quarta-feira, 27 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10082: Patronos e Padroeiros (José Martins) (29): D. Fernando de Portugal - O Infante Santo




1. Em mensagem do dia 23 de Junho de 2012, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho para a série Patronos e Padroeiros.






Patronos e Padroeiros XXIX

Soldados que se tornaram Santos

D. Fernando de Portugal "O Infante Santo

Imagem retirada do Livro de Leitura da 3ª Classe da Instrução Primária. 
© Montagem e foto de José Martins


D. Fernando de Portugal 

Infante da Ínclita Geração, filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre nasce, em Santarém no dia 29 de Setembro de 1402, Fernando de Portugal, que a história viria a imortalizar como “O Infante Santo”.

Aparentando pouca vida e um pouco de debilidade, mesmo assim não foi descurada a sua educação, cultivando o seu espírito e o seu carácter. Muito religioso, mas sem extremismos, empregava muito do seu tempo nas práticas religiosas e obras de caridade e, apesar dos seus rendimentos serem reduzidos em relação ao de seus irmãos, mandava celebrar com magnificência os ofícios divinos na sua capela.

Por mercê do rei, seu pai, datada de 21 de Agosto de 1429, era senhor da vila de Salvaterra de Magos e terras circundantes com as atribuições de aplicação da justiça e administração dos padroados pertencentes à coroa.

Por morte de João Rodrigues de Sequeira, que sucedeu a D. João como Mestre da Ordem de Avis quando este ascendeu a rei de Portugal, D. Fernando de Portugal foi nomeado administrador da Ordem de Avis, a título perpétuo. Esta nomeação foi confirmada pelo Papa Eugénio IV, em Bula de 1434. O mesmo Pontífice, através de D. Gomes Ferreira, Núncio Apostólico, ofereceu o Capelo de Cardeal, ao Infante D. Fernando, que este recusou por humildade.

No entanto, também tinha necessidade de aumentar os seus bens materiais, pelo que várias vezes tentou partir para o estrangeiro, à procura de servir o Papa, um Imperador ou um Rei, no caso o seu tio Henrique IV, de Inglaterra.

A fim de obstar esse intento, D. Henrique propõe a seu irmão D. Duarte I, que já havia ascendido a rei, para se organizar uma expedição a Tânger para a sua conquista para a Coroa portuguesa. Ainda que não totalmente de acordo, aceitou a proposta do irmão, sendo que nesta expedição seguiria o seu irmão Fernando.

A armada sai do Restelo em 22 de Agosto de 1437, com destino a Marrocos, sob o comando do Infante D. Henrique, coadjuvado pelo Infante D. Fernando e pelo Conde de Arraiolos, sendo iniciado o combate à praça de Tânger em 13 de Setembro seguinte. Apesar da bravura que as tropas portuguesas sempre demonstraram, a sorte não pendeu para as hostes nacionais, tendo-se saldado por um fracasso, obrigando a uma rendição humilhante, de que resultou a entrega, como refém, do Infante D. Fernando e outros sete companheiros, entre eles Mestre Martinho, seu médico pessoal e Frei João Álvares, secretário pessoal. Tais reféns destinavam-se a garantir que o rei português procederia à entrega da cidade de Ceuta, conquistada em 1415.

As tentativas, de resgatar o Infante, tornaram-se praticamente impossíveis; as tentativas de fuga, com auxílio interior ou exterior à prisão, saíram goradas; a promessa da entrega de Ceuta, foi posta de parte; a tentativa de novo assalto a Tânger, não obtinha consenso; as resoluções das Cortes de Leiria, em Janeiro de 1438, foram inconclusivas; a possibilidade de devolução da praça aos infiéis, terra cristã, era impensável.

Em 1440 foi a viúva de D. Pedro, tio, tutor e regente de D. Afonso V durante a sua menoridade, que decidiu enviar, a Marrocos, o fidalgo D. Fernando de Castro, com a missão de entregar Ceuta contra a libertação do Infante. Não concluiu a missão, por ter encontrado a morte num combate contra piratas genoveses, ao largo da costa portuguesa. Assume a tarefa seu filho, D. Fernando de Castro que, por desconfianças mútuas, portugueses e mouros, acrescidas pelo montante do resgate exigido (dez vezes mais do que o oferecido), não é concluída a libertação.

No cativeiro, em Fez, morre no dia 5 de Junho de 1443 o Infante D. Fernando de Portugal que, mesmo depois de morto foi pendurado, de cabeça para baixo, nas ameias da muralha de Fez, durante quatro dias. Foi o seu sobrinho, o rei D. Afonso V, o Africano, que, em 1471, resgatou o seu corpo e o fez trasladar para a Capela do Fundador.

O povo, perante o padecimento a Fernando de Portugal foi sujeito, e de acordo com a mentalidade da época, já não era caso virgem, entoam preces e orações ao “Infante Santo” ao “Novo Santo Português”. Chegou a ter culto na Batalha, Guimarães e Lisboa mas, por volta de 1610, D. Martim Afonso de Mexia, 5.º Bispo de Leiria - de 1604 a 1615, proibiu o culto na sua diocese, sob pena de excomunhão, já que o culto não estava autorizado, apesar de haver autores que fixam o ano de 1470 para a sua Beatificação pelo Papa Paulo II.

Empurrado para uma guerra que não procurou, acabou por ser vítima da mesma. Durante algum tempo, aqueles que sabiam o que tinha sofrido, tentaram prestar-lhe culto, mas rapidamente essa tentativa foi abafada, remetendo-o, quase, para o total esquecimento.

José Marcelino Martins
23 de Julho de 2012
josesmmartins@sapo.pt
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10071: Patronos e Padroeiros (José Martins) (28): S. Mateus, Patrono da extinta Guarda-Fiscal

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