sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - 21724: Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403, na retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Hilário Peixeiro, cor inf ref)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Op Mabecos Bravios > 2  fevereiro de 1969 >  Canjadude foi o local onde as NT se reuniram para o início, propriamente dito, da Operação. À esquerda os pilotos da FAP Cap Pilav José Nico (filmando) [, hoje ten gen pilav ref] [1] e o Sarg mil  Honório [2] e o Cmdt da Operação,  Cor Inf Hélio Felgas [, Cmd Agrup 2957, Bafatá, 1968/70][3].



Foto nº 2 Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Op Mabecos Bravios > 2 de fevereiro de 1969 >  Concentração das NT em Canjadude, quartel guarnecido pela CCAÇ 5.



Fotos (e legendas): © Hilário Peixeiro (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Há dias falou-se aqui do cor inf ref Hilário Peixeiro, que foi capitão no CTIG, cmdt da CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá MandingaOlossato e Mansabá, 1968/70, mas de quem não temos notícias há já uns anos largos (*). 

Num poste já antigo, de 16/5/2011, há documentação interessante (texto e fotos) sobre a participação da CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851 na operação de retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios) (**). Reeditamos agora esse materal, valorizando em especial a documentação fotográfica. (***) 

Recorde-se que o desastre do Cheche, em 6 de fevereiro de 1969, fez 47 vítimas mortais. Foi há 52 anos. É uma efeméride difícil de esquecer por todos nós.


 Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403

por Hilário Peixeiro (**)


Durante o mês de Janeiro [de 1969] tiveram lugar os preparativos e reconhecimentos na zona do Boé, com vista à Operação de evacuação de Madina do Boé, denominada “Mabecos Bravios”.

Para além da CCaç 1790, local, comandada pelo Cap inf Aparício,  participaram na operação outras 6 Companhias [, incluindo da CCaç 2405, Destacamento F].

A 2 de Fevereiro [de 1969] a CCaç 2403, com 3 G Comb  (...)  [Destacamento ], deslocou-se para Canjadude e depois para o Cheche onde chegou já no final do dia, transportada nas viaturas destinadas ao transporte, no regresso, dos materiais da CCaç 1790 e da população de Madina. Desta vez todos os Gr Comb eram comandados pelos respectivos Alferes.

Juntamente com a CCaç 2405, do Cap Jerónimo [Destacamento F], atravessou o Corubal numa das jangadas, recém-construídas para o efeito, indo cada uma ocupar as colinas que flanqueavam a estrada para Madina, á esquerda e á direita. 

Quando as Companhias se separaram, já noite fechada, o IN lançou 2 granadas de morteiro sobre a estrada, sem consequências o que, 15/20 minutos antes, poderia ter tido resultados bem diferentes. 

Na manhã seguinte [, 3 de fevereiro], as Companhias seguiram, apeadas, rumo a Madina, sempre sobrevoadas por 1 T6 ou 1 DO até ao final do dia.

 
Foto nº 3 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969 > Progressão da coluna em direção a Madina do Boé, sob a proteção da DO 27 do srgt pil Honório



Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969 > Progressão da coluna em direção a Madina do Boé, sob a proteção da DO 27 do srgt pil Honório


A meio da manhã [do dia 3 de fevereiro] houve um reabastecimento de água, planeado e, mais à frente, não planeado, um fortíssimo ataque de abelhas à CCaç 2405  {Destacamento F] que deu origem à evacuação de alguns homens no heli do Comandante da Operação, Cor Felgas, que aterrara entretanto.

Este contratempo provocou grande atraso na coluna e a certa altura o efeito do calor e das abelhas fez-se sentir mais acentuadamente sobre a CCaç 2405, tendo a CCaç 2403 [, Destacamento D] que ia na retaguarda, passado para a frente com o intuito de pedir a Madina reabastecimento de água para o pessoal mais atrasado que estivesse em dificuldades. 

Quando, cerca de 10 minutos depois, um Gr Comb se preparava para sair do quartel, chegou a outra Companhia [, CCAÇ 2405].

Enquanto o pessoal foi instalado,  os Capitães receberam do Comandante a missão para o dia seguinte  [4 de fevereiro] que consistia na ocupação dos morros que se estendiam a sul de Madina entre esta e a República da Guiné.



Foto nº 5 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969  > Evacuação de vítimas de ataques de abelhas e insolação,  com o helicanhão a sobrevoar a zona.

 

Foto nº 6 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé > 3 de fevereiro de 1969 > Viaturas das NT abandonadas (Mercedes)



Foto nº 7  > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé  > 3 de fevereiro de 1969 > Viatura das NT abandonada (Berliet)



Foto nº 8  > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé > 4/5 de fevereiro de 1969 > Viatura das NT abandonada (Berliet)



Foto nº 9 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios >  Madina do Boé > 5 de fevereiro de 1969 > Reparação
 de GMC (rebocada) e sem paragem da coluna, de regresso a Cheche,


Quando se fez dia  [em 5 de fevereiro de 1969] o pessoal ficou surpreendido com o cabeço a que Madina estava encostada e os que a rodeavam. Eram autênticas “montanhas” na Guiné, onde tudo era plano. 

As Companhias ocuparam as elevações que lhes foram indicadas e aí permaneceram nesse dia enquanto as viaturas chegaram e no dia seguinte enquanto se procedeu ao seu carregamento com os materiais da guarnição e da população civil que ia ser deslocada para Nova Lamego. 

No dia 6 [de fevereiro], logo que se fez dia, deslocaram-se para a coluna que já se encontrava em movimento a caminho do Cheche, assumindo a segurança dos flancos e retaguarda. 

Antes de atingir o rio Corubal,  a coluna ainda foi alvo de mais um feroz ataque de abelhas que só provocou, como vítimas, a morte de dois cães da população.



Foto nº 10 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



Foto nº 11 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



Foto nº 12 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



As viaturas e pessoal foram atravessando o rio até só restarem as 2 Companhias e parte da CCaç 1790 de Madina. Comandava a Operação de carregamento da jangada o Cap Aparício [, da CCAÇ 1790]. 

Na penúltima travessia foram transportadas a CCaç 2403 e parte da CCaç 2405, tendo a primeira recebido imediatamente ordem do Cor Felgas para montar a segurança do flanco esquerdo da coluna que partiria, logo que pronta, rumo a Canjadude.

Para a última travessia, seria embarcado o pessoal que restava das CCaç 2405 e CCaç 1790, muito menos de 100 homens. 

Enquanto se aguardava a chegada do pessoal que faltava para a coluna se pôr em marcha foram disparadas 1 ou 2 granadas das armas pesadas do Destacamento do Cheche. 

Pouco depois surgiu um soldado a correr em direcção ao rio, a chorar, dizendo que a jangada se havia virado e que muita gente tinha caído à água no meio do rio. 

Através do rádio do Capitão,  foi ouvido o Cor Felgas em comunicação com o General Spínola, que não esteve no local, dizendo que havia muitos homens desaparecidos no rio. 

Com grande atraso em relação à hora prevista, a coluna iniciou o deslocamento para Canjadude onde pernoitou.

No dia seguinte [, 7 de fevereiro] chegou a Nova Lamego, onde o Comandante-Chefe falou às tropas participantes na Operação.

Com a chegada da CCaç 1790 a Nova Lamego,  a CCaç 2403 recebeu ordem de marcha para o Olossato com passagem por Fá Mandinga (...) e aí ficou mais de 1 mês, em missão de intervenção do Comando de Agrupamento de Bafatá. (...)

[Revisão / fixação de texto: LG]

_____________

Notas do edidtor:


(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21715: Em busca de... (310): Hilário Peixeiro, capitão que conheci no Forte da Graça, em Elvas, em 1973/75 (João Rico, ex-fur enfermeiro)

Vd. poste de 13 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)


(...) 2. Extractos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Classificação: Reservado. Cap. II. 36-38..

(...) Iniciada a Op Mabecos Bravios, em 1 [de Fevereiro de 1969], com a duração de 8 dias, para retirar as nossas tropas de Madina do Boé. 

Entre vários destacamentos, tomou parte no Destacamento F a CCAÇ 2405 [ .Comandante: Cap. Mil. José Miguel Novais Jerónimo; 1º Gr Comb – Alf Mil Jorge Lopes Maia Rijo; 3º Gr Comb  – Alf Mil Rui Manuel da Silva Felício; 4º Gr Comb  – Alf Mil Paulo Enes Lage Raposo]. (...)

1 de fevereiro de 1969

(...) O Dest F com o efectivo de 112 homens (4 oficiais, 10 sargentos e 98 praças - estão incluídos 1 secção de sapadores e 8 condutores auto), saiu de Galomaro em 1 de Fevereiro de 1969, pelas 9.30h, e chegou a Nova Lamego por volta das 13.00h do mesmo dia, sem qualquer novidade.

Aqui fizeram-se os preparativos finais da organização da coluna que partiu às 5.30h do dia 2 [D]. (...)

2 de fevereiro de 1969

(...) A coluna saiu de Nova Lamego para Canjadude com o pessoal totalmente embarcado e atingiu-se esta povoação por volta das 9.00h sem qualquer problema. A partir de Canjadude a coluna progrediu com guardas de flancos,  tendo o Dest F colaborado na guarda da rectaguarda da coluna fazendo uma progressão apeada que não estava prevista.

Atingiu-se o Cheche [entre Canjadude e Madina do Boé] por volta das 17.00h (sempre com uma cobertura aérea excelente).

3 de fevereiro de 1969

(...) O IN não voltou a manifestar-se mas obrigou-nos a uma vigilância nocturna permanente e a uma mudança de posição por volta das 23.00h.  (...)

Pelas 5.30h [do dia 3, D + 1] mandou-se um Pelotão a Cheche buscar um Pelotão do Dest E que fazia guarda imediata às viaturas e que eu [, cmdt da CCAÇ 2405,] devia levar até Madina.

Cerca [ das 10.00h ] o Dest F sofreu um violento ataque de abelhas e teve que recuar cerca de um quilómetro para se reorganizar de novo. Um soldado, em consequência, ficou imediatamente fora de acção. Foi pedida a respectiva evacuação bem como a de outro soldado que apresentava sintomas de insolação.

As evacuações fizeram-se para Nova Lamego  (...)

O héli desceu mais tarde para reabastecer o pessoal de água.

O Dest D [CCaç 2403[ passou para a frente e reinicou-se a marcha, sempre fora da estrada até à recta que leva a Madina. Nada mais se passou além do sofrimento intenso das tropas por via do calor. O Det D foi reabastecido de água. 

Atingimos Madina [do Boé] por volta das 19.00h [do dia 3 de fevereiro ] desligados do Dest D que prosseguiu a sua marcha quando F teve que parar para reajustar o dispositivo e tratar os mais debilitados (4 praças e 1 furriel).

Houve descanso em Madina e tomou-se uma refeição quente (...)

4 de fevereiro de 1969

(...) No dia 4 (D + 2)  o Dest F dirigiu-se para [ Felo Quemberá, ilegível] ocupando a posição 3 que se atingiu sem dificuldade por volta das 11.00h. Alternadamente ocupou-se as posições 3 e 4 de acordo com o plano.(...)

5 de fevereiro de 1969

(...) Em D + 3 [5 de Fevereiro de 1969] por volta das 7.30h,  recebemos ordens do PCV [Posto de Comando Volante] para a abandonar a nossa posição e seguir ao encontro da coluna. 

Uma hora depois atingimos o campo de aviação de Madina onde fomos reabastecidos de água e r/c [rações de combate]. 

Pelas 9.00h a coluna pôs-se em movimento e meia hora depois 4 carros da rectaguarda tiveram um acidente. Não obstante, a coluna prosseguiu e o pessoal do Dest F mais os mecânicos resolveram a dificuldade.

6 de fevereiro de 1969

(...) Próximo de Cheche recebi ordens para ocupar a posição que ocupara que tivera em D / D+1 porque o Exmo. Comandante da Operação [, cor inf Hélio Felgas,] entendeu dever poupar alguns quilómetros ao Dest F e D, bastante atingidos pela dureza dos respectivos percursos. Essa foi a razão porque não transpus o [Rio] Corubal em D + 3 [ 5 de Fevereiro] só o vindo a fazer em D + 4 [6 de Fevereiro] por volta das 9.00h.(...)

(...) Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb [da CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790], respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F e grandes quantidades de material perdido. (...)

(...) Por voltas das 10.00h de D+ 4 [6 de Fevereiro] saímos de Cheche para Canjadude que atingimos por volta das 16.30h com o pessoal deste Dest embarcado. (...)

7 de fevereiro de 1969

(...) Descansou-se e em D + 5 [7 de Fevereiro] às primeiras horas a coluna pôs-se em movimento para Nova Lamego que foi atingida por volta das 11.00h. 

Às 12.00h as tropas ouviram uma mensagem do Exmo. Comandante-Chefe [, brig António Spínola,] que se deslocou propositadamente para a fazer.

14 comentários:

José Marcelino Martins disse...

Na altura, e desde Agosto de 1968, Canjadude estava guarnecida por 3 Grupos de combate da CCaç 5 e CArt 2338. Um pelotão da CCaç 5 estava destacado em Nova Lamego e um pelotão do CArt 2338 estava no Che-che.

Valdemar Silva disse...

Zé Martins
Vê se te recordas de um fur.mil. Pinho, que um dia apareceu em Nova Lamego na coluna com a tropa dos Gatos Pretos, com um ar de muito apanhado pelo clima e trazia um revolver à Patton à cintura com ar de cowboy.
Esse Pinho meu conhecido de Lisboa, esteve comigo no CSM em Vendas Novas e era todo cheio de manias de 007, pequenos aparelhos de espionagem e ligado ao judo. Era um grande cromo.

Abraço e Bom Ano 2021
Valdemar Queiroz

Alf Raposo da 2405 disse...

Eu Alf Raposo, da 2405, passei o rio na penúltima travessia. Para trás ficou 2 grupos de combate da minha companhia, a 1790 toda é um pelotão de milícias. Basta somar o peso que ia na jangada, para ver logo , que a jantado não tinha estrita para aguentar. Morreram 45 rapazes. 15 da minha companhia, 5 milícias e o restante da 1790.
Cavou acabem com a mentirem dos disparos. Respeitem os rapazes que lá ficaram

Anónimo disse...

Paulo Raposo (by email)
01/01/2021, 23:57


Bom ano para todos.

Em cima da jangada acidentada seguia um pelotão de milícias, que perdeu 5 homens.
Porque não falam deles e falam na mentira dos disparos do Cheche. Que é mentira. Eu estava lá, passei na vez anterior.
Obrigado

Paulo Lage Raposo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Paulo, o cap inf Hilário Peixoto, cmdt da CCAÇ 2403, estava lá contigo... Bom Ano também para ti. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Temo-nos focado muito, até agora, no desastre com a jangada...e naturalmente a discussão descamba sempre para a "culpa" (ou n~so fossemos nós um produto da cultura judaico.cristã... Como em todos os "acidentes", a visão é sempre redutora e dicotómica: erro humano ou falha técnica...

Ora é importante também falar e documemtar o lado dramático da preparação e condução da Op Mabecos Bravios...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Na efeméride dos 50 anos do "desastre do Cheche", em 6/2/2019, escrevi aqui:

(...) muita água ainda há-de ainda passar sob as pontes do rio Corubal até que se saiba a verdade ou toda a verdade sobre esta tragédia que ensombrou o primeiro ano do consulado do Spínola.

"Ainda está por realizar o prometido encontro do nosso editor Luís Graça com o ex-alf mil José Luís Dumas Diniz (, da CART 2338), responsável pela segurança da jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, aquando da retirada de Madina do Boé. Uma peça fundamental neste feliz encontro foi (e vai ser) o ex-alf mil trms, Fernando Calado, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande, e meu contemporâneo da Guiné (estivemos juntos, em Bambadinca, entre julho de 1969 e maio de 1970). Foi o Fernando Calado que me pôs em contacto com o José Luís Dumas Diniz. Dificuldades de agenda, de parte a parte, ainda não nos permitiram fazer o encontro a três." (...)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/02/guine-6174-p19476-recortes-de-imprensa.html

O José Martins deve, entretanto, lembrar-se do José Luís Dumas Diniz. Sendo da CART 2338, passou por Canjadude.

Anónimo disse...

Meu caro Coronel Pólvora Peixeiro:
Tive acesso ao seu nome, a procurei aquilo que me atormentava, saber o seu paradeiro, e venho a saber agora, que possivelmente nos encontramos algures naquela terra vermelha da Guiné.
~Eu sou do curso da EPI, que tive a honra de ser seu instruendo, não conheci muita gente com a sua postura, e falo do coração.
Por coincidência, estamos à distância de 54 anos, pois hoje, que já é dia 2, estava a preparar-me para tomar o comboio do Porto até Santa Apolónia e depois para Mafra, onde fomos novamente 'inspeccionados' com um frio de rachar.
O mundo é pequeno, e afinal estivemos mais tarde no mesmo sitio, pertenci ao BCAÇ1933, que esteve em Nova Lamego entre 04out67 e 26fev68. Fomos render o BCAV 1915 e fomos rendidos pelo BCAÇ 2852.Regressamos no dia 04ago69 e chegamos a Lisboa em 10ago69.
É com um imenso prazer que vejo este seu percurso, depois de deixar Mafra em final de Março.
Não se deve lembrar de mim, mas eu normalmente dormia na segunda feira de tarde, nas aulas teóricas, pois tinha passado a noite em branco depois de vir do Porto.
Mas dando uma pista, eu tive um acidente brutal de viação, e andei parte da recruta em muletas, até no juramento de bandeira ficaram 'os aleijadinhos' à parte.
Fico satisfeito por estar aqui connosco, e já é dos antigos, estive a dar uma olhada aos Postes onde aparece a sua CCAÇ2403, e ainda irei comentar mais tarde e lembrar a minha recruta na EPI em Mafra.
Com algum trabalho fiz um excerto das minhas memórias, onde não poderia deixar de falar no meu Instrutor, que vou postar noutro comentário a seguir a este.
Para já os meus cordiais cumprimentos e viva com muita saúde.
P.S.
Acerca dos comentários aqui oportunamente inseridos, não sabendo pessoalmente o que se passou, mas são tantas as 'versões' que se contam, e ninguém acerta na verdadeira, se é que há só uma. Infelizmente perderam-se estupidamente tantas vidas, e muitos, a maior parte são da CCAÇ 1790, que fazem parte do meu Batalhão e por isso tenho alguns conhecimentos mais privilegiados que outros, mas valem o que valem.

As minhas saudações militares meu Coronel Peixeiro. (afinal temos apelidos muito parecidos)

Virgilio Teixeira

Em, 02-01-2021,

54 anos depois de o conhecer.


Anónimo disse...


Meu coronel:

Aqui vai uma das partes em que falo muito da minha nova experiência militar em Mafra de onde trago apenas as más recordações do frio, e da chuva torrencial nas marchas finais a caminho da Malveira da Serra...

Esqueci-me de lhe desejar um Bom Novo Ano, porque este que acabou é para esquecer, mas na minha mente não prevejo melhoras nos próximos tempos - anos.
O mundo nunca mais vai ser o mesmo, esta guerra não se acaba aos tiros, e não sei nada desta maldita maldição, que nos apareceu agora com esta idade. Vou fazer este mês 78 Anos.
Um abraço amigo, e até um dia.

«excerto»

A minha Vida (*)
……../………
3 – MAFRA EPI
……/…….

No final da revista e dado como pronto para marchar, recebo o meu número que vou utilizar naqueles 3 meses de recruta em Mafra.
Passo a ser o soldado Cadete Nº 10, do 1º Pelotão da 3ª Companhia do Curso de Oficiais Milicianos. (incorporação de 03-01-67).
O comandante do pelotão e nosso instrutor era um Tenente de Infantaria, já mais velho que eu, tive a sorte de não me calhar um daqueles rapazolas, acabados de sair da Academia Militar, que para dar nas vistas, faziam a vida negra aos novos Recrutas. Este nosso instrutor tratava a gente como cavalheiros, ficou marcado positivamente pelo seu rigor e maneira de tratar os recrutas, também este era um Pelotão que se distinguia dos outros, não sei porquê.
Durante muito tempo depois de sair de lá, esqueci o nome do nosso Instrutor, nem o apelido me lembrava, sabia que era um nome diferente, mas não saia nada da cabeça, quando passei a escrever as minhas memórias.
Um dia, já em 2018, encontrei na minha terra, o Porto, um colega do mesmo pelotão, chamado Peres, e foi ele a meu pedido que me deu o nome, embora lhe faltava alguma coisa. Mas ele não tinha a certeza, começou por se lembrar de Inácio, mas depois após outros contactos, cheguei ao nome certo, estávamos a falar do nosso saudoso, sem favores,
Tenente Hilário Manuel Pólvora Peixeiro.
Disse inclusivamente que era da colheita de 41 (eu sou de 43) e sabia que está reformado como Coronel de Infantaria.
Sou incorporado no serviço militar, assento praça como cadete em Mafra, na Escola Prática de Infantaria numa manhã muito fria, e vou dar início ao curso de Oficiais Milicianos naquele lugar só destinado às recrutas para Oficiais Milicianos.
Após aquele teste e revista degradantes, lá vamos para a arrecadação levantar as roupas de cama, fardas, calçado, arma e acessórios, e sou conduzido para o 2º piso, caserna nº 13.
Fico no beliche de cima, sempre era melhor do que o de baixo, mas em contrapartida levava com as ratazanas do tamanho de gatos, a passearem mesmo por cima de nós na cama de cima. Toda a gente considerava aquele espaço como um dos piores sítios para a recruta, mas todos os cadetes para os cursos de oficiais milicianos, faziam a sua primeira recruta ali, de 3 meses, e depois, após o juramento de bandeira, éramos enviados para as especialidades que nos destinavam nos vários pontos do país em novas Escolas Práticas para oficiais milicianos. Para mim foi destinada a EPAM, que formavam, entre outras, os oficiais que iriam fazer parte dos Batalhões de Reforço, como Oficiais do Serviço de Administração Militar, com a função de Chefes dos Conselhos Administrativos.
Ainda coabitamos com os novos militares, chamados a fazer os cursos de Capitão Milicianos, alguns já ‘velhos’ e gordos, com a sua vida já feita e que foram retirados para servir a Pátria, e ali estavam a ser preparados e treinados os militares que seriam em breve enviados para uma frente de guerra em África, já como Capitães para comandar Companhias e outras especialidades.
Assim, e posso afirmar que me adaptei muito bem a esta nova fase da minha vida e gostava de tudo o que fazia.
………/………
(*) - Excerto das minhas memórias, que já contam 2500 páginas.
Em, 2021-01-02 ( a 54 anos de distância! )
Virgilio Oscar Machado Teixeira,
Ex – Alferes Miliciano do SAM (Guiné 197/1969) – Nova Lamego, e São Domingos.

Assina,
Virgilio Teixeira

Anónimo disse...


Correção:

Virgilio Oscar Machado Teixeira,
Ex – Alferes Miliciano do SAM (Guiné 1967/1969) – Nova Lamego, e São Domingos.
Virgilio Teixeira

Valdemar Silva disse...

No poste sobre os afogamentos no desastre do Cheche, Jorge Araújo menciona três naturais da Guiné, mas nas notícias do "Diário de Lisboa" sobre os mesmo desastre aparecem cinco nomes de naturais da Guiné, muito provavelmente estes pertenceriam ao Pelotão de Milícias.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vírgílio, meu "mano" (fazemos anos no mesmo dia, daqui a 27 dias, esperamos lá chegar os dois, com a alegria de, pelo menos, estarmos vivos e com o "puzzle" na mem´pria não muito esburacado):

Fico feliz por o nosso blogue te proporcionar este "reencontro" à distância de 54 anos!...E feliz igualmente por saber que não mandaste para "cesta secção"as tuas 2500 páginas de memórias, como já tens ameaçado... Afinal, as nossas memórias não são só nossas...

Quero-te ver mais vezes aqui e mais animado. Teu "mano", ainda estou por aqui até 2ª feira, na Madalenam, Vila Nova de Gaia...Como todos nós, "com...finados". Luís

Anónimo disse...

Pois é Luis, isto serve para isto e muito mais, pena é não não tocarmos todos para o mesmo lado, também era monótono.
Não deixo de sentir uma grande emoção por ver o nosso ex-Tenente Peixeiro aqui neste blogue e ha tanto tempo.
O meu tempo andou para trás 54 anos, revivendo o dia 2 de Janeiro de 1967, hoje, e o dia 3 de janeiro de 1967, o enfrentar da realidade militar no Convento de Mafra, e ter o privilégio de ter como instrutor uma pessoa de alto gabarito, e afinal, quando eu pensava que era muito mais velho do que eu, ha uma diferença de apenas 2 anos, a mesma que me separa do meu irmão da mesma colheita de 41!

Espero com ansiedade que ele venha a lembrar-se de mim, como eu o reconheci logo na foto do poste como Capitão,
São estes os homens que nos deixam boas recordações e bem hajam eles que não há muitos...
Um bom Ano de 2021 que prevejo muito pior do que o 2020, pelo menos em termos económicos.

Virgilio Teixeira

Valdemar Silva disse...

Em relação à 1ª. fotografia, o que será feito do filme realizado pelo cap. Nico?
É um documento muito importante e com valor histórico, quer militar quer documental.

Valdemar Queiroz