terça-feira, 25 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19046: (D)o outro lado do combate (36): Bigene, agosto de 1972, «Operação Silenciosa"... (Jorge Araújo)


Bigene, a oeste de Farim, junto à fronteira com o Senegal



Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op Esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do nosso blogue


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > 

BIGENE, AGO'1972: «OPERAÇÃO SILENCIOSA»: A NEUTRALIZAÇÃO DA ARTILHARIA PESADA COLONIAL  [AO TEMPO DA CART 3329]


MEMÓRIAS DO BRIGADEIRO-GENERAL DAS FARP ALBERTINHO ANTÓNIO CUMA (EX-COMBATENTE)


Entrevista publicada em «O Defensor», órgão das FARP - Forças Armadas Revolucionárias do Povo. Edição n.º 22, dezembro de 2015, p.10.- "Grupo de guerrilheiros neutraliza artilharia colonial"

(Parte I)

1. INTRODUÇÃO

Já aqui foi referida a existência da revista «O Defensor», órgão de Informação Geral do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, por iniciativa do camarada José Teixeira, 1.º cabo aux enf da CCAÇ 2381 (1968/70), ao partilhar/divulgar a entrevista dada em 2001 por Arafam Mané (1945-2004), aquele que historicamente é referido como tendo sido o principal líder do ataque ao quartel de Tite, em 23 de Janeiro de 1963, data que marcou o início do conflito armado no CTIGuiné [P16794].


Com a presente narrativa, a segunda elaborada tendo por base a mesma revista, a n.º 22, de Dezembro de 2015, seleccionámos uma outra entrevista dada por outro combatente – Albertinho António Cuma [hoje, Brigadeiro-General das FARP] – que em Agosto de 1972 chefiou o grupo de bazucas que assaltou o quartel de Bigene com o objectivo de neutralizar as peças de artilharia aí existentes: dois canhões de 130 mm, cuja missão foi designada por «Operação Silenciosa».

Pela sua importância histórica, pelo interesse colectivo que certamente despertará em cada um de nós, em particular do contingente das NT que naquela data passou por aquela experiência, tomámos a iniciativa de a divulgar, com a devida vénia.

Ainda que não tenhamos registos oficiais em relação à unidade que aí estava instalada naquela data (ou período), acreditamos tratar-se da CART 3329, uma Companhia Independente mobilizada pelo Regimento de Artilharia Ligeira n.º 3, de Évora.

De acordo com a investigação realizada, e embora esta unidade não tenha qualquer membro registado na nossa «Tabanca» ou aqui divulgadas quaisquer acções da sua actividade operacional (1970/72), conseguimos apurar que a sua comissão decorreu entre 19 de Dezembro de 1970 (chegada a Bissau) e regresso a Lisboa em Dezembro de 1972.

Para além destes elementos cronológicos, localizámos mais dois fragmentos históricos retirados do vasto espólio do blogue da «Tabanca», a saber:

● P2416 – A CART 3329 rendeu em 3 de Março de 1971 a CCAÇ 2527 (1969/71) no subsector de Bigene (A. Marques Lopes, ex-Alf Mil, 1968/69).

● P5534 – A CCAÇ 4540 (1972/74), após ter terminado o período de sobreposição com a CART 3329, assumiu toda a responsabilidade administrativa e operacional desse subsector. No dia 15 de Novembro de 1972, a CART 3329 terminou a sua comissão e despediu-se de Bigene (Eduardo Campos, ex-1.º cabo trms, 1972/74).

Por outro lado, seria interessante que a esta história pudessem adicionar-se outros depoimentos elaborados por quem tivesse vivido este acontecimento.

Aguardemos!


2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS - FRENTE NORTE

"Para desencravar a Zona Norte – criar um corredor livre e seguro entre Farim e Barro – com vista a facilitar a movimentação da guerrilha e a população que apoiava a luta, o PAIGC tomou a decisão de assaltar o quartel colonial de Bigene, principal obstáculo ao avanço da luta armada naquela área, que tinha duas peças de canhões de 130 mm cujos disparos causavam perdas humanas e danos materiais e morais entre os combatentes da área e dificultavam as movimentações tanto no Norte como no sentido Leste – Norte.

O aumento no seio dos combatentes, de novos quadros militares formados nos países amigos, e a formação de novos Corpos do Exército Regular nas fileiras da guerrilha [CE 199-X-70] revolucionou a sua capacidade táctica e combativa. Assim, estavam criadas as premissas de mudar a forma de luta para derrotar o inimigo [NT] e expulsá-lo dos territórios ocupados. Intensificaram-se as operações contra os quartéis e contra as colunas militares coloniais que faziam a ligação entre eles, desse modo, viam as suas manobras cada vez mais limitadas.

Graças a essa evolução, positiva, a Direcção Superior do Partido decidiu, sob as orientações do Secretário-Geral, Amílcar Lopes Cabral [1924-1973], criar entre Farim e Barro, além da fronteira com o Senegal, corredores livres para facilitar as movimentações dos guerrilheiros ao longo daquele espaço norte".

[Oito meses após a «Operação Silenciosa», que serviu de ensaio para uma nova forma de agir no terreno, o PAIGC inicia em Abril de 1973 uma nova estratégia, levando à prática o isolamento de Guidaje (um pouco mais a norte de Bigene) que culminou com a «Batalha de Kumbamory». Concluído este confronto bélico de grande envergadura, facto gravado para sempre na História da Guiné como «Operação Ametista Real», realizada em 19 de Maio de 1973, as NT contabilizaram uma das maiores capturas e destruições de material da Guerra de África].


3.  O CASO DA «OPERAÇÃO SILENCIOSA» EM AGOSTO'1972

Considerando a importância histórica da «Operação Silenciosa», o Brigadeiro-General Albertinho António Cuma, Chefe de Divisão da Educação Cívica, Assuntos Sociais e Relações Públicas do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, que esteve presente no teatro das operações [imagem ao lado, à data com a patente de Coronel], dá conta dos principais factos da sua missão.

[É de referir, neste contexto, que a primeira parte da entrevista é assinada pelo Major Ussumane Conaté, director do jornal «O Defensor», órgão das FARP – Forças Armadas Revolucionárias do Povo, publicada na Edição n.º 22, de dezembro de 2015, p. 10 (primeira versão em http://www.farp.gw/?p22 ).

Existe uma outra versão, disponível no sítio das FARP, marcador "notícias",  http://www.farp.gw/?news09, com data de 25.07.2017).  Quanto à existência de uma segunda ou mais partes da entrevista, ainda não nos foi possível localizá-la (s)].


3.1 - ENTEVISTA [PARTE 1] COM 3 QUESTÕES:


i - A Direcção Superior do Partido tomou a decisão de assaltar o quartel colonial de Bigene e neutralizar os canhões de 130 mm que não davam tréguas aos guerrilheiros da zona. Com que forças contava o Partido para o sucesso da operação?


BGAC – Tudo tornou-se possível a partir do momento em que se mudou a estratégia e o sistema de combate com a chegada, às fileiras da guerrilha, de novos quadros militares formados nos países amigos do PAIGC. Nesta óptica, um grupo de guerrilheiros da Frente Norte recebeu instruções do Partido para neutralizar, por completo, o quartel colonial de Bigene, nomeadamente, as duas peças de artilharia terrestre (canhões de 130 mm) que impediam as movimentações dos combatentes.

É bom sublinhar que a tabanca de Bigene, que se encontra situada a cerca de 16 quilómetros da fronteira com o Senegal, tinha um quartel fortificado equipado com dois canhões de 130 milímetros, que não davam tréguas. Deste modo, a Direcção Superior do Partido tomou a iniciativa de destacar um grupo de guerrilheiros corajosos, bem treinados, equipados, que tinha como missão fundamental assaltar, em plena luz do dia, o quartel de Bigene e destruir os dois canhões.

A perigosa e complexa missão dirigida pelo valente Comandante Joaquim Mantam Biagué foi cumprida com êxito, no período indicado por Amílcar Cabral. Para realizar com êxito a missão, os guerrilheiros aproveitaram o momento em que o grosso da força colonial saiu para uma patrulha na estrada que liga Bigene – Barro. Conseguiram penetrar no interior do quartel colonial, destruir as duas peças de artilharia pesada bem como o arsenal, incluindo as munições, incendiar o depósito de combustível e dar à população a oportunidade de saquear algumas lojas.

O assalto que ocorreu na época das chuvas, no mês de Agosto de 1972 [?], surpreendeu toda a força colonial que não conseguiu disparar nem um tiro. Não houve perdas humanas nem material do lado dos guerrilheiros.

O reduzido número de tropas coloniais que na altura se encontrava no quartel não teve outra solução senão abandonar o local para se salvar.

ii - Como foi preparada a "Operação Silenciosa"?

BGAC – A operação foi preparada e planeada a partir de Conacri pelos dirigentes do Partido e depois comunicada ao comando da Frente Norte em Sambuia [Osvaldo Vieira; 1938-1974] o qual enviou, mais tarde, um lote de fardamento (camuflado português), incluindo armas, lança roquetes, AKM novas, cintilas cubanas e mantimentos para os homens alinhados para a missão. Na Frente Norte foram destacados um total de 25 guerrilheiros, sendo 19 da base de Ermon Kono e 6 da base de Cumbanghor [Kumbamori].

Depois da distribuição dos equipamentos, os guerrilheiros receberam durante três dias, as instruções sobre a realização da missão incumbida pelos órgãos superiores do Partido. [Quando terminou o período de instrução, os 25 guerrilheiros, bem equipados, deixaram Ermon Kono de carro para o acampamento de Fayar e depois para Cumbanghor [Kumbamori] onde permaneceram durante 5 (cinco) dias antes de passarem para o local a partir do qual devia ser lançada a operação.

Como base central, para a realização da operação, foram escolhidos os acampamentos de Sindina e Pabedjal. Tínhamos como guias os camaradas Ansu Bercko, Comandante de um dos acampamentos da área, Issufo Bodjam e Adjal Manga. Os acampamentos de Sindina e de Pabedjal estavam situados entre 9 e 12 quilómetros da tabanca de Bigene.


Citação: (s.d.), "Mapa da zona Norte", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40225 (2018-9-2)

Mapa (croqui) com as localidades de Barro, Bigene e Farim (Guiné) e Ziguinchor, Samine e Sidju (Senegal) no arquivo de Amílcar Cabral (Pasta: 07063.036.001)

O nosso destacamento [acampamento] estava instalado nessa área vigiando as movimentações das tropas coloniais e procurando buracos (oportunidade) para realizar em plena luz do dia, o assalto relâmpago contra o quartel e destruir as duas peças de canhões 130. Para se ocupar das nossas refeições diárias, o Comando da missão atribuiu-nos dois rapazes. Tínhamos igualmente connosco alguns bolos tradicionais preparados à base de farinha de milho preto pelas mulheres da aldeia de Samanancunda Kolda [Senegal].

iii - Qual era o objectivo da vossa presença nesse local?

BGAC – Era permanecer e estudar as possibilidades de chegar a Bigene, entrar na tabanca e dar um golpe duro ao quartel. Tínhamos como Comandante da missão, Joaquim Mantam Biagué. No grupo estavam eu, enquanto chefe do grupo de atiradores de bazooka, e os camaradas Gabriel Iabna Kundock, Alupa Manga e Adjal Manga.

Fazíamos pequenas incursões secretas até perto dos lugares onde a população cultivava a mancarra, um espaço livre que nos permitia ver o quartel e depois voltar ao nosso esconderijo. Os apoios da população ajudavam de facto na observação dos movimentos dos tugas e segui-los atentamente. O que sempre nos interessava, não obstante os riscos, era procurar uma posição favorável para realizar o assalto planeado contra o quartel, o que devia acontecer somente no momento em que chovia porque era o único período propício que se podia aproveitar para avançar até ao quartel atravessando os vastos campos lavrados, sem ser vistos ou sem que ninguém desse conta.

Era a altura em que os lavradores ficavam mais ocupados nas suas actividades e as tropas coloniais também iam à patrulha. Era o momento favorável para avançarmos sem despertar a atenção da população porque nós vestíamos uniformes camuflados do tipo usado pelas tropas coloniais. Tudo o que fazíamos eram instruções dadas pelo Secretário-Geral do Partido, camarada Amílcar Cabral.

O grupo ficou no mato nos arredores de Bigene vigiando as movimentações das tropas portuguesas e, também, aguardando a queda oportuna da chuva para poder atravessar os grandes espaços de mancarra antes de penetrar no quartel.

Por esta razão, fomos obrigados a permanecer nos arredores de Bigene durante uma semana fazendo constantes vaivém entre o acampamento e as proximidades do quartel. Todos os dias deixávamos o acampamento de manhã e voltávamos à noite. Era preciso ter paciência, persistência e espírito de patriotismo.


A principal rua de Bigene – foto de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (Canquelifá e Bigene, 1966/68), in https://aventar.eu/2011/01/07/guerra-da-guine-pequenas-memorias-3/ (com a devida vénia).


3.2 - As acções militares do mês de Agosto de 1972 divulgadas em comunicado do PAIGC assinado por Amílcar Cabral.

Considerando que o entrevistado omitiu na sua narrativa a data completa da acção, procurámos encontrar resposta a esta interrogação nos arquivos de Amílcar Cabral existentes na Casa Comum – Fundação Mário Soares, tendo encontrado o comunicado em título, escrito em francês, do qual faremos referência abaixo.


Tradução do comunicado escrito em francês, da nossa responsabilidade (,só os três primeiros parágrafos colocados no interior da caixa).

"Durante o mês de Agosto [1972], os nossos combatentes realizaram 77 acções importantes, das quais 51 ataques contra os campos fortificados portugueses, 19 emboscadas e outros encontros [contactos]. Foram atacadas as cidades de Catió (no sul do país, no dia 18) e Bafatá (no centro-leste, no dia 24).

No período de 1 a 10 de Agosto efectuámos 20 ataques contra as posições fortificadas inimigas, acções realizadas em memória dos mártires do massacre de Pidjiguiti (3 de Agosto de 1959).

Foram também realizados ataques a guarnições [aquartelamentos] importantes particularmente: Enxeia, Ingoré, Mansabá, Bigene, Olossato, S. Domingos e Cuntima (no Norte do País), Kebo (duas vezes), Cabedu, Guileje, Bedanda, Empada e Fulacunda (no Sul); Bambadinca (duas vezes), Xitole, Pirada e no porto fluvial do Xime (a Leste)"

 [neste último caso, foi uma flagelação ao quartel do Xime. em 03.08.1972, 5.ª feira, às 05h18, durante 20 minutos, e com RPG… eu estava lá…].



25 de Setembro de 1972, [ou seja, há quarenta e seis anos].

Amílcar Cabral, Secretário-Geral



Citação: (1972), "Comunicado do PAIGC sobre as acções militares do mês de Agosto", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42413 (2018-9-2)

Para que esta história fique completa, para memória futura, falta a versão dos camaradas da CART 3329 (1970/72). Ficamos a aguardar esse importante contributo histórico.

Obrigado pela atenção.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
14SET2018
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de julho de  2018 >  Guiné 61/74 - P18878: (D)o outro lado do combate (35): a doutrina do PAIGC no recrutamento de jovens combatentes para as suas fileiras (Jorge Araújo)

14 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge Araújo, não se encontrar na Net a segunda parte desta entrevista... Claro que é importante a versão dos camaradas da CART 3329... Mas, o que para já salta à vista, é o "erro crasso" do entrevistado ao falar de Bigene que seria defendida por dois canhões de 130 mm... Ora a artilharia do exército português, no CTIG, nunca teve canhões de 130 mm... Isso retira credibilidade à entrevista... Provavelmente tratar-se-ia de dois obuses 140 mm (ou 14 cm).

Na época o canhão 130 mm era uma arma russa, e os nossos quartéis, esses sim, sofreram flagelações com ela em 1973 (Guileje, Gadamael,se não erro), a partir da Guiné-Conacri... Era uma arma de artilharia e não de infantaria, suponho...

Enfim, os nossos camaradas de artilharia poderão confirmar: no CTIG só tínhamos os obuses de calibre 8.8, 10.5 e 14 e a peça 11.4. Pelo menos, no meu tempo... E eu só conhecia o obus 10.5 (em Mansambo e no Xime)...

Hoje o canhão 130 mm, uma arma temível, equipa tanques/carros de combate e unidades navais...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O nosso especialista me artilharia diz que a peça utilizada pelo PAIGC era o 130 mm M-46. Foi usada contra Guileje em maio de 1973, a partir do território da Guiné-Conacri. Tinha um alcance de 22,5 km...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/04/guin-6374-p1672-guileje-artilharia-do.html

Vd. entrada na Wikipedia

https://en.wikipedia.org/wiki/130_mm_towed_field_gun_M1954_(M-46)

Tabanca Grande Luís Graça disse...


O Brigadeiro-General Albertinho Antônio Cuma ainda continua a ser o Chefe da Divisão de Educação Cívica, Assuntos Sociais e Relações Publicas do EMGFA da Guiné-Bissau.

http://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_publisher/MjaG93KcunQI/content/seminarios-de-lideranca-militar-para-oficiais-das-forcas-armadas-e-membros-do-instituto-de-defesa-nacional-de-guine-bissau

Anónimo disse...

Caro Luís, e restante auditório,

Boa Noite.

Considero o comentário inicial do camarada Luís Graça muito pertinente e pleno de oportunidade.
De facto o tipo de arma referido na entrevista pelo Brigadeiro-General Albertinho Cuma - canhão de 130 mm - não fazia parte do nosso equipamento militar de artilharia no CTIG, pelo que o "erro" pode ser considerado num quadro de três hipóteses:
1. lapso de memória; 2. falha na informação que recebera da sua chefia aquando da ordem de execução da missão; 3. desconhecimento de algum tipo de equipamento das NT, particularmente de artilharia.

Para esclarecer o entrevistado, bem como todos aqueles que continuam com dúvidas sobre este tema, seria interessante que alguém que saiba ou tenha passado pelo aquartelamento de Bigene (Ago'72), nos dê o seu contributo, ajudando a desvendar este mistério.

Um grande abraço para a tertúlia.

Jorge Araújo.

Anónimo disse...

PERVERSA DESPUDORADA IGNORÂNCIA MÁ FÉ

Ao ler esta entrevista deste senhor dito combatente do paigc mais uma vez na linha do que é habitual realça a combatividade dos elementos do paigc e reduzindo-nos (NT) a meros figurantes se não mesmo a uns meros "merdas".
Deve ser analfabeto ou analfabeto funcional.
A artilharia na guiné tinha pelarts destacados em diferentes aquartelamentos normalmente a 3 obuses ou peças
Nessa época a artilharia dispunha de obuses de 75,(de montanha),88,105,140 e 155 mm e peças 114 mm.
No meu tempo só havia obuses de 105 e 140 mm e algumas peças de 114 mm,julgo que no inicio da guerra também foi utilizado o obus 88.
Foi inutilizado em maio/73 um obus de 140 mm em Gadamael devido à queda de uma granada de morteiro de 82 dentro do espaldão,resultando dessa situação dois mortos e onze feridos.
Não tenho conhecimento que tivesse havido outra situação semelhante durante toda a guerra.
Chamar peças canhões revela uma completa ignorância sobre artilharia.
O paigc tinha peças de 130 mm de fabrico russo e julgo que o alcance máximo rondava os 20 km.
Em Gadamael éramos frequentemente flagelados com este material,felizmente com péssima pontaria apesar de serem operadas por cubanos.

O ARTILHEIRO

C.Martins

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Ganda" artilheiro!... Bom tiro!... Mantenhas. O "infante" LG.

Anónimo disse...

Aja alguém da CART 3329 que venha desmentir estas atoardas mentirosas como era hábito da Maria Turra aos microfones da Rádio Conakry. Lamento que este blogue publique coisas, embora documentos interessantes, mas que desvirtuam o objectivo primordial.

Valdemar Silva disse...

Bem pelo contrário do que afirmado no comentário anterior, a publicação destes interessantes documentos demonstra o que é/foi a verdadeira informação ou contra-informação nos tempos de guerra.
Mais um excelente trabalho de pesquisa de Jorge Araújo.

Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Áh!, é de todo interessante haver alguém da CART 3329 comentar este assunto, só essa rapaziada pode explicar o que realmente aconteceu.

Valdemar Queiroz

Luís Dias disse...

Conforme já aqui foi referido, as forças armadas portuguesas não possuiam peças do calibre referido (130mm). No CTIG existiam, ao tempo, obuses m/946 de 88mm (7), obuses K/28 e R m/941 de 105mm (60), peças de artilhª QF MIII m/946 114 mm (9) e obuses m/943 de 140mm (38). Existiam ainda peças AA m/942 de 94mm (6) e peças AA m/946 de 40mm (34).
Sabe-se que em 1973 o PAIGC possuía o obus M-46, de 1954, de 130mm, de origem soviética, cujo alcance máximo variava entre os 27 km e os 38 km e que o utilizou a partir de bases situadas na República da Guiné-Conacri, nos ataques a Guileje e Gadamael. É ainda conhecido a utilização de canhões anti-tanque, de origem soviética, ZIS-2, de 5,7cm, em Janeiro de 1969, no sul da Guiné, num ataque a um local, já abandonado pelas nossas tropas, para fins de propaganda, para jornalistas estrangeiros, que correu muito mal, face ao ataque da aviação portuguesa, que terá causado pesadas baixas ao IN e a destruição dos canhões
(P2574: Estórias de Guileje: O massacre de Sangonhá, pela Força Aérea, em 6 de Janeiro de
1969 (José Rocha)-Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).
Cumprimentos a todos os camaradas
Luís Dias

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado ao Luís Dias, da PJ (, já reformado), o nosso "especialista" em armamento...

Obrigado aos nossos "artilheiros", mesmo quando ficam "piursos" quando um pobre de um "infante" chama "canhão" (!) a um obus ou peça de arilharia... Pior do que isso, é chamar-se "barco" a um "navio da marinha" ou "corda" a um "cabo"... Qualquer marinheiro perde, não as "estribeiras" do cavalo, mas o equilíbrio lá na gávea onde perscruta o horizonte...

Obrigado, apesar de se esconder por detrás do "bagabaga", ao nosso leitor "anónimo", que presumimos seja um nosso querido camarada da Guiné, que comentou acima:

(...) (H)aja alguém da CART 3329 que venha desmentir estas atoardas mentirosas como era hábito da Maria Turra aos microfones da Rádio Conakry. Lamento que este blogue publique coisas, embora documentos interessantes, mas que desvirtuam o objectivo primordial." (...)

Camarada, "anónimo", como vês, não há blogue mais aberto e livre como este... Pelas nossas regras editoriais, eu deveria eliminar, sem apelo nem agravo, o teu comentário "anónimo"... É que os camaradas da Guiné "dão a cara", não se escondem por detrás do "bagabaga"...

Também espero, como tu, que apareçam camaradas da "incógnita" CART 3329, com a sua versão desta "temerária" operação de um 'comando' do PAIGC (um bigrupo de vinte e cinco!), que alegadamenet "destruiu". à bazucada (ou melhor, à "roquetada"...) os temíveis "canhões de 130 mmm" dos tugas, colonialistas, de Bigene!... 14 tonelados de aço, à "roquetada"!... Vocês estão a imaginar o ronco?!...

Camaradas, se alguns de nós somos (ou fomos) "fanfarrões" (e alguns "medalhados"...), porque é que a "rapaziada" do PAIGC não se pode dar ao luxo, também, de "fanfarronar" ?!... A fanfarronice, quando nasce, não tem pátria, não tem cor, nem tem bandeira... A terra, o céu, o inferno... e o Facebook estão cheios de fanfarrões!...

Ora, uma coisa são as histórias que contamos para os nossos netos, e outra é aquilo que fica, depois de passar o "crivo" da História... E mesmo assim passa muita "merda" pelo crivo da História... Por exemplo, ainda hoje os portugueses estão convencidos que o seu primeiro rei, Dom Afonso Henriques, deu um "enxerto de porrada" (passe o pleonasmo) à mãe e sua rainha, Dona Teresa... E 100% dos guineenses juram a pés juntos que a independência da sua pátria foi proclamada, em 24 de setembro de 1973, em Madina do Boé...

Amigos e camaradas, "presunção e água benta cada um toma a que quer"... Mas também é verdade que Deus Nosso Senhor manda ser "bom", mas não ser "parvo"... Há "estórias" que são só para "parvos", do latim, "parvulu(m)"...
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parvo | adj. s. m. | adj.

par·vo
(latim parvulus, -a, -um, diminutivo de parvus, -a, -um, pequeno)
adjectivo e substantivo masculino
1. [Depreciativo] Que ou quem tem dificuldades no raciocínio ou é considerado demasiado ingénuo (ex.: que gata tão parva; esse sujeito é um parvo que não admite ser contrariado). = ESTÚPIDO, IDIOTA, PALERMA, PATETA, TOLO, TONTO ≠ ESPERTO

adjectivo
2. [Depreciativo] Que é desadequado da situação, inconveniente ou não vem a propósito (ex.: comentário parvo). = DESPROPOSITADO, DISPARATADO ≠ ACERTADO

3. [Portugal, Informal] Que demonstra surpresa (ex.: ouvi o relato e fiquei parva, não estava à espera disto). = ADMIRADO, BANZADO, SURPREENDIDO, SURPRESO

Feminino: parva ou párvoa.

"parvo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/parvo [consultado em 27-09-2018].


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Perguntei a alguns camaradas que passaram por Bigen em diferentes épocas:

Wh, malta, o que é que vocês sabem disto ?!.. O "grande ronco" de um comanddo PAIGC que alega ter destruído, à roquetada, "2 canhões de 130 mm" (14 toneladas de aço), em Bigene, tabanca do vosso "regulado" ? Desgraçadamente não temos ninguém da CART 3329, que deveria estar, ainda, em Bigene, nessa altura... Nem sabemos qual era o Pel Art do BA7 que lá estava em agosto de 1972...

T^dem alguma "pista" ou "dica" ?... Abração, Luís.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já falei, ao telefone, com o Eduardo Campo, cuja companhia foi substituir em setembro de 1972 o pessoal da CART 3329 (de que não temos ninguém no blogue)...

Ele esteve lá até dezembro, altura em que foram para o Cantanhez, Cadique... Nunca ouviu falar em "canhões destruídos" por um comando do PAIGC, em agosto de 1972 (Op Silenciosa, do PAIGC)...De resto, nós não tínhamos "canhões 130 mm", como é sabido.

A Guiné-Comacri, isso sim, tinha pelo menos umas 12 peças de artilharia deste calibre, de origem russa, que foram usadas, algumas, contra Guileje e Gadamael, em maio de 1973.

O que havia, em Bigene, era um Pel Art com dois obuses 14 (140 mm)... O Eduardo vai falar com a rapaziada da Maia que pertenceu a essa companhia de artilharia... Ainda são alguns.

Você sanem como é a malta do PAIGC: não tem a nossa "cultura do rigor" quando contam uma história... Poucos escreviam, poucos sabiam ler, não havia hábito de fazer realtórisos... O tipo que conta a história é um "brigadeiro-general" que ainda está no ativo...

Mas temos que usar vários "filtros" para perceber estas "estórias" dos nossos amigos "combatentes da liberdade da pátria"... Eu gosto de os ouvir, como gosto de ler a Bíblia... Aliás,é importante "saber ouvi-los"... Vão morrer todos, vamos morrer todos, sem nunca ouvirmos as suas "estórias", a suas "vresões" dos acontecimentos e situações de guerra... Esse é que é o drama...

Há malta nossa que não entende isso e reduz tudo à mera "propaganda"... O que pode não ser o caso... Infelizmente só temos metade da entrevista...Pode ser que o nosso amigo Cherno Baldé, em Bissau, consiga arranjar o nº seguinte da revista, "Defensor", órgão do Estado Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bisssau... O nº seguuinte deve ser o nº 23 de janeiro de 2016... (Admitindo que a revista teve continuação, scom periodicidade mensal).

Antº Rosinha disse...

O maior «ronco» que os Combatentes da Liberdade da Pátria incutiram (oralmente) na Juventude Amílcar Cabral, é que Portugal deve a eles o "nosso" 25 de Abril, e que fazemos uma enorme festa todos os anos, e nós nem uma menção de recomhecimento.

Outro «ronco», os mais valentes na luta foram os guineenses, os angolanos eram muito fracos.

Por mim, que fiz a minha guerra em Angola, e não em Guilege ou Guidage ou Largo do Carmo, não posso afirmar que têm razão.

Mas quando ouvi há muitos anos, ás "Flores da nossa luta" tal afirmação, e nas bocas das crianças é que está a verdade, acreditei.