domingo, 14 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22004: Blogpoesia (724): "Pelas esquinas das vielas"; "Sacadas de flores"; "Mar das imperfeições" e "Os lampiões das vielas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Pelas esquinas das vielas

Há surpresas a cada hora, pelas esquinas das vielas.
Enlaces e desenlaces.
Despedidas mui sofridas.
O mar se interpõe.
As ausências que se impôem.
Sabe-se lá até quando.
Os mares se interpõem implacáveis.
Pelo destino e pela fortuna.
É a sina que a sorte lhes traçou.
Ser marujo.
Já o foram os seus avós.


Berlim, 7 de Março de 2021m
Jlmg


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Sacadas de flores

São jardins pendentes
As varandas das casas da cidade.
São sonho dum jardim
Com terra e húmus.
Ficaram desertos na sua aldeia.
Luta da sobrevivência
Arranca cruelmente
Quem quer ganhar o pão
E vencer a vida.
Mas o coração ali fica preso
E nunca esquece.
Uma lei cruel.
Que só a injustiça dita alheadamente
E não repõe.


Berlim, 8 de Março de 2021
11h59m
Jlmg


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Mar das imperfeições

Vivemos mergulhados no mar das imperfeições.
Desde logo, é com dor de parto que todos nascemos.
Depois, a tarefa ingente de nos adaptar-nos às coisas deste mundo.
A saber falar com ele. Interpretar os seus caprichos.
A variação do tempo.
Ora chove ora faz sol.
Entendermo-nos uns aos outros.
Complicadas e variadas são as formas do falar.
Essa coisa de sermos homem ou mulher.
Os laços que nos prendem, desde a nascença.
Aos pais e aos mais próximos.
E aquele sentimento indefinido, que germina dentro de nós
E nos leva a amar quem nos quer bem.
Tudo são as faces inúmeras deste poliedro
Que é o enigma desta vida.
Fomos uns privilegiados.
Seríamos muito ingratos se a não soubéssemos aproveitar.


Ouvindo Albinoni

Berlim, 12 de Março de 2021
8h36m
Jlmg


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Os lampiões das vielas

Se acendem à noitinha e iluminam as madrugadas.
Com lua e sem sol, clareiam as ruelas.
Como faunos pelos bosques,
Vagueiam os ladrões.
Aparecem pelas esquinas.
Não são do bem suas facadas.
Grande risco andar nas ruas.
Só arrisca quem o quiser.
Vai longe o tempo em que se andava à vontade.
Era o respeito quem reinava...


Berlim, 10 de Março de 2021
14h47m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21977: Blogpoesia (723): "Atalhos da vida"; "Miam os gatos pelas ruelas"; "Melodias do Mondego" e "Lampiões das madrugadas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

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