Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Guiné 63/74 - P6486: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (4): Sem Caminho
1. Mais um bonito texto de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73 para a sua série:
DEPOIS DA GUINÉ, À PROCURA DE MIM
20 ANOS DEPOIS (4)
SEM CAMINHO
Tenho os olhos abertos
mas não vejo,
o meu futuro.
Tenho os braços estendidos,
as mãos abertas,
mas não agarro
o meu presente.
Os meus pés movem-se para a frente,
mas não me afastam,
do passado.
Olho em frente,
e vejo caminho,
mas quando o começo a percorrer,
ele foge de mim,
e dá-me um horizonte
sem fim.
Olho para trás,
e fujo,
mas o passado agarra-me,
ultrapassa-me até!
Que coisa estranha,
esta é,
o querer daqui abalar,
sem antes
aqui chegar!
E lá vem o poeta,
na sua frase imortal,
«tudo vale a pena,
se a alma não é pequena»,
e aqui é que está o mal!
É que a minha é tão pequena,
que nem a consigo encontrar!
Esconde-se de mim,
troca-me as voltas,
faz de conta que eu não existo,
ou melhor,
ou pior,
sei lá eu,
faz de contas que não existe.
Vagueio assim pela vida,
olhos fechados ao caminho,
e oiço-os,
os outros,
bem atrás de mim,
dizendo baixinho,
olha, lá vai o “sem alma”!
Mas o que é que isso lhes interessa,
o que têm a ver comigo,
se eu próprio não me interesso,
se só a indiferença me acalma,
para que me querem,
como amigo!
Olho para dentro de mim,
vejo tudo,
e nada vejo.
Fecho os olhos,
adormeço,
deixo que o sonho,
seja esperança,
confiança e vida em mim.
Deixo-me ir,
assim,
devagarinho,
já não há muito caminho,
porque o princípio…
é no fim…
91.12.12
Um abraço do
Joaquim
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6471: Vídeo: Fado da Guiné (letra original e voz de Joaquim Mexia Alves)
Vd. último poste da série de 19 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6431: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (3): Sem título I
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
OLÁ MEXIA,
GOSTO DA MANEIRA FÁCIL COMO JOGAS COM AS PALAVRAS DENOTANDO UMA HABITUAÇÃO CLARA AO ESTILO.
GOSTO DOS TROCADILHOS EM QUE TE EMBRENHAS,MAS GOSTO SOBRETUDO DO SENTIMENTO E DA SONORIDADE TÃO BEM EXPRESSSOS.
Parabéns, gostei, gostei mesmo.
BSardinha
Caro Joaquim,
O Manuel Maia em dois parágrafos escreveu um livro sobre o teu poema.
Não é necessário mais.
Parabens! continua.
Um abraço,
Mário Fitas
Cmandante Mexia, não pares de te procurar através de palavras tão bonitas.
Se te não encontrares, não te rales...conseguite que outros o fizessem através de sentimentos tão bem expressos nos teus jogos de palavras.
Um abraço amigo do Vasco.
Vasco A.R. da Gama
Enviar um comentário