1. Em mensagem do dia 10 de Maio passado, o nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) deu-nos conhecimento do "fim" da I Grande Guerra no dia 5 de Maio de 2011, data da morte do último combatente que ainda vivia.
Aproveito para pedir desculpa ao nosso camarada Martins pela demora na publicação deste seu trabalho que esteve perdido no emaranhado de mensagens na minha caixa de correio.
O último dos últimos
Se é verdade que as guerras só acabam quando desaparece o último combatente, a I Grande Guerra só acabou no dia 5 de Maio de 2011, ou seja, mais concretamente, 92 anos, 5 meses e 23 dias depois de declarado o Armistício.
A notícia chegou pela antena da TSF na manhã de 5 deste mês, quinta-feira, revelando a morte de Claude Stanley Choules, baseado num comunicado da família à rádio ABC, da Austrália, como sendo o último combatente do conflito que assolou a Europa entre 1914 e 1918. Foi o “Ultimo dos últimos”, nome que Claude Choules deu ao seu livro de memórias e publicado em 2009
Filho de Harry e Madeline nasceu em Pershore, Worcestershire, em 3 de Março de 1901, tendo crescido na localidade vizinha de Wyre Piddle.
Com 14 anos de idade, em Abril de 1915, alista-se na Nautical Training Ship Mercury, antes de ser transferido para a Royal Navy, para servir no Navio Escola HNS Circe, baseado em Plymouth, passando a fazer parte da guarnição do navio-almirante HSM Revange, onde assistiu, dez dias após o Armistício, à rendição da Marinha Imperial Alemã.
Em 1926, juntamente com outros 11 elementos da Royal Navy ruma à Austrália como instrutor da Royal Australian Navy.
Na viagem para a Austrália, a bordo do navio, conheceu uma jovem inglesa, de nome Ethel Wildgoose, com quem se haveria de casar em Melburn, de cuja união viriam a suceder três filhos, onze netos e vinte e dois bisnetos, num casamento que durou oitenta anos, até que Ethel faleceu aos 98 anos.
Em 1931 passou à reserva, mas foi readmitido em 1932 como instrutor em contratorpedeiros. Ficou ao serviço da Royal Australian Navy, onde se encontrava quando eclodiu a II Guerra Mundial, ficando como responsável pela destruição de portos e tanques de armazenagem de combustíveis, caso houvesse invasão da Austrália por parte dos japoneses. Posteriormente foi transferido para os estaleiros navais de polícia (PDN), para poder prolongar o seu tempo de serviço até aos 55 anos.
Desde Abril de 2010 que a família informou que, dado o seu estado de saúde, já se encontrava cego e surdo, pelo que era impossível o seu contacto com a imprensa.
Faleceu no dia 5 de Maio de 2011 em Salter Point, na residência Gracewood Hostel, nos subúrbios de Perth, Austrália.
Nunca participou nas cerimónias do Armistício porque, para si, era como que fazer o elogio da guerra e, segundo o seu filho, «odiar a guerra» e encará-la apenas como «uma maneira de ganhar dinheiro».
Foi o último de cerca de 70 milhões de combatentes que estiveram envolvidos, directamente, nos conflitos
José Marcelino Martins
9 de Maio de 2011
Fotos da Wikipédia, com a devida vénia
Texto elaborado a partir da noticia de diversos órgãos de comunicação social.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 10 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8537: Blogoterapia (184): Documentos perdidos, de muito atrás do tempo (José Martins)
Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8444: In Memoriam (83): CART 6250 - Unidos de Mampatá - Unidos pela vida e pela morte (José Teixeira / José Manuel Lopes)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Amigo José Martins
Quem sou eu para falar de guerra, mas o que é certo, é que, quando há uma referência aos conflitos que a geração dos nossos avós e pais viveram...eu, também lá estou!
Estou, na recordação das alusões feitas a esses conflitos por meu avô materno e pelos meus pais, e vivo o tempo e o acontecimento, as causas, e os efeitos.
Recordo a análise inteligente do meu avô Carlos aos referidos conflitos, o entusiasmo com que defendia ou acusava os intervenientes, o tom acalorado e conhecedor com que defendia o monólogo, uma vez que era o único conhecedor, perante nós.
Recordo, a infância, a adolescência, regressando assim a um tempo saudoso de menina e moça.
Claude Stanley Choules, contemporâneo do meu avô, partiu então, recentemente!
Morreu então, o nosso último avô!
Findou uma geração que viveu"aquele tempo".
Só agora terminou a 1ª Grande Guerra!
Ferdinand Focke e Matias Erzberger estão em foco, numa carruagem de comboio na floresta de Compiégne, assinando o Armistício!
Estamos a 11 de Novembro de 1918.
José Martins...desculpe a
dissertação e aceite um abraço da "vossa camarada de armas"
Felismina Costa
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