1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda e autorizou-nos a publicar a 10ª fracção das suas memórias. A série foi iniciada nos postes P4877, P4890, P4924, P4948, P4995, P5027, P5047, P5056 e P 5095:
AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67
Como era dia de rendição era necessário ir fazer a picagem da estrada até Mansaina.
Saíram duas secções, em coluna motorizada, que, como se tornara costume, sempre se atrasava na sua formação e viajamos até Banjara.
Uma vez ali chegados, carregamos todo o equipamento programado para cima das viaturas e desejamos sorte ao outro pelotão, que era o do furriel Vaqueiro, comandado pelo Alferes Almeida.
Quando tudo foi dado como pronto, arrancamos e deixamos Banjara para trás.
Só quando houve operações para esta zona, é que o nosso destino foi Geba, sede da Companhia.
Geba permitia-nos descansar psicologicamente do isolamento que se vivia em Banjara, recuperarmos algumas forças e passarmos melhor o tempo (que em Banjara era um marasmo total), matando saudades em longos passeios pelas tabancas.
Em Bafatá, era possível matar as saudades de comermos uns pratinhos de camarões, pescados no rio Geba, frangos e ovos estrelados, devidamente acompanhados de umas boas e frescas “cervejolas”.
Ataque à tabanca do Sincho
em 10 de Janeiro de 1967
Passados alguns dias acabou-se o descanso. Por volta das onze horas da noite, estava eu no bar com os oficias e sargentos, quando chegou o 1º Cabo Cripto e chamou o meu Alferes, dizendo-lhe para se dirigir com urgência ao nosso capitão.
Ficamos a olhar uns para os outros. Que teria acontecido desta vez?
Coisa boa não era com certeza. Soubemos então, que o IN atacou a tabanca de Sincho (perto de Cantacunda).
Conseguimos que um condutor, num jipe, nos levasse ao aquartelamento, que distava uns quinhentos metros, no cimo da colina.
Cada furriel mobilizou o seu pessoal, que na maior parte já se encontrava deitado, para que se prevenissem com todo o equipamento necessário, incluindo o morteiro de 80 mm e o lança-granadas.
Informei-os de que o IN atacara uma tabanca perto de Cantacunda.
Com as viaturas já prontas, seguimos em direcção à referida tabanca, que distava de Geba cerca de trinta quilómetros. Passamos por Camamudo, por volta da meia-noite e, quando chegamos à bolanha, para nossa sorte, as viaturas atravessaram-na bem, não sendo preciso recorrer ao auxílio dos seus guinchos, pois o caudal de água era pouco naquela altura do ano.
Um quilómetro, ou dois, mais adiante, deixamos a picada que de dirigia para Cantacunda e desviamo-nos, por uma picada mais estreita que ficava à direita.
Como a noite estava clara começamos a ver algum fumo no ar, entramos numa grande clareira e vimos ao fundo a tabanca.
Como não podia deixar de ser, a nossa aproximação foi feita com muito cuidado e segurança, cercando o perímetro da tabanca.
Pouco e pouco foi aparecendo a população, notava-se que estava aterrorizada e com muito medo.
Procedemos ao reconhecimento nas cercanias, mas nem sinais do IN.
A tabanca estava toda queimada e destruída, constatamos haver dois mortos entre a população. Ao romper do dia, verificamos a existência de um terceiro morto, completamente carbonizado. De noite seria extremamente difícil localizá-lo, pois estava envolvido em cinzas de colmo e de canas, que serviram para o “assar”.
Continuamos o reconhecimento nas redondezas e procuramos “ler” nos rastos deixados, qual a direcção que o IN havia tomado na sua aproximação à tabanca antes de atacar, e encontramos inúmeros invólucros de calibre 7,62 mm.
Também detectamos deformações no capim onde estiveram deitados, esperando pela noite, para efectuar o ataque.
Como tudo se mantinha calmo, sem outras evidências do IN, regressamos a Geba.
(Continua)
Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426
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Nota de MR:
Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:
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