terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21703: Álbum fotográfico de José Carvalho (2): A CCAÇ 2753, ”Os Barões”, e o K3 (Parte I)



Foto nº 7 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Em finais de Abril de 1971, estava concluída a ligação, por estrada alcatroada, Farim-Mansabá... Finalmente, a população podia   deslocar-se de Farim (ao fundo), para vários destinos,  até Bissau, com maior segurança


Foto nº 6 >  Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Asfaltagem  da estrada Farim-Mansabá, à entrada do K3. Heliporto, edifício do comando, zona dos chuveiros, enfermaria


Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 >   Construção da estrada Farim - Mansabá > Centenas de trabalhadores no final do dia de trabalho, recebendo géneros alimentícios (sal e arroz) antes de serem transportados para Mansabá.


Foto nº 1 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K> Auto tanque do BENG 447 que accionou mina anti-carro, colocada na facha lateral da nova estrada, utilizada para a circulação de viaturas, envolvidas nos trabalhos do novo troço.



Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Edifiício do Comando


Fotos (e legendas): © José Carvalho (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem, com data de 28 do corrente,  do camarada José Carvalho [, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72); médico veterináruio, a residir no Bombarral]:
 
Caros Amigos Luís e Carlos,

Os meus votos de Boas-Festas e um Ano Novo, que nos devolva a normal vivência, com Paz e Saúde, para vós e Família. São igualmente os meus votos, para todos membros da Tabanca Grande.

Envio-vos em anexo um texto, complementado com fotos do tempo em que os “Barões” passaram por Saliquinhedim / K3 e que poderá ter algum interesse para os que antes, durante e depois, por lá passaram.

Deixo ao vosso inteiro critério a sua publicação.

Com amizade, abraço do
José Carvalho


2. Álbum fotográfico do José Carvalho  > CCAÇ 2753 - ”Os Barões” e o K3  (Parte I )


No 3º dia de Março de 1971, a CCAÇ 2753 deixa o destacamento provisório de Madina Fula (*) e ocupa as instalações militares de Saliquinhedim, mais conhecidas por K3, por se situarem ao Km 3 da margem sul do Rio Farim, afluente do Rio Cacheu, ficando Farim na margem oposta.[Há 100 referências ao K3 no nosso blogue,]

Nessa mesma data, uma mina A/C, destrui um autotanque do BENG 447, causando quatro feridos, sendo dois graves.[Foto nº 1, acima].

As novas instalações onde permanecemos cerca de um ano, eram de “muitas estrelas”, face às que a companhia desfrutou, nos anteriores três meses.

Contudo as construções eram bastante precárias, com telhados de zinco, muito ondulados e esburacados, que se repartiam por vários locais em redor de uma edificação dita do Comando (secretaria, quartos dos oficiais e posto de transmissões). [Foto nº 2, acima]



Foto nº 3 >   Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Memorial ao Cap Mil Inf Corte - Real, cmdt da CCAÇ 1422, 
morto em combate, em 12/6/1966


Em frente da referida construção, a parada, com um memorial ao Capitão  [Mil Inf Dinis] Corte-Real, Comandante da CCaç 1422, que terá sido o primeiro  Capitão,  vítima da guerra na Guiné, a poucas centenas de metros do quartel. [Foto nº 3].



Foto nº 4 >   Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 >   Telheiro/cozinha, com o forno ao lado esquerdo


A estrada Mansabá - Farim dividia o quartel, ficando o edifício do comando, o heliporto, as casernas, a enfermaria, a cantina e a messe de oficiais e sargentos de um lado e um telheiro com um forno de lenha
apelidado de cozinha, a escola, a zona de oficinas auto, e um terreiro com balizas de futebol, do outro lado.

A primeira noite no K3, jamais saiu da minha memória, pois foi com grande satisfação que voltei a dormir numa cama, com a sensação de alguma protecção, que nos era dada pelas frágeis paredes e cobertura com troncos de palmeiras, encimada por folhas de zinco.

O telheiro que cobria o forno, na realidade o local onde se preparava a alimentação para quase duas centenas de seres humanos, era aterrador. Quem nos sucedeu encontrou condições muito mais aceitáveis. [Foto nº 4]

A CCAÇ 2753, integrada no COP 6, toma a responsabilidade do Sub - Agrupamento B, que englobava outros efectivos;

1 Pelotão da CCAÇ 2549
1 Sec AML/ERec 2641
1 Pelotão Milicias  (nº 282)
1 Sec Mort./ Pel Mort 2116
1 Sec Sap./ Pel. Sap/BCaç 3832

A missão da CCaç 2753 mantinha-se com a segurança próxima e imediata dos trabalhadores e máquinas, envolvidas nos trabalhos de reabertura da estrada, até à margem do rio Cacheu e a protecção da população de Saliquinhédim, na maioria Fula, que rondava as 200 pessoas.


Foto nº 5 >  Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Centenas de trabalhadores no final do dia de trabalho, recebendo géneros alimentícios, (sal e arroz) antes de serem transportados para Mansabá

Missão da CCÇ 2753:

(i) Ocupa, organiza e defende a povoação e quartel de Saliquinhedim:

(ii) Executa e apoia a Autoridade Administrativa de Farim, no sub-sector atribuído;

(iii) Intersecta com carácter de continuidade, por acção combinada de patrulhamentos ofensivos e emboscadas, os movimentos do IN do Biribão para o Morés, entre o Bironque e Colimansacunda;

(iv) Executa à ordem do comando do COP  6, em coordenação com outras forças, acções ofensivas em áreas fulcrais de intervenção (Biribão - Ionfarim - Irabato - Colimansacunda - Madina Fula – Madina Madinga - Tiligi, etc.) e também segurança a frequentes colunas auto, dada a grande
movimentação das populações no itinerário Farim - Mansába, depois de cinco anos inactivado;

(v) Garante o funcionamento do Posto Escolar Militar de Saliquinhedim.

Em finais de Abril de 1971, a estrada chegou à margem sul do rio Farim / Cacheu,  ficando restabelecida a ligação Mansabá - Farim. [Foto nº 7, acima]

A partir da conclusão dos trabalhos de construção da estrada, a CCAÇ 2753, passou a ser a única força militar no K3.

 (Continua)



Guiné > Região do Oio > Carta de Farim (1954)  > Escala 1/50 mil) >  Pormenor: localização de Saliquinhedim / K3, entre o Olossato e Farim. (Não confundir com o verdadeiro Olossato, que fica a sudoeste de Farim, e que está localizado na carta de Binta.)

Infografia; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011)

___________

13 comentários:

Anónimo disse...

Já nada resta do quartel, para se tirar uma foto, já tentei.

A estrada de Mansoa até Farim, depois de estar muitos anos quase intransitável.
Foi reparada há poucos anos, agora é a melhor de toda a Guiné, ainda não tem um buraco...Há quem vá para lá ensaiar os carros, como se fosse uma pista de corridas.

Abraço

ildeberto medeiros disse...

Muito bem tambem andei por ai manssaba e K3 construcao da estrada Manssaba Farim era o cabo condutor da 2753 Os Baroes acoreanos um abracos atodos Os EX da 2753


Tabanca Grande Luís Graça disse...

eduardo francisco
29 dez 2020 19:42


Caro amigo Luís Graça!

Estive a ler o post do José Carvalho relativamente ao K 3 e tenho acompanhado sempre tudo o que se refere á odisseia da construção da estrada Mansabá/Farim, pois a minha Ccaç 14 esteve em 1970, para ir fazer proteção aos trabalhos, tendo á última hora sido substituída por outra unidade militar. Continuámos por Cuntima, mas em Dez. de 1970 o meu grupo de combate desceu até Farim para reforçar a 2549 e alinhar nas interdições do corredor de Lamel de má memória, já que esse foi um período bem negro do sector, atendendo á grande actividade que o PAIGC desenvolveu á época. Do início de Dez 1970 a meados de Jan. 1971, o Batalhão de Farim teve em Lamel, entre mortos em combate e acidente com granadas de dilagrama, 16 mortos e vários feridos. Só numa emboscada a uma coluna de regresso a Cuntima, escoltada pelo grupo do António Bartolomeu ( 4. grupo de combate da 14 ) tivemos 7 mortos.

Durante Dez. 1970 e aproveitando um dia de folga e consequente fuga a Lamel, atravessei o Cacheu e fui ao K 3 dar um abraço ao meu conterrâneo Fur. Mil. Com. António Rosa que estava integrado na 27a Comp. Coms.

Vou ficar expectante quanto á segunda parte que o José Carvalho vai enviar para o blog.

Um abraço fraterno para todos com desejos de boa saúde, que o resto vem a reboque.

Eduardo Estrela

P.S. a 27ª CCmds era comandada pelo Cap. Com. Barbosa Henriques, com quem o António Rosa teve um desaguisado que lhe valeu mais uns meses de comissão.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrihgado, Eduardo Estrela.

A II parte do texto já cá está, há mais meia dúzia de fotos... Vai sair amanhã. O texto foi dividido em duas partes por causa da dimensão.

Os postes, a publicar no blogue, não se querem muitos extensos, se não, ninguém lê... A nossa malta anda preguiçosa... para ler e comentar. Boas entradas em 2021. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Ildeberto, não sabia que também eras um "barão" do K3!...

Já te tenho visto por aqui a comentar os nossos postes... Porque é que não te juntas à malta ?!... Este blogue é teu, é nosso, não precisas de pedir licença para entrar... Há já cá mais "barões". o José Carvalho, o Vitor Junqueira... O blogue não é só de alferes e furriéis!...

Manda 2 fotos tuas: uma antiga e outra mais recente... Podes usar o meu mail:

luis.graca.prof@gmail.com

Ou podes mandar para o Carlos Vinhal, que é do teu tempo de Mansabá:

carlos.vinhal@gmail.com

Um bom ano de 2021, melhor que o de 2020, que foi um "annus horribilis".

Luís Graça

PS - Onde vives ? Nos Açores ? Mais uam razão para te sentares aqui connosco, debaixo do nosso poilão. E divulga o nosso blogue. Tu podes ser o nº 825 da Tabanca Grande.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Camaradas de Farim e do K3: há aqui uma dúvida... O rio que passa em Farim é o Farim, afluente do Cacheu... Certo ?

É pelo menos o que se lê na carta de Farim. O José Carvalho diz no texto original que nos mandou que o K3 se situava na margem sul do Rio Cacheu. Emenendámos: "... por se situarem ao Km 3 da margem sul do Rio Farim, afluente do Rio Cacheu".

Nunca fui para esses lados, posso estar a ver mal... LG

João Candeias da Silva disse...

Não sei se estou a pôr a pata na poça, mas em 73 um alfares, que não recordo o nome, foi colocado numa companhia que estava a fazer a protecção aos trabalhos nessa estrada.

Estivemos juntos em Cabuca na 3404 em finais de 1972. Em 73 Janeiro fui para a 12 e ele para a companhia que estava a fazer a segurança à estrada de Farim.
Passados meses, talvez uns seis encontramo-nos em Bissau, placa giratória, para ir, para vir de férias ou ir para o mato ou consulta externa, etc. E qual não é o meu espanto, em vez de ter o galão de alferes era 2°sargento. Tinha levado uma porrada. Da conversa que tivemos o assunto tinha chegado ao Spinola. Ele, um ótimo rapaz, precisava de desabafar e ficávamos muito tempo à conversa. O assunto tinha-o abalado muito. Não era caso para menos.
Não sei como terminou.
Julgo ter sido um caso inédito.
Sobre este assunto tem de haver registo no arquivo do exército e sobre a nega da 12 em ir para o Xime também é pouco plausível que não haja.

João Candeias

Anónimo disse...

Camaradas
Estas fotos também me deixam lembranças desses tempos e lugares.
Quer antes de contemplar o célebre K3 ou a "passagem para a outra margem...", onde também visitei "sem nada ver", Farim, por 2 vezes, até antes de conhecer "o repouso" em Mansabá, que conhecia apenas de chegar e partir quase de imediato, ao largar e pegar numerosas colunas.
Tudo isso no período temporal entre 27NOV1970 e 29ABR1971.
Esta Quadra Natalícia que agora vivemos, reportada àquele período, não me deixa boas recordações, só de pensar no que me podia ter acontecido...mas...não era esse o meu destino e por isso ainda cá ando e nem a "Urtiga Negra, não sei quantos" me pegou.

Um Feliz 2021 para todos, com abraços virtuais do

JPicado

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, há muitas histórias da nosssa guerra que nunca chegarão à luz do dia... Algumas já chegaram ao nosso conhecimento através do blogue...

Isto é como a história dos impedimentos do casamento em que o oficiante, antes de se dar o nó, pergunta, na presença dos noivos, dos pasdrinhos, dos pais, da família e dos demais convidados, se alguém tem alguma objeção, en tão que "fale ou cale-se para sempre"...

Alguns de nós perdemos a oportunidade de falar na altura devida, e agora resta-nos calarmo.-nos para sempre... Sempre assim foi em todas as guerras...

Mesmo assim, entre dois uísques, num alamoçarada, num convívio, às vezes lá sai um "segredo de confessionário"...

Quando fui a Angola (e fui lá meia dúzia s vezes a partir de 2003), houve antigos miliatres das FAPLA, do topo da hierarquia (, oficiais generais), que me contaram "segredos de Estado", *a mesa... Coisaa "sinistras" que só agora há coragem para se falar em público...

Mas voltando à Guiné, soube há uns anps de uma história dessas que não podem aqui ser contadas, com datss, locais, topónimos, nomes de camaradas, etc.

Num destacamento, a nível de um grupo de combate, e na ausência do comandante (alferes miliciano), dois militares desatam à porrada, por razões de lana caprina... Muitas veses os conflitos enter dois camaradas e amigos eram provocados pelo stress, a tensão, o isolamento, a exaustão, o cansaço, a promiscuidade, a subnutrição, mas tabém o álcool, etc.

Soco atrás de soco, um deles cai de costas, bate com a cabeça no chão e morre, de traumatismo craniano (presume-se)... E agora ? Como justificar um "acidente" destes, na ausência de uma ataque ou flagelação do destacamento ?...

Fez-se um "pacto de silêncio" entre todos os presentes (soldados, cabos e um furriel...). O corpo foi trabsportado num Unimog e entregue na sede da companhia ou do batalhão, já cadáver... Deve ter havido um auto de averiguações, mas toda a gente (, os graduado e as praças) mantiveram a mesma versão, a de uma queda acidental, infelizmente mortal...

O "pacto de silêncio" também faz(ia) parte das regras de camaradagem... Ontem como hoje...

Anónimo disse...

Caro Amigo Luís,

Cacheu ou Farim parece ser um e só um rio, que anteriormente era designado por Rio de S. Domingos (Wikipédia).

Quando por lá andei, que me lembre só era referenciado por Rio Cacheu e sempre me referi aos banhos que tomei no Cacheu (com uns crocodilos à espreita).

Grande abraço,
José Carvalho


Anónimo disse...

Caro Luís,
As conversas são como as cerejas. Ao ler o que descreveste sobre o pancadaria que teve tão trágico desfecho veio à minha memória uma ocorrência na 12 que vou descrever.

Estávamos ainda aquartelado em Bambadinca, no topo do edifício onde era a messe da 12, virado para a escola havia 4 ou 5 cadeiras de baloiço feitas de pipas de vinho.
E nós, os furrieis, costumavamos depois do pequeno almoço ficar por ali na cavaqueira. Naquele dia, algures entre feveiro e março, devia ser domingo, pois estávamos à civil. Bem instalados, e na conversa da treta éramos uns de 4 ou 5 furrieis.
Os cadeirões todos ocupados. Chegou um alferes da 12 começou a conversar connosco.
A conversa foi-se prolongando durante um bocado e, completamente fora do contexto, o alfares disse para um furriel, levanta-te que eu quero sentar-me.
A nossa primeira reacção foi que o alferes estava a brincar, mas como o furriel não se levantou para lhe ceder o lugar, o tom de voz subiu e disse ostensimante, levanta-te, é uma ordem. Como o furriel não lhe obedeceu deu-lhe uma chapada na cara. Após a agressão o furriel levantou-se e, felizmente, não reagiu à agressão. Nós estávamos incrédulos e sem palavras. Era surrial o que estava a acontecer na nossa frente.

O furriel acabou por fazer queixa, pois como sabes o inferior hierárquico não pode participar, e tem logo à partida garantida uma porrada que tinha como consequência imediata a perda do mês de férias.

O fim da ocorrência não sei como terminou.

Para situação ainda hoje não encontro justificação. Foi presenciada por mim e pelo António Duarte, entre outros, que não recordo.

Durante muito tempo fiquei a matutar e se fosse comigo..

João Candeias da Silva

Anónimo disse...

«na facha».
Facha?!?!?!

Anónimo disse...

Tem toda a razão o caro anónimo, em assinalar este meu lapso, nem com o novo acordo ortográfico...me defendo da gralha, claríssimo que deveria ser "na faixa".
Obrigado

José Carvalho