quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25126: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XLII: No rasto do PAIGC, a última saída da CCAÇ 21: apanhada de surpresa, em Canjufa, pela notícia do golpe de estado do 25 de Abril (pp. 272/276)


Guiné > Região de Gabu > Carta de Nova Lamego (1957) ( Escala 1/50 mil) > Posição relativa dos topónimos referidos por Amadu Djaló: Unago, Canjufa (na estrada Nova Lamego-Bajocunda-Pirada), Pajama e várias tabancas com o nome de Ufoia. Não localizámos Ufra, perto de uma lagoa, que deve ser Vendu Finjor, local de transumância na época seca... Foi em Canjufa que a CCAÇ 21 foi apanhada pela notícia do golpe de estado do  25 de Abril, em Lisboa... E já, antes, numa das tabancas de Ufoia, o tenente Jamanca, comandante da CCAÇ 21, terá perdido a indispensável serenidade de espírito e o imprescindível autocontrolo emocional: desautorizando o Amadu Djal terá dito, alto e bom som, para
 "dizer(em) ao pessoal do PAIGC que, disparassem ou não contra nós, ele Abdulai Jamanca, comandante da companhia, dava ordens para atacar com toda a força". E mais acrescentando que  "ainda tinha 150 balas de AK 47 e que,  depois disparar contra a guerrilha, a última que faltava era para ele" (Amadu Djaló, p, op cit,. 2010, pag. 273)

Infografia: Blogue Luís Graça / Camaradas da Guiné (2024)


1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digitalizado, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais de nove dezenas de referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não  lhe permitaram ultimar.



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)

Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné-Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim;

(xvi) em novembro de 1971, participa na ocupação da península de Gampará (Op  Satélite Dourado, de 11 a 15, e Pérola Amarela, de 24 a 28);

(xvii) 21-24 dezembro de 1971: Op Safira Solitária: "ronco" e "desastre" no coração do Morés, com as 1ª e 2ª CCmds Africanos  (8 morts e 15 feridos graves);

(xviii) Morés, sempre o Morés... 7 de fevereiro de 1972, Op Juventude III;

(xix) o jogo do rato e do gato: de Caboiana a Madina do Boé, por volta de abril de 1972;

(xx)  tem um estranho sonho em Gandembel, onde está emboscado très dias: mais do que um sonho, um pesadelo: é "apanhado por balantas do PAIGC";

(xxi) saída para o subsetor de Mansoa, onde o alf cmd graduado Bubacar Jaló, da 2ª CCmds Africanos, é mortalmente ferido em 16/2/1973 (Op Esmeralda Negra)M

(xxii) assalto ao Irã de Caboiana, com a 1ª CCmds Africanos, e o cap cav 'cmd' Carlos Matos Gomes como supervisor;

(xxiii) vamos vê-lo a dar instrução a futuros 'comandos' no CIM de Mansabá, na região do Oio, no primeiros meses do ano de 1973, e a fazer algumas "saídas" extras (e bem pagas) com o grupo do Marcelino, ao serviço do COE (Comando de Operações Especiais), que era então comandado pelo major Bruno de Almeida; mas não nos diz uma única sobre essas secretas missões; ao fim de 12 anos de tropa, é 2º sargento e confessa que está cansado;

(xxiv) antes de ir para CCAÇ 21, como sede em Bambadinca, como alferes 'graduado" (e sob o comando do tenente graduado Abdulai Jamanca, ainda irá participar na dramática Op Ametista Real, contra a base do PAIGC, Cumbamori, no Senegal, em 19 de maio de 1973;  esta parte do seu  livro de memórias  (pp. 248-260) já aqui foi transcrita no poste P23625;

(xxv) no leste, começa por atuar no subsetor do Xime, em meados de 1973;

(xxvi) em setembro de 1973, quando estava em Piche, já na CCAÇ 21, recebe a terrível notícia da morte do seu querido irmão mais novo, Braima Djaló, da 3ª CCmds;

(xxvii)  embora amargurado com a morte do seu irmão mais novo, e cansado, ao fim de 12 anos de tropa e de  guerra, o Amadu Djaló mantem-se na CCAÇ 21, como alferes graduado; vemo-lo agora no início de 1974 em Canquelifá, em reforço da CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (1972/74);

(xxviii) a CCAÇ 21 está n leste, na região de Gabu, ao serviço dfo CAOP2, e mais exatamente em Canjufa, quando sabe da notícia do golpe de estado do 25 de Abril em Lisboa; só no dia 27, de manhã, regressa a Bambadinca, onde estava sediada.


 Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XLII:


No rasto do PAIGC, a última saída da CCAÇ 21: apanhada de surpresa, em Canjufa,  pela notícia do golpe de estado do 25 de Abril (pp. 272/276)


O Batalhão estacionado em Piche tinha um serviço de informadores civis que, sempre que saíamos, nos seguiam para ver se cumpríamos as missões. Havia um, fula, residente em Piche,  que se deslocava numa bicicleta de tabanca em tabanca vendendo às populações a cola, que transportava num cesto. Nas visitas que fazia às tabancas recolhia informações que transmitia, depois, ao comandante do Agrupamento[1].

Estávamos numa fase de grande actividade operacional. A minha companhia saía constantemente para operações, tanto no leste como na zona de Bambadinca.

Havia informações que na zona de Piche o PAIGC visitava as tabancas, deslocando-se de aldeia em aldeia, contactando as populações.

No dia 22 de Abril de 1974 encarregaram-nos de seguir o PAIGC, visitar também essas tabancas procurando obter informações sobre a actividade da guerrilha. O plano era sair de Piche, a pé, passar pelas tabancas de Ufoias, Pajama, Ufra e Unago e passar a noite numa tabanca abandonada, entre Unago e Canjufa.

Deixámos Piche[2], de manhã muito cedo e fomos passando de tabanca em tabanca, até à última, Ufoia. Nesta área havia três tabancas todas com o mesmo nome, Ufoia.

O meu pelotão seguia à frente e, quando estávamos a sair dessa última tabanca.  avistei um homem já velhote. Perguntei-lhe para onde é que ele ia e respondeu que vivia ali naquela tabanca. Que, em todos os anos nesta altura, os poços secavam, ficavam sem água, e, como tinham gado e precisavam de muita, então mudavam-se para Ufra, onde havia uma lagoa, com água em toda as épocas do ano. E que era por esse motivo que todas as tabancas em redor se mudavam para Ufra. E só regressavam, depois das duas ou três primeiras chuvas da época.

Quando o velhote acabou de falar, perguntei-lhe se o PAIGC andava por ali.

  − Todos os dias  −respondeu.

E contou mais coisas. Que o comandante, um dia,  lhe tinha levado o filho. E que fora ter com o PAIGC para lhes pedir para não o levarem, porque era o único que tinha e que estava velho para pastorear o gado. Deram-lhe o filho outra vez e levaram-no ao armazém. O comandante disse-lhe a ele e ao filho para levarem o que pudessem, arroz, açúcar, óleo e manteiga.

Contou ainda que o comandante o avisara de que uma companhia de africanos andava na zona, mas que o PAIGC não os atacava, nem que os vissem.

 − Se não dispararem contra nós, nós também respondemos da mesma foram, não disparaqmos contra eles  − disse eu.

O tenente Jamanca, que estava lá para trás, no meio da companhia, foi-se aproximando e chegou nesta altura da conversa. Então, o Jamanca disse para o velhote dizer ao pessoal do PAIGC que, disparassem ou não contra nós, ele Abdulai Jamanca, comandante da companhia, dava ordens para atacar com toda a força. E acrescentou ainda que tinha 150 balas de AK 47 e que,  depois de disparar contra a guerrilha,  a última que faltava era para ele. 

− Diz isto que te disse, ao PAIGC. 

Acabou a conversa assim, com o velhote.

Depois de recomeçarmos a marcha, a pouca distância dali, encontrámos uma velhota. Outra vez, a mesma pergunta, de onde vinha. 

− De Ufra  −   respondeu. 

− E para onde vai? 

 − Buscar algumas coisas que estão a fazer falta no acampamento, onde tinha o gado guardado.

 − O PAIGC vem a Ufra?  − Perguntei.

− Sim, vem.

E mais acrescventou que tinha vindo, "agora mesmo, com uma companhia do PAIGC, que foi para Pajama e que se tinha separado deles, ali no cruzamento".

 − Quantos são ?  − perguntou o tenente. 

 − Que não sabia quantos eram  −  respondeu a velhota.

Seguimos para o cruzamento e,  quando chegámos,  o tenente disse que não os íamos perseguir, porque se os atacássemos em Pajama, eles iriam resistir e iria morrer muita gente que não tinha culpa, crianças, velhotes, mulheres. Que não valia a pena, não iriam faltar oportunidades.

Saímos dali, virámos à direita na direcção de Ufra. Quando chegámos à tabanca, vimos pouca gente. Pareceram estar a olhar para nós, com medo,  e isso também nos pareceu estranho. Notava-se nos olhos daquelas pessoas que estavam a esconder qualquer coisa, qualquer segredo que não nos queriam revelar.

Perguntámos o que se estava a passar e respondiam "nada". Um soldado meu, que tinha muito gado à guarda do irmão mais novo, viu-o ao longe e chamou-o. Cumprimentaram-se, o soldado perguntou-lhe pelo gado e depois apresentou-nos o mano. Cumprimentámo-nos e nos olhos dele vimos também qualquer coisa de estranho.

 − O que se está a passar? 

 − Nada − a mesma resposta dos outros. 

Perguntou para onde íamos e eu respondi para Unano.

O meu soldado, Djao Djaló, tinha mais de 100 cabeças de gado e tinha ido para a tropa para poder defender a sua manada. O pai tinha morrido quando ainda não tinha dez anos, depois,  chegado a esta idade, o irmão mais velho que um dia estava a pastorear,  foi mordido por uma cobra venenosa e morreu. Era o único herdeiro e,  como o irmão mais novo não era filho do mesmo pai, não tinha direito à herança e foi por isso que o Djao Djaló ficou herdeiro do gado.

Depois das respostas da população, que não nos pareceram verdadeiras, tivemos que abandonar o local. Via-se mesmo na cara das pessoas que o perigo estava ali, na tabanca, a rondar-nos[3].

Na saída para Unago havia uma clareira com 500 metros, mais ou menos, e a companhia não podia entrar toda ao mesmo tempo, era perigoso. Pedi ao meu grupo quatro voluntários para a atravessar comigo.

Depois de chegarmos ao outro lado, fizemos sinal para a companhia começar a travessia, pelotão a pelotão, da mesma forma como nós tínhamos feito. Dali seguimos para uma tabanca, onde eu tinha um parente e amigo, o Adulai Djaló Unago. Ficava a pouca distância, demorou pouco mais de duas horas a chegarmos lá.

Fomos muito bem recebidos. Mandou os filhos buscar uma cabra e disse que era para o nosso almoço. Apresentei-lhe os meus colegas e almoçámos tarde, já passavam das 16h00. Depois, ainda ficámos quase uma hora na conversa até o tenente dizer que tínhamos de ir embora para o quartel.

Não fomos, deslocámo-nos para o nosso objectivo, onde chegámos pelas 18h00, e passámos a noite numa tabanca abandonada há muitos anos. Quando amanheceu, deslocámo-nos para a tabanca de Canjufa.

Quando entrámos na tabanca, dirigi-me à casa do Régulo, Serifo Inum Embaló. Mandou reunir todos os chefes das famílias para nos cumprimentarmos. Os milícias que lá estavam ofereceram-nos comida, uma cabra também, para o nosso almoço.

De manhã, tínhamos recebido, por rádio, a ordem de retirada. E depois dessa hora, nunca mais nos contactaram. Estávamos no dia 24 de Abril de 1974.

Passámos a noite em Canjufa, com a intenção de recolhermos ao Gabu 
[Nova Lamego, sede do CAOP 2]  . No dia seguinte, 25 de Abril, às 09h00, ouvimos o rádio. Golpe de estado em Lisboa?

Ficámos todo o dia à espera de mais notícias e decidimos permanecer no local até nova ordem.

Depois começámos a chamar pelo rádio, todos os postos. Piche, Pirada, Gabu, Bambadinca, ninguém respondia. Mais uma noite aqui, ordenou o Jamanca.

No dia 26, já passava das 16h00, depois de constantes chamadas pelo rádio, fomos contactados pelo comando-chefe, em Bissau. Que estavam a ouvir as nossas chamadas e perguntavam-nos quem éramos.

Jamanca respondeu, disse quem éramos e do comando-chefe mandaram-nos continuar em escuta. Ouvimo-los chamar o Gabu, dando-lhes ordem para nos virem buscar. Já passavam das 18 horas e ficámos a aguardar, até que mais ou menos uma hora depois, chegaram três Unimogues 404 para levar uma companhia inteira. Ocupámos, como pudemos, as viaturas e rumámos para o Gabu. O coronel, comandante do CAOP2, estava com um major, num gabinete, à espera que chegássemos.

Recebeu o Jamanca assim:

− Estou fodido contigo[4], Jamanca!

− Eu também estou, meu coronel.

E foi-se embora, deixou-nos ali, aos cinco oficiais, a olhar uns para os outros.

Sentámo-nos, todos calados. Uns minutos depois, chegou um major, em passo calmo.

 − Vocês estão aí, à espera de quê? Se é do nosso coronel, não adianta esperá-lo, ele só vem amanhã de manhã. É melhor irem à engenharia, para verem se há camas para vocês dormirem. E quem têm cá famílias, pode ir ter com elas passar a noite. Depois do pequeno-almoço, há uma coluna para Bambadinca. 

Assim fizemos. No dia seguinte[5], de manhã, regressámos à nossa unidade, a Bambadinca.

______________

Notas do autor ou do editor literário, o VB:

[1] Nota do editor: Coronel paraquedista João José Curado Leitão [o útimo comandante do CAOP Lestre / CAOP 2, extinto em 9/9/1974] 

[2] Nota do editor: em 23 de abril de 1974.

[3] Mais tarde viemos a saber que, naquela mesma altura, um grupo do PAIGC se encontrava de visita à tabanca. Os guerrilheiros estavam dentro das casas a observaram os nossos movimentos.

[4] Nós não sabíamos que o homem que andava de bicicleta a vender noz de cola quando regressou, foi falar com o coronel, comandante do CAOP2, informando-o que não tínhamos ido a Pajama e que, por esse motivo, não encontrámos o PAIGC.

[5] Nota do editor: 27 de abril de 1974.

(Seleção, fixação / revisão de texto, negritos, links, fotos, notas adicionais, título, subtítulo: síntese das partes anteriores: LG)
____________

Nota do editor:

Ultimo poste da série > 10 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25053: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XLI: Canquelifá, a ferro e fogo, no 1º trimestre de 1974

13 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Uma pergunta para o Cherno Baldé : ainda haverá a lagoa de água doce de Vendu Finjor ? E a transumância ainda se pratica?

antónio graça de abreu disse...

O coronel pára João José Curado Leitão era comandante do CAOP 1, sediado em Cufar. Era o meu comandante. O comandante do CAOP 2 era outro coronel.

Abraço,

António Graça de Abreu

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Virgínio Briote foi buscar essa informação à CECA (2002). Na página 373, diz-se que o cor pqdt Curado Leitão foi o "último comandante" do CAOP 2, com sede em Nova Lamego (mas não se diz desde quando..., pode ter sido depois do 25 de abril, até à data da extinção em 9/9/1974...


Fonte: Adapt de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 373-374

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, o teu CAOP 1 foi extinto em 1/7/1974... E de facto, o cor para Curado Leitão aparece, no livr5oda CECA (2002), oág. 591, como o seu último comandante... Mas a partir dessa data pode ter sido transferido paar o CAOP 2


Comando de Agrupamento Operacional
Comando de Agrupamento Operacional Oeste
Comando de Agrupamento Operacional n.º 1

Identificação CAOP I CAOP Oeste I CAOP 1
Cmdt: Cor Para Alcínio Pereira da Fonseca Ribeiro
Cor Art Gaspar Pinto de Carvalho Freitas do Amaral
Cor Para Rafael Ferreira Durão
TCor Inf Pedro Henriques
Cor Para João José Curado Leitão

CEM: Maj CEM Raul Ernesto Mesquita da Costa Passos Ramos
Maj CEM Luís Alberto Santiago Inocentes
Maj Art João António de Gusmão Pimentel da Fonseca
Maj Inf Carlos Diamantino Bacelar Pires
Maj Art João Augusto Fernandes Bastos
Divisa: -
Início: 08Jan68 | Extinção: 0lJul74

Fonte: Adapt de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp.591592

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vd. ficha de unidade:

Comando de Agrupamento Operacional Leste
Comando de Agrupamento Operacional nº 2

Identificação CAOP Leste I CAOP 2
Cmdt: Cor Art José João Neves Cardoso
Cor Art Orlando Rodrigues da Costa
Cor Inf Alfredo Teixeira Telo
Cor Inf António da Anunciação Marques Lopes
Cor Para João José Curado Leitão

CEM: TCor Inf Artur Luís Félix Teixeira da Silva
TCor CEM Arnaldo Manuel de Medeiros Ferreira
TCor Art Mário Rodrigues de Oliveira Azevedo
TCor CEM Gabriel Fátima do Nascimento Mendes
Divisa: "Tratando e pelejando"
Início: 01Ago70 | Extinção: 10Set74

Fonte: Adapt de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 373-374

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, já descobri a razão deste "desencontro" de nomes"...

Os trêrs últimos comandantes do CAOP 2 (Nova Lamego=) foram:

Cor Inf Alfredo Teixeira Telo
Cor Inf António da Anunciação Marques Lopes
Cor Para João José Curado Leitão

O cor inf Teixeiro Telo deve ter termiado a comissão (e regressado à metrópole) por volta de 1 de abril de 1974. Em janeiro, já se falava na necessidade da sua subatituição. Foi substituído pelo cor inf Marques Lopes: este +e que terá tido a conversa mal humnorada com o tenente Jamanca, já no Gabu, em 26 de abril de 1974: "Estou fodido contigo, Jamanca!"... E o Jamananca retorquiu-lhe; "E eu também, meu coronel"...

Pelas minhas contas, o Curado Leitão terá ido comandar o CAOP 2 já no final da guerra, depois da extinçºao do CAOP 1 (em 1/7/1974)... O CVAOP 2 será extinto em 10/9/1974...

Tens aqui a fotografia do teu coronel, infelizmente já falecido (procura em LEITÃO, João):

https://www.paraquedistas.com.pt/index.php/component/edocman/falecidos/oficiaistodos

Um alfabravo, António. LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nao foram tempos fáceis estes, que antecederam o 25 de Abril na região do Gabu... Para as NT e para a população fula que sentia ameaçada e
e indefesa... Veja-se como se joga com um pau de dpis bicos.. O Jamanca estava nervosó e aquele não era o seu chão...






Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luís Graça,

Não posso confirmar se a lagoa ainda existe ou não, todavia é pouco provável, tendo em conta que mesmo os rios (bolanhas) estão mortos (já secaram), por um lado devido a diminuição das chuvas (mudanças climáticas) e, por outro, porque d'outro lado da fronteira (Casamansa-Senegal) construíram barragens para a retenção da água das chuvas. Está região outrora era a principal zona de criação de animais (gado bovino e caprino).

Relativamente aos episódios relatados por Amadu Bailo Djaló, pode-se concluir, simplesmente, que ambos os lados já estavam cansados da guerra. No entanto, penso que a postura do Ten. Jamanca teria sido a mais adequada naquelas circunstâncias concretas, pois a guerrilha nunca cumpria suas promessas e sempre que acenavam com a paz estariam a adormecer as atenções para poder montar uma cilada mortífera. Não podiam confiar e, demais a mais, os dois homens (Jamanca e Amadu Djaló) lutavam por objectivos diferentes conforme suas origens e interesses, o Ten. Jamanca era da nobreza fulacunda, ciosa de defender o Chão fula enquanto que o Amadu Djaló, filho de pais originários da Guiné-Conacri, seria uma espécie de mercenário a soldo do regime. Estas nuances étnico-tribais não eram do conhecimento dos chefes militares ou eram pouco consideradas.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé



Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno, os teus comentários são sempre bem vindos e enriquecem os nossos textos.

Aproveito para te infornar que espero ter conseguido motivar o Virgínio Briote a acabar a transcrição do resto das memórias (inéditas) do Amadu Djaló: como sabes, estava prometido um segundo volume, que a doença e a morte interromperam...

Nesse segundo volume das suas memórias (que ele não completou), conta as suas desventuras a seguir ao 25 de Abril de 1974 e sobretudo depois da independência. Andou foragido até chegar a Portugal, em ano que agora não posso precisar. São um testemunho importante, julgo eu, para a historiografia da "nossa" guerra...

Mantenhas. Luís

Joaquim Luis Fernandes disse...

Bem compreendo os sentimentos de deceção, senão de raiva, do tenente Jamanca para com o coronel comandante de CAOP2, que andava a espiar e controlar os movimentos da CCAÇ21, para saber se cumpriam as missões, em vez de espiar e controlar os movimentos do IN nas tabancas da sua zona de comando.
Atitude que revela bem o desnorte das Chefias a esse tempo. O que se seguiu, é disso o corolário lógico.

Também passei por situações semelhantes em Teixeira Pinto, observando algumas vezes, que após os patrulhamentos pelas matas da região de Churo (alguns de mais de 24 horas e com muitos perigos associados) que 2 capitães (o de operações e o da CCS) abordavam alguns dos soldados do meu pelotão (sempre os mesmos) para saberem se tinha cumprido a missão. (eu tinha ido em rendição individual e havia alguns soldados, que mal conhecia e em quem não depositava muita confiança)

A partir da 3ª semana de Teixeira Pinto, fiquei sob ameaça de grave punição por parte desse dois capitães, por ter dito em conversa (respondendo às suas questões) qual era a minha opinião sobre a guerra que fazíamos na Guiné, que naturalmente era contrária à deles, de militares do quadro (pouco briosos) colonialistas e racistas.

E fico por aqui para o fel não explodir.

Cumprimentos
JLFernandes

Eduardo Estrela disse...

Desabafar faz aliviar a alma e o coração. Todos temos sido, duma forma ou outra, muito comedidos e ponderados nas apreciações que fazemos sobre os tempos que vivemos na guerra onde deixámos dois anos da nossa vida e onde normalmente os operacionais no terreno eram os milicianos, salvo algumas poucas honrosas excepções
Andei a comandar o meu grupo de combate alguns meses e também tive situações idênticas, protagonizadas por um senhor militar do quadro permanente que fugia do mato como o diabo da cruz e que , que eu me recorde nunca saíu
do arame farpado.
Abraço fraterno
Eduardo Estrela

Joaquim Luis Fernandes disse...

Pois é camarada Eduardo Estrela!... Somos comedidos e ponderados nas apreciações e nas palavras usadas! Nada de muito acintoso, parecem ser as regras da Tabanca Grande. Que aceitamos.

Que termos deveríamos usar para classificar pessoas e situações, que ostensivamente nos ameaçaram e usaram como carne para canhão, na expectativa de conseguirem umas baixas para o seu palmarés, na sua lustrosa comissão? Eles que não saiam do perímetro do quartel?
Levavam uma vida do quarto para messe, desta para o bar ou gabinete, e deste para o bar ou para o quarto, etc. Era uma vida muito dura a desses militares de carreira.

Para adormecerem com maior tranquilidade, depois das suas jogatinas de poker, no bar, bem regadas de Gim e Uísqque, tinham um Pelotão no patrulhamento das áreas próximas do Quartel (num raio até cerca de 4 Km) até à meia noite ou mais. Saíamos em viaturas ou a pé, ao anoitecer, e a pé regressávamos. De 4 em 4 dias lá ia eu com o meu grupo fazer de guarda noturno. Nas noites frias, munido com uma manta escura. Resguardava do frio intenso em certas noites e ajudava a proteger das picadas dos mosquitos.

Mas atenção: também conheci militares do quadro que despertaram a minha admiração e respeito. Havia de tudo: dos bons, dos razoáveis, dos maus e muito maus.
No 25 de Abril de 74 e no 25 de Novembro de 75, alguns aí estão espelhados.

Abraço
JLFernandes

Anónimo disse...

Caros amigos,

Felizmente que agora já falamos daquela guerra em termos de um passado remoto, mas mesmo assim há situações que nos podem parecer hoje incompreensíveis para a época, por exemplo, as aldeias que foram mencionadas (Ufoia, Pajama, Unango e a lagoa de Finjor) e que, aparentemente, recebiam os guerrilheiros quase diariamente, vindos da fronteira Norte. Estas aldeias, vistas no mapa, parece que se situavam a pouca distância da cidade de Nova Lamego (Gabu) ao Norte, talvez umas dezenas de Kms o que, certamente, configurava uma grande fragilidade em termos de segurança para a cidade, ao grande número de soldados ali estacionados e em trânsito assim como ao aeródromo onde diariamente chegavam e partiam aeronaves.

Uma observação em jeito de questionamento para análise do amigo Valdemar Embaló, embora saiba que, nessa época, ele que esteve nessa zona, já estava numa outra guerra.

Cherno Baldé