sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21723: In Memoriam (379): as minhas manas freiras, franciscanas hospitaleiras, Maria Augusta Crisóstomo e Emília de Jesus Bárbara Crisóstomo, que acabam de morrer em Portugal, vítimas de Covid-19, e cujas vidas foram uma grande história de amor a Deus, aos pais e ao próximo (João Crisóstomo, Nova Iorque)



Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > Lar de Paradas > s/d > O João Crisóstomo, na  "última foto com as duas  minhas manas": no Lar das Paradas,  fomos visitar minha irmã mais velha, Maria Rosa (na cadeira de rodas) e apresentar-lhe o seu último bisneto." As manas freiras do João, as irmãs Franciscanas Hospitaleira Maria Augusta Crisóstomo e Emília de Jesus Bárbara Crisóstomo, aparecem em segundo plano.
 
Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Através do nosso comum amigo, Rui Chamusco, tivemos conhecimento do infortúnio que atingiu o João Crisóstomo que, no fim do ano,  perdeu duas das suas irmãs, vítimas de Covid-19, "as duas minhas manas freiras, Maria Augusta  Crisóstomo e Emília de Jesus Bárbara Crisóstomo".

John Crisostomo / João Crisóstomo [ luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes; Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado com a eslovena Vilma desde 2013; tem mais de 125 referências no nosso blogue; acabei de falar com ele, já agendou para o mês de outubro de 2021 a festa da família Crisóstomo & Crispim, já reservada, desde o ano passado, para o convento do Varatojo.


É uma  família  notável, a dos Crisóstomos & Crispins, "especialmente pela sua vertente religiosa", como o João nos explica: "um frade/ irmão franciscano que era meu tio; 6 padres e oito freiras, das quais três eram minhas irmãs  e os outros/as eram todos primos direitos"...

Socorrendo-nos da mensagem que ele entretanto nos mandou, no final do ano:

"As minhas irmãs eram  membros da Ordem das irmãs franciscanas hospitaleiras portuguesas, dedicando as suas vidas a fazer bem a outros, sem nunca esquecerem os seus deveres de filhos e família e de que a caridade começa em casa e de que as obrigações e responsabilidades para com o nosso semelhante começam por aqueles que nos são mais queridos. 

"Lembro que, quando meus pais já velhinhos precisavam de ajuda e os outros filhos, incluindo eu, estávamos longe e sem condições de os poder ajudar pessoalmente, elas foram ter com a Madre Superiora: que queriam dar assistência aos meus pais na nossa casa, onde tinham nascido, propondo-se revezarem-se  uma cada ano. 

"Eu lembro-me bem dos tempos em que   a minha casa  não tinha água, que era preciso ir buscar  ao poço  com uma bilha,  e o poço ficava a  uma certa distância no meio da vinha... dos tempos quando  não havia electricidade… e  as amenidades eram poucas e as dificuldades e privações eram muitas. E elas sabiam bem disso. Mas a minha mãe,   com Alzheimer e meu pai muito velhinhom  precisavam de ajuda.    

"Como resposta foi-lhes dito [, às manas freiras,]  que uma vez que agora  eram membros da ordem não lhes era possível irem tratar dos nossos pais na nossa casa. E elas então com uma coragem que fizeram de minhas manas as minhas heroínas também, responderam que então tinham muita pena mas que iam deixar a ordem para poderem tratar dos meus pais. 

"Perante este amor  para com meus pais e esta inesperada coragem de  consciência,   tudo se resolveu e   foi-lhes concedido o que pretendiam :   a partir daí alternavam-se,    indo  então cada uma delas passar um ano em minha casa, sujeitas às adversidades e privações que há muito não experimentavam nas suas  vidas de convento.  

"Sem deixarem de dedicar as suas vidas aos seus semelhantes,  elas souberam pôr tudo no devido contexto, de que a caridade começa em nossa casa: não podemos  honrar e amar a Deus esquecendo o nosso semelhante; mas não podemos amar o nosso semelhante longínquo, sem amar primeiro aqueles mais próximos de nós, começando pelos nossos pais e irmãos.

"A minha irmã Maria das Dores faleceu já há muitos anos, após uma   longa convalescença que nunca chegou a ser completa,  depois de ter  sido esfaqueada por um lunático, que, recém saído da prisão , assim consta,  havia jurado matar a primeira pessoa que encontrasse ao sair da prisão. O acaso quis que fosse uma freira .. e era a minha irmã. 

"As outras duas, por motivos de idade e de saúde estavam já as duas num convento/lar em Leiria. Na semana passada,  a Covid-19 atacou esse lar e quando telefonei apenas três pessoas não  estavam  contaminadas.  Uma das primeiras vítimas  foi a minha irmã Emília que foi levada para o Hospital de Leiria. A Maria Augusta adoeceu logo depois, mas  ficou no lar. 

"Ontem,  dia 30 de Dezembro, telefonaram-me a dizer que a  minha mana Maria Augusta  tinha falecido de manhã.  E.  ao fim do dia,  recebi outro telefonema  de que a outra minha mana  Emília que estava no hospital tinha acabado de falecer também. As duas no mesmo dia!

"Como último destino aqui nesta terra  vão ser sepultadas no mesmo jazigo de meus pais, em Póvoa de Penafirme, Torres Vedras.   É justo e próprio que o amor que para eles tiveram  continue bem lembrado  aqui, ficando juntos depois da morte; e  com eles  lá e cá restem agora juntos também. 

"No dia primeiro de Janeiro as suas almas serão lembradas ao Senhor numa missa às 10.30 na  Igreja de St. Cyril, uma Igreja eslovena em  Nova Iorque, no número  62 da  St. Marks Place. Pelas conhecidas razões esta missa  não terá assistência,  e será levada a efeito via Zoom.
  
"E no dia 10 de Janeiro as minhas manas serão lembradas numa missa às 12.00 na Igreja franciscana de Varatojo, Torres Vedras.

"Convido todos os que queiram associarem-se em espírito a estes acontecimentos. Para mim, além do pedido de generosa misericórdia ao Senhor, esta é também uma missa de Accão de Graças ao Senhor pelas manas que me Ele deu.

"João Crisóstomo, Nova Iorque"
 _________

Nota do editor:

11 comentários:

Carlos Vinhal disse...

As minhas condolências, amigo João Crisóstomo. Perder duas manas em tão curto espaço de tempo é mesmo triste e doloroso.
Abraço solidário
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Anónimo disse...

Triste final para o João Crisóstomo no final deste 2020.
Abraço

V Briote

Anónimo disse...

Triste final de ano para o João Crisóstomo e Família.
Abraço

V Briote

Anónimo disse...

john crisostomo (by email)
20:00 (há 2 horas)

artigo de antes do natal

Ai Jacinta,

Não sei como estás a aguentar a perca das manas.

Esta noite passada foi difícil para mim. Por mais que eu tentasse fazer a minha mente pensar noutra coisa… pensei que ia dar em maluco pela perca e, por mais que eu me tente refugiar-me na fé… a verdade é que só à força aceito alguma parte do que nos foi/é ensinado … talvez uns 20/100…. porque na maioria de tudo sou mesmo um agnóstico. Não sou ateu convicto, pois me parece uma posição tão pouco racional como a dos que pretendem saber tudo e tentam impingir as suas crenças aos outros. Deus me ajude.

A Vilma diz que eu penso e me preocupo demais. Mas eu não sou capaz de deixar de pensar…e de vez em quando lembro-me do nosso tio ( já não me lembro o nome da terra : o que morava depois do casal da Carolina ) que o pai dizia que vagueava noite e dia e , assim me disseram , deu em louco…

Tenho tentado estar tão ocupado quanto possível . Tenho aqui um artigo que há muito tencionava enviar aos meus familiares e amigos. Por um lado não é agora ocasião para isto, mas por outro lado eu tenho mesmo de pensar em algo diferente das nossas maninhas, cujos paradeiros só me fazem respirar fundo, quase sem poder respirar .E este malvado virus e este maluco do trump ( qual deles o pior?) não ajudam mesmo nada.

May God have mercy!

Bom, aqui está o tal artigo: talvez te ajude a passar /vencer o tempo. Senão… ignora-o e pronto. Não aumenta nem diminui ninguém.

A Vilma está a fazer um dos nossos pratos mais frequentes: galinha ( compramo-la já assada, quatro ou cinco de cada vez!) que está no gelador há várias semanas …. agora é só aquecê-la, fritando-a com muito alho e cebola ( tudo já cozinhada também ). Com um pouco de arroz e pronto…

Beijinho
João
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Sem intuito de “pretensões’ que são sempre apenas ridículas, -- mas ao mesmo tempo com muita satisfação, sem fingida modéstia-- envio um artigo escrito pelo conceituado jornalista Henrique Mano.

O primeiro link dá acesso às fotos e o segundo possibilita ler o texto na sua integridade.
Com votos de um bom Ano 2021, especialmente com muita saúde,
João e Vilma

1--https://www.facebook.com/henriquemanonewyork/photos/pcb.3603085066446285/3603036999784425/

2--https://developers.facebook.com/docs/plugins/embedded-posts/?
prefill_href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fhenriquemanonewyork%2Fposts%2F3603085066446285&__cft__[0]=AZWoIK1p8GD63Z5tj6lIvqVR97Qt2_udMRM258KtixFIT1-WXDNL52WpYGVvh8Q9cMnJGvQXXV5tvmK0VQ1oJXCxi3SkUdGrR6TrkXGhmcWqG-fU076s0z_BBKIwHVHHqSyLHGjdNnHnwK3cVPmbvgbbeZug_ikgBHq8LVQBiS-haMOcqw3ng5f-bBiECHbOIHw&__tn__=p%2CP-R#code-generator

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É um duro golpe, João, perder logo duas irmãs, tu que és tão apegado à família que cá deixaste... Infelizmente, esta pandemia da Covid-19 tem feito nuita mortandade, sobretudo nos nossos mais velhos e nos nossos lares...

Já tivemos opertunidade de falar um pouco telefone. Perante o absurdo da morte, ficamos sempre desarmados, crentes ou não crentes. Guarda, escrevendo, as tuas melhoras lembranças do convívio com as tuas manas na infância e ao longo da vida. Eu já pwerdi os meus pais, tenho as minhas manas (3) felizmente vivas, e mais novas do que eu...Com os mais pais, vou "falando" com eles, de vez em quando... Faz-me bem. E tu precisas de descansar. Luís

Henrique disse...

Caro Crisóstomo
Acabei de ler a triste notícia.
Sei que vais ter força para ultrapassar mais este infortúnio e daqui te mando o meu abraço solidário. Henrique Matos

Anónimo disse...

eduardo francisco
2 jan 2021 11:41 n


Bom dia Luís!

Bonita história de amor fraternal, a das mamas do João. Em meu nome pessoal e em nome do Joaquim Teixeira, meu grande amigo residente em Faro e que foi Fur. Mil. da Comp. do João Crisóstomo, quero mandar um abraço de solidariedade e transmitir o nosso pesar pelo falecimento das suas queridas irmãs. Que descansem em paz.
Eduardo Estrela.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Dei conhecimento do mail do Eduardo Francisco (que vive em Cacela, V. R. Sto António) ao João, com a seguinte nota:

"João, não estás sozinho na tua dor. Como vês, o Mundo é Pequeno, mano". Luís

Anónimo disse...

Expresso os meus pêsames e a minha solidariedade ao João Crisóstomo, nosso estimado camarada estima

Manuel Luís Lomba disse...

Em tempo:
Não é anónimo.
Manuel Luís Lomba

Anónimo disse...

Amigo João Crisóstomo,
No dia em que recebi a notícia do falecimento das tuads manas tive o cuidado de chamar para a tjua casa. Ninguém atendeu, mas deixei-tde uma pequena mensagem.
Tudo isso é muito duro, mais ainda pelas circunstâncias.
As minhas condolências num abraço de solidariedade.
José Câmara