1. Comentário do editor do blogue:
É verdade: infelizmente, falamos aqui pouco dos homens e das mulheres que lutaram contra nós. Somos parcos em palavras, quando nos referimos a eles (e elas): IN, inimigo, turras, PAIGC… Uma vez por outro, guerrilheiros, combatentes, nacionalistas…
Tínhamos uma visão local do conflito: gente de Madina/Belel, escreve o Beja Santos em Missirá…Vizinhos, ao fim e ao cabo. Indesejáveis vizinhos que lutavam pelo controlo de recursos, território, bolanhas, rios, trilhos, picadas e, sobretudo, populações, almas, corpos, braços e pernas…
Fazíamos visitas uns aos outros, de vez em quando. Nada amistosas, por sinal. E a desoras. Às tantas da manhã, ou da noite. Muito raramente ao meio dia. A hora do almoço era sagrada. Tínhamos uma estranha maneira de nos cumprimentar quando nos cruzávamos no mato… Às vezes, aleijávamo-nos mutuamente. Às vezes matávamo-nos, uns aos outros.
Que sabíamos nós dos outros ? Conhecíamos as suas armas, sabíamos distinguir o cantar da costureirinha , o matraquear da kalash, o silvo da morteiro… A cor e o feitio das granadas, de RPG ou de canhão sem recuo… Mas, e os homens, e as mulheres, as crianças e os velhos que viviam no mato (regiões libertadas, diziam eles). Viamo-los, ao longe, quase sempre do ar, a cultivar o arroz na bolanha ou na montar segurança na orla da floresta…
Uma vez por ano, na época seca, fazíamos raides punitivos e queimávamos umas tantas moranças e algumas toneladas de arroz… Mas a maior parte dos dias, das semanas e dos meses, ficávamos nos nossos aquartelamentos e destacamentos a guardar a bandeira nacional, o símbolo da nossa soberania.
Quem era essa gente que nos atacava, quase sempre, à socapa, emboscada, escondida atrás das árvores e dos bagabagas, ocultos pelo capim alto ou pelo breu da noite ? Às vezes lá apanhávamos um ou outro, vivo, armado ou desarmado…
Quem era essa estranha gente que nos combatia e que, mais tarde, já lá para o final da guerra, é capaz de gritar:
- Viva Portugal, abaixo o colonialismo ?
De há uns meses a esta parte tenho estado a incentivar o Virgínio Briote para fazer uma exploração e uma pequena apresentação dos vídeos sobre a guerrilha do PAIGC que estão disponíveis no sítio do INA - Institut National de l' Audiovisuel
2. Mensagem do Virgínio Briote, datada de 3 de Dezembro de 2006:
(...) O INA tem de facto uns vídeos muito interessantes, descobri-os há uns meses e adquiri para já os da Guiné. Gravei-os num DVD e, se os não tiveres, ainda envio-tos pelo correio.
Tirei algumas fotos dos filmes, arte que não domino e achei interessante enviar-tas, a propósito da questão que o João Tunes levantou sobre os OUTROS. Os OUTROS não falam, os que directamente dialogaram connosco a tiro, não dão a cara, por motivos bem compreensíveis. Muitos já morreram e a maior parte não deve dominar a informática.
Seria de um inestimável valor fechar este ciclo com uma espécie de encontro de ex-combatentes de um lado e doutro. Em Guileje, porque não? Estou a apreciar muito a entrada dos novos camaradas, alguns com notável escrita. Estou a lembrar-me do Torcato, por ex. Até um dia destes. Um abraço,
vb
3. Mail enviado em 10 de Dezembro de 2006:
Caro Luís,
Mando-te amanhã um dvd com os 9 filmes da série Guiné. Em relação ao INA, junto cópia da mensagem que enviei há cerca de uma semana e ainda não obtive resposta.
Chers Mrs,
Nous sommes un group de plus de 100 anciens combattants de la guerre coloniale en Guinnée-Bissau et nous sommes réunis dans un blog Luis Graça e Camaradas où nous parlons de notre expérience dans le terrain guinnéen. Nous avons beaucoup d' histoires de la guerre coloniale et de centaines de photos, de 1965 à 1974.
J'ai découvert l' I.N.A. et les films que vous avez de cette període. J'ai dejá acheté la plupart de vôtres films et nous vous prions votre pérmis de linker l' I.N.A. à notre blog, bien comme votre authorisation pour obtenir des photos des films a fin de les publier dans le blog.
Nous remercions beaucoup votre attention et nous ne pouvons pas oublier l'inestimable contribut de l' Institut National de l' Audiovisuel pour documenter cette période de la colonisation en Afrique.
V. Briote
4. Resposta do INA, com data de 10 de Dezembro de 2006:
Subject: Votre demande de contact sur ina.fr a été prise en compte
Bonjour,
Nous avons bien reçu votre demande et nous vous confirmons sa prise en compte.
Nos équipes mettent tout en œuvre pour vous apporter une réponse dans les meilleurs délais.
A respota do INA veio-nos no dia 14 de Dezembro, autorizando-nos a inserir um link para o sítio francês, mas não a disponiblizar qualquer vídeo do INA no nosso blogue...
Cher monsieur Briote,
Nous vous remercions de l'intérêt que vous portez à nos archives, nous nous réjouissons que vous ayiez pu retrouver des documents qui vous tenaient à coeur.
Vous pouvez bien entendu faire un lien (link) vers les documents qui vous intéressent depuis votre blog. En revanche, pour l'instant, vous ne pouvez pas proposer la vidéo directement sur votre blog.
Pourriez-vous nous envoyer l'adresse de votre blog ? Merci encore pour vos encouragements.
Cordialement,
Nadine Laubacher
Ina.fr - responsable marketing et commercial
5. A minha mensagem ao Virginio, enviada a
Óptimo, querido amigo... Podemos fazer links e fazer uma pequena apresentação em português (para quem tiver mais dificuldade em compreender o francês, o que deve ser a grande maioria)…
Já tenho um texto de apresentação sobre o vídeo de Copá (+/- 12m), com uma tradução quase literal... Se quiseres partilhar esta tarefa comigo, seria óptimo... Ou melhor: vou abrir uma série sobre vídeos, a teu cargo...Serás o apresentador oficial destes vídeos, já que foste tu que descobriste a fonte e pagaste para os visionar... Concordas ?
Já mandaste ao INA a URL (o endereço) dos nossos blogues ? Já percebi que eles também estão interessados nos nossos materiais (...).
6. Finalmente, recebo luz verde do Virg+inio (5 de Janeiro de 2007):
Caro Luís,
Estive a dar uma vista de olhos pelos filmes e fiz um pequeno resumo que te envio em anexo. Não deve estar perfeito, mas penso que o essencial está lá. Se quiseres um resumo mais pormenorizado, depressa se faz.
Entretanto e para ficarmos com uma visão mais alargada comprei ao INA todos os documentos que eles têm da guerra da Guiné. Enviei também um mail à RTP, pedindo informações sobre a possibilidade de aquisição de filmes daquele tempo. E, depois, fazer depois um dvd com os aspectos mais relevantes.
Um ano feliz para o foranada. E um abraço para ti,
vb
LE GRAND JOUR (depois do 25/4) (cerca de 12 m).
António Borges fala à população.“Somos, enfim Livres”!
Termina com vivas ao PAIGC e a Portugal. Manuel Santos, Manecas fala do programa do Partido, do combate contra o tribalismo. Imagens de guerrilheiros em formatura.- Imagens de Copa (leste) abandonada pelas NT.- Manuel Batoréo, jornalista português conversa com Manecas. Guerrilheiros em difícil progressão no terreno lodoso. Armazéns do Povo em funcionamento, escola. "Regime nacionalista, democrático, é o que queremos”, diz Manecas.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.