domingo, 18 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5129: Direito à indignação (6): As míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair (Jorge Picado)

1. Mensagem de Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 15 de Outubro de 2009:

Caros Editores
Como não sei quem está de serviço e vai receber este mail, não especifico.
Abraços para todos.
Aí vai mais um pastelão que brotou desta minha fase mais sombria resultante desta minha entrada no período Outono-Inverno.
Façam o que melhor entenderem, porque era demasiado longo para comentário. Jorge Picado


Direito à indignação

Sobre o tema corrente das míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair, a uns pobres diabos que teimam em não deixar este mundo, o que muito aliviaria as suas (desses comensais subentenda-se) consciências, resultantes dessa obra prima que foi a excelsa Lei n.º 9/2002, eis algumas considerações que resolvi exprimir tendo por base o meu caso.

Como sabem sou aposentado da Função Publica e, quando esta lei foi publicada, já me encontrava nessa situação.

Como Funcionário Publico, portanto um dos famigerados responsáveis pela vergonhosa situação deste País, segundo sempre foi incutido na cabeça dos Portugueses que não tinham esta profissão por todos (com a mais repugnante expressividade pelo desastroso governo que terminou uns dias atrás) os incompetentes que tiveram a desdita de governar este rectângulo à beira-mar plantado, tinha aprendido que ao Estado nem um centavo, agora cêntimo, deve ser perdoado nem muito menos devolvido.

Com esta aprendizagem, agravada com a minha péssima relação com a instituição militar (isto não é apenas fruto das minhas nulas capacidades para essa profissão… mas sim pela forma como fui tratado desde 31 de Agosto de 1959 - dia da incorporação - até 2 de Março de 1972 - passagem à disponibilidade depois de regressar da Guiné – quando finalmente nunca mais me chatearam), assim que a tal Lei foi publicada não perdi tempo a requerer aquilo a que tinha direito.

Devo dizer que de todo o meu tempo de serviço militar, os descontos para a CGA tinham sido devidamente efectuados com base nos meus vencimentos de Técnico Superior (até ao ano de 1962, quando o que me pagavam militarmente nos períodos em que efectuei serviço militar activo era muito inferior) e com base no vencimento militar de 25/8/69 até 2/3/72.

Portanto, em 2004, também recebi uma resposta dando-me conhecimento que “é com satisfação que lhe enviamos um vale postal no valor de 312,26 euros”, respeitando tão elevado montante a “145,46 euros de Complemento Especial de Pensão devido a 1 ano e 11 meses de serviço militar prestado (1 ano e 355 dias foram os dias contados como tempo na Guiné) e o primeiro Acréscimo Vitalício de Pensão no valor de 166,80 euros por ter efectuado o pagamento de quotizações”. No final também constava: - “Estes benefícios, que agora recebe pela primeira vez, serão pagos todos os anos”.

Confesso que fiquei espantado com tanta magnificência dos poderes de então, ao atribuir-me valor tão elevado, já que tivera conhecimento dos valores mais baixos atribuídos então aos meus conterrâneos com quem falava destes assuntos. Mas logo conclui que a razão estava no tal acréscimo resultante de ter pago mais para ter direito a que aquele tempo me fosse contado para a reforma se chegasse inteiro ao fim da comissão. Era apenas a devolução (com juros?) do dinheiro que então me esbulharam!

Como felizmente este montante não me fazia falta, sempre foi encaminhado para as dádivas que anualmente faço a certas Instituições e nunca mais me preocupei a saber se era diminuído ou aumentado.

Recebi agora o impresso da CGA onde nos abonos me dizem: - Acréscimo Vital. Pensão - 2009… 150,00€. Depois no texto informam-me que nos próximos dias receberei uma carta com informação detalhada sobre a prestação pecuniária… como antigo combatente…

Só posso comparar com 2008 em que na tal alínea constava 166,80€.

Ora estes 166,80 não eram mais do que o valor atribuído em 2004 ao tal acréscimo. O complemento devido ao tal 1 ano e 11 meses desapareceu?

Esbugalharam-me mais 16,80€!!!

Já nem os míseros dinheiros para compensar os sacrifícios etc e tal pagam?

Cada vez as migalhas que vão caindo da mesa dos comilões são mais escassas! O que parece significar que estes comilões são cada vez mais vorazes… e menos tementes a Deus…

Para terminar e como esta já vai muito longa, quero dizer que estou com todos os camaradas pelo DIREITO À INDIGNAÇÃO, mas não apoio as devoluções. Sou adepto da criação dum bolo com essa verba, para entrega aos mais necessitados, como tenho visto em vários escritos de camaradas que estão no terreno para auxiliar aqueles infelizes que o Estado, não confundir com Nação, tanto despreza.

Digam-me para quem e como enviar esse dinheiro.
Abraços
Jorge Picado
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Setembro de 2009Guiné 63/74 – P5000: Filatelia(s) (3): Selos emitidos pelo novo Estado da GUINÉ-BISSAU Após a Proclamação da Independência (Jorge Picado)

Vd. último poste da série de 16 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5115: Direito à indignação (5): O CEP foi transformado em SEP... e os ex-combatentes da Guiné recebem cada vez menos (Júlio Ferreira)

7 comentários:

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caro camarada

Como voluntário numa instituição que presta auxílio aos sem abrigo, digo-te que se enviares o pecúlio para qualquer entidade que preste auxilio garanto que ele será bem empregue, existem várias felizmente.

Um abraço

Mário Pinto

Juvenal Amado disse...

Camaradas
Eu ainda não sou reformado e por isso ainda não tenho experiência pessoal.
Mas estou como o Jorge Picado, devolução da miséria que estão a dar nunca.
As instituições de solidariedade, que estão a prestar ajuda aos sem abrigo serão uma boa solução.

Um abraço
Juvenal Amado

Anónimo disse...

Jorge Picado

Estas coisas tambem não são para perceber!!!!

Deixa-os andar.

"Cá se fazem...cá se pagam...",não é assim que reza a sabedoria Popular?

Pena é a memória ser ...curta(!!) e o lema Portugues " deixa andar e não me chateies muito que eu tambem não me chateio...",continua a vigorar em força.

Mau é para os que por infelicidade na vida,esses míseros euros podem,ao menos, proporcionar uma Ceia De Natal melhorada.Até a essa querem reduzir!!

Volto a dizer: temos o País que queremos.

Um abraço
Luis Faria

Anónimo disse...

Caro Jorge Picado

Permite-me que faça minhas todas as tuas palavras.
Em 2004 eu tambem já estava aposentado da Função Pública.
Não recebi nada nesse ano, porque não encontravam o meu processo, e só recebi em 2006. Deram-me 164.16€ por cada ano, de AVP (Acréscimo Vitalício de Pensão), mas o tal Complemento nunca o recebi, uma vez que a CGA apenas processa AVP.
Para o ano de 2009 deram-me igualmente 150.00, por 717 dias sobre os quais efectuei descontos em tempo.
Como adicionados esses 150.00€ me aumentaram a taxa de IRS, deram-me apenas 84.00€. Pergunto ? será que dá para ir comer uma caldeirada de enguias ao ZÉ ZÉ ? ou será melhor enviar para alguém mais necessitado.
Só mais uma questão...os aposentados da CGA receberam todos hoje...vamos manter acesa a chama ou daqui por um ano voltamos a falar do mesmo ????

Um grande abraço e muita saúde

Artur Conceição

JD disse...

Jorge,
Parabéns pelo altruísmo que revelas, e deve ser comparado à voracidade dos deputados e governantes. Neste caso nem conheço os resultados da A.R. que votaram a Lei nº.3/2009.
Esta Lei, sobretudo, provoca a alteração de crtérios, relativamente à Lei nº.9/2002, pois condiciona a indemnização dos perigos e incómodos dos que prestaram serviço militar em condições especiais de dificuldade ou perigo, para considerar, primeiramente, o tempo de serviço prestado, sem atender às especificidades da Guiné, retirando-lhe, por isso, a justiça indemnizatória a quem combateu neste TO, onde mais se acentuou a acção do IN.
Também a questão das quotas não parece ter merecido reflecção especial. De facto, eu, e outros seguramente, pedi a contagem de tempo para efeito de aposentação, no final dos idos de 80, ao abrigo de uma lei que me dispensou o pagamento correspondente, e, agora, não tenho direito à indemnização. Excluídos, também, são todos os que não beneficiam de reformas ou aposentações suportadas pelas entidades que a Lei identifica.
Destas referências resulta que os individuos que nos governam, governantes e deputados, bem como quem promulga, que gostaria de saber se é ou não beneficiário, não tiveram em conta as particularidades legais que condicionaram os abonos da expectativa, e geraram indemnizações injustas.
Em minha opinião, a verba orçamentada para estes fins, devia ter sido destinada à criação de um instituto que desse apoio e guarida aos vários combatentes, excluídos ou necessitados,de forma a dignificar-lhes a vida, proporcionando assistência médica e nedicamentosa, bem como alimentação e alojamento. E se há tantos quartéis em ruína, ou para venda, aquela verba parece-me, seria suficiente para acções de solidariedade.
E esta continua a ser a missão de um Estado responsável.
Abraços fraternos
José Dinis

José Marcelino Martins disse...

Caros Camaradas
Caro Picado
Caro José Diniz

Acertaste na "muche" ao escrever:

"Em minha opinião, a verba orçamentada para estes fins, devia ter sido destinada à criação de um instituto que desse apoio e guarida aos vários combatentes, excluídos ou necessitados,de forma a dignificar-lhes a vida, proporcionando assistência médica e medicamentosa, bem como alimentação e alojamento. E se há tantos quartéis em ruína, ou para venda, aquela verba parece-me, seria suficiente para acções de solidariedade."

É esse o problema!

Que interessa saber quanto foi orçamentado? A lei do Orçamento prevê a possibilidade de transferir verbas de rubrica para rubrica, o que na prática quer dizer que vão gastar a "massa" a seu bel prazer.

Se acaso houvesse "instituições" a quem fosse entregue as verbas, proporcionaria a reunião, num ou mais locais, de combatentes, que se viam com direito a "receber" algo ou, no mínimo, a conversar com essas instituições que deveriam/teriam que ser dirigidas por combatentes.

Que resultaria daí?

Aquilo que se passa no nosso blogue: a discussão do problema, mas apenas num circulo de pouco menos de 400 combatentes, que se encontram espalhados pelas 4 partidas do mundo e, muitos, apenas se conhecem pelos escritos e uma ou outra foto que acompanhe os textos.

Outro dia li numa notícia que, em Leiria, existem 10.000 combatentes, não referindo se cidade/concelho/distrito.

Tomando este facto, já viram o que seria uma associação local/regional que englobasse 50% destes combatentes? Já imaginaram a força que os distritos teriam com uma associação assim?

É melhor pagar a cada um uma migalha, porque assim "passam a estar entretidos a fazer contas". Queres vencê-los? DIVIDE-OS e SEPARA-OS. Ficam mas suaves...

MANUEL MAIA disse...

CARO JORGE PICADO,

ESTAMOS "FEITOS AO BIFE"COM ESTA GENTALHA.
SÃO PIORES QUE O SHERIFF DE NOTHINGHAM...

FAÇAMO-NOS ROBIN DOS BOSQUES OU ZÉ TELHADO, POIS ESTÃO A PRECISAR DE LEVAR NAS UNHAS!!!