sábado, 24 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5154: Meu pai, meu velho, meu camarada (19): Cabo Verde, 1942: Plano de defesa do arquipélago, de Santos Costa (José Martins)



Cabo Verde > Ilhas do Barlavento > Ilha de São Vicente > 2006 > Ponta João Ribeiro > Restos do sistema de defesa construído durante a II Guerra Mundial. A Ponta João Ribeiro fica hoje a 3 km da cidade do Mindelo. Em frente, a uns escassos 600/800 metros, situa-se o ilhéu dos Pássaros.

Foto: © Pedro Marcelino / Lia Medina (2009). Direitos reservados


Cabo Verde > Ilha de Vicente > Porto do Mindelo > Dois paquetes de cruzeiro atracados no porto, o ilhéu dos pássaros e o Monte Cara ao fundo

Foto: Cortesia de Nelson Herbert (2009). (Editado por L.G.)

1. Mensagem do nosso camarada, amigo e assíduo colaborador do nosso blogue, José Martins, ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, técnico ofical de comtas, residente em Odivelas:

Boa tarde camaradas

Tendo em conta os vários postes sobre a matéria com fotos históricas em 2009 (Março – 4059; Setembro - 4926, 5019, 5021, 5022 e 5029; Outubro - 5101 e 5109… estes foram os que detectei) (*) , junto texto colhido no espólio do Arquivo Histórico Militar.

Se entenderem que tem relevância, avancem. Poderei também avançar, já que estou a analisar alguns escritos sobre a matéria, sobre o que levou Portugal a entrar (sem entrar) na 2ª Guerra Mundial.

Um abraço
José Martins


2. Documentos > PLANO DE DEFESA DE CABO VERDE (1942)

Despacho de Fernando Santos Costa, Sub-secretário de Estado da Guerra


Aprovadas as presentes directivas para a organização do Plano de Defesa de Cabo Verde com as restrições:

a) As forças metropolitanas destacadas para reforçar a guarnição militar da Colónia de Cabo Verde destinam-se exclusivamente à defesa das Ilhas do Sal e de S. Vicente [ Ilhas do Barlavento].

b) À ilha de S. Tiago [, Ilha do Sotavento, com a capital, Praia,] são apenas afectas 2 companhias de caçadores indígenas da Colónia que deverão ser rapidamente colocadas em estado de completa eficiência.

Na hipótese de a Colónia não poder tomar à sua conta todas as despesas com a sua guarnição militar privativa, o Ministério da Guerra tomará sobre si parte dessas despesas.

Procurar-se-á prover num oficial superior da arma de infantaria (major ou tenente-coronel) o comando militar da Ilha de S. Tiago que, simultaneamente, exercerá o comando das 2 companhias indígenas de caçadores. É aconselhável que as despesas com este comando corram por conta da Colónia mas, havendo dificuldades, o Ministério da Guerra tomará à sua conta o encargo.

c) A guarnição militar da Ilha de S. Vicente é constituída pelas tropas ali presentemente estacionadas, reforçada, logo que seja possível, com uma bateria de artilharia de campanha de 75 mm. A bateria antiaérea de 40 mm será elevada a 6 peças logo que as disponibilidades em material o possibilitem.

d) Para a Ilha de Santo Antão não poderão ser deslocados da Ilha de S. Vicente efectivos superiores a uma companhia de atiradores reforçada com um pelotão de metralhadoras pesadas e uma secção de morteiros de 81 mm. Visto não ser possível reunir nesta Ilha efectivos que garantam a sua defesa integral em todas as circunstância devemos apenas contentar-nos com a vigilância do canal em frente do Porto de S. Vicente, tendo como base principal a ocupação de CARVOEIROS.

e) A guarnição da Ilha do Sal será constituída por um Regimento de Infantaria a dois batalhões e uma bateria A.A. [antiaérea] de 40 mm provisoriamente a 4 peças, mas elevada a 6 logo que o permitam as disponibilidades em material. Não sendo possível por dificuldades de reabastecimento ou de vida manter na Ilha os dois batalhões do regimento deve ali ficar apenas o comando do regimento e um batalhão transferindo-se o outro batalhão para a Ilha de Santo Antão, onde permanecerá durante oito meses, recolhendo então a S. Vicente todas as tropas da guarnição desta Ilha.

Nesta hipótese o conceito de ocupação da Ilha de Santo Antão deve prever a vigilância da sua zona Norte e Noroeste e a defesa a todo o custo da sua zona Sul. Em contrapartida o conceito de defesa da Ilha do Sal deve modificar-se no sentido de ser apenas defendido a todo o custo o planalto da zona do aeródromo vigiando-se com elementos não superiores a um pelotão de atiradores cada um dos portos de Santa Maria MARIA e Pedra Lume.

As tropas que guarnecem a Ilha do Sal não devem manter-se na Ilha por um período de duração superior a oito meses. Para esse efeito o Comandante Militar da Colónia fica autorizado a trocar entre si os batalhões e as baterias das guarnições da Ilha de S. Vicente e Sal, bem como as formações de comando dos 2 regimentos se tal se mostrar conveniente. Na hipótese de vir a verificar-se que na Ilha do Sal não pode ser mantido mais que um batalhão a troca far-se-á então no que respeita à Infantaria apenas entre os 2 batalhões do regimento, começando pelo batalhão do Regimento de Infantaria nº 11.

f) Por falta de elementos não é possível destacar para o arquipélago forças de aeronáutica.

g) O Ministério da Guerra procurará assegurar por meios próprios os transportes militares entre as Ilhas do Sal e de S. Vicente bem como o transporte de água entre as Ilhas do Sal e de S. Vicente, bem como o transporte de água entre as Ilhas de Santo Antão e S. Vicente.

h) Procurar-se-á manter no Arquipélago reservas de munições e de combustíveis para dois meses e de víveres para um período de quatro a seis meses.

i) Dever-se-ia procurar instruir na Arquipélago pessoal indígena para pelo menos um ou dois batalhões de infantaria. Concorrer-se-ia para atenuar a crise económica do Arquipélago e, simultaneamente, poder-se-ia ulteriormente substituir por pessoal indígena o pessoal europeu de dois batalhões.

Em qualquer hipótese será sempre possível contar com uma importante reserva de mobilização para a defesa da Ilha.

j) As relações de dependência em todas as circunstâncias entre o Comandante Militar da Colónia, o Governador e o Ministério da Guerra são as estabelecidas no Decreto-lei nº 32.157 da 21 de Julho findo.

Lisboa, 12 de Agosto de 1942
O Sub-secretário de Estado da Guerra
(A) – Fernando Santos Costa (**)
__________ 

 Notas de J.M. / L.G.:

(*) Vd. postes de: 15 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5109: Meu pai, meu velho, meu camarada (18): Do Mindelo a... Bambadinca, com futebol pelo meio (Nelson Herbert / Luís Graça)

12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5101: Meu pai, meu velho, meu camarada (17): Ilha de S. Vicente, S. Pedro, 1943: Armando Duarte Lopes (Nelson Herbert)

29 de Setembro de 2009 >Guiné 63/74 - P5029: Meu pai, meu velho, meu camarada (16): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente,1941/43,1º Cabo Inf Luís Henriques (3) (Luís Graça)

28 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5022: Meu pai, meu velho, meu camarada (15): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente,1941/43,1º Cabo Inf Luís Henriques (2) (Luís Graça)

27 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5021: Meu pai meu velho, meu camarada (14): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente, 1941/43, 1º Cabo Inf Luís Henriques (1) (Luís Graça)

27 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5019: Meu pai, meu velho, meu camarada (13): Mindelo, ontem e hoje ( Lia Medina / Nelson Herbert / Luís Graça)

9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4926: Meu pai, meu velho, meu camarada (12): 1º cabo Ângelo Ferreira de Sousa, S. Vicente, 1943/44 (Hélder Sousa)

20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)
__________

(**) FERNANDO DOS SANTOS COSTA (1899-1982)

Militar e político que foi figura destacada do regime salazarista. Entre 13 de Maio de 1936 e 6 de Setembro de 1944 ocupou o cargo de Subsecretário de Estado no Ministério da Guerra, de cuja pasta era titular o próprio Presidente do Conselho, Salazar, a quem sucederá à frente do Ministério da Guerra entre 6 de Agosto de 1944 e 2 de Agosto de 1950. Quando a pasta da Defesa substituiu a da Guerra, manteve-se à frente do novo Ministério até 4 de Agosto de 1958, data em que foi afastado do governo. Em 1961 foi promovido a General. (JM)

Vd. a publicação Correspondência do General Santos da Costa (1936-1982). Organização e prefácio: Manuel Braga da Cruz . Editora: Verbo, Lisboa, 2004, 

"O General Fernando Santos Costa foi um dos mais estreitos colaboradores de Salazar e um dos mais longevos ministros dos seus governos. Ao longo dos 22 anos que esteve no Governo, onde ocupou os cargos de subsecretário de Estado da Guerra e de ministro da Guerra e da Defesa, foi a figura mais importante do regime junto do Presidente do Conselho de Ministros. Principal fautor da reestruturação das Forças Armadas e da sua subordinação ao poder político, Santos Costa participou ao lado de Salazar, de modo decisivo, na formulação da política de guerra, desde o deflagrar da Guerra Civil de Espanha até ao início da Guerra Fria, depois do termo da II Guerra Mundial ***), assumindo desse modo relevante papel não só nacional como internacional. A documentação que se reúne nesta obra, com prefácio de Manuel Braga da Cruz, contribuirá seguramente para uma maior compreensão da personalidade de Santos Costa e de suas ideias e orientações políticas"

(***) Portugal e a II Guerra Mundial - Cronologia breve (LG):

1939

17 de Março - Assinado por Salazar e Franco o Pacto Ibérico, Tratado de Amizade e Não Agressão

1 de Setembro - Invasão alemã da Polónia. Início da II Guerra Mundial. Portugal, no dia seguinte, declara a sua posição de neutralidade no conflito europeu.

1940

Começam a afluir a Portugal dezenas e dezenas de milhares de refugiados, na sua maioria judeus, e nomeadamente em trânsito para os EUA.

6/7 de Junho - A Alemanha invade a França que irá capitular. Reafirmação da "estrita neutralidade" de Portugal. Conhecimento dos planos (secretos) da "Operação Félix" (invasão de Espanha e, eventualmente, Portugal, para a conquista e ocupação de Gibraltar, vital para o controlo do Mediterrâneo). Os ingleses fazem todos os esforços para manter a neutralidade da Península Ibérica.

Dezembro - Plano de retirada do governo português para os Açores na hipótese (temida pelos ingleses e levada a sério por Salazar) de invasão do país pela Alemanha e pela Espanha. O arquipélago dos Açores chegará a ter quase 3 dezenas de homens em armas, com equipamento inglês.

1941

22 de Junho – A URSS é invadida pela Alemanha. Aumenta a germanofilia em Portugal. nomeadamente. Estreitam-se os laços económicos com a Alemanha.

Dezembro - Declaração de guerra dos Estados Unidos contra as pptências do Eixo, após o ataque japonês a Pearl Harbour. Reforça-se em Portugal o receio de ocupação, pelos Aliados, das ilhas atlânticas. Aumenta a importância estratégica dos Açores. Em 1941 Portugal perde 4 navios, três dos quais da marinha mercante, incluindo o Cassequel, de 122 m, da Companhia Colonial de Navegação. No final do conflito, terã perdido 18 mil t, o equivalente a 7% do total da arequeação bruta

1942

Março - Racionamento de bens essenciais, na sequência de Bloqueio económico imposto pelos Aliados. Portugal é obrigado a aceitar, no verão desse ano, um acordo comercial favorável aos interesses do seu velho aliado que lhe garante a independência da metrópole e das ilhas adjacentes bem como a soberania das colónias.

Novembro/Dezembro - A sorte das armas começa a virar-se para os Aliados.

1943

Janeiro - Capitulação dos alemães em Estalinegrado.

Maio – Queda da Tunísia a favor dos aliados. Ameaça sobre os Açores, vital para o abastecimento de aviões provenientes da América. Negociação com os ingleses e depois com os americanos.

Agosto - Cedência das bases das Lajes, nos Açores. O Governo Britânico compromete-se a dar apoio e auxílio militar a Portugal, em caso de ataque. Modernização das nossas Forças Armadas.

Junho - Portugal cancela a exportação do volfrâmio, face ao braço de ferro mantido com a Inglaterra. O principal cliente deste minério, essencial para a indústria de armamento, tinha sido a Alemanha.

1944

Maio - II Congresso da União Nacional. Delineada a estratégia de sobrevivência do regime de Salazar.

6 de Junho – O tão esperado Dia D (Desembarque nas praias da Normandia pelas forças aliadas).
Novembro - Acordo (secreto) de concessão de facilidades militares nos Açores, assinado por Portugal e os Estados Unidos.

1945

30 de Abril – Morte de Hitler em Berlim. Três dias de luto oficial decretados pelo governo português.

Maio – Capitulação das tropas alemãs.

6 e 9 de Agosto - Lançamento de bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui, que irão apressar a rendição japonesa (a 2 de Setembro)

27 de Setembro – O território de Timor volta à administração portuguesa, depois da ocupação japonesa (mas também australiana e holandesa).

3 comentários:

Anónimo disse...

Trabalha José!

Agradeço em nome do Ajudante Joaquim Fitas, que já partiu.

O velho mas longo abraço do tamanho do Cumbijã,

Mário Fitas

Luís Graça disse...

A história do teu velho, quando é que a contas ? Onde é que ele estava na II Guerra Mundial ? Com Badajoz à vista...

José Marcelino Martins disse...

Aceito o repto, caro amigo e camarada Luis.

Entre 1939 e 1945 o meu pai, na altura com perto de 40 anos, nasceu em 1903, era graduado dos Bombeiros Municipais de Leiria.

Ficou livre do serviço militar e pagou os "Selos à Liga dos Combatentes da Grande Guerra", colados anualmente na Caderneta Militar, que consta das minhas relíquias.

Na altura, recebeu e deu instrução sobre a desactivação de materiais explosivos e combate a incêndios a locais em que serviam de armazenamento aos mesmos.

Tirou, tambem, um curso da DCT - Defesa Civil do Territ´rio sobre Q&B - Quimico e bacteriológico, já que o nuclear já é do nosso tempo.

Por não ter sido militar, eis porque nunca escrevi sobre o meu pai, que combateu noutras frentes e outros combates.

José Martins