quarta-feira, 23 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18667: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte I: o parto de Helga Reis, em Ponta Consolação, em 6 de janeiro de 1971


Guiné > Região Cacheu > Bula > Ponta Consolação >  CCAV 2639 (1969/71) > 6 de janeiro de 1971 > O fur mil cav Antónioo Ramalho, com o 1º cabo aux enf do seu pelotão, ajudam a vir ao mundo    Helga Reis.



António Ramalho, hoje---


... e ontem

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem omplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Mensagem, com data de 30 de abril último, de António Ramalho, ex-fur mil at cav, 
CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), membro da Tabanca Grande, nº 757, natural de Vila Fernando, Elvas (*):

Caro Luís Graça, boa noite:

Continuo a visitar o nosso blogue que considero fantástico em todos os seus aspectos desde o gráfico até aos seus conteúdos.

Não tive oportunidade de ter ido a Algés conhecer-vos, só conheço o Mário Fitas, e a Monte Real também é impossível já que nos fins de semana de 5 e 12 de Maio terei que estar no Alentejo.

Encarei os meus vinte e dois meses na Guiné com a determinação para aquilo que tínhamos sido preparados sem contudo nos armarmos em heróis, fomos 150 viemos 150, felizmente.

Além do enorme lote de operações que nos foram distribuídas, umas em conjunto outras solitárias, as coisas não correram mal!

Além disso reordenámos três zonas de Tabancas entre Bula e Binar.

As fotos que envio são da parte light da nossa missão, uma delas é a do momento mais alto da minha comissão, o nascimento da Helga [Reis], a outra não vale a pena recordar! (**)

Publicá-las será uma questão que deixo ao vosso livre critério, é a contribuição que posso oferecer.
Um forte abraço e até a um almocinho aqui para a zona de Lisboa ou arredores.

Subscrevo-me com estima​,

António Fernando Rouqueiro Ramalho

__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de outubro de 2017 >  Guiné 61/74 - P17888: Tabanca Grande (450): António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas, e novo membro da Tabanca Grande, com o nº 757... Faz parte da Associação de Alunos da Universidade Sénior de Vila Franca de Xira.

(**) Vd poste de 15 de outubro de 2017 Guiné 61/74 - P17864: O nosso livro de visitas (194): António Fernando Rouqueiro Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)....Será possível saber do paradeiro da menina Helga dos Reis que eu e o cabo enfermeiro do meu pelotão ajudámos a vir ao mundo, em 6 de janeiro de 1971, na tabanca de Ponta Consolação (Nhinte) ? A estar viva, terá hoje 46 anos 


(...) Fiz parte da CCAV 2639 (independente de qualquer Batalhão, sob o comando do Com-Chefe) desde outubro de 1969 até setembro de 1971, na zona de Bula, Binar, Bissorã (Bissum), substituída pela CCAV 3420, comandada pelo cap cav Salgueiro Maia [Bula, 1971/73].

Já fui convidado para lá voltar, o que recusei pois não quero presenciar a destruição de tudo aquilo que fizemos em prol das populações, nossos compatriotas na altura.

Além da parte operacional, fizemos o reordenamento das tabancas de Capunga, Pete e Ponta Consolação (Nhinte). Nesta última assisti ao parto, acompanhado pelo cabo enfermeiro do meu Pelotão, no dia 6 de  janeiro de 1971, de uma menina que logo a batizámos como Helga dos Reis.
A tabanca era chefiada por um cidadão chamado Eusébio. Esta menina terá hoje 46 anos, será possível saber do seu paradeiro, estará em Portugal? (...)

9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, cdesculpa o atraso na publicação das tuas fotos... Dizes que esta foi a parte "light" da tua missão... Mas deixa-me acrescentar: "nobre"!... Nenhum de nós foi preparado para assistir a partos ou sequer prestar cuidados de saúde pública, muito menos de saúde materno-infantal... As nossas mães pariam sozinhas, em casa, no Portugal de Salazar e Caetano... E os gajos que nos deram instrução sabiam lá onde é que era Ponta Consolação!...

Como é que se chamaava o eti 1º cabo aux enf ? Por onde para ? Espero que esteja vivo e que o possas trazer também para a Tabanca Grande...

Há dias estive na tua terra, e almocei na Taberna do Adro, de que sou fã... Já lá fui umas três ou quatro vezes... Comi e bebi divinalmente. A senhora é prima do Mário Fitas, de quem falei... Não me lembrei de ti, peço desculpa... Para a próxima, já tenho mais assunto para falar com ela... Trouxe um livrinho com a história de Vila Fernando...

http://tabernadoadro.blogspot.pt/


Um quebra-costelas do Luís Graça

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Infelizmente, continuamos sem notícias do paradeiro da Helga... O Carlos Fortunato, da ONGD Ajuda Amiga, e nosso grã-tabanqueiro, costuma ir todos os anos a Bissorá... Estava lá no nosso tempo, na CCAÇ 13... Pode ser que nos dê uma "ajudinha"... Mas subsiste a dúvida: será que a Helga conseguiu sobreviver e ultrapassar os 5 anos ?...

Tenhamos esperanaç,o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

Saudações!... LG

Unknown disse...

Caro Luís Graça e demais camaradas da Tabanca Grande.
O 1º cabo enfermeiro era o Henrique (O Comprimidos)que julgo já ter falecido. em casa enquanto tomava banho.
O Carlos Garcia poderá confirmar.

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Muitos de nós fomos enfermeiros, médicos e até parteiros, à força, sobretudo no mato, quando destacados em Tabancas em autodefesa, isoladas, loge dos nossos aquartelamentos, ou quando íamos à boleia no helo para Bissau, com uma grávida ao lado.

Poucos tiveram, no entanto, a coragem de dizer que esse foi um momento alto das suas vidas na Guiné. Como se assistir a um parto de emergência fosse algo que teríamos que esconder dos outros...

Parabéns, Antônio.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já agora, António, diz-nos: (i) porquê o nome, Helga ?; e o apelido, Reis ?...A mãe era balanta, manjaca... ? E o pai ?


Deculpa a nossa "natural" curiosidade... LG

Anónimo disse...

António Ramalho
23 mai 2018 10:43

Caro Luís Graça bom dia.

Espero que um dia nos possamos encontrar na Taberna do Adro, a Maria José também é minha prima!

Como sabes nas aldeias somos quase todos parentes, por afinidades ancestrais!

Todavia tudo farei para comparecer num almocinho para estas bandas de Lisboa.

Esse médico com o meu apelido não é meu parente, o apelido Ramalho começou no meu avô, passou pelo meu pai e termina em mim, pois tenho três filhas, por sinal uma delas é médica na USF de Vialonga.

Já respondi no blogue sobre o 1º Cabo enfermeiro do meu Pelotão.

Um fortíssimo quebra-costelas

António Fernando Rouqueiro Ramalho

A. Murta disse...

Caríssimo camarada António Ramalho.

São muito belas e têm muita ternura os tuas fotografias. Espero que envies mais para conhecermos melhor "a tua guerra". Mas deixo uma sugestão: evita legendar por cima das imagens. Isso tira um pouco de magia àqueles momentos tão especiais por, mesmo inconscientemente, fazermos analogia com os cartazes. É só uma sugestão e peço desculpa pelo atrevimento.

Com um grande abraço e muita estima
(deste olho crítico cruel!...)

António Murta.

A. Murta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Teixeira disse...

Felizmente aconteceram mais momentos destes. Eu tive a imensa felicidade de ser chamado alta madrugada para ajudar uma mãe, por sinal, minha amiga a parir o seu segundo filho. O primeiro era a minha Maimuna a quem dediquei um dos primeiros poemas que escrevi.

No meu Diário escrevi:

"Setembro 1968 / Mampatá / 25
Como é belo sentir nas próprias mãos o pulsar de um coração novo que acaba de vir ao mundo. Um corpo pequenino, branco como a neve, puro como os anjos e no entanto, este corpo vai crescer, a pouco e pouco a natureza encarregar-se-à de o tornar negro como os seus progenitores, negro como os seus irmãos que hoje não cabiam em si de contentes. É puro como os anjos, a sua alma está imaculada, mas virá o tempo em que conhecerá o pecado, terá de escolher entre o bem e o mal.
Um novo ser que ri e chora. Um novo ser que é feliz porque não sente, não houve o troar das armas, não foge para o abrigo aterrorizado, não se deita no chão para fugir às balas assassinas e traiçoeiras. Vai com os outros e se morrer ?... não conhece, não sente, não ama...
Ontem fui chamado para assistir a uma mulher que estava a ter uma criança e se sentia muito mal. Assisti-a o melhor que pude. Mãe e filho estão bem."

Creio que este texto escrito na manhã seguinte expressa bem a minha felicidade. Foi sem dúvida o momento mais alto da minha vida, a par dos momentos em que senti que a minha ação como enfermeiro, feito "às três pancadas", salvaram vidas e ainda foram alguns.

Abraços
José Teixeira