1. Do nosso Camarada Mário Beja Santos, ex-alferes miliciano que comandou o Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca - 1968/70, recebemos a seguinte mensagem. Em 29 de Julho de 2009:
1º Cruzeiro de férias às colónias de Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola
Recordo-me perfeitamente como se fosse hoje: em meados de Maio de 1968, logo que fui informado que estava mobilizado para a Guiné, procurei o meu querido amigo Ruy Cinatti, aprazamos um fim de tarde, vim directamente do Regimento de Infantaria nº 1, na Amadora, quando estava incorporado no BCAÇ 2851, apresentei-me na sua casa na Travessa da Palmeira nº 12, 3º direito, perto do Largo do Príncipe Real.
Logo que lhe falei da Guiné, para minha surpresa, o Cinatti falou-me saudoso de Bissau e de Bolama, e o tema do nosso jantar foi essa viagem ao longo de Agosto e Setembro de 1935 a bordo do navio Moçambique, veio à baila a presença de Marcelo Caetano e o apoio da revista O Mundo Português, então a mais influente publicação da Agência Geral das Colónias e do Secretariado da Propaganda Nacional.
Mas, no fundo, o que mais impressionara Cinatti fora Cabo Verde e sobretudo S. Tomé.
Em dada altura, na sua exposição acalorada, os seus olhos brilhantes ainda mais intensos pela pinga, observou-me: “Com as belezas de Cabo Verde e com as gentes que encontrei nas ruas, sabia que precisava de viver numa ilha. Foi Timor o meu feitiço.
Mas o paraíso encontrei-o em S. Tomé, foi lá que escrevi alguns dos poemas que não reneguei, ali me inspirei para o meu conto Ossobó, que hoje lhe entrego.
Estivemos pouco tempo na Guiné, guardo no corpo aquela humidade quando o navio passou a ponte de Caió. V. vai dar-se muito bem com aquelas gentes”.
E assim morreu a minha informação sobre aquela mocidade académica que percorrera durante cerca de dois meses uma parte do Império Colonial.
Encontrei agora O Mundo Português que anuncia o evento, o número de Setembro – Outubro de 1935.
Alguém descreve a entrada em Bissau, os batuques a receberem os jovens no cais do Pidjiquiti, as aves de cores variadas, os jagudis alimentando-se de dejectos (havia então uma multa de 500 escudos para quem matasse estas aves) referindo-se que a vegetação era de um verde quase escuro, os mamífero de pequeno porte, e que alguns dos autóctones ainda se aproximavam a medo dos brancos.
O relato refere o baile oferecido pelo governador, um espectáculo com lutas e o autor escreve: “em que apreciei a agilidade, resistência e lealdade, qualidades que poucas vezes se vêem nos brancos. Os pretos são extraordinariamente bem constituídos”.
O governador da Guiné era o major Luiz António de Carvalho Viegas, que discursa assim na recepção aos jovens a quem se pretende dar uma lição de nacionalismo colonial, e deplorando a rapidez da visita que não permite mostrar pormenorizadamente aos jovens aspectos como: “A ordem, o sossego e a tranquilidade que há entre as 17 raças e sub-raças, de civilizações, hábitos e costumes completamente diferentes; como a colónia é cortada em todos os sentidos por estradas sobre algumas das quais os vossos automóveis podiam rolar a uma velocidade média de 90 km/hora; veriam as suas matas onde se encontra a onça, a pantera, a hiena, o leão e o elefante, as suas lagoas povoados de cavalos-marinhos e crocodilos, as suas opulentas palmeiras cujos frutos nos oferecem o coconote e o óleo de palma...”.
Importa esclarecer que não houve segundo cruzeiro às colónias, vá lá saber-se porquê...
Extraí algumas imagens que me pareceram bastante impressivas: junto ao túmulo de Honório Pereira Barreto em Bissau e duas imagens de Bolama, então capital da colónia.
Esta revista ficará a pertencer ao espólio do nosso blogue.
Uma guineense “modernista”
Beja Santos
Alf Mil do Pel Caç Nat 52
Imagens: Mário Beja Santos (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
Sem comentários:
Enviar um comentário