segunda-feira, 19 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6763: Blogpoesia (76): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (3) (Manuel Maia)

QUISERA EU... (3)

por Manuel Maia*

Quisera um tempo breve em permanência,
viver de novo agora a experiência
que a guerra me impediu de "enriquecer"...
Ouvir as gentes, conhecer saberes,
fruir dos gastronómicos prazeres
das étnias várias conhecer...


Com horizontes muito limitados,
apenas com balantas vivenciados,
mau grado "mil locais de permanência"...
A sede, de saber de outras gentes,
de povos, de culturas tão diferentes,
impele-me à viagem com urgência...


Quisera ver o sonho realidade,
vivido com a força, intensidade,
dos tempos d`outro tempo, aqui vos digo...
Quisera um nome dar a esta ideia
de achar para a Guiné a panaceia,
p`rós males de que enferma, qual castigo.


Quisera eu ver sentir naquele povo,
a fé no seu porvir, surgir de novo,
a vida é uma constância de esperança...
Se o acreditar fenece um breve instante,
p`ra dar lugar à prece, doravante,
o mundo está carente de mudança...


Nos centros de abastança e vida estável,
sorriso de criança é inigualável,
qual dom do céu, dos deuses um presente.
No mundo da africana condição,
da fome, da doença, sem ter pão,
dos rostos, essa imagem está ausente...


Quisera ter poderes p`ra libertar,
da malhas da miséria e do penar,
do jugo da ignorância, escuridão...
Quisera ser um deus, mesmo menor,
p`ra erradicar doença, fome, dor,
levar felicidade ao povo irmão...

__________

Notas de CV:

(*) Manuel Maia  foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.  

Vd. postes da série de:

14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6737: Blogopoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (1) (Manuel Maia)
e
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6748: Blogpoesia (75): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (2) (Manuel Maia)

5 comentários:

Luís Graça disse...

Não é preciso sermos deuses, maiores ou menores, basta-nos a condição de homens, e de portugueses, com a ajuda também dos nossos poetas, para manter acesa a chama da liberdade, da justiça, da solidariedade e da esperança, apontada ao coração da Guiné-Bissau...

É preciso que os nossos amigos e irmãos da Guiné-Bissua nos possam ouvir, se possível ver, e sobretudo sentir... O nosso blogue também uma luzinha acesa nesse mar de breu e de incerteza... Oxalá possa ser também um elo de ligação, uma ponte, um ponto de cambança...

Manuel Maia, a tua última sextilha é hoje a frase do dia!

(...) Quisera ter poderes p'ra libertar,
das malhas da miséria e do penar,
do jugo da ignorância, escuridão...
Quisera ser um deus, mesmo menor,
p' ra erradicar doença, fome, dor,
levar felicidade ao povo irmão...

Anónimo disse...

Quisera ter poderes p'ra libertar
das malhas da miséria e do penar,
do jugo, da ignorância,escuridão...
Quisera ser um Deus mesmo menor,
P'ra irradicar doença, fome, dor,
Levar felicidade ao povo irmão...

Viva Manuel MAia, que bonito!

que prazer constactar os seus sentimentos, que aliás faz sempre questão de realçar, em relação ao (povo irmão), como diz!

Sabendo como vos é fácil conhecer o ambiente em que continuam a viver as gentes da Guiné, não tenho dúvidas da sua vontade de querer mudar as coisas, mas, não basta querer, é preciso poder,mas, que a sua vontade expressa, seja uma ajuda e um incentivo aos que podendo não se decidem.

Obrigada pelo seu altruísmo!
Obrigada,pelo seu enorme coração.

Um ABRAÇO da

Felismina Costa

Anónimo disse...

"Quisera eu ver sentir naquele povo,
a fé no seu porvir, surgir de novo,
a vida é uma constância de esperança...
Se o acreditar fenece um breve instante,
p`ra dar lugar à prece, doravante,
o mundo está carente de mudança..."

As palavras do poeta sao como as ondas do ar, invisiveis, penetrantes e que voam para lugares longinquos, as vezes, inesperados...

Os amigos da Guiné hao-de ouvir, ver e sentir esta solidariedade que vem de longe mas que tem o odor natural das bolanhas abertas desta terra que nos pertence a todos.

Sempre que me é dado ouvir as vozes ou ver os retratos (imagens) dos antigos combatentes, já maduros, caminhando para a ultima fase da vida, sinto a vontade de perguntar: Será que as geracoes mais novas estao convenientemente informadas sobre o que aconteceu e elas compreendem, valorizam, sentem a necessidade de manter estes laços, estes sentimentos forzados na luta, na comunhao etc.

Acho que o Luis e seus companheiros do Blogue assim como toda a malta da Tabanca já estão a fazer algo, mas parece-me que devemos fazer muito mais. A vida nao é eterna.

Obrigado Sr. Maia, tenho a certeza que esta mensagem tocará o coração de muitos Guineenses, de dentro e de fora, pretos e brancos.

Cherno Baldé (Chico)

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

De repente, o 'Manel' Maia resolve contemplar-nos com um conjunto de trabalhos que calam fundo nos nossos corações.

É a qualidade intrínseca dos poemas, a sua rima, a forma como são construídos e que tanto gostamos mas, principalmente, o seu conteúdo.

São autênticas declarações de amor à Guiné, de vontade interior de querer superar as dificuldades, de certa maneira são também declarações de fé.

E as palavras do Cherno Baldé (Chico), sempre interessantes, sempre genuínas, são a prova provada de que os poemas do Maia são bem entendidos...

Abraço
Hélder S.

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu camarigo Manuel Maia

Tarde, mas ainda a tempo, de te dar um abraço por este hino de paz e concórdia.

E oiço-os continuar a gritar: outro livro, outro livro!!!