terça-feira, 28 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4752: Estórias do Mário Pinto (3): A “Feira Popular” em Mampatá


1. Mais uma divertida estória, enviada pelo nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71:

Camaradas,

Cá vai mais uma história pitoresca da CART 2519, passada na Tabanca de Mampatá:



A Feira Popular em Mampatá

O nosso aquartelamento de Mampatá não tinha refeitório para praças, nem messe para oficiais e sargentos. Tinha somente uma cozinha de campanha, com um Vaguemestre e um 1º Cabo Cozinheiro, que faziam milagrosas refeições apesar de bastante contestados por todo, mas com os géneros que tinham à sua disposição, garanto-vos que era impossível fazer melhor. Assim, como é óbvio, o rancho era igual para todos sem distinção.

Claro que, com este panorama alimentar, cada um desenrascava-se como podia.

Sempre que íamos para o mato, era-nos distribuída a famosa ração de combate que, para aqueles que tiveram a felicidade de nunca ter tido uma à sua frente digo: era imprópria para ser consumida a frio, nos habituais “piqueniques” em missões longe do quartel. A sua composição era à base de alimentos cozinhados e conservados, em produtos gelatinosos gordos, devidamente enlatados e salgados, complementada por um ou outro doce.

Ora como não podíamos andar pelo meio do mato fazer fogueiras (que pelos fumos debitados era um grande sinalizador à distância da presença humana) para aquecermos as latitas, na generalidade, cada um de nós retia-as no seu “armazém” pessoal, à espera de uma melhor ocasião para as consumirmos, ou lhe darmos qualquer outro destino.

Certo dia um grupo de furriéis resolveu, junto ao Posto de Comando que também servia de "messe" de Oficiais e Sargentos, abrir um conjunto dessas latas que continham sardinhas em banho de óleo, enxugá-las da gordura e pô-las à assar sobre uma chapa.

Logo que o aroma típico que emanava de tal “pitéu” se espalhou por toda a Tabanca, o pessoal desatou a acorrer ao local, com cara de poucos amigos, julgando que já estava a ser descriminado, secreta e degustativamente, em relação aos seus superiores.

Quando se aperceberam da que na realidade se passava, a Tabanca passou imediatamente a ganhar outra alegria e disposição, tomando o aspecto de “Feira Popular”, só faltando os carrosséis e os carrinhos de choque.

Creio bem que nesse dia, até o IN que nos detectava a quilómetros apenas pelo nosso odor do suor, com aquele cheirinho da sardinhada esteve para vir petiscar connosco.

Um abraço,
Mário Pinto
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

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