1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:
Nunca desistir
Se a obra foi bem concebida e desejada,
Nunca se deve desistir dela.
As coisas perfeitas nunca se conseguem à primeira.
A perfeição está sempre no fim do caminho
Que pode ser longo.
Todas as grandes obras-primas da humanidade tiveram suas histórias de desânimo.
Só porque venceu a resistência elas chegaram ao seu fim.
O abandono é a morte da obra-prima.
Não passará nunca de um esboço mais ou menos avançado.
Passará a vida num canto da oficina
à espera do abandono e sua destruição.
As boas ideias que a mente, gratuitamente, propõe ao seu autor devem ser por ele tentadas e executadas.
Sob pena de ser um ingrato artista, jogando fora o que lhe deu a inspiração.
Berlim, 19 de Dezembro de 2020
9h2m
Jlmg
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Poemas de oiro
Minha eira de oiro
Estendo na eira meus poemas de oiro.
Os banho de sol.
Os lavo de chuva.
Colho-os maduros, caiados de oiro.
Os ordeno por lotes.
Conforme os temas.
Lanço-os ao vento.
Que a sorte os benfazeje.
Não caiam nas pedras.
Brilhem nas mentes
E lhes adocem as vidas.
Não espero as loas.
Só quero as bênçãos.
Berlim, 21 de Dezembro de 2020
9h13m
Jlmg
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Concerto n.º 3 de Rachmaninov para piano
O expoente máximo de vilolência.
Um sobe e desce, fugindo aos precipícios.
O piano espuma enraivecido.
A pianista, a jovem Khatya Buniatilis, péga as teclas como às crinas dum cavalo.
O maestro sabe que tem um cancro.
Cláudio Abado.
Veterano e firme na sua carreira.
Seu rosto esmaecido dá nota do roedor.
Que não sabe perdoar.
Apesar de tudo, sobe ao palco, seguro e decidido.
Como se nada haja.
A orquestra se lhe entrega.
Galvanizada.
A plateia cerra os olhos.
Deixa-se levar por aquele rio vigoroso de melodia.
O tempo flui e arrasta furiosamente toda a gente.
Entre suaves açudes e cataratas.
Sem dúvida.
É o concerto expoente do génio que o compôs.
Ouvindo Hélène Grimaud e Cládio Abado
Berlim, 23 de Dezembro de 2020
20h36m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21665: Blogpoesia (710): "É preciso enfrentar a tempestade", "Originalidade" e "Desgarradas da pandemia", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
3 comentários:
Rachmaninoff, Helene Grimaud e Claudio Abbado: um belo tributo a três grandes nomes da música...
Bom ano de 2021 para ti e família, camarada e amigo Joaquim. LG
Que grande partida me pregaste, Mendes Gomes! Eu a julgar que ia ouvir o Concerto n.º 3 de Rachmaninoff, pela pianista georgiana Khatia Buniatishvili, com os seus generosos e sensuais decotes, e aparece-me a Helène Grimaud, que é também uma grande pianista, sem dúvida nenhuma, a tocar o Concerto N.º 2. Mesmo sem os dotes mamários da Khatia, gostei muito de ouvir a Helène Grimaud, competentemente acompanhada por uma excelente orquestra e um excelente maestro.
Rachmaninoff é um compositor incontornável do repertório pianístico. A sua música, de um romantismo tardio e requintado, não fica nada a dever à dos compositores seus contemporâneos que seguiram caminhos mais inovadores e até revolucionários, como Stravinsky ou Schönberg. Ainda que fosse musicalmente conservador, Rachamninov foi, é e será um compositor de primeiríssima grandeza.
Caro Fernando Ribeiro, vindo agora aqui, encontrei o teu pertinente comentário. Vou esclarecer.
Nem sempre a escolha do tema musical para "ilustrar" os postes são da inteira responsabilidade do nosso amigo Joaquim Luís Mendes Gomes. Foi também o caso neste poste.
Não tendo encontrado no Youtube o concerto n.º 3 tocado pelos artistas referidos, e pensando que quem não tem cão, caça com o gato, fiz o link para o concerto n.º 2, interpretado pelos mesmos instrumentistas.
Fica a intenção, com as devidas desculpas ao Joaquim Luís Mendes Gomes e aos nossos leitores.
Abraço e votos de bom 2021.
Carlos Vinhal
Coeditor
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