1. Do nosso camarada Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74, mais um poema da série Quisera eu..., enviado em mensagem do dia 30 de Julho de 2010.
QUISERA EU... (5)
Quisera à terra eu ver suas entranhas,
em campos bem tratados por gadanhas,
tractores, boas enxadas, laborando...
Quisera eu ver searas feitas pão,
centeio, trigo, milho, neste chão
parado, improdutivo,descansando...
Quisera ver espelhado na criança,
sorriso reflector de uma mudança,
sem vítreos olhos, ventres dilatados...
Quisera ver na escola a refeição,
perpetuar-se em uso, pois então
melhores serão, por certo, os resultados...
Quisera ter de artista a mão sagrada
que grava, que regista, imaculada,
a imagem que da alma traz a esp`rança...
Quisera p`ra Guiné ter garantia,
de um deus, Eolo ou Zeus, que um qualquer dia
trocasse a tempestade p`la bonança...
Quisera ver feliz aquele povo
acreditando, firme, em mudo novo,
na senda do sucesso feito paz...
Quisera ver progresso, ali à porta,
entrando, sem bater, porque o que importa
é férrea vontade e ser audaz...
Nascido sob a sina do azar
sofrido por contínuo penar,
rendido à malapata do destino...
Guinéu, povo credor do meu respeito,
às malhas da desdita, sempre atreito,
carece de amor próprio, intestino...
Num espatulado pau, ponta é rasgada,
p`ra atar lata/conserva, bem espalmada,
e conseguir alfaia artesanal...
Cingida ao pano, às costas, traz criança,
mulher sustento activo da morança,
em sociedade arcaica, algo imoral...
A "enxada" da Balanta evidencia,
que a terra que esta "alfaia" acaricia,
é fácil de domar e generosa...
Se houvera um bom tractor como instrumento,
melhor seria a safra e o sustento,
erradicando a fome, indecorosa...
Se eu fosse o deus Plutão, rei dos infernos,
com Júpiter, Saturno, bem fraternos,
familiares laços me ligando...
Às chamas condenava alguns algozes,
carrascos deste povo, tão ferozes,
tão logo a "foice" os fosse "libertando"...
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 > P6804: Blogpoesia (77): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (4) (Manuel Maia)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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4 comentários:
camarigo Manuel Maia
Já nada mais te digo, a não ser:OBRIGADO!
Leio, releio e ainda torno a ler e de cada vez encontro mais razões para te dizer: OBRIGADO!
Um abraço rendido ao teu talento e muito camarigo
Manuel Maia
Repetindo-me, mais uma vez gostei muito.
Bem hajas e um abraço
César Dias
Pratica patife!
Podes fazer muito melhor, tens é que praticar.
Um grande abraço
JD
Boa-noite Amigo Manuel Maia!
Eu acredito, que nada é definitivo, e como tal, tenho esperança de ver ou ouvir um dia dizer, que a Guiné, enfim, saíu desse marasmo, e que as suas gentes são felizes!
Acredito numa revolução total para esse povo sofredor. Uma revolução política e social, que valorize a terra e as gentes. Tal com o o Amigo deseja.Espero que seja ainda no nosso tempo, para o ouvir cantar nas suas sextilhas, o alvorecer da nova era. Os meus parabéns pelo seu alerta constante, não desista, que o povo sabe agradecer.
Os seus sentimentos altruístas, são uma permanente realidade que constacto e me orgulha.
Um abraço sincero da amiga
Felismina Costa
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