex-Guiné Portuguesa) entre 1971/1973.


Procura-se um grande amigo da família,  em Empada (Antiga Guiné Portuguesa) no ano 1971/73, o alferes Quintas, que fazia parte da Companhia de Caçadores 3373"...

Por favor contactar pelo e -mail [...] pelo telemóvel [, com indicativo de Portugal]

Sr. Luís Graça, caso saiba do paradeiro do Sr. Alferes Quintas que pertencia à Companhia de Caçadores 3373 que estava em Empada(Guiné-Bissau) entre 1971/73, espero que ainda esteja de vida. agradeço que entre em contacto com ele e informe-lhe que gostaríamos muito de ter notícias dele.

Aguardo a sua resposta.

Melhores cumprimentos.

Artur Ataújo , colega do Sr. Fernando Jorge Gonçalves que quer saber do paradeiro do Alferes Quintas.

Envio fotos em anexo.


O Fernando Jorge Gonçalves, em 2013.
Foto de cronologia do Facebook
2. Mensagem do Fernando Jorge Gonçalves, a partir de Bissau, com data de 3/10/2019:

Prezado Senhor Carlos,

Antes de mais espero que esteja a gozar de uma óptima saúde ao lado dos teus familiares e amigos.

Eu sou um rapaz que pretende encontrar um senhor de quem tenho memórias e algumas fotos, de quando esteve na Guiné Portuguesa. Era o então Alferes Quintas, da Companhia de Caçadores 3373, no Aquartelamento militar de Empada, sul da Guiné.

Eu na altura tinha 3 anitos, sendo filho duma professora de quem esse senhor foi muito amigo e até namorava uma colega da minha mãe de nome, Fátima...Até fui mascote dessa companhia e tenho algumas fotos que poderão provar este facto e, quiçá muito útil para os vossos arquivos históricos. Até me chamavam de "Spinola".

Se por acaso esse Alferes Quintas estiver vivo, o que rezo que sim, ainda irá recordar perfeitamente. Por isso, por via de algumas pesquisas,por parte do senhor Carlos, gostaria de poder ter alguma notícia deste homem que, decorridos quase 50 anos,  nunca mais soubemos dele.

Eu, ao arrumar um velho baú da família,  descobri algumas fotos que me fizeram voltar a esse tempo e ter alguma curiosidade em conseguir ao menos saber deste homem que muito gostava de mim.

Espero não ser muito chato em lhe pedir este favor,  o que, na verdade estou lhe a roubar o seu precioso tempo. Agora sou um homem e com a minha família e gostava mesmo de saber desse senhor Quintas...Os meus contactos são: [dois números de telemóvel,  com indicativo da Guiné-Bissau...]

Sem mais assunto de momento queira aceitar os meus mais respeitosos cumprimentos e, na esperança de boas notícias....

Atentamente Fernando Jorge Gonçalves



Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/1972 > CCAÇ 3373 >  O "Cadaval", à esquerda, mais o João Arenga, algarvio de Faro, à direita.

Foto (e legenda): ©    João Arenga  (2019). [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. Resposta do nosso coeditor Carlos Vinhal, com data de 3/10/2019:

Caro Fernando Jorge.

As notícias não são as melhores.

Encontrei um antigo condutor auto da CCAÇ 3373, o João Arenga, que me informou que o ex-Alferes Quintas faleceu, vítima de acidente ferroviário, terá sido atropelado por um comboio.
Esse mesmo camarada deu-me o contacto do ex-furriel Ribeiro [, telemóvel nº ..] que vive em Vila Real e que saberá mais pormenores.

Lamento desapontá-lo.
Fico ao dispor,
Abraço,
Carlos Vinhal


4. Resposta do nosso leitor Fernando Jorge Gonçalves

Prezado Carlos Vinhal

É com muita tristeza e consternação que fiquei a saber de que afinal, por ironia do destino, o "Alferes Quintas" tenha tido aquele fatídico acidente e que lhe ceifou a vida...Ontem, por via do seu apoio, recebi a chamada do Sr Arenga, que me deu esta notícia mas, enfim,  é o percurso da vida.

Pese embora, teria muito gosto de o ter encontrado para ver o quão contente estaria em ver o seu " Spinolazinho", que foi mascote dessa companhia. Mas, mesmo assim gostaria de um dia ter um convite da vossa confraternização, podendo-me dirigir a essa plateia e, que com certeza muitos vão recordar de mim como, foi o caso do Sr Arenga,  que logo se lembrou de mim e até da minha mãe que, na altura, era professora [da escola primária].

Aproveito desde já lhe agradecer por me ter dado um momento de felicidade, que me fez voltar no tempo.

Já agora algumas fotos desse tempo.

Esse miudo era eu, de fardas feitas com o resto de tecido (foto nº 1). o alferes Quintas e a minha mãe [. foto nº 3] , e também o Jeep que ele usava [, foto nº 2], e que  era o meu carro preferido para dar voltas naquela pequena e bonita vila de Empada onde passei a minha infância e, tanto assim eu era o miúdo disputado por todos pra quem tinha que ficar comigo pra ser levado a comer no messe dos oficiais.

Os meus cumprimentos
Fernando Jorge Gonçalves ("Spínola")


5. Comentário do nosso editor LG:

Respondendo a uma dúvida do nosso coeditor, Carlos Vinhal, sobre "proteção de dados", não vejo qualquer inconveniente em publicar este material, o alferes Quintas não vem identificado pelo  seu nome completo, nem é referido o seu concelho de naturalidade,  nem sequer o seu último local de residência.

De resto, estes factos são "públicos"... Tudo o que se passou durante a guerra colonial é público, ou deve sê-lo. Neste caso, são também as memórias de uma família. O nosso leitor Fernando Jorge Gonçalves vive na Guiné-Bissau (de acordo com o nº do telemóvel), tem página no Facebook,  tem memória de infância que quer partilhar com a malta que esteve em Empada, em 1971/72... O alferes Quintas, esse, infelizmente já não já está entre nós. É uma história bonita, mesmo sabendo agora que o nosso camarada já morreu...

O Fernando Jorge Gonçalves fica desde já convidado para integrar a nossa Tabanca Grande, tendo ele manifestado  interesse em manter o contacto connosco... Gostaríamos de saber se a mãe ainda é viva, Percebe-se, pelas fotos, que a senhora tinha outro filho-bebé em 1971/72, à  data das fotos.

Presume-se que a professora, mãe do Spinolazinho, fosse cabo-verdiana. Em Bambadinca, também tínhamos uma senhora cabo-verdiana, professora... Os/as  professores/as da metrópole não se ofereciam para vir para a Guiné... As condições de trabalho eram duras, o clima não ajudava nada e muito menos a guerra...

Esta história tem muito interesse documental: também em Bambadinca, no meu temnpo (1969/71) tínhamos um puto desta idade, que era a nossa "mascote"... Andava fardado. comia connosco, era o "Tchombé", era nosso protegido... Não temos aqui falado muito destes "djubis" que eram  mascotes nalguns aquartelamentos do mato...

As nossas saudações para o João Arenga (, nosso camarada da CCAÇ 3373, a quem também convidamos para integrar a Tabanca Grande), para o Fernando Jorge Gonçalves e para o o seu amigo Artur Araújo.


PS  - A CCAÇ 3373 não tem nenhum representante na Tabanca Grande. Tinha até agora 2 referências no nosso blogue. Sabemos que: (i) foi mobilizada pelo RI 1 (Amadora); (ii) partiu para o TO da Guiné em 31/3/1971 e regressou à metrópole em 25/3/1973, com 24 meses de comissão de serviço;  (iii) esteve em Empada (entre maio de 1971 e maio de 1972) e em Brá; (iv) ostentou como Divisa “Os Catedráticos” e “Por Uma Guiné Melhor; e (v) foi comandada pelo Capitão Miliciano de Artilharia Adérito Assis Cadório.


6. Mensagem que seguiu hoje para o Fernando, em Bissau:

Fernando: Aqui estás um poste com algumas memórias do "Spinolazinho"... Infelizmente, o ex-alferes Quintas já não está cá, entre nós, para poder usufruir este momento, conforme notícia (triste) que já recebeu do Carlos Vinhal e do João Arenga.

Aceite o nosso convite para integrar a Tabanca Grande, temos o lugar nº 799 par o Fernando se sentar, à sombra do nosso poilão, com uma vasta comunidade (quase dois batalhões...) de amigos e camaradas da Guiné. Onde quer que ele esteja, o Quintas vai ficar orgulhoso de ver o seu "Spinolazinho", semntad ao lado dos seus camaradas da Guiné (1961/74).

Mantenhas, Luís Graça

PS- Dou conhecimento desta mensagem ao seu amigo Artur Araújo e a alguns camaradas nossos, que passaram por Empada, em diferentes épocas, ou que conheceram Empada... Enfim, dos que me vêm à memória. Pode ser que eles tenham algo a acrescentar...

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ainda temos vários postes sobre "mascotes", ou "djubis" transformados em "mascotes" de companhias de quadrícula...

Não gosto termo, uma criança é um ser humano, nunca poderia ser uma espécie de "totem", algo transfornada em "amuleto", objeto ou animal que dá sorte... Mas, enfim, era uma prática, na Guiné, que não era assim invulgar...

Os nossos militares transferiam para essa criança (, às vezes, órfã ou abandonada, ou filha de gente do "matp"...) a necessidade, no meio daquela porra de guerra, de exprimir sentimentos nobres: por exemplo, compaixão, solidariedade, humanidade, ternura... Isto está por estudar... Ou não tem sido descritou ou comentado no nosso blogue...

_____________

mascote | s. f.

mas·co·te
substantivo feminino
1. [Informal] Boa sina, boa ventura.

2. Amuleto cuja figura dá felicidade, segundo a crença popular.


"mascote", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/mascote [consultado em 15-10-2019].

______________


Veja-se, por exemplo,o poste

12 DE ABRIL DE 2011
Guiné 63/74 - P8086: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (40): O Domingos encontrou-me!.. Ele era a mascote da CCAÇ 462, Ingoré (1963/65) (J. Marques Ferreira)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

11 de Julho de 2009 >

Guiné 63/74 - P4671: Estórias avulsas (43): Domingos – A Mascote da minha CCAÇ 462, Ingoré 1963/65 (José Marques Ferreira)



(...) O DOMINGOS – UMA CRIANÇA SOLDADO

O Domingos era uma criança, em 1964, de estatura normal para os seus cinco, seis anos (talvez nem tantos na altura), os olhitos pareciam estar em permanente melancolia (como os de muitos putos guineenses), mas já o seu porte e presença eram um tanto diferentes.

O Domingos, fazendo fé nas recordações um tanto esfumadas, porque o tempo não perdoa e não é eterna a sua permanência nas minhas memórias cerebrais, começou a aparecer com a mãe, que lavava a roupa de alguns camaradas nossos, o que, como sabemos, constituía mais alguma fonte de sobrevivência para a família.

Tantas vezes lá foi que começou a ter contacto mais directo com os militares que, pelo seu feitio e postura simpáticas, eram afáveis para aquela criança de tenra idade. Ficou lá connosco um dia, depois outro e outro...

Todos o acarinhavam e brincavam com ele, e o Domingos ia demonstrando alguma sociabilidade, retribuindo simpaticamente com as peripécias próprias das crianças, o trato que lhe ia sendo dispensado.

Até que, para não alongar mais esta “lengalenga”, o Domingos foi adoptado, oficialmente, como mascote da CCAÇ 462. Passou a ter uma farda verde igual à nossa, com excepção do camuflado e do vestuário de trabalho.

Comia connosco, e durante muito tempo, chegou a dormir na nossa caserna, tal como todos nós. Os pais sabiam desta situação, o comandante da Companhia também. Já fazia parte da nossa "família". (...)

Ao fim de dezasseis meses, a minha companhia foi “embalada” e enviada para Bula, pelo que perdemos o rasto do Domingos.

Continuamos sem o ver quando fomos ocupar, pela primeira vez, o território de Có, Ponate, Jolmete e Pelundo.

E perdemos-lhe completamente o rasto, quando destas localidades seguimos para Mansoa. Nunca mais soube nada do Domingos, aquele puto simpático e meigo, de olhar melancólico, que viveu connosco durante vários e saudosos meses. Um dia, a Guiné tal como a conhecemos então, acabou para a nossa companhia, pois regressamos a casa no paquete Niassa…

Do Domingos ficou-me as naturais saudades do seu sorriso e traquinices, e a única foto que tenho dele (...).


[CCAÇ 462: Companhia independente, foi mobilizada pelo BCAÇ 10, partiu para o TO da Guiné em 14/7/1963 e regressou à Metrópole em 7/8/1965. Esteve em Ingoré, Bula, Có e Mansoa. Comandantes: Cap Mil Inf Jorge Saraiva Parracho; Cap Inf Joaquim Jesus das Neves.


Nota . Mascote, substantivo feminino, vem do francês (c. 1870), quer dizer "pessoa ou animal de estimação, fétiche, talismã, algo que dá boa sorte"...