sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25128: Capas da Vida Mundial Ilustrada (1941-1946) - Parte II: embarque de tropas expedicionárias para os Açores, em maio de 1941

 


Legenda (não há indicação do autor da foto):  "O sr. capitão Santos Costa, Subsecretário de Estado da Guerra, passa revista a mais um contingente de tropas para reforçar a guarniçáo militar dos Açores.  Desta vez foi um contingente de engenharia que embarcou para aquele arquipélago, no 'Carvalho Araújo' "... (O glorioso paquete "Carvalho Araújo" que navegou durante 4 décadas entre as ilhas e o continente e transportaria ainda tropas para a Guiné, no nosso tempo, antes de chegar oa fim dos seus dias...)

Capa da "Vida mundial ilustrada : semanário gráfico de actualidades": ano I, nº 2, 29 de maio  de 1941. Preço: 1 escudo. (*)

(A imagem foi reditada, com a devida vénia... LG; cortesia de Hemeroteca Digital de Lisboa / Câmara Municioal de Lisboa





Legenda: "Soldados Portugueses cotinuam a seguir para várias pates do Império onde a sua presença se torna necessária para afirmação da nossa soberania.  Damos, em cima, dois aspetos do último embarque de tropas para os Açores".
  

1. É desconhecido,  da maior parte dos nossos leitores, o esforço que Portugal teve que fazer na II Guerra Mundial para se defender e defender os seus territórios ultramarinos, com destaque para os arquipélagos atlânticos de maior interesse estratégico para os beligerantes: as potências do Eixo (Alemanha, Itália,  etc.) e os Aliados (Inglaterra, EUA, etc.).

Sobre os planos de defesa de Cabo Verde, já aqui temos falado (**)... Cerca de seis mil homens foram enviados para Cabo Verde, com destaque para as ilhas do Sal e de São Vicente. Para os Açores, form quase cinco vezes mais: 28 mil homens.

Era então Subsecretário de Estado da Guerra, braço direito de Salazar, considerado um "germanófilo",  o capitão Santos Costa (1899 - 1982)  (***).

Eis alguns resumos e excertos da dissertação de mestrado de Tiago Henrique Magalhães da Silva (2010), abaixo citado:

(,...) "Com o início da guerra, e até 1940, dão-se algumas alterações militares" (...) O  exército ordena uma mobilização parcial, passando de c. de 32,6 mil homens, em 1939, para 48,9 mil. Não há ainda preocupaçõea com a defesa das ilhas (e em especial dos Açores).

(...) "O Exército reforça também significativamente as ilhas a partir de Abril de 1941. Será a maior força expedicionária portuguesa, a dos Açores, contabilizando 28 000 homens, o que corresponde a duas divisões. Apesar da grandeza do dispositivo, as carências de armamento não podem ser mais claras, apenas o número das armas ligeiras está de acordo com as necessidades do exército." (...)

Há um reforço de três batalhões de infantaria expedicionários: 
  • o BI 8, para o Faial:
  • o BI 9, para S. Miguel:
  • e o BI 10, para Angra.

Em Julho de 1941, chega aos Açores a terceira vaga dos reforços, incluindo mais batalhões de infantaria: o BI 12 e o BI 14, ambos para S. Miguel. 

Em novembro de 1941, a quarta (e última) vaga vem completar, no essencial, o dispositivo militar  do arquipélago.

Nas próprias ilhas também se fazia, entretanto,  um importante esforço de mobilização: são criando-se vários batalhões de infantaria a partir das duas unidades-mãe: os batalhões independentes de infantaria, o BII 17 (Terceira) e o BII 18 (S. Miguel).

O número de 28 000 homens apontado por António José Telo (historidor, professor catedrático aposentado da Academia Militar) poderá, eventualmente, corresponder à totalidade de efectivos contabilizando substituições, ou talvez, englobando os efectivos da Marinha.

Segundo António José Telo  ("Os Açores e o controlo do Atlântico: 1898 – 1948. Porto: ASA, 1993, pág. 276, cit, por Silva, 2010, pág. 86):

(...) "Em 1941, o comando militar dos Açores dirige já uma guarnição distribuída por três ilhas, com uma presença simbólica nas outras. O grosso das forças está em S. Miguel, sede de três regimentos de infantaria (RI 18, 21, 22), companhias de metralhadoras, artilharia antiaérea e de campanha e as baterias de defesa de costa de Ponta Delgada. O RI 17 está na Terceira e o RI 20 no Faial, ambas as ilhas reforçadas com unidades de artilharia de campanha, antiaérea e auxiliares”. (...)

Fonte; Adapt. de Tiago Henrique Magalhães da Silva - "Operação dos Açores 1941". Dissertação de Mestrado em História Contemporânea. Porto:  Universidade do Porto, Faculdade de Letras, 2010, 117 pp. (Sob a orientação do Professor Doutor Manuel Loff). 


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Notas do editor

(*) Vd.  29 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25120: Capas da Vida Mundial Ilustrada (1941-1946) - Parte I: embarque de tropas expedicionárias para Cabo Verde, em junho de 1941.... "Partiram alegres e confiantes"...

(***) Sobre o gen Fernando dos Santos Costa   (1899-1982)

Militar e político que foi figura destacada do regime salazarista. Entre 13 de Maio de 1936 e 6 de Setembro de 1944 ocupou o cargo de Subsecretário de Estado no Ministério da Guerra, de cuja pasta era titular o próprio Presidente do Conselho, Salazar, a quem sucederá à frente do Ministério da Guerra entre 6 de Agosto de 1944 e 2 de Agosto de 1950. Quando a pasta da Defesa substituiu a da Guerra, manteve-se à frente do novo Ministério até 4 de Agosto de 1958, data em que foi afastado do governo. Em 1961 foi promovido a General. (José Martins)

Vd. a publicação Correspondência do General Santos da Costa (1936-1982). Organização e prefácio: Manuel Braga da Cruz . Editora: Verbo, Lisboa, 2004,

"O General Fernando Santos Costa foi um dos mais estreitos colaboradores de Salazar e um dos mais longevos ministros dos seus governos. Ao longo dos 22 anos que esteve no Governo, onde ocupou os cargos de subsecretário de Estado da Guerra e de ministro da Guerra e da Defesa, foi a figura mais importante do regime junto do Presidente do Conselho de Ministros. Principal fautor da reestruturação das Forças Armadas e da sua subordinação ao poder político, Santos Costa participou ao lado de Salazar, de modo decisivo, na formulação da política de guerra, desde o deflagrar da Guerra Civil de Espanha até ao início da Guerra Fria, depois do termo da II Guerra Mundial (****), assumindo desse modo relevante papel não só nacional como internacional. 

"A documentação que se reúne nesta obra, com prefácio de Manuel Braga da Cruz, contribuirá seguramente para uma maior compreensão da personalidade de Santos Costa e de suas ideias e orientações políticas".

(****) Portugal e a II Guerra Mundial - Cronologia breve (LG):

1939

17 de Março - Assinado por Salazar e Franco o Pacto Ibérico, Tratado de Amizade e Não Agressão

1 de Setembro - Invasão alemã da Polónia. Início da II Guerra Mundial. Portugal, no dia seguinte, declara a sua posição de neutralidade no conflito europeu.

1940

Começam a afluir a Portugal dezenas e dezenas de milhares de refugiados, na sua maioria judeus, e nomeadamente em trânsito para os EUA.

6/7 de Junho - A Alemanha invade a França que irá capitular. Reafirmação da "estrita neutralidade" de Portugal. Conhecimento dos planos (secretos) da "Operação Félix" (invasão de Espanha e, eventualmente, Portugal, para a conquista e ocupação de Gibraltar, vital para o controlo do Mediterrâneo). Os ingleses fazem todos os esforços para manter a neutralidade da Península Ibérica.

Dezembro - Plano de retirada do governo português para os Açores na hipótese (temida pelos ingleses e levada a sério por Salazar) de invasão do país pela Alemanha e pela Espanha. O arquipélago dos Açores chegará a ter quase 3 dezenas de milhares de homens em armas, com equipamento inglês.

1941

22 de Junho – A URSS é invadida pela Alemanha. Aumenta a germanofilia em Portugal,  nomeadamente. Estreitam-se os laços económicos com a Alemanha.

Dezembro - Declaração de guerra dos Estados Unidos contra as pptências do Eixo, após o ataque japonês a Pearl Harbour. Reforça-se em Portugal o receio de ocupação, pelos Aliados, das ilhas atlânticas. Aumenta a importância estratégica dos Açores. Em 1941 Portugal perde 4 navios, três dos quais da marinha mercante, incluindo o Cassequel, de 122 m, da Companhia Colonial de Navegação. No final do conflito, terã perdido 18 mil t, o equivalente a 7% do total da arequeação bruta

1942

Março - Racionamento de bens essenciais, na sequência de Bloqueio económico imposto pelos Aliados. Portugal é obrigado a aceitar, no verão desse ano, um acordo comercial favorável aos interesses do seu velho aliado que lhe garante a independência da metrópole e das ilhas adjacentes bem como a soberania das colónias.

Novembro/Dezembro - A sorte das armas começa a virar-se para os Aliados.

1943

Janeiro - Capitulação dos alemães em Estalinegrado.

Maio – Queda da Tunísia a favor dos aliados. Ameaça sobre os Açores, vital para o abastecimento de aviões provenientes da América. Negociação com os ingleses e depois com os americanos.

Agosto - Cedência das bases das Lajes, nos Açores. O Governo Britânico compromete-se a dar apoio e auxílio militar a Portugal, em caso de ataque. Modernização das nossas Forças Armadas.

Junho - Portugal cancela a exportação do volfrâmio, face ao braço de ferro mantido com a Inglaterra. O principal cliente deste minério, essencial para a indústria de armamento, tinha sido a Alemanha.

1944

Maio - II Congresso da União Nacional. Delineada a estratégia de sobrevivência do regime de Salazar.

6 de Junho – O tão esperado Dia D (Desembarque nas praias da Normandia pelas forças aliadas).
Novembro - Acordo (secreto) de concessão de facilidades militares nos Açores, assinado por Portugal e os Estados Unidos.

1945

30 de Abril – Morte de Hitler em Berlim. Três dias de luto oficial decretados pelo governo português.

Maio – Capitulação das tropas alemãs.

6 e 9 de Agosto - Lançamento de bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui, que irão apressar a rendição japonesa (a 2 de Setembro)

27 de Setembro – O território de Timor volta à administração portuguesa, depois da ocupação japonesa (mas também australiana e holandesa).

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Nota do editor:

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Diz a Wikipedia sobre este oficial do Exército e mmembo destacado do Estado Novo, natural de Alcafache, Mangualde:

(i) assumiu um papel preponderante na ligação entre António de Oliveira Salazar e os sectores militares mais conservadores que apoiaram a Ditadura Nacional e o Estado Novo;

(ii) Era monárquico, embora a sua oposição tenha sido descisiva para a não restauração da monarquia em 1951, defendida pelos monárquicos do regime;

(iii) Principal factor da reestruturação das Forças Armadas Portuguesas sob o Estado Novo e da sua subordinação ao poder político, Santos Costa participou ao lado de Salazar, de modo decisivo, na formulação da política de defesa de Portugal desde o deflagrar da Guerra Civil de Espanha até ao início da Guerra Fria, incluindo o período conturbado da Segunda Guerra Mundial;

(iv) Nessas funções desempenhou um relevante papel nacional e internacional, em particular nas relações com os Aliados e na entrada de Portugal na NATO...

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_dos_Santos_Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...


A Wikipedia em inglês acrescenta (tradução nossa):

https://en.wikipedia.org/wiki/Fernando_Santos_Costa


Santos Costa e Salazar conheceram-se na Universidade de Coimbra em 1917, onde ambos eram membros de uma organização estudantil católica, o Centro Académico para a Democracia Cristã. Santos Costa ingressou no Exército e, como alferes, participou na Monarquia do Norte, uma revolta monarquista abortada contra a República Portuguesa em 1919.

Ainda mais tarde, esteve envolvido no golpe de 1926, que gradualmente transformou Portugal numa bem consolidada ditadura de direita. O momento decisivo veio em 1928 com a nomeação de Salazar como Ministro das Finanças. Salazar tornou-se primeiro-ministro em 1932 e estabeleceu um estado corporativo ao estilo de Benito Mussolini, governado por especialistas conidrados apartidários Um desses especialistas foi Santos Costa, que se tornou Subsecretário de Estado (Vice-Ministro) da Guerra em 1936, embora fosse ainda apenas caoitão, um bixo posto n hierarqui militar.

Santos Costa estava prestes a tornar-se uma das principais figuras do Estado Novo, designação adoptada pela ditadura salazarista, responsável pelas reformas destinadas a melhorar a eficiência de combate do Exército.

Após a eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939, esteve também fortemente associado à facção do Estado e do Exército que desejava a vitória alemã, embora isso fosse contra as boas relações que Portugal tradicionalmente mantinha com a Inglaterra.

Embora muito mais de direita do que o próprio Salazar, e fosse visto como um eventual perigoso dissidente político, acabou finalmente por ser nomeado Ministro da Guerra em 1944, devido à sua habilidade em garantir que o Exército continuasse a ser um suporte eficaz da ditadura.

Depois da guerra, Santos Costa esteve entre os membros mais reaccionários do governo, resistindo a todas as tentativas de liberalização. Após a morte em 1951 do General Carmona, chefe de Estado, apoiou a restauração da Monarquia, juntamente com a ala monárquica do Estado Novo. A maioria dos líderes do regime discordou. Salazar, não vendo vantagens no regresso da Monarquia, apoiou também a manutenção do Presidente da República eleito.

Em Agosto de 1958, numa jogada de surpresa típica de Salazar, Santos Costa foi finalmente afastado do governo, juntamente com Marcelo Caetano, da ala mais liberal do aparelho do Estado Novo. No entanto, ele permaneceu politicamente activo, ora apoiando o seu antigo chefe num momento, ora conspirando contra ele no momento seguinte. As suas ambições de substituir Salazar como primeiro-ministro eram bem conhecidas, fazendo com que um membro da oposição comentasse: “Se é inevitável que tenhamos o Santos Costa, vamos rezar missa todas as manhãs para que o bom Deus preserve Salazar”.

Referências:

Paul H. Lewis. Latin Fascist Elites: The Mussolini, Franco, and Salazar Regimes. Praeger Publishers, 2002. ISBN 0-275-97880-X.

Paul H. Lewis. Salazar's Ministerial Elite, 1932-1968. // The Journal of Politics, Vol. 40, No. 3 (Aug., 1978), pp. 622–647.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não consta que o Santos Costa tenha ido visitar os nossos pais a Cabo Verde e aos Açores...

Foi a Angola e Moçambique, já em 1957...

RTP Arquivos > 1957-05-22 00:02:41

Aeroporto de Lisboa, partida do Coronel Fernando dos Santos Costa, ministro da Defesa Nacional, para Angola e Moçambique, sendo a primeira vez que vai visitar as províncias ultramarinas onde vai inspecionar as instalações militares até 23 de junho.

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/partida-de-fernando-dos-santos-costa-para-o-ultramar/

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Camaradas, alguém tem cartas, fotografias, outros documentos com referência às tropas expedicionárias nos çores na II Grande Guerra ? Haverá, por certo, camaraddas nossos que tiveram lá pais ou tios... LG

Anónimo disse...

Consultar a história das transmissões e pesquisar os primeiros radiotelegrafista em Cabo Verde durante a segunda guerra mundial. Uma história interessante para figurar nestas páginas.

Antº Rosinha disse...

Se Santos Costa esteve em Angola e Moçambique em 1957, como ministro da defesa, ele não tinha ideias próprias, ou seja as ideias dele eram as ideias de Salazar.

Se ele viu em Angola, as munições e as armas que havia nos quarteis , no Paiol da Pólvora em Luanda, ele viu apenas um museu da primeira e segunda guerra mundial, mas à portuguesa.

Ou seja, equipamento necessário apenas para instrução.

Santos Costa feliz porque levava notícias que eram música para os ouvidos de Salazar.

Salazar em 1957, não investia nas colónias na economia, na exploração mineira, na educação em Obras públicas, cada um que lá estava que se desenrascasse, até desemprego havia. a guerra é que veio acelerar certas coisas.

Então armas nem pensar, para gastar dinheiro em armas era melhor não ter colónias.

Pensaria Santos Costa, por procuração de Salazar.