Foto nº 1
Foto nº 2
Foto nº 4
Foto nº 5
Foto nº 6
Foto nº 7
Foto nº 8
foto nº 10
Mas tem também uma capela, octognal, do séc. XVIII, chamada do "bom despacho" (foto nº 6), que merece uma visita especialmemte guiada... Foi lá que encontrámos a 'anjinha de Ancede' (fotos nºs 1 a 3I)... Uma delícia, essa e todas as demais peças da arte barroca popular, sob a forma de cenas de teatro, relativas aos mistériso da vida de Cristo... com destaque para a cena da circuncisão do menino Jesus (fotos nºs 4 e 5)... Repare-se na figura do "cirurgião", de "bisturi" na mão, e óculos (!).
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O sexo dos anjos
por Luís Graça
Com a idade, um homem tem mais sede
De saber, que da morte é refrigério;
Daí eu ter ido ao mosteiro d'Ancede,
P'ra lá esclarecer um certo mistério.
Há uns tempos, um nosso camarada
P’ró nosso blogue, propôs certos arranjos:
"Quando a Pátria se vê ameaçada,
Que ninguém discuta o sexo dos anjos!"...
Concordo com o nosso patriota:
Querer saber se os anjos têm pilinha,
É coisa totalmente idiota…
Mas os d' Ancede têm uma anjinha,
Lá no céu, bem nuinha, em pelota,
Fui lá espreitar, achei... uma ternurinha!
______________
Nota do editor:
Nota do editor:
Último poste da série > 1 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17639: Os nossos passatempos de verão (19): Cantigas de escárnio e mal-dizer, à desgarrada... Parte IV: Loas à Tabanca de Porto Dinheiro, ao peixe seco "gourmet" da ACR da Ventosa do Mar, e à sua futura confraria... (Assim Deus queira e o povo ajude!)
3 comentários:
"Sexo dos anjos" é uma expressão que se usa para referir uma "questão bizantina", bizarra, pretensiosa,fútil, e em última análise inútil... Por detrás, há uma referência (histórica) aos debates que opuseram os teólogos bizantinos, em Constantinopla, e que se arrastaram até mesmo ao mmomento em que a capital, Constantinopla, estava cercada pelos otamanos, acabando por ser conquistada e saqueda em 1453. Foi o fim do império romano (do oriente). E, para alguns historiadores, o início da idade moderba...
"Discutir o sexo dos anjos" ficou, então, no nosso vocabulário com o significado de alguém perder tempo com questões absolutamente inúteis e impossíveis de equacionar, sobretudo em contextos em que há problemas muito mais importantes, pertinentes e dramáticos a exigir a nossa atenção e capacidade de mobilização, resolução e decisão.
Boa parte dos debates político-ideológicos entre nós, seres humanos, em geral, e portugueses, em particular, podem ser entendidos como discussões... sobre o sexo dos anjos.
Ontem como hoje, não há almoços grátis... Até o "amor" com "amor" se paga...
Esses senhores de Ancede eram poderosos: em 1140, ao que parece, compraram o "couto" ao dom Afonso Henriques, por 150 morabitinos (moeda de ouro)... O nosso pai fundador precisava de guita para "espadeirae" a moirama, e fazer "roncos" como na Guiné... O país, "reconquistado", dizem os cronistas da época, foi vendido a retalho, como nossos dias, pelos mercenários "francos" que se juntaram à causa das "cruzadas"...
Os cónegos regrantes de Santo Agostinho tornaram-se produtores e exportadores de vinho (!)... Tornaram-se de tal maneira poderosos, que susciataram a cobiça da concorrência bem instalada (e melhor relacionada) em Lisboa, a capital do reino e do império... Em 1559 ou 1560, tanto faz, por decisão do papa e interferência pessoal da regente Dona Catarina de Áustria, o mosteiro de Ancede é anexado ao de São Domingos de Benfica, que eram de "outro partido"... Bingo!... Os confessores da senhora dona conseguiram levar a água ao seu moinho (neste caso, o vinho à sua adega)...
Mas a história não acaba aqui: extinta as ordens religiosas, em 1834, há uma personagem de opereta, um tal barão de Ancede, finório burguês, que arremata o "couto" e o mosteiro (incluindo adega, lagares, celeiros...) por tuta e mãe e desata a exportar o vinho dos monges para Inglaterra... Tudo acaba na porca miséria do costume: o genro do barão fugiu com a criada e as figuras do "teatrinho barroco" da capela do bom despacho... Confesso que não sei para onde, mas não deve ter ido paar muito longe, o dom Juan... Ates de ser comprado, há uns anos atrás, pelo município de Baião, o mosteiro (ou melhor, as suas ruina) estava nas mãos de um boçal caseiro...
Não sei se deva dar um viva a Baião e às suas gentes, que estão a recuperar o seu património cultural, material e imaterial...Terra simpática onde se come bem e bebe melhor (o vinho verde, monocasta, avesso...).
Deliciosa a foto nº 9 deste poste: as grades na janela estavam tão engenhosamente bem colocadas que o monge (ou o abade ?), do lado de dentro, podia abri-las como se fosse um simples "estore" e, desse modo, deixar entrar quem, do exterior, bem lhe aprouvesse...
Nos conventos, nomeadamemte femininos, de "clausura perpétua", as grades na janela eram mesmo "pregadas" à pedra, dando a garantia (pelo menos aparente), aos que ficavam do lado de fora, que quem entrava, nunca mais voltava a sair... A "clausura perpétua" era a "morte social" para as monjas...Mas hoje sabemos que, mesmo assim, o engenho do ser humano (e sobretudo dos que detinham o poder...) era de tal ordem que havia sempre um jeito de dar a volta à regra (e à ordem)...
Pensando bem, a nossa civilização está assente na dicotomia o pecado e a delícia do pecado: o pecado propriamente dito (o interdito, o proibido, o tabu, a árvore da maçã... ) e o prazer do pecado...
Esta "história" fez-me lembrar outra, que me contaram... O antigo pároco da "minha freguesia", aqui no Marco de Canaveses, a extinta Paredes de Viadores (hoje União das Freguesias de Paredes de Viadores e Manhuncelos), chamava-se Agostinho Vieira Aguiar, já morreu, mas tem inclusive nome de rua... Ainda o conheci bem, era visita da família Ferreira Carneiro. O meu sogro e ele tinham sido condiscípulos na escola primária. O meu sogro era de 1909. O padre Agostinho deve ter sido ordenado no princípio dos anos 30. Engraçado, o padre Agostinho tratava o meu sogro por tu, o meu sogro tratava-o por você... O Abade, no Norte, estava sempre num pedestal acima do comum dos mortais...
Pois este padre Agostinho teve, ao que parece nos anos 60 (ou 50 ?), um gesto iconoclasta: mandou "capar" todos os anjinhos da velha igreja paroquial... E não sei se também o "menino Jesus"... O caso foi falado mas "abafado"... Talvez o nosso camarada Mário de Oliveira, ex-padre da Lixa (depois de ter estado em Paredes de Viadores, a seguir à comissão na Guiné), possa comentar e confirmar esta história algo surreal...
O padre Agostinho Vieira Aguiar devia ser descendente desses teólogos bizantinos que discutiam o sexo dos anjos em 1453, em Constantinopla, durante o cerco otomano... Depois de "muitos séculos de debate teológico", o pobre homem deve ter chegado à conclusão que os anjos só podiam ser "assexuados", pelo que a representação da nossa arte religiosa só induzia o povo em erro (e, eventualmente, em tentação de pecado).
Bonacheirão mas finório, o saudoso padre Agostinho...
Luís Graça, Candoz, Paredes de Viadores
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