sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21390: Manuscrito(s) (Luís Graça) (192): Quinta de Candoz: vindimas, a tradição que já não é o que era... (Augusto Pinto Soares) - II (e última) Parte











 









Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > Vindimas > 18 e 19 de setembro de 2020  > Foto galeria


Fotos (e legenda) : © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

 




 

 Vídeo (2' 45''): You Tube > Luís Graça (2020)


 


 

 1. Segunda (e última) parte do texto sobre as vindimas, originalmente publicado no blogue A Nossa Quinta de Candoz, em 30 de outubro de 2005. (*)





por Augusto Pinto Soares (Gusto)

(Continuação)

II. A vindima é agora, nos tempos que correm, um ritual mais técnico, sem o sabor bucólico e festivo doutros tempos, sem o mesmo esforço, a mesma "freima". (*)


A marcação da vindima é já feita em função do grau de maturação das uvas, da disponibilidade do pessoal da casa (poucos chegam) aos fins-de-semana. Já não há festa – também já não há os convidados citadinos para assistir e tudo se processa de uma forma mais racional.

Porque as videiras estão armadas em bardos baixos – portanto mais expostas ao sol –, porque as operações da poda verde (espoldra ou desladroamento, desponta, desparra ou desfolha) permitem uma melhor exposição dos cachos de uvas, a colheita é mais fácil e célere. Rapidamente os cestos (agora de plástico) ficam cheios e o seu transporte para a adega é de imediato feito através do tractor.

Agora – os tempos são outros! – a plantação é de videiras de uvas brancas originando vinho branco de bica aberta. O verde tinto é mais complicado de trabalhar, mais complexo, mais demorado e com menos aceitação e saída, a não ser localmente.

Na adega as uvas são imediatamente esmagadas com a desengaçadora, jorrando o mosto assim obtido para uma dorna e de imediato para as cubas de aço, onde é  feita a sulfitação apropriada, aí repousará até à sua defecação nas próximas 24 a 48 horas para depois iniciar a sua fermentação.

 A prensagem, um pouco mais demorada, pois a prensa hidráulica – que até uma criança pode facilmente accionar – precisa de algum tempo para esmagar o mais possível o cangaço. Contudo ao fim de algumas horas – ao início da manhã seguinte – já estará pronta para ou levar mais uma carga ou ser limpa.

Os repastos (pequeno almoço, almoço, jantar e merendas) são mais triviais, mais avantajados. Já incluem sobremesa, café e digestivos.

O mosto já está nas cubas à espera de um novo ciclo – agora o ciclo do vinho – as alfaias estão limpas e arrumadas, os cestos já estão lavados.

Terminou a vindima! O ciclo da videira chegou ao seu fim.

A nossa vida já começa a contemplar muitos ciclos completos da videira.

Amanhã começará outro.

Texto: © Augusto Pinto Soares (2005)

[Revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]

_____________


Nota do editor:

(*) Último poste da série > 24 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21388: Manuscrito(s) (Luís Graça) (191): Quinta de Candoz: vindimas, a tradição que já não é o que era... (Augusto Pinto Soares) - Parte I

4 comentários:

Antº Rosinha disse...

Quando a tradição era o que era, ou quando foi o que foi, consumir um jarrinho de verde tinto, 10 minutos após sair do barril de madeira, e a dez metros o máximo distante deste, ou seja dentro da própria adega, para não correr riscos de deterioração, esse vinho "comia-se" acompanhado ou com dois carapaus de escabeche, ou com um chicharro grelhado, ou apenas com 3 azeitonas e broa...e ficava-se com vontade de repetir, repetir...!

Qual Alvarinho ou qualquer rótulo de verde moderno, afamado!

Por isso agora há menos bêbados e menos tabernas? Ou porque não era exportável, era totalmente biológico, e tinhamos que sozinhos o consumir todo?

Era um esforço danado e eramos incentivados a "come-lo".

Ai verdinho meu verdinho!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, adoro o verde tinto bebido em caneca de porcelana, acompanhanda as famosas "celolinhas do talho" (a celolinha do canteiro, que mondada), com azeite e presunto ou salpicão....

Os "brasileiros" de Minho e Douro Litoral levavam com eles o sabor e a cor inconfundíveis do "berdasco"... O meu sogro chegou, noa anos 60, a exportar vinho verde tinto em pipas para o Brasil... (O branco era só para a missa, para o abade e para os dias da festa...)

Mas dizia-se que o vinho verde tinto se estragava ao atravessar os trópicos... Infelizmente a Quinta de Candoz já não faz tinto... Mas é um vinho ótimo para acompanhar pratos como o arroz de anho assado no forno ou a lampreia... E para acompahar com queijos cabreiros... Adoro um bom vinho tinto verde, do Alto Minho...
____________

Ai! Verdinho, Meu Verdinho

Roberto Leal

Canções do Meu País

Ai! Verdinho, meu verdinho
Já saíste da videira (bis)

Escorrega devagarinho
Apaga-me esta fogueira (bis)

Que importa o verde ser verde
Se nos faz cantar na rua

Ai! Verdinho, meu verdinho
Não há cor igual à tua (bis)

Ai! Verdinho, meu verdinho
Ouve bem o que te digo (bis)

Não há pedras no caminho
Quando tu andas comigo

Que importa o verde ser verde
Se nos faz cantar na rua

Ai! Verdinho, meu verdinho
Não há cor igual à tua (bis)

Ai! Verdinho, meu verdinho
Só tu és o meu amor (bis)

Só o verde bem verdinho
Vai à mesa do senhor (bis)

Que importa o verde ser verde
Se nos faz cantar na…

Fonte: https://www.letras.com/roberto-leal/1845553/

Manuel Carvalho disse...

Também sou fã do verde tinto, mas cada vez está mais complicado encontrar do bom, feito com várias castas nas devidas percentagens como antigamente.O tratamento deste vinho fica muito caro e cada vez há menos apreciadores a malta nova vai dando preferência a outras bebidas.
Quanto aos acompanhamentos todos esses de que falaram são bons e eu junto um naco de toucinho salgado ou até um simples caldo de nabos.
Um abraço

Manuel Carvalho

Valdemar Silva disse...

Luís
E então rabo de porco cozido, broa e azeitonas com berde tinto numa malguinha?
Ou mesmo só com sabola crua, corte em cruz e temperada com sal?
O berde tinto daba-se às crianças para não ficarem a augadas, coitadinhas.
O berde tinto ou branco não se daba muito com o ar do mar, só lá bem no interior, do branco até parece ser um achado de petróleo como foi o alvarinho arranjado prós lados de Melgaxo.

Boa vindima, nunca esquecendo que teria de haver alguém a filmar e tirar belas fotografias. Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz