1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira, foi Fur Mil Enf da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), é jornalista
profissional conhecido no seu meio por “JERO” e enviou-
nos uma mensagem , com data de 24JUL2009, e o título: Tempo Africano:
Boa noite Luís,
Porque hoje é sábado... lembrei-me de fazer serão e de te mandar mais um "escrito".
João Turé é um "retrato" do meu livro Golpes de Mão's - págs. 341 a 346.
O João Turé fez um discurso no lançamento do meu livro no antigo R.I. 16, em Évora, em 10 de Maio último.
No final pedi-lhe o "papel" e fiz um tratamento jornalístico do seu "testemunho"que publiquei em diversos capítulos, no meu jornal.
Se vires que tem algum interesse para o nosso blogue aqui vai ele.
Se achares que está extenso estás à vontade para cortar os meus comentários.
A partir de agora está nas tuas mãos. Bem entregue portanto.
Um abraço.
JERO
NOTA: Dada a extensão do documento, a publicação será efectuada em 2 partes (2 postes):
I PARTE: O discurso que o João Turé fez no lançamento do livro.
II PARTE: Os comentários do Jero.
I PARTE
Introdução
Diversos órgãos de comunicação local referiram-se ao lançamento do “GOLPES DE MÃO’s”, de José Eduardo Reis de Oliveira, como «…um belo livro sobre as suas vivências na guerra colonial, na Guiné (no humanismo nas cenas de guerra, nas sementes da paz junto das populações e no convívio com as crianças da “Tabanca Nova”) (1).
Uma delas o João Turé, de 8 anos, veio homem ao lançamento do livro em 2 de Maio de 2009.
Porque passaram 40 e alguns anos o João, que se define como “o preto mais branco da Companhia”, tem hoje 53 anos.
Tivemos acesso a um dos seus escritos que leu – emotivamente – numa cerimónia evocativa do regresso da C.Caç. 675 a Évora, no antigo Regimento de Infantaria nº. 16, que teve lugar em 10 Maio último.
Vamos ilustrar este “TEMPO AFRICANO” repartindo em “retalhos” o seu testemunho.
JERO
Foto do João Turé na Actualidade
1 - TEMPO AFRICANO
A chegada da Companhia de Caçadores 675 a Binta, já lá vão 45 anos, foi uma aragem nova, saudável, que trouxe para aquela zona, o ensino, a saúde, o desenvolvimento, a camaradagem e a brincadeira, que todos nós meninos de 6,7 e 8 anos desconhecíamos existir no mundo.
E quando falo de meninos estou-me a rever nos meus 8 anos, junto com muitos mais, traquinas, irreverentes, mas de olhos e ouvidos bem abertos, aprendendo aquilo que ninguém nos tinha ensinado até então.
Porque nem todas as minhas recordações de infância são boas.
Pois, nunca poderei esquecer o que se passou com o meu tio Malan Sissé, mais conhecido por Malan Grifon Sissé, anos mais tarde guia da Companhia, porque foi a primeira pessoa a ter uma bicicleta, das afamada marca “Griffon”, que era uma “ronco” (2) em todo o concelho de Farim.
Era uma personalidade conhecida e respeitada pelas suas qualidades humanas, homem sério e sensato, que defendia a nossa bandeira, não concordando com a ideologia política do PAIGC e por isso, recusando sempre a adesão ao partido, nas muitas vezes em que foi sondado e influenciando muitos a seguirem as suas pisadas.
Quando em 1964 apareceu a guerrilha no Norte da Guiné, mais concretamente no concelho de Farim, foi de imediato procurado para ser aniquilado, tendo sido destruída a sua aldeia “Genicon Mandinga”, os seus haveres e morta a sua querida mãe.
Era este o nacionalismo e a ideologia do PAIGC.
2 - TEMPO AFRICANO
Continuamos com as estórias de um guineense de nome João Turé, que nos seus primeiros tempos de vida cruzou com militares de uma Companhia de Caçadores que estiveram na região onde nasceu no norte da Guiné - mais propriamente em Binta, a 20 kms. da fronteira com o Senegal - no período compreendido entre Junho de 1964 e Abril de 1966.
No número anterior João Turé recordou que a chegada da C.Caç.675 a Binta, já lá vão 45 anos, foi uma aragem nova, saudável que, em tempo de guerra, trouxe para aquela zona o ensino, a saúde, o desenvolvimento, a camaradagem e a brincadeira, que os meninos de 6,7 e 8 anos desconheciam existir no mundo.
Com olhos e ouvidos bem abertos, aprenderam aquilo que ninguém os tinha ensinado até então.
Escreve, em jeito de “memórias”, quando já dobrou o meio século de existência, que guarda da infância boas e más recordações.
A que publicámos anteriormente, respeitante ao seu tio Malan Sissé, mais conhecido por Malan Griffon Sissé, por ter sido a primeira pessoa a ter uma bicicleta “Griffon”muitos quilómetros em redor da sua aldeia, foi o exemplo de uma má recordação, que terminou em tragédia na aldeia de “Genicon Mandinga”.
A estória nº. 2 deste “TEMPO AFRICANO” é diferente pois foca recordações de militares que nessa altura mais impressionaram os meninos da aldeia de Binta.
JERO
Fur Mil Enf
Legenda:
(1)- Pequena povoação ,aldeia .
(2) - Sucesso, motivo de festa, de espanto.
Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:
Este é o primeiro poste desta série.
Sem comentários:
Enviar um comentário