quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P5036: Historiografia da presença portuguesa em África (20): Monografia da Agência Geral do Ultramar, 1961 (Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Beja Santos:

Caríssimo Carlos,

Por causa da minha 'Mulher Grande', voltei à Sociedade de Geografia de Lisboa à procura de referências da 'Royal Society of London', onde o marido da minha heroína [Comandante Teixeira da Mota] iria fazer uma conferência. Não é que no meio da molhada de papéis não me aparece esta pequena monografia da Guiné? Não resisti a lê-la de fio a pavio e dar conta de um mundo que praticamente conhecemos em vias de extinção ou em profunda transformação.

Um abraço do Mário



2.Histpriografiada presença portuguesa (*) > Pequena monografia da Guiné, Agência Geral do Ultramar, 1961por Beja Santos

A Agência Geral do Ultramar publicava com regularidade pequenas monografias dos territórios ultramarinos, chegando mesmo a actualizá-las periodicamente. Só encontrei a monografia da Guiné com data de 1961. A estrutura era muito simples: situação geográfica, clima, flora, população, governo e administração, bosquejo histórico, comunicações, transportes, economia, ensino, espectáculos, turismo, etc.

À data, a Guiné tinha, segundo o recenseamento, mais de 510 mil habitantes, dos quais 2200 eram brancos. Bissau [foto à esquerda, postal ilustrado, edição Foto Serra, s/d] contava com mais de 18 mil habitantes, dos quais 4 mil eram europeus.

Havia 21 escolas do ensino primário oficial, e os estabelecimentos a cargo do Estado tinham ao seu serviço 45 professores; as escolas missionárias dispunham de 185 professores, além do pessoal eclesiástico.

O Liceu Honório Barreto teve no ano lectivo 1960 – 1961 uma população escolar de cerca de 300 alunos e a Escola Industrial e Comercial de Bissau tinham uma população de 200 alunos.

As estradas pavimentadas não excediam os 60 quilómetros. No tocante à aviação, a TAP [Transportes Aéreos Portugueses] viera substituir os TAGP. (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa). Os TAGP ligavam Bissau a Dakar duas vezes por semana, utilizando um quadrimotor Heron e Bissau à Ilha do Sal, uma vez por semana. Via Dakar e Sal era possível ter ligações com Lisboa. Com a TAP, as coisas mudaram, devido à linha Lisboa – Bissau – S. Tomé – Luanda. De acordo com uma errata publicada nesta monografia, foram realizadas viagens experimentais de uma ligação aérea Bissau – Lisboa via Tenerife ou Sevilha.

Bissau tinha um jornal diário, o Arauto, com uma tiragem de 1500 exemplares e o mensário Bolamense também com uma tiragem de 1500 exemplares. A grande atracção turística era a caça, não esquecendo belezas naturais como a mata do Cantanhez e a Lagoa de Cufada. Referia-se igualmente a praia de banhos de Varela e casas de espectáculos como o Cine Udibe e o Cine Bafatá.

Não há referência aos hotéis, o que é de estranhar, isto quando o Anuário da Guiné Portuguesa, de 1946, menciona o Grande Hotel, o Hotel Miramar e o Hotel Avenida-Bar, com gerência de Maria Queiroz (desconfio que era a pensão da D. Berta).

1961 é o ano de viragem: em meados do ano, S. Domingos, Varela e Suzana serão atacadas e vandalizadas por forças do Movimento de Libertação da Guiné. A militarização será um facto em 1963, com a entrada em cena do PAIGC.

O mundo desta pequena monografia extinguiu-se, tudo quanto aqui se lê passou ao domínio das curiosidades históricas.
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 29 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4756: Historiografia da presença portuguesa (20): 1º Cruzeiro de férias às colónias de C. Verde, Guiné, S. Tomé... (Beja Santos)

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