Poema, envidao em 8 de Jukho último, dedicado aos ex-Combatentes, em especial aos da Guiné, com cumprimentos amigos do PIRA de Mansoa, o Magalhães Ribeirio, autor do Cancioneiro de Mansoa.
O COMBATENTE.
por Magalhães Ribeiro
Aquém ou Além... em Terra, na Água ou no Ar
Onde a sua amada Pátria lho requer...
Com um congénito, raro e intrépido senso
Que deram pelo nome de cumprimento do dever...
Arraigado pelo Povo, pela Bandeira, pela Pátria,
Por sua Honra e por sua Dignificação,
Seja nas catacumbas das trincheiras em França ou
Nas insondáveis e místicas picadas d’África.
Nas veias um pleno de História deste Portugal,
De Heróis que rasgaram mares então medonhos,
E de bravos Guerreiros ousados e destemidos,
Que s’agigantaram na opulência das façanhas,
Cravando, pelo mundo, marcos de universal memória,
Selados, ad eternum, pelo sangue dos nossos Mortos...
Qu’isto é tal orgulho qu’extravaza a pena do poeta
Ali… onde o azar canta, a sorte se devaneia delirante,
E as brisas empestam a doce acre da pólvora queimada
Onde as noites são infindas, os dias por demais longos
E as insónias provocam o êxtase do irreal;
Onde infernizam quer a chuva quer o calor ardente
E a lama e o suor se mesclam com o sarro e os parasitas;
Onde tudo definha entre laivos de pesadelo e loucura,
E o estridente som das bombardas petrifica;
Onde o sibilar dos estilhaços e das balas buscam as carnes,
E em salpicos e retalhos as vidas se esvaem;
Onde o pensamento mesmo que escasso bloqueia,
E o terror e a agonia dobram o aço mais duro;
Onde o Apocalipse assenta arraiais Dantescos,
Com tais cenários que Maquiavel abominaria o repasto;
Onde se fere, se mata, a morte baila sobre a barbárie
E as filosofias s’anulam na tragédia e no drama,
Tão tremendo que só um irmão d’armas o interpreta
Nos seus medos, nos seus rasgos, no seu íntimo...
Nos seus anseios, nos seus projectos, nas suas migalhas
Está um Ser... um Sobrevivente... um Lutador,
Um Sonhador... um Senhor... um Herói...
Um Patriota... uma Excelência… Um Português...
Um Combatente!
Magalhães Ribeiro
____________
Nota de L.G.:
(1) Vd. posts de:
1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVI: Cancioneiro de Mansoa (1): o esplendor de Portugal (Magalhães Ribeiro)
1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVII: Cancioneiro de Mansoa (2): Guiné, do Cumeré a Brá
7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVI: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira...
10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIV: Cancioneiro de Mansoa (4): a arte de ser 'ranger'
1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDIX: Cancioneiro de Mansoa (5): Para além do paludismo
19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas
15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra
31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª
3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P837: Cancioneiro de Mansoa (9): A mais alta de todas as traições
25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1698: Cancioneiro de Mansoa (10): O 25 de Abril, a Barragem de Castelo de Bode e a descoberta da palavra solidariedade
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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