segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19041: Notas de leitura (1103): “Ku Mininos Di Nô Terra, Ideias para a educação pré-escolar”, trabalho coordenado por Carlos Lopes e Olívia Mendes, para o Departamento de Educação Pré-escolar, edição patrocinada pelo Ministério da Educação Nacional da Guiné-Bissau e pelo Instituto Universitário de Estudos do Desenvolvimento, Genebra, edição DEDILD – Departamento de Edição, Difusão do Livro e do Disco, Bissau; 1982 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Julho de 2016:

Queridos amigos,
Folheando demoradamente esta obra de encantar, ia pensando nos castelos de sonhos daqueles primeiros anos, nas pessoas de bem que queriam construir pessoas diferentes no contexto extraordinário de um movimento de libertação que por conta própria resgatara a independência do território e prometia construir um Estado. Tinha todo o sentido o ideal nesta educação pré-escolar, em prometer o acesso sem descriminação, em criar condições para a compreensão do português num país marcado pelo crioulo e pelas línguas étnicas. Oxalá que a solidariedade internacional não tenha desmerecido nesta dimensão do ensino, reconheça-se o que Carlos Lopes averba na apresentação do que deve ser um manual do educador infantil quando diz que nesta idade o desenvolvimento é das capacidades intelectuais, da formação das qualidades morais e da formação das vontades da criança que irá avançar para o homem.

Um abraço do
Mário



Ku Mininos Di Nô Terra

Beja Santos

Numa visita que fiz às Edições 70, a mexericar em livros exclusivamente da casa, completamente esgotados, dei com esta surpresa: “Ku Mininos Di Nô Terra, Ideias para a educação pré-escolar”, trabalho coordenado por Carlos Lopes e Olívia Mendes, para o Departamento de Educação Pré-escolar, edição patrocinada pelo Ministério da Educação Nacional da Guiné-Bissau e pelo Instituto Universitário de Estudos do Desenvolvimento, Genebra, edição DEDILD – Departamento de Edição, Difusão do Livro e do Disco, Bissau, 1982. Uma grande ternura! Na apresentação da obra, Maria Dulce Almeida Borges, Diretora-Geral do Ensino refere que a familiarização com a língua oficial, o português, ocupa o lugar correspondente à preparação para o ingresso na primeira classe do ensino básico. Esperava-se com a publicação desta recolha de textos, nomeadamente do jardim infantil “Nhima Sanhá”, obter-se uma visão dos condicionamentos, avanços e recuos de uma experiência de educação pré-escolar no período pós-independência. Importa esclarecer que à data da publicação havia seis jardins-de-infância em Bissau (Nhima Sanhá, Escola Nacional de Música José Carlos Schwartz, Néné Costa, Pefiné, Teresa Badinca e 14 de Novembro), em Bolama o Jardim Infantil Josina Machel e em Fulacunda o Jardim Infantil de Tite.

Carlos Lopes e Olívia Mendes desdobram-se em explicações sobre a transcendência deste período da infância, dizendo mesmo que é a opinião de muitos psicólogos de que a criança vive, nos primeiros anos de idade, a terça parte da sua vida, o que quer dizer que – devido à plasticidade do seu sistema nervoso – as aquisições feitas nesta fase são extraordinárias. E alegam que os jardins infantis se devem transformar no primeiro degrau do sistema educativo, ao garantir uma iniciação e uma melhoria progressiva no uso e compreensão da língua oficial de ensino. Chamou à atenção que este ensino não deve descurar o contexto urbano e o meio da tabanca.

O Jardim Infantil Nhima Sanhá, de Bissau, surgiu no ano letivo de 1976/77, colocado em meio difícil, muito perto do Hospital Simão Mendes e quase à entrada do Bissau Velho, houve que recrutar educadores e outro pessoal especializado, procurar crianças com famílias bem diferenciadas e procurar levar por diante, com algum grau de exigência atividades centrais próprias das classes pré-escolares: jogo, brincadeiras, linguagem, expressão plástica, expressão através do movimento, educação física, expressão dramática, iniciação musical. No ano de 1978/79 abriram dois novos jardins infantis, Teresa Badinca, situada no bairro popular da Tchada e o Jardim Infantil do Bairro da Ajuda.

No comentário às experiências ocorridas, os autores também recordam que a pesquisa orientada na observação das crianças nas suas principais atividades é o caminho mais seguro e apropriado para a libertação da dependência no campo de estudo e compreensão da formação da personalidade das crianças.

O livro descreve uma experiência urbana de educação pré-escolar. Dois capítulos são consagrados à formação pedagógica. Trata-se de um texto sobre o desenvolvimento de conceitos na criança e de um manual do educador infantil. Nesse contexto, Carlos Lopes disserta sobre as teorias de Jean Piaget, inserindo mesmo uma curta antologia de textos essenciais, insistindo que na idade pré-escolar se produz um desenvolvimento intensivo da criança, tanto das suas capacidades intelectuais como na formação das suas qualidades morais e na formação da sua vontade.

Graças à disponibilidade das Edições 70, é possível mostrar a capa e a contracapa desse livro raro, uma fotografia, um desenho de criança e frases avulsas. Enquanto lia toda esta beleza, dava comigo a pensar por onde andam estes jardins-de-infância, o que farão hoje as crianças que escreveram aqueles ditos, que recursos são alocados ao ensino pré-escolar.


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Nota do editor

Último poste da série de 21 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19033: Notas de leitura (1102): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (52) (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Antº Rosinha disse...

Hoje as crianças, Pioneiros de Abel Djassi, tanto os de caboverde como os de Bissau, estão ficando um pouco mais afrancesados, do que os originais, mas lá vão aguentando o seu creoulo e resistindo conforme podem.

Mas sem a ajuda sovietica e sueca, quem ficou mais a perder foi a língua portuguesa e o creoulo...e as crianças também.