sábado, 29 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19055: Os nossos capelães (12): O Carlos Manuel Valente Borges de Pinho, ex-alf mil capelão, de 16/3 a 16/9/73, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74)


Guiné > Região de Tombali > BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Buba. Nhala, 1973/74 > Nhala > 10 de março de 1973 > 10 – Visita da Cilinha [, Cecília Supico Pinto, presidente do Movimento Nacional Femininpo].  aqui à conversa com o comandante do Batalhão, ten cor Carlos Ramalheira. Em primeiro plano,  o cap João Brás Dias, cmdt da  1.ª CCAÇ/BCAÇ 4513,  de Buba. O ten cor César Emílio Braga de Andrade e Sousa foi o 1º  comandante do batalhão,  abandonaria o TO da Guiné, por doença, logo no início da comissão, sendo substituído pelo ten cor Carlos Alberto Simões Ramalheira, aqui na foto].

Foto (e legenda): © António Murta (2015).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Comentário de José Teixeira ao poste P19024 (*):
O Carlos Manuel Valente Borges de Pinho era e é felizmente meu amigo pessoal, ao ponto de ser por convite o celebrante do meu casamento.

Foi coadjutor da paróquia de Cedofeita, no Porto, transitando depois para S. João de Ovar. 

Por razões afetivas, abandonou o sacerdócio uns meses depois de ter chegado à Guiné. Veio de regresso e foi para Mafra tirar o COM [, Curso de Oficiiais Milicianos,],  por imposição militar e foi colocado em Infantaria 6 no Porto para formar Batalhão e partir para a guerra. 

Entretanto deu-se o 25 de Abril e ficou por cá.

Estava marcado e vigiado pela PIDE/DGS  desde Cedofeita. Sei que foi chamado pelo comandante de Batalhão e por este lhe foi dito mais ou menos isto:

- A PIDE ordenou-me que o Capelão fosse vigiado porque era um tipo perigoso - e mais lhe disse:  - Eu não lhe vou criar problemas, faça a sua vidinha, mas, se me complicar a minha,  fodo-o.

Chegou a estar em Aldeia Formosa. Foi por ele, no seu regresso que soube que o Alferes de 2ª linha e meu amigo, o Aliu Baldé, chefe de Tabanca de Mampatá, tinha falecido por doença e que a grande àrvore que havia no centro de Mampatá tinha sido abatida para alargar a estrada para Iroel/Colibuia/ Nhacobá.

Cursou direito e foi trabalhar para a Soares da Costa, de onde já se deve ter reformado.

José Teixeira

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Zé pela teu precioso comentário. O Carlos Manuel Valente Borges de Pinho foi capelão apenas por 6 meses: de 16/3 a 16/9/1973 (**).  Por informação do nosso camarada Fernando Costa, de 4 de setembro de 2014,  sabemos que pertenceu à CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74).  Aliás, o seu nome consta da lista do pessoal do batalhão [Vd. o blogue deste batalhão, que se publica desde 2010 e tem mais de 53 mil visualizações].

É a ele, seguramente, que se refere um poste de 11/4/2014, com o depoimento de um camarada deste batalhão, que pediu na altura o anonimato, pedido que foi aceite, a título excecional, dado o interesse do assunto. (***).

Oxalá apareçam mais depoimentos sobre os nossos capelães e, sobretudo, que apareçam mais capelães a dar a cara no nosso blogue, o mesmo é dizer, a exercer o dever e o direito à memória. Como é timbre da nossa Tabanca Grande, não estamos aqui para julgar ninguém, apenas para partilhar memórias (e afetos). (****)

__________

Notas do editor;

(*) Vd. poste de > 18 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19024: Os nossos capelães (10): O "romance do Padre Puim", por Carlos Rebelo (1948-2009), ex-fur mil sapador, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não foi só o BCAÇ 4513 que lidou mal com o "problema dos capelães" em crise de fé ou em conflito de papéis... O mesmo se passou com o BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)... Haverá mais casos...Julgo que os comandos de batalhão, no tempo de Spínola, andavam nervosos e com a "bússola" avariada...Muitos temiam os famosos "patins" que ele trazia de helicóptero, o heli do Spínola que era o terror dos tenentes coronéis... Outros não sabiam interpretar e muito menos implementar, nos seus setores, as diretivas da política spinolista "Por Uma Guiné Melhor"... Eu acho que os nossos pobres capelães, que estavam longe de ser uns "perigosos comunistas", apanharam simplesmente por tabela... E a sua hierarquia, os seus chefes religiosos, que tinham postos militares, também não estavam lá para os defender...

Valdemar Silva disse...

Luís
O Spínola criou essa dos famosos 'patins', assim como aquela do envio das grades de cervejas para a rapaziada que tinha sido atacada, mas a da 'Por Uma Guiné Melhor' foi uma grande confusão para toda a gente. Seria um esboço para uma autodeterminação e posterior independência? Nunca se soube se a ideia foi sua ou era uma diretriz geral abrangente/incontornável às outras colónias.
Quanto à Cilinha que aparece na foto sentada numa cadeira feita das aduelas dos barris do tintol (arte do desenrasca), recordo-me: quem é que é do Belenenses? e assim não arranjava nem áh!!! ou óh!!!, mas não passava de uma ideia/imitação rebuscada de uma Marlene ou de uma Marilyn(salvo as devidas aparências).

Boa vindima e cuidado com o bioxene.
Ab.
Valdemar Queiroz

PS(não confundir com sigla partidária): Em 2014 o meu filho a minha nora holandesa
andaram por esses lados. Vieram a um casamento a Felgueiras e depois visitaram Guimarães terra do meu pai. Ainda, agora, falam, lá na terra dos Duchs, das grandes 'tareias' de encher barriga, cabeça, olhos e alma dessas nossas terras.

Anónimo disse...

semore a maldicencia,essa o Valdemar de comparar o imcomparavel tem que se lhe diga.A mulher cumpria com aquilo em que acreditave.Agora imitar a Marlene.
Jpse Dias

Valdemar Silva disse...

José Dias
Tanto a Marlene como a Marilyn alegraram as tropas na guerra.
Realmente a Marlene, além de alegrar a tropa, também teve uma acção humanitária ajudando exilados financeiramente.
A ideia da Cilinha poderia ser vista desta forma, mas a ajuda foi pouco mais duns cigarrinhos e umas bolas de futebol.

Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Valdemar, essa do Spínola 'Por Uma Guiné Melhor' não foi nem mais nem menos tudo o que se tentou em todos os territórios na "Guerra do Ultramar", nem foi apenas ideia dele imaginada na Guiné, para a Guiné e só para a Guiné.

Já em 1961 se tinha generalizado essa política com as populações, ele, Spínola, portanto ainda lá.

Só que Spínola usou os seus métodos como comandante militar, e simultaneamente Governador Geral da Guiné, como tal era tudo com ele, daí tanto protagonismo a dar nas vistas em relação ao que se passava com outros capitães e majores e ten coronéis que tiveram total sucesso noutros campos de guerra (caso de governadores distritais de Angola).

De facto Valdemar, nem todos os militares (e civis) estavam preparados para compreender a guerra, nos moldes da Psico-social.

Mas como era uma guerra à partida perdida não tanto no "relvado" mas no "gabinete" (ONU), qualquer esforço era sempre em vão.

Valdemar Silva disse...

Rosinha
A guerra, à partida, estava perdida, por a rapaziada de cá não sentir o dever da
defesa daquelas terras dos outros.
Senão, vejamos que já em 1961 faltaram 'à tropa' cerca 12% dos recenseados e nos anos seguintes da guerra a percentagem de faltosos foi sempre subindo.
Em 1962 13% de faltosos - 1968 19% de faltosos
1963 16% de faltosos - 1970 20% de faltosos
1964 18% de faltosos - 1971 17% de faltosos
1965 19% de faltosos - 1972 20% de faltosos
1966 18% de faltosos
1967 20% de faltosos

Valdemar Queiroz

nota: as percentagens indicadas foram obtidas do excelente trabalho feito pelo
nosso camarada José Martins