Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 27 de setembro de 2009
Guiné 63/74 - P5019: Meu pai, meu velho, meu camarada (13): Mindelo, ontem e hoje ( Lia Medina / Nelson Herbert / Luís Graça)
Cabo Verde >Ilha de São Vicente > 2006 > Ponta João Ribeiro > Restos do quartel das forças expedicionárias portuguesas, ali estacionadas durante a II Guerra Mundial. Estas posições de bateria de anti-costa protegiam a baía do Mindelo. A Ponta João Ribeiro fica hoje a 3 km da cidade do Mindelo. Em frente, a uns escassos 600/800 metros, situa-se o ilhéu dos Pássaros.
Fotos: © Lia Medina (2009) / Blogue Luís Graça & Caranaras da Guine. Todos os direitos reservados
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1943 > "As peças antiaéreas do Monte Sossego [monte sobranceiro a João Ribeiro, pelas indicações que o meu pai me dá; também havia artilharia contra-costa]. Fotografia oferecido pelo meu amigo Boaventura em 21/7 (?)/43 em Mindelo. S. Vicente. Luís Henriques" [1º cabo nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão do Regimento de Infantaria nº 5, expedicionário em Cabo Verde, na Ilha de São Vicente, cidade do Mindelo, de 1941 a 1943]. Portugal, receoso das intenções dos beligerantes, mobilizou alguns milhares de homens para defender as suas ilhas do Atlântico, em especial os arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde, para os quais havia planos (secretos) de ocupação por parte dos ingleses (na hipótese da invasão alemã da Península Ibérica, com a cumplicidade do Franco).
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1943 > "Posição das peças anti-áereas no Monte Sossego, São Vicente, Cabo Verde. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura [ Horta, natural da Lourinhã, já falecido, pai dos meus amigos de infância Carlos, Olga e Elisa ] em 21/3/43. Luís Henriques".
Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
1. Mensagem, com data de 8 de Junho de 2009, enviada por Lia Medina:
Assunto - Militares portugueses em São Vicente [, Cabo Verde]
Dr. Luís Graça
Chamo-me Lia Medina e sou cabo-verdiana, filha duma portuguesa com um cabo-verdiano. Sou professora em algumas instituições de ensino superior aqui na ilha de São Vicente, e a minha formação também é sociologia, pela Universidade de Coimbra.
Há uns dias atrás, a realizar pesquisas na Internet, descobri num dos seus vários blogs algumas informações e fotografias sobre a presença de militares portugueses aqui na ilha, durante a segunda guerra mundial, incluindo o seu pai (se não me engano).
Estou-lhe a escrever pelo seguinte, tenho uma turma do 1º ano de turismo cujos alunos desconhecem os dois quartéis militares de Alto de Bomba(ou Paiol de São João) e o de João Ribeiro. Então, resolvi fazer uma visita de estudo com estes alunos aos pontos de defesa da Baía do Porto Grande. Contudo, como vim a descobrir, não existem cá documentos com informações como as datas de construção e desactivação, etc.
Entrei em contacto com o comando militar aqui da ilha, onde fui informada de que os documentos, que existiam em Cabo Verde sobre a presença militar portuguesa nas ilhas, foram quase todos queimados, e os que sobreviveram às fogueiras estão desaparecidos.
Os motivos que me levam a escrever são dois. Um primeiro para lhe pedir autorização para usar fotografias e alguns dados, que consegui encontrar num dos seus blogs, na preparação da visita de estudo. E um segundo, para lhe perguntar se, por acaso não terá mais informações ou mesmo mais histórias sobre a presença dos militares portugueses aqui em Cabo Verde, que me possam ser úteis ou interessantes.
Muito obrigada pela sua atenção.
Os meus cumprimentos.
Lia Medina
2. Resposta de L.G., no mesmo dia:
Minha cara amiga:
Pode utilizar todos os materiais do nosso blogue para efeitos didácticos... A nossa missão também é essa, preservar e divulgar a memória dos portugueses e de outros povos lusófonos, com interesse historiográfico, socioantropológico, linguístico, cultural... Prendem-me, além disso, laços afectivos a Cabo Verde, onde tenho amigos e antigos alunos, e por onde passou o meu pai...
Gostaria que me autorizasse a publicação do seu mail...Em contrapartida, tenho mais fotos e histórias que irei publicar, sobre a presença de expedicionários portugueses em Cabo Verde, nomeadamente durante a II Guerra Mundial...
Essa memória corre um sério risco de se perder... O meu pai, por exemplo, tem já 89 anos. Há um amigo dele, que já morreu, e que tinha também um belo álbum fotográfico... No verão vou ver se consigo recuperar algumas e digitalizá-las... O pai do Nelson Herbert, editor sénior da Voz da América (serviço português para África) - caboverdiano que emigrou e casou na Guiné - também esteve no Mindelo, nos anos 40... Vou também publicar a sua história...
A Lia podia fazer a ponte connosco... Se assim o entender, pode juntar-se aos já 340 membros do nosso blogue, fazendo parte de uma tertúlia a que chamamos Tabanca Grande, uma metáfora, que dá uma ideia da nossa pluralidade e multiculturalidade...
Mantenhas para si. Luís Graça
(Na Tabanca Grande, tratamo-nos todos por tu...)
3. No mesmo dia, recebemos a seguinte mensagem do Nelson Herbert:
Bem hajam, os vrios tentáculos do blogue !
O meu velho está aí a chegar, aos Estados Unidos, no próximo dia 19 de Junho... Pedi aos meus irmãos em Cabo Verde, que com a ajuda dele, vasculhassem os arquivos fotográficos desse período específico da vida dele... Em todo o caso, a vinda dele é já uma boa oportunidade para o registo dos seus depoimentos e experiência durante esse período !
Haver vamos se é desta ..tal como reza o ditado português.. que os santos da casa [não] fazem milagres...
Mantenhas
NHL
4. Resposta da Lia Medina, com data de 9 de Junho:
Olá, Luís
Claro que tem a minha autorização para publicar o email.
É com muito gosto que farei parte da vossa comunidade. E sempre que necessitarem de alguma coisa, daqui das ilhas, estejam à vontade.
Muito obrigada por tudo.
Um abraço.
5. Em 9 de Junho o editor L.G. tinha pedido à Lia (e ao Nelson) para identificar alguns dos locais referidos no poste P4926 (*):
Lia e Nelson): Se puderem confirmar ou identificar os locais, óptimo... Por exemplo, chã de Alecrim (*) hoje está integrado na cidade (digo eu, que não conheço o Mindelo in loco). Abraço.
6. Resposta do Nelson:
Chã de Alecrim ou Lecrim (em crioulo) foi e é de facto um bairro, a norte da cidade do Mindelo..sempre fez parte da cidade e onde esteve instalado o comando militar, isto desde a época colonial...
Com a independência do país, o quartel foi ainda herdado e com mesma finalidade pelas Forçaas Armadas caboverdianas...
Uma outra metade, já nos anos 90 e durante a minha gestão (director geral da Televiso de Cabo Verde), foi recuperada para a instalação do centro de produção da televisão nacional caboverdiana, para as ilhas do Barlavento ...Ainda hoje lá funciona !
Nas instalações dos oficiais daquele quartel, funcionou ou funciona ainda hoje o Hotel 5 de Julho que chegou a pertencer ao BANA... a voz cabovediana.
Chã de Alecrim é hoje um dos modernos bairros de Mindelo...
Quanto ao quartel, acredito que deixou de existir como tal !
7. Resposta da Lia Medina:
Olá, Luís
Gostei muito das fotografias (*). Acho que nunca tinha visto nenhuma delas.
Hoje Chã de Alecrim faz parte da cidade, sim, mas penso que o quartel já não deve existir pois nunca vi lá nenhuma construção do género das fotografias.
Vou ver se consigo saber junto das pessoas mais idosas se consigo identificar pelo menos o local exacto do quartel.
Um abraço.
Ps- mando umas fotografias actuais do quartéis de Ponta de João Ribeiro.
8. Novo mail da Lia Medina, de 10/9/2009:
Aqui vão mais fotografias. A número 50 ainda é do quartel de João Ribeiro. São de 2006, as de João Ribeiro continuam na mesma, já o quartel de Monte Sossego está muito mal.
Como os acessos a este quartel são melhores a população já desmontou quase todos os canhões (só ficou um) e a câmara destruiu muitas das construções para evitar que pessoas fossem lá morar.
As fotografias são todas de Pedro Marcelino, um amigo meu.
Um abraço.
Lia
9. A Lia Medina passa a integrar a nossa Tabanca Grande, tendo respondido amavelmente ao nosso convite, em 9 de Junho último:
Olá Luís
Claro que tem a minha autorização para publicar o email [, de 8 de Junho].
É com muito gosto que farei parte da vossa comunidade. E sempre que necessitarem de alguma coisa daqui das ilhas estejam à vontade.
Muito obrigada por tudo.
Um abraço.
Lia
10. Comentário, posterior, ao Poste 5022, de Carlos Cordeiro, professor de História Contemporânea em Ponta Delgada, irmão do malogrado Cap Pára-quedista João Manuel da Costa Cordeiro da CCP 123. É um leitor atento do nosso Blogue. Ele próprio foi, salvo erro, combatente em Angola, durante a guerra colonial:
Um espólio formidável que o blogue tem aqui arquivado. É de destacar este trabalho exigente de pesquisa e divulgação. Veja-se que, no caso concreto, Luís Graça procurou responder a uma solicitação de uma professora caboverdiana para apoiar uma acção pedagógica. É de louvar vivamente.
Quanto à participação de Portugal na Guerra, os historiadores falam em "neutralidade colaborante". E sobre o caso específico de Cabo Verde, António José Telo ("Os Açores e o Controlo do Atlântico", p. 280) diz o seguinte: "Ao longo de 1941, foram enviados cerca de 5000 soldados para o arquipélago [de Cabo Verde], mas que só têm praticamente armamento ligeiro. A defesa do vital porto de S. Vicente continua a basear-se quase só em três peças de 150 mm, reforçadas em 1941 com quatro peças antiaéreas, 12 metralhadoras e uma secção de morteiros de 81 mm. O cônsul americano em Cabo Verde garante que, caso se dê um desembarque no arquipélago, a resistência será meramente simbólica".
Saudações, Carlos Cordeiro
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste da série:
9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4926: Meu pai, meu velho, meu camarada (12): 1º cabo Ângelo Ferreira de Sousa, S. Vicente, 1943/44 (Hélder Sousa)
Vd. postes anteriores desta série:
20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)
21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4060: Meu pai, meu velho, meu camarada (2): Militar de carreira, herói da 1ª Grande Guerra, saiu do RAP 2 como eu (David Guimarães)
21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4062: Meu pai, meu velho, meu camarada (3): No Dia Mundial da Poesia (António Graça de Abreu)
24 de Maio de 2009> Guiné 63/74 - P4407: Meu pai, meu velho, meu camarada (4): Não é um elogio fúnebre que te quero dedicar... (António G. Matos)
26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4420: Meu pai, meu velho, meu camarada (5): A minha família e o RAP2 (Vila Nova de Gaia) (David Guimarães)
16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)
17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4700: Meu pai, meu velho, meu camarada (7): Cap Pára João Costa Cordeiro: Um homem de carácter (António Santos / Carlos Matos Gomes)
17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4703: Meu pai, meu velho, meu camarada (8): Sobre o Capitão-Pára João Costa Cordeiro (Manuel Peredo)
18 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4705: Meu pai, meu velho, meu camarada (9): Testemunho do Coronel Pára Sílvio Araújo sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (João Seabra)
18 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4706: Meu pai, meu velho, meu camarada (10): Depoimento e fotos sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (Miguel Pessoa)
24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4731: Meu pai, meu velho, meu camarada (11): Mensagem do filho do Cap-Pára João Costa Cordeiro (Pedro Miguel Pereira Cordeiro)
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4 comentários:
Camaradas e Amigos ao ver as fotos lembrei.me logo de Monte Brasil,sobrançeiro á cidade de Angra do Heroísmo,estão mais ou menos preservadas as peças anti-aéreas de protecção á cidade,durante a 2ªGuerra Mundial,assim estas tivessem sido conservadas e seriam uma bela atracção da cidade do Mindelo a vista é fantástica,assim são restos de história a caminho da sucata,gostei das fotos,e Saudar a nova Tertuliana,traganas novas detas ilhas tão lindas com Gente e música que tanto gosto.
Matenhas pra toda a Tabanca
José Nunes
Beng.447
Cabo Verde, e em especial Mindelo, na ilha de São Vicente, teve um papel geoestratégico na II Guerra Mundial...
Os poucos vestígios desse tempo (doloroso para os caboverdianos, também por outras razões: isolamento, seca, fome, morte, êxodo, ...) poderiam e deveriam ser preservados, como "património" de todos nós... A História também passou por ali... Além disso, Cabo Verde está também muito ligado á história tanto de Portugal como da Guiné-Bissau...
O Mindelo não tem hoje a importância (política, militar, estratégica...) que teve no passado, continua a ser, em todo o caso, a capital cultural de Cabo Verde...
Cabe-nos, também a nós, portugueses ajudar a preservar "esta sucata da história"... LG
Mensagem da Lia Medina (Mindelo):
Olá Luís
Já vi sim. Como sempre os blog continua a fornecer informações importantes e dados que de outra forma estariam perdidos.
Continua sempre e prometo continuar a contribuir.
Um abraço.
Lia
liacordeiromedina@yahoo.com
As diversas fotos, dizem respeito a dois tipos de artilharia que estiveram na ilha S. Vidente (cidade de Mindelo) durante a 2ª Guerra Mundial:
Temos fotos das peças de defesa costeira 150mm na Ponta Joáo Ribeiro e fotos da peça de Artilharia Antiaérea (Contra Aeronaves) 9,4 cm com as respetiva as plataformas no Monte Sossego.
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