sábado, 9 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17748: Manuscrito(s) (Luís Graça) (124): Homenagem aos trabalhadores da vinha e do vinho...


Região Demarcada do Vinho Verde, sub-região de Amarante > Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz, 3 de setembro de 2017

Vídeo  (5' 29'') alojado no You Tube > Luís Graça




Quinta de Candoz > Foto panorâmica da entrada principal, vista da estrada municipal nº 642



Quinta de Candoz > Muros de suporte, que hoje em dia custa milhares de euros (60 euros por metro cúbico, em média, ao preço local)


Quinta de Candoz > Vinha em altitude (c. 250/300 metros), roubada à floresta de carvalho e castanheiro...Acima, são os "montes" (pinhal...). O sobreiro cresce aqui a olhos vistos, embora não dê cortiça de jeito...


Quinta de Quandoz > O "sino" que chama "os trabalhadores da vinha do Senhor" para o almoço...


Fotos (e legendas) : © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

 

1. Começou ontem a vindima na Quinta de Candoz, e eu tenho pena de lá ter podido estar, até porque fazia anos o José Ferreira Carneiro (um dos meus sócios, meu cunhado, amigo e camarada: o "caçula" fez a guerra do utramar em Angola, em Camabatela, 1970/71, enquanto o mano velho, o Tó,  foi gravemente ferido em Moçambique, sendo hoje DFA)...


Como temos aqui, no nosso blogue, alguns conceituados vitivinicultores (, estou-me a lembrar logo do nosso José Manuel Lopes e da Luisa Lopes, da Quinta da Senhora da Graça), e muitos mais são os "adoradores de Baco", lembrei-me de mostrar-vos este vídeo...

Para a nossa geração, a vinha e a cultura da vinha são-nos familiares... Somos do tempo em que o vinho dava de comer a um milhão de portugueses, mas os nossos agricultores, analfabetos, não sabiam fazer vinho...No espaço de uma geração (!)  fez-se uma revolução em Portugal, em matéria de vitivinicultura... E produzimos já alguns dos melhores vinhos de mesa do mundo... Não falo dos enólogo, das "estrelas"... Há muita gente anónima por detrás desta revolução, de métodos de trabalho, de ténicas, de conhecimentos, de gestão, e sobretudo de mentalidades...

Em suma, é bom que os nossos filhos, netos e bisnetos conheçam um pouco do que é o campo, a agricultura que se faz hoje, donde provém o vinho, o milho, as batatas, a alface, as pêras,  etc.

A Quinta de Candoz situa.-se na região demarcada do vinho verde, sub-região de Amarante. Fomos dos primeiros, na extinta freguesia de Paredes de Viadores (hoje freguesia de Paredes de Viadores e Manhuncelos), a modernizar a cultura da vinha, nos anos 80 do século passado. A quinta, de herança familiar, pertence a 4 sócios (3 irmãs e 1 irmão). Tem meia dúzia de parcelas, em solcalcos, suportados por muros de granito, construidos ao longo dos séculos por gente anónima, à força bruta de braço...

No total, o nº de pés de videira não chegará às 2 mil, metade dos quais estão no "campo" que se mostra no vídeo acima. Só temos castas de vinho branco (arinto ou pedernã, azal, loureiro, e algum avesso e alvarinho).  O essencial da produção é vendido à "Aveleda" (Penafiel).  De dois em dois anos, fazemos vinho e engarrafamos para autoconsumo... 

Com este vídeo, que não é promocional, eu quero apenas fazer uma homenagem aos trabalhadores da vinha e do vinho do meu querido país, em geral, e em muito em particular aos que continuam a manter de pé "a nossa quinta de Candoz": sem eles, o seu amor, inteligência, competência e sacrifício, eu não poderia mostra-vos este vídeo... Um hectare de vinha, num sub-região como esta, dá muito trabalho: pelo menos 2 dias por semana!... Do enxerto à poda, da "pulveriza" à vindima, vão muitos dias, horas, insónias, preocupações, trabalhos, dinheiro...

Não vou entrar aqui em pormenores, técnicos, até porque sou um leigo nesta matéria, sou apenas o "poeta" e o "fotógrafo" da casa... Criei em 2005 o blogue "A Nossa Quinta de Candoz", que é sobretudo um hino a uma família portuguesa, comum, igual a tantas outras, honesta e trabalhadora:

"Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses. A casa, as pedras, os muros, o chão, as minas, os carvalhos, os castanheiros, as vinhas... Na posse da família Ferreira Carneiro, há pelo menos dois séculos. Uma estória de loas e cantigas. Mas também de trabalhos (es)forçados. De pão e vinho sobre a mesa. De amor e de amizade. Rosa, Chita, Nitas, Zé, mais as respectivas caras metades (Quim, Luís, Gusto e Teresa). Pais fundadores: José Carneiro & Maria Ferreira."

Tenho uma ligação sentimental a esta quinta onde me casei... com a filha do "patrão" (ou uma das filhas)... Tenho uma bela amizade com os meus cunhados e cunhadas, e rendo-me ao amor com que, há mais de 3 décadas, cuidam deste patrimónuio familiar, como se fosse um jardim, sacrificando muito do seu tempo, dinheiro e, infelizmente, também saúde...

Este vídeo é uma homenagem em especial ao Gusto e à Nitas, ao Zé, ao Adriano, os verdadeiros "trabalhadores da vinha do Senhor"... Daqui, da terra dos mouros, eu tiro-lhes o chapéu!... Muita saúde e longa vida que eles merecem tudo. (**) (LG)

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Notas do editor:

(*) Vd, blogue A Nossa Quinta de Candoz > 8 de setembro de 2017 >  Sessenta e oito mais um... Parabéns, querido mano Zé!


Quem faz anos, hoje, é o Zé,
O nosso mano querido,
Ferreira Carneiro é,
Gente de bom apelido.

Sessenta e oito mais um,
Diz, sem ponta de malícia,
Depois dos setenta, pum!,
É que ele vai ser notícia.

No clube septuagenário,
Estão já as manas e os cunhados,
À espera do centenário,
Serão todos bem festejados.

Toma, Zé, xicoração,
Tão rico como o almoço,
Hoje os parabéns se dão
A ti, menino e moço.

Tua santa padroeira,
Senhora do Castelinho,
Te encha a algibeira
De graveto… e miminho!

Tua mana Alice e teu cunhado Luís

Alfragide, 8 de Setembro de 2017


(**) Vd.  último poste da série > 7 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17741: Manuscrito(s) (Luís Graça) (123 ): Nossa Senhora da Guia nos Valha!

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Foi aqui na região, entre Douro e Minho, nos vales do Sousa e Tâmega, que nasceu Portugal. Menos de um milhão de camponeses (o povo) alimentou, não se sabe como, a oligarquia visigótica (a nobreza e clero...) e o brutal esforço de "conquista" dos territórios, a sul, nas nãos dos mouros...

Todas as vezes que lá vou, ao Norte. interrogo-me como é que aqueles homens e mulheres fizeram daquelas montanhas terras aráveis... E ainda ti vieram que dar os filhos para as guerras da dita "reconquista", mais as guerras para manter a independência territorial, mais os Dewcorimentos, mais as guerras civis e, por fim, mas não importante, a "guerra de África, a guerra do ultramar, a guerra colonial, como quiserem chamar-lhe...

Tiro o quico à brava gente portuguesa (do Norte e do Sul)... LG

Luís Graça disse...

Parece que a colheita foi boa, segundo notícias recebidas...Iremos beber com gosto o verde verde de 2017, fruto da videira e do trabalho do homem... O São Pedro diz que também reclama a sua parte: não foi mauzão para os vinhateiros este ano... É mnauzão para outros... LG

Anónimo disse...

Ana Carneiro

11 set 2017 00:59

Luis:

Acabei agora de ler a tua reportagem da nossa vinha e dos seus trabalhadores! Obrigada!!!
As lágrimas caíram sem eu querer!

Ao menos , que mesmo longe, vocês, estão perto, " em pensamento " e vão dando conta dos que com tanto carinho, se dedicam de alma e coração, sem exigir nada em troca , ao longo destes 30 anos , com entrega total a uma causa que é de todos os que partilharam este projeto.

Peço a Deus alguma saúde, para nos ajudar a conseguir continuar por mais alguns anos, esta tarefa, que , quenão serão já muitos, pela lei normal da vida...

A vindima principal já foi, correu muito bem! Em dois dias desapareceu o que levou um ano de trabalho árduo a produzir!!! Até parece estranho!!!

Mais uma vez obrigada por todo o vosso apoio moral!!

Beijinhos, beijinhos.
Anita.