sexta-feira, 18 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6614: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (3): Gente de Cacoca e outros

1. Mensagem de António José Pereira da Costa*, Coronel, que foi comandante da CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74, com data de 16 de Junho de 2010:

Camarada
Aqui, em anexo, encontrarás a minha terceira tentativa de colaboração. Espero que gostes...

Seguem tambem três fotos para anexares. São duas da Ami - a menina de quem falo - e uma da malta da companhia num dia em que o caçador matou um pangolim. Um espécie de animal pré-histórico que come formigas.

Um Ab. do
António Costa



A Minha Guerra a Petróleo (3)

Gente de Cacoca e Outros


Em 1968, Cacoca era um daqueles lugares onde parecia não haver guerra. Dependente da Companhia sediada em Sangonhá, era um destacamento de nível GCOMB, resumindo-se a uma pequena tabanca com pouco mais de duzentos habitantes. O quartel era um pequeno recinto, quase um quintal, com uma vivenda de alvenaria, tipo colonial, ao centro. Nessa vivenda tinha funcionado uma daquelas lojas que só existiam ou ainda existem em África. Um daqueles estabelecimentos onde era possível comprar livros do Erskine Caldwel ou pregos de meia-galeota; garrafas de vinho verde ou pilhas para lanterna; panos com que as mulheres se cobriam ou tabaco americano que não se encontrava em Lisboa, enfim tudo ou quase tudo...

A loja ou “cantina” pertencera a um comerciante europeu a quem chamavam o Toneca e que, naquela altura, já só tinha estabelecimento em Cacine, onde vivia sem família, encarnando a figura do “lançado” no sertão. Tinha tido mais uma loja em Sangonhá, da qual se desfizera, e outra em Campeane que fora saqueada, logo no início da guerra. O Toneca era um homem só, longe dos seus que, ao que parece, andavam ali por Leiria. Aviava-nos com uma lenta eficácia, desencantando o que lhe pedíamos nas prateleiras junto ao tecto, ou no mais recôndito da arrecadação. Raramente falhava. À noite, a loja era um misto de tasca e café, onde se podia “meter uns copos”, ao balcão, ou tomar ar, em duas ou três mesas colocadas no alpendre. Um daqueles alpendres elevados e altos, tão frequentes, circundando as casas de um só piso. Assim teria sido também a loja de Cacoca que agora era uma instalação multiusos, misto de alojamento para pessoal, posto de socorros, posto de rádio, talvez depósito de géneros... etc., etc... e etc...

Não tenho memória de que tenha sido atacada com armas pesadas ou “ao arame”, com armas ligeiras, embora se situasse a cerca de 2km da fronteira. Nunca mais esquecerei o meu primeiro contacto com essa casa onde, quando entrei para falar com o alferes que comandava o destacamento, se ouvia, num gira-discos a pilhas, o Gianny Morandi a cantar (bem alto) o “Non son degno di te”. A “máquina de fazer barulho” pertencia ao cabo maqueiro que, momentos depois discorria, em voz bastante alta, sobre “Os Operacionais”, como ele, versus os “CêCê-Ésses”, que eram os outros. Via-se claramente que era um operacional pelo modo expedito como remendara um rasgão enorme nos fundilhos das calças do camuflado, recorrendo a um emplastro de adesivo daqueles com orifícios circulares, para a pele respirar... Expedientes de campanha ou o velho “desenrascanço dos portugueses” sempre presente aqui, ali ou em qualquer outro lado.

Quem viesse de Cacine, ao chegar ao “Cruzamento”, virava à direita e seguia paralelamente a uma pista de aterragem de terra batida (pouco operativa, na altura). O terreno era aberto e deixava ver, ao longe, a vivenda, emergindo da tabanca, cujos telhados de capim e cibe formavam uma espécie de arranjo floral de plantas secas à volta de uma flor ainda com viço. À direita e à esquerda a vegetação era densa, com todos os tons do espectro do verde, mas onde surgiam outros tons: de cinzento, de castanho e – para quem olhasse com vagar e detalhe – em salpicos mal semeados, de vermelho e amarelo.

A CArt 1692, à qual eu agora pertencia, guarnecia Cacine, mas antes tinha andado pelo sector de Sangonhá e Cacoca, e o Duarte – alferes da minha companhia, ex-seminarista como outros houve – assegurava que por ali era possível caçar pombos verdes e outras bichezas comestíveis que se manifestavam com certa abundância. A população de Cacoca dava-se bem com os soldados e parecia haver uma certa amizade entre os jovens militares e os habitantes, independentemente das suas idades. Fiquei com a ideia de que a população colaborava na vivência da tropa de modo espontâneo e franco. A actividade operacional resumia-se a garantir a possibilidade de comunicar com a sede da Companhia.

Malta da CART 1692 segura um pangolim abatido

A chegada do General Spínola à Guiné alterou profundamente a condução da guerra e as visitas que realizou a todos os aquartelamentos, por diminutos que fossem, ouvindo os “residentes”, como nunca tinham sido ouvidos, causaram boa impressão, embora constituíssem, para quem expunha os problemas, como que uma espécie de exame prático das soluções adoptadas.

Havia chegado há pouco tempo quando foi a Cacine e eu assisti a uma conversa com o capitão Veiga da Fonseca em que pretendeu saber, naquele sector, quais as posições que deveriam ser abandonadas, se pretendesse recuperar tropa “de quadrícula” para dispor de mais unidades “de intervenção”. O nosso Batalhão – o BArt 1896 – tinha, então, seis Companhias no terreno – Cacine e Cameconde, Sangonhá e Cacoca, Gadamael e Ganturé, Guileje, Mejo e Gadembel e Ponte do Balana (acabados de construir) – e, obviamente, a CCS sediada em Buba. O capitão respondeu-lhe que, para não perder o controlo da estrada para Guileje e depois Mejo, não deveria abandonar nenhuma posição, mas se a ideia era aquela, então que abandonasse Cacoca e Sangonhá. A decisão veio alguns dias depois e passámos a “fazer sector” com a unidade de Gadamael. Os quartéis de Cacoca e Sangonhá foram simplesmente abandonados e a população aceitou bem a decisão (pareceu-me, pelo menos,) e repartiu-se, segundo as suas afinidades e desejos, entre Gadamael e Cacine, o que levou à realização de mais de 30 colunas em 20 dias, com as viaturas ajoujadas de carga e passageiros. Transportámos tudo o que se podia mover. Com os homens, mulheres e crianças, seguiram as mobílias, as roupas e os alimentos, os animais domésticos e até os telhados das casas (capim e as rachas de cibe). Uma autêntica migração realizada prioritariamente para Cacine, onde havia mais recursos, espaço e melhor protecção contra as actividades dos guerrilheiros.

Num daqueles dias, a coluna estava a organizar-se em Cacoca. As viaturas, colocadas paralelamente à pista e já viradas para rolarem em direcção ao “cruzamento”. Por cima das bagagens amontoadas nas caixas de carga, as famílias procuravam concentrar-se e instalar-se o mais comodamente que fosse possível. Quando já não houvesse mais ninguém para subir para as viaturas de carga, eu daria o sinal de partida. Naqueles últimos minutos, distraía-me a olhar a paisagem, à qual um dia sem sol parecia querer diminuir a beleza. A atmosfera, húmida e carregada de tons de cinzento, deixava prever que a chuva tropical não tardaria a chegar. Estávamos sentenciados a chegar a Cacine encharcados, mesmo que nos apressássemos a partir. Senti, então, um toque no braço. Quando me virei para ver quem era, ela disse:

- Meimuna, pariu um fio qui tin dez dia. Quer pa nossalfere arranja mim lugar sintada.

Transportava nos braços, com grande cuidado, um enrolamento de mantas que deveria conter qualquer coisa de precioso. Eu não vi o que fosse, mesmo quando mo emprestou, por alguns segundos. Acompanhei-a ao Unimog onde eu iria e ajudei-a a subir para o lugar ao lado do condutor. Encostei o embrulho ao peito e ela apoiou-se com dificuldade naquela espécie de degrau circular que a roda da viatura tinha, depois no próprio pneu, usando o meu ombro como corrimão. Sentou-se no banco de lona e eu passei-lhe o pacote que deixou calor no meu peito. Ali perto, um grupo de homens – dos grandes – assistiu à cena e eu, ainda hoje, rendo homenagem àquela mulher que fez valer os seus direitos de mãe, mesmo sem o apoio daquele grupo de “respeitáveis”.

Fiz a coluna em pé entre a Meimuna e o “Alcochete” o condutor. Nesse dia choveu bastante durante o percurso e chegámos a Cacine molhados “até aos ossos”. Vim depois a saber que era a mulher de Alfa Bá, caçador muito hábil, que abastecia de carnes a CArt 1692.

Pertenciam a uma família curiosa, em parte já residente em Cacine. Eram voluntariosos e activos, mas não se empregavam em nenhuma actividade relacionada com a guerra. A essa família estava também ligado o ferreiro de Cacoca. Era um hemiplégico. Arrastava-se pelo chão, vestindo uma espécie de calções de cabedal donde lhe emergiam as pernas finíssimas, e sentado numa almofada também de cabedal. Da cintura para cima tinha o físico clássico de um ferreiro. À sua volta, funcionalmente dispersas pelo chão, as ferramentas de que necessitava e a fornalha engenhosamente montada no chão. Assim podia acendê-la, atiçá-la e alimentá-la, quando necessário, graças a um fole também apoiado no solo. A bigorna estava cravada no chão, a pouco mais de um palmo de altura e nem abanava quando a utilizava. Aquele homem era um exemplo de tenacidade. Lembro-me de o ver a trabalhar sob um telheiro de colmo e, o que mais me admirava era a certeza dos seus movimentos, que eu não supunha possíveis para quem trabalhava numas condições tão invulgares. Contudo, a adaptação das ferramentas que utilizava à sua condição deficiente – como hoje diríamos – não ia muito além dos cabos dos malhos que eram um pouco maiores do que o habitual.

A essa família pertencia um alfaiate já residente em Cacine, antes da “migração de Cacoca” cuja mulher tinha uma profissão muito vulgar, naquele tempo: lavadeira da tropa. Sei de casos em que esta profissão de tempo de guerra foi considerada uma forma de colaboracionismo. É discutível e jamais alguém conseguirá dizer onde termina a simples luta pelo pão-de-cada-dia (e mais ainda em tempo de crise ou guerra) e onde começa e o que era, naquelas circunstâncias, o colaboracionismo. E muito mais “numa luta em que uma parte da população enfrenta as autoridades de direito ou de facto constituídas”. O marido sofreu um contratempo grave e não sei que marcas lhe terá deixado. Por volta de Março ou Abril de 1968, começámos a abrir à esquerda da estrada, como quem vai para Cameconde, uma área desmatada, com cerca de 50 metros de largura destinada a evitar que o inimigo conseguisse instalar-se a curta distância da estrada. Já tinha havido e voltou a haver, depois da nossa saída, emboscadas às colunas que iam de Cacine a Cameconde. Aqueles 8 quilómetros de estrada eram diariamente percorridos: todas as manhãs e nos dois sentidos, por um pelotão de milícia, e pela coluna auto que saía e retornava a Cacine, sem horários marcados. A população colaborava diariamente, com mais ou menos vontade, nos trabalhos de desmatação com o objectivo de criar uma área de terreno cultivável e sob a vigilância de um grupo de combate, lá ia, formada em linha, cortando e abatendo tudo o que fosse vegetação. Num desses dias de trabalho, o alfaiate afastou-se do grupo de capinadores e, sem dizer nada a ninguém, internou-se no mato. Tanto bastou para que o “Lameiras” lhe caísse em cima e o prendesse por suspeita de ir contactar com alguém. Em vão protestou que apenas ia ariau u cauça (arriar as calças) mas, de pouco lhe valeu. As coisas teriam ficado por ali não fosse a presença em Cacine de um inspector da PIDE que, no terreno, pretendia colher informações que pudessem orientar as acções da 5.ª de Comandos e da CArt na tentativa de combater o inimigo. É que, nesse tempo – passados cinco anos sobre o início da guerra – e naquela zona, os campos já estavam divididos e quem apoiava o PAIGC, mesmo residindo em Cacine, fazia-o platonicamente ou de um modo muito clandestino e quem preferia a tropa já renunciara a contactos mesmo com os amigos ou conhecidos que tinham optado de modo diferente. Por conseguinte, era muito complicado obter informações. O inspector tinha muito tempo de África e, ao que parece, vinha de S. Tomé, o que não era um cartão de visita muito abonatório. Num grupo de cinco militares onde me inclui, fomos, um dia à tarde prender o alfaiate. Fiquei no exterior da casa atento a uma possível fuga, dele ou de alguém que com ele estivesse, enquanto três entravam e o outro passava para as traseiras. Enfim, tudo como mandavam os livros. Estava concentrado no que se ia passando e, subitamente ouvi uma restolhada, como se alguém mexesse em palhas. Virei-me e apontei a arma na direcção do ruído. Era uma criança que arrastava uma esteira. Uma menina linda que não devia ter mais de quatro anos. A partir daí ficou a temer-me e não o escondia, mesmo quando eu falava com alguém da família dela, quer fosse o alfaiate, a mulher dele, o Alfa ou outra pessoa. Era a Ami Silá de quem guardo uma fotografia e que nunca me perdoou a arma que lhe apontei.

A pequena Ami Silá

O alfaiate foi interrogado pelo PIDE e torturado no posto administrativo, quase em público, com um cipaio que lhe dava reguadas nas mãos com uma “menina-de-cinco-olhos”, como havia nas escolas desse tempo, mas esta tinha uns dois centímetros de espessura. Depois ficava de mãos no ar enquanto respondia às perguntas que lhe eram feitas. Não tinha grande coisa ou nada mesmo a dizer. Por isso voltava a apanhar e a ficar com as mãos no ar. Os resultados foram desanimadores e o homem da PIDE acabou por desistir. Terá continuado as suas investigações por outras vias e acabou por fazer uma descoberta sensacional e que surpreendeu toda a gente: o bazookeiro do 4.º Pelotão negociava em fotografias pornográficas. Quem diria?

O mais insólito sucedeu no dia em que fomos atacados da ponta Cabascane. Devido às suas luzes, Cacine referenciava-se bem de longe e os serventes do PAIGC estavam inspirados, naquele fim de tarde. Por isso, algumas morteiradas caíram dentro do quartel. A flagelação teve lugar imediatamente antes do jantar, na altura em que, na varanda da vivenda que servia de messe, estávamos a apanhar fresco e beber um aperitivo. Cada um fugiu para o seu sítio e o gravador Akai do capitão continuou a tocar indiferente à flagelação. Era um gravador de fitas, com duas colunas grandes que davam um som óptimo (para o tempo). A mesa onde comíamos estava colocada a um canto da casa (um sítio bastante seguro) e o PIDE, sem lugar definido em caso de ataque, acabou por entrar em casa e esconder-se debaixo da mesa. Dali gritava para que alguém lhe “apagasse a música”. Porém, ninguém voltou atrás para essa tarefa. Depois do ataque, ao jantar, explicava que “não se deve brincar com a providência” e que aquela música, no meio das explosões, o enervara sobremaneira. Daí a sua respiração ainda resfolegante...

As casas para a população de Cacoca e Sangonhá foram construídas, na área da antiga “Missão do Sono”, então desactivada pela erradicação da doença. O auxílio muito empenhado do pessoal da companhia foi essencial e foi a primeira vez que vi casas cuja construção começou pelo telhado. Tudo começava com a construção de uma estrutura que suportava o telhado. Depois, este ia sendo construído e coberto de capim. Por fim, eram as paredes que resultavam de um espécie de rede de paus mais curtos e espetados no solo que faziam ângulos de rectos com outros mais compridos dispostos na horizontal. No recticulado que assim se formava iam sendo colocadas, pela face interior, “chapadas” de lama que, secando, iam constituindo as paredes das habitações**.


O quartel de Cacoca ficou incluído no nosso sector e, de vez em quando íamos para aqueles lados. Até para que o In não o tomasse como seu. Como era um ponto bem marcado no terreno e observável desde “o cruzamento” utilizámo-lo uma vez numa regulação de precisão de fogos de artilharia, com observação terrestre. Como observador avançado, instalado numa árvore, eu ia transmitindo as observações e tinha ordem para suspender o tiro logo que fossem visíveis efeitos no alvo. Assim ao primeiro tiro que atingiu o objectivo, dei a regulação por terminada. Não sei como é que a guerra continuou a passar por ali, mas já vi o estado da região, no “google”, e fico feliz por aquela terra ter voltado a ser ocupada.

Que será feito da “cantina” do Toneca?
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6462: Humor de caserna (19): Nha Carlota, uma mulher de armas (António J. Pereira da Costa)

(**) Vd. poste de2 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3013: Reordenamentos (1): Gadamael, o primeiro, na sequência da retirada de Sangonhá e Cacoca em meados de 1968 (António J. Pereira da Costa) 

Vd. último poste da série de 12 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5803: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (2): Os guias e picadores, mandingas, do Xime, Malan e Mancaman: duas maneiras diferentes de ser e de estar na guerra...

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Pereira da Costa

Comecei a ler o texto e, ao ver alguns nomes de pessoas e locais, regressei ao passado.

Mais precisamente a Janeiro de 1972quando a minha companhia de origem: CCAÇ 3520, independente, madeirense, chegou a Cacine.

O comerciante Toneca, europeu, cafrealizado, ainda lá continuava com o mesmo estabelecimento. Como era hábito nestes casos,suspeitava-se que "jogava" a favor e contra.

Também nós fazíamos diariamente a coluna entre Cacine e Cameconde, destacamento isolado, rodeado de floresta, onde cada GC estava 1 mês, em sistema de rotação. Era o reduto das NT situado mais ao Sul da Guiné.

Quanto a Cacoca, só lá fui em patrulhamento. A picada que ia de Cameconde para lá, era visível apenas por 1 ou 2 Kms. O resto já tinha sido submerso pela vegetação.
Também os vestígios de Cacoca, tinham praticamente desaparecido. Lembro-me apenas de um marco português semi-escondido no matagal.

A tabanca onde foram alojados os deslocados de Cacoca, penso que era aquilo a que nós chamávamos de Tabanca Nova e que ficava a caminho de Cameconde, vindo de Cacine.

Ah, e o Pide, pois é, lá continuava firme em Cacine, certamente já um novo e "digno" sucessor do indicado no texto. Com um senão ainda maior: É que no meu tempo, já não "abancava" na messe de Oficiais mas sim na messe de Sargentos. Bom, mas isso são outras estórias.

O tempo passa, mas as memórias não.

Com um grande abraço
extensivo aos camaradas de todas as Tabancas

José Vermelho
Ex-Fur Milº
CCAÇ 3520 - Cacine
CCAÇ 6 - Bedanda
CIM - Bolama

Anónimo disse...

Caro camarada,
Almocei hoje com o Zé Vermelho, que me recomendou vivamente que lesse uma história recentemente aparecida no blogue que se referia a pessoas e locais que eu sobejamente conhecia!
Foi uma delícia voltar a ouvir falar de Cacoca, do Toneca, do pide ou de pangolins!
Entre Cacine e Cameconde foram 20 meses, em 72 e 73!
Àquilo que o Zé Vermelho disse posso ainda acrescentar alguma coisa:
- O pide foi por nós expulso daquela maravilhosa messe de cuja varanda se observava tanto o pôr do Sol como as trovoadas sobre o Rio Cacine!Teve guia de marcha para a messe de Sargentos, porque, como lhe dissemos, não comíamos com pides na mesma mesa! ( mais tarde o Zé Vermelho e outros furrieis fizeram-lhe o mesmo!)
- O Toneca e o respectivo estabelecimento continuavam exactamente como consta na estupenda descrição da história.
- a carne de pangolim é algo de extraordinário(não tem qualquer gordura)
- Cacoca estava incluída na zona de intervenção da nossa companhia pelo que a visitei muitas vezes em patrulhamentos! Numa dessas ocasiões apanhámos a pista de aviação completamente minada (essa estória anda algures aí pelo blogue). Levantámos 34 minas e se alguma tivesse sido accionada, seria o caos.
Pouco tempo depois fomos montar segurança a Spínola que ali se deslocou com um jornalista estrangeiro! Quando saíu do heli perguntou: "vocês picaram isto bem?"
Ficou tranquilo com a resposta afirmativa, olhou para o jornalista que não saía do heli e afirmou: "o gajo está todo cagado!"
E pronto! Parabéns pelo texto, bem interessante e agora só falta uma coisa... irmos dar um passeio a Cacine, Cameconde e Cacoca! Eu alinhava!...
Um abraço.
Juvenal Candeias