segunda-feira, 15 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22009: Notas de leitura (1347): "A Batalha do Quitafine", por José Francisco Nico; edição de autor, 2020 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2021:

Queridos amigos,
 
O livro do General José Francisco Nico relata o conjunto de missões que conduziram ao aniquilamento da artilharia antiaérea do PAIGC na península de Quitafine. O autor aparece munido de credenciada documentação e testemunhos apropriados. A descrição de tudo quanto vai acontecer em 1968, ficará para o próximo texto. 

O General Nico não se circunscreve à problemática da Força Aérea, tece juízos negativos ao modo como se pôs termo à guerra colonial e aos consequentes atropelos à dignidade humana ocorridos na descolonização. Talvez mal informado quanto ao modo como se conduzia a guerra no solo, tece considerações quanto à presença do PAIGC em bases, e fala no título da própria obra na fantasia das áreas libertadas. 

Bem documentado sobre o que se passa na Força Aérea, talvez não tenha tido tempo para ler a Resenha das Campanhas de África, edição do Estado-Maior do Exército, no que tange à Guiné, quando a ler ficará seguramente surpreendido, pois além dos abastecimentos provindos da Guiné Conacri e do Senegal havia bases que podiam ser destruídas num dia e eram reconstruídas noutro, faz parte da essência das guerras de guerrilha, a generalidade da população aceitava esta dolorosíssima guerra do jogo, como ficou comprovado.
 
É a permanente tendência de confundir a nuvem com Juno, a árvore com a floresta.

Um abraço do
Mário



Memórias da destruição da artilharia antiaérea do PAIGC, na península do Quitafine (1)

Mário Beja Santos

Trata-se de uma edição de autor, a segunda, com data de novembro de 2020. Esta obra do Tenente-General Piloto-Aviador José Francisco Fernandes Nico encerra volumosas considerações sobre estratégia político-militar de guerrilha e contraguerrilha, tece considerações altamente críticas sobre os acontecimentos do 25 de Abril e o processo da descolonização e dá-nos um quadro das diferentes operações que decorreram entre outubro de 1967 e janeiro de 1970 que levaram à eliminação sistemática da artilharia antiaérea do PAIGC pela Esquadra 121 do Grupo Operacional 1201. 

O autor observa na introdução que ainda se verificaram episódios isolados do emprego deste tipo de artilharia, passados em Gandembel (28 de julho de 1968) no ataque a Ganturé (6 de janeiro de 1969) e em Sare Morso (1 de julho de 1970), referindo que depois deste último episódio não se verificaram novas ocorrências até ao aparecimento, em março de 1973, dos mísseis Strela-2.



Inicia o seu livro com o que ele chama confronto de assimetrias, no caso o isolamento político português que não aceitava negociações com os movimentos de libertação e as vantagens que o PAIGC detinha dada a natureza dos apoios que recebia. Em muitas das suas declarações o autor está próximo das tomadas de posição sustentadas pelo regime de Salazar e Caetano, diz abertamente que Portugal tinha uma visão para o futuro dos seus territórios que passava por uma comunidade multirracial alicerçada numa interação histórica. 

Não esquece de mencionar que havia portugueses aliados dos movimentos de libertação, o MFA era liderado por oficiais com ligações aos movimentos oposicionistas e, em particular, com ligações ao PCP. Nunca se compromete com o que teria sido um desfecho promissor para as independências das colónias, apresenta explicações miríficas, que talvez tivessem cabimento no caso de não ter havido, como houve, uma escalada sem retorno nos conflitos bélicos, de tal modo, como hoje é sabido por documentação publicada nos últimos anos, que o próprio Marcelo Caetano passou os últimos meses a procurar soluções de autodeterminação para Angola e Moçambique e mandou secretamente também, encetar conversações com o PAIGC para se encontrar um cessar-fogo. 

Toda esta situação de descalabro não merece nenhum comentário ao autor, mas formula um juízo sentenciador:

“Quando se conclui que a estratégia seguida numa guerra deixou de ter condições de sucesso, e a derrota se apresenta inevitável, é mandatório a adoção de uma outra com novos objetivos, mas que continue a defender, tanto quanto possível, o interesse nacional. A cedências total aos adversários, sem ouvir ou considerar as populações dos territórios, não foi outra estratégia, mas uma derrota perante as exigências dos oponentes. Uma nova estratégia teria que assumir a descolonização perante a ONU, para neutralizar a justificação da guerra, e uma continuação da contenção militar do inimigo direto que viesse a permitir um acordo realmente negociado”.

Mirífica proposta, basta recordar que a direção do PAIGC estava pressionada pelos movimentos congéneres de Angola e Moçambique para obter rapidamente o reconhecimento da independência, para não haver recuos, e se o novo governo português obstaculizasse se intensificasse a guerra na Guiné, o que já não era plausível, a partir de junho de 1974 encetaram-se conversações que marcaram o recuo das posições portuguesas, as nossas tropas declaradamente depuseram as armas, enquanto a população recebia os guerrilheiros com sinais de entusiasmo. 

Tudo isso está demonstrado, era impensável instituir qualquer outra estratégia, como a do referendo, Spínola bem ensaiou essa movimentação, pronto o PAIGC ameaçou com a continuação da guerra, seria o descalabro.

O autor faz referências aos primeiros anos da defesa antiaérea do PAIGC, elenca as baixas em voo havidas, o que se chama artilharia antiaérea é uma expressão que só ganha verdadeiramente conteúdo de 1966 para 1967, o apoio técnico-militar cubano revelou-se fulcral, em meados de 1966 o avião G-91 passou a fazer parte das operações, dando-lhes uma maior proteção. 

Obviamente que o autor nos faz compreender as razões da escolha da península de Quitafine, para a implantação da artilharia antiaérea e para o uso do slogan de área libertada. Um tanto à revelia do assunto, e porventura para demonstrar à saciedade que as áreas libertadas eram uma pura mistificação propagandística, refere que os ataques provinham de grupos que vinham do exterior e que para o exterior retiravam. 

Há aqui manifesta falta de cuidado na leitura dos relatórios militares. Creio que as edições do Estado-Maior do Exército sobre as campanhas de África, caso vertente da Guiné, são eloquentes quanto à permanência de bases flexíveis nas proximidades de muitíssimos destacamentos. Não falo só do que vivi, tinha a cerca de 20 quilómetros do meu principal destacamento Madina e Belel, no Cuor, estava rigorosamente proibido de me afoitar até ali com um pelotão, todos os anos havia uma operação à região, habitualmente mal sucedida, havia população que cultivava os terrenos e contatos estavam estabelecidos com a população civil, aparentemente sobre a nossa direta custódia, ainda hoje não se fez um estudo que nos desse uma ideia do que era verdadeiramente o duplo controlo. 

Recorde-se o Xime ou o Xitole ou Mansambo, no setor de Bambadinca: patrulhamentos, colunas de abastecimento, emboscadas e de vez em quando uma operação. O PAIGC estava de pedra e cal no regulado do Xime no Burontoni, Ponta do Inglês, Ponta Luís Dias, Tabacutá, Mina, Galo Corubal. 

Depois do 25 de Abril, o Brigadeiro Hélio Felgas, que foi Comandante do Agrupamento de Bafatá, e responsável pela Operação Lança Afiada, que movimentou um bom número de companhias durante doze dias se esfalfaram em toda esta região do Xime, Mansambo e Xitole, encontraram uns velhinhos e uns carregadores, obviamente que ninguém esteve interessado no contato direto, regressaram nas calmas, teceu um comentário sobre a natureza da guerra de guerrilhas, alegando que era manifestamente impossível perante gente ideologicamente firme, e com um elevado sentido de organização da população civil, pondo em causa a estratégia deste tipo de operações de bate e foge. Foi o que aconteceu, do princípio ao fim da guerra.

Voltemos à artilharia antiaérea, o autor fala-nos das munições usadas pelos equipamentos do PAIGC (munições tracejantes), casos de deteção, contextualiza a eficácia do poder aéreo na Guiné, como se foi descobrindo a guerrilha antiaérea, a tática usada pela guerrilha para passar despercebida durante os voos de reconhecimento e chegamos aos primeiros meses das operações. É referenciada uma operação abortada, a operação Apocalipse, que o Coronel Krus Abecassis, então Comandante da Zona Aérea em 1966, delineou e que foi rejeitada pelo os seus oficiais, entendia-se que o risco era demasiado elevado. 

É nesse ano que a tática antiaérea se alterou radicalmente com a chegada das antiaéreas fixas, bem ilustrada na obra e até a sua localização, dá-se conta da capacidade desta contraguerrilha antiaérea e regista-se o seu posicionamento. E em março de 1968 começa a missão que conduzirá ao seu aniquilamento.

(continua)

Imagem de um Fiat G-91, extraída do livro Portugal’s Guerrilla Wars in Africa: Lisbon’s Three Wars in Angola, Mozambique and Portuguese Guinea, 1961-74, por Al J. Venter, Edições Helion & Company Limited, 2013, livro acessível em pdf  aqui.

Metralhadora pesada ZPU-4, extraída do trabalho A Guerra das Antiaéreas na Guiné (1965/1970), por José Matos, acessível em https://www.revistamilitar.pt/artigo/1355.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 15 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22008: Notas de leitura (1346): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte III: Rui Angel, aliás, Pedro Rodriguez Peralta, capitão do exército cubano, o mais famoso prisioneiro da guerra colonial... Aqui tratado com humor desconcertante (e humanidade) (Luís Graça)

18 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, a "permanente tendência de confundir a nuvem com juno, a árvore e floresta, também se aplica a quem está em terra e não vê para além da floresta!
Carlos Gaspar

Anónimo disse...

... ao editor:
A imagem acima reproduzida...
https://1.bp.blogspot.com/-4lEMLZ_o-z8/YE-1egcmwdI/AAAAAAABrOY/qEG7k7tv89oUPK3iI4OMAXJGWKddvGonACLcBGAsYHQ/Gen%2BNico.jpg

... tem autoria, aqui >
http://ultramar.terraweb.biz/06livros_JoseNico.htm

(JCAS)

antonio graca de abreu disse...

O testemunho honesto do general José Nico não chega para o entendimento do Mário Beja Santos que, putativo especialista na matéria da nossa guerra na Guiné, defende há mais de dez anos aqui neste blogue a tese da superioridade militar do PAIGC e da derrota no9 terreno das Nossas Tropas, antes de 25 de Abril, uma tese falsa como Judas. Mas se não houve derrota militar, também é evidente que não íamos ganhar aquela guerra. A solução era política.Como veio a acontecer.
Mostra-se uma vez mais, em Mário Beja Santos a "permanente tendência de confundir a nuvem com Juno, a árvore com a floresta." Há quem goste.
Abraço,

António Graça de Abreu

Luís Dias disse...


A ZPU apresentada na foto não é uma ZPU-4, mas sim uma ZPU-2. A metralhadora pesada Vladimirov, desenvolvida na URSS em 1944, apresentada em 1949, no calibre 14,5x114mm, era conhecida pela designação KPV e quando montada em bateria antiaérea designava-se ZPU. Consoante o número de canos que apresentava tomava essa designação. Assim as variantes eram a ZPU-1, a ZPU-2 e a célebre ZPU-4. Existiam ainda as versões para carro de combate KPVT e para a Marinha de Guerra a MTPU.
Com os melhores cumprimentos

Luís Dias

Valdemar Silva disse...

Vamos esperar pela continuação.

Valdemar Queiroz

Mário Santos disse...

É óbvio que o camarada Beja Santos, não conhece o carácter, espírito de missão, competência e motivação do Gen. Pil. /Av. - José Fernandes Nico.
Sem isso, não conseguirá perceber que o livro é um registo histórico, de parte da nossa acção global, enquadrado por uma apreciação estratégica liberta dos dogmas ideológicos oportunistas, que têm cilindrado a justificação da defesa militar da Nação que conhecemos até 1974.
O ataque militar de que fomos alvo concretizou-se através das acções de guerrilha dos movimentos de libertação, todos eles sustentados, armados e treinados por potências que nos quiseram impor os seus interesses.
Se não tivéssemos sido atacados e derrotados não posso deixar de pensar no potencial que hoje teria essa enorme e diversificada Nação implantada em diversos continentes e possuidora de capacidades que  podiam ter alterado significativamente a qualidade de vida de todos os seus povos, a começar pela Guiné-Bissau.
Era isso que as políticas ultramarinas portuguesas de integração e inclusão apontavam e hoje é fácil perceber que teriam sido a melhor solução para todos.
Mirificamente, talvez nos consiga explicar, porque razão a Guiné - Bissau,  passado quase meio século, continua a ser um não-Estado e Angola e Moçambique, o que todos conhecemos....

Valdemar Silva disse...

Mário Santos disse
'...no potencial que hoje teria essa enorme e diversificada Nação implantada em diversos continentes...'
Esta ideia é extraordinária e ninguém se tinha lembrada dela, ninguém, obviamente, de nós comuns mortais, já quanto aos apolíticos que se importavam de tomar proveito das circunstâncias com toda a certeza que pensaram nisso, e como é que haveriam de arranjar uma força militar para manter a defesa de tão grande, diversificada, poderosa e rica Nação.
Realmente!

Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Até me esqueci de incluir nesta ideia extraordinária, o comentário de um dos leitores anónimos do livro "A Batalha do Quitafine", que está na linha de pensamento do Mário Santos com o '...também acreditar que Portugal, como exemplo para o Mundo, podia ter sido um Pátria multirracial, multicultural e multicontinental.... Coronel do Exército Ref. Combatente na Guiné'

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Valdemar Queiroz, sem querer entrar em polémicas, partilho da opinião do Mário Santos e estou de acordo com o pensamento e a obra do General Nico e não é por uma questão de corporativismo.Mas sim pela frontalidade com que escrevem e emitem o seu (deles) pensamento.

Quando escreves "como é que haveriam de arranjar uma força militar para manter uma defesa...Olha vê o que se tem passado agora.Comando e paraquedistas em àfrica, Marinha na Guiné Força Aérea no mediterrânio e países que pertenceram ao bloco de leste.E isto sem termos nada a ver com isso em minha opinião.Eu sei que ao abrigo de...não sei quê...as balelas diplomáticas etc...

Mas ainda não me esqueci da célebre frase "nem mais um soldado para as colónias" ditadas por algumas cabeças pensantes na época e que depois já em lugares no estado mexeram os "cordelinhos" para modificar a constituição para mandarmos tropas para fora ( e não vou dizer nomes para não suscitar susceptibilidades).

E enquanto não mandaram tropas para foram foram a GNR para o Iraque e a PSP para a bosnia.

Enfim como dizia o Luis o de Camões" mudam os tempos mudam-se as vontades.E vais ver que com um bocadinho de sorte vamos estar em Moçambique, vamos isto é vão eles.

Carlos Gaspar

Valdemar Silva disse...

Ó Carlos Gaspar, percebeste bem o que eu escrevi e estás a entreter a bola junto da marca de pontapé de canto.
Queres comparar vinte militares, GNR ou PSP que integram agora estas forças com um exército de muitos milhares de homens. Atenta no número decrescente de recenseados em cerca de 20% a menos a partir de 1969. Só se se imitasse os nazis do final da guerra com um exército dos geriátricos da LP e de putos da MP.
A opinião do Mário Santos e outras anónimas ou heterónimas são dum argumento de ficção de novela "O nosso querido Portugal do Minho a Timor" com um grande cunho político do tempo da outra senhora, que agora está na moda da política populista. Isto sim é que é politica oportunista, disfarçada de apolítica patriótica, contrapondo-se à realidade dos acontecimentos e à trajetória histórica dos povos.
O que seria os berberes muçulmanos, e até há movimentos acesos, que colonizaram e desenvolveram em conjunto com uns naturais durante 400 anos no nosso território, depois corridos à espadeirada, lançarem em Marraquexe uma novela "min algharif'iilaa mundighu lm takun'ard alburtughliiyn".

Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Rectifico
"min algharif'iilaa mundighu lm yakun'ard alburtughaliiyn"

Valdemar Queiroz

A. Murta disse...

"E caso seja um artigo do camarada Mário Beja Santos...",
vem logo o "morde-canelas" do costume ( não refiro o nome para não suscitar susceptibilidades), e dá mais uma ferroada em termos inqualificáveis e por demais conhecidos. No mínimo, desrespeita logo o artigo primeiro das regras de edição do Blogue, que é, precisamente, a falta de respeito etc., etc.
E ninguém abre o bico!
Até o Luís Graça se coíbe de vir aqui relembrar as referidas regras, como ainda agora fez num Poste anterior (creio).

António Murta.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António Murta, eu entendo a tua indignação... Mas eu não sou o "dono do blogue" nem a "voz do blogue"... O blogue é de todos nós (autores, comentadores, leitores, editores, colaboradores permanenentes...). Ou devia ser...

Intervenções como a tua são sempre bem vindas!... E desejáveis. Às vezes temos que chamar os bois pelos cornos. Mas é bom lembrar que os comentários neste blogue (87 mil até à data publicado sem o SPAM que o "Blogger" felizmente não deixa passar, devido ao mecanismo de traigem...) não têm "moderador", e muito menos "censor-mor"...o que é um caso raro, em blogues como este, lido e comentado por filhos de muitas mães...

Não me peçam para vir, a toda hora, com o lápis azul da censura...Já me bastou viver quase um 1/3 da minha vida em ditadura... Por outro lado, já dedico, dedicamos ao blogue, eu e o incansável Carlos Vinhal, demasiado tempo da minha, das nossas vidas...

Da minha parte prometo estar mais atento a comentários ofensivos e sobretudo do tipo "ciberbullying" que na nossa legislação estão abrangidos pelo Código Penal, podendo dar penas de prisão até cinco anos.

Afinal , somos todos nós que temos a obrigação de manter a Tabanca Grande como um lugar seguro, saudável e aprazível para se estar e conviver, mesmo à distância...de um clique.



antonio graça de abreu disse...

Oh, meu caro Luís Graça, dizes "Da minha parte prometo estar mais atento a comentários ofensivos e sobretudo do tipo "ciberbullying" que na nossa legislação estão abrangidos pelo Código Penal, podendo dar penas de prisão até cinco anos."
Que susto! Divergências sobre a natureza e a essência da história da nossa guerra na Guiné e e levas com cinco anos de prisão. Nem nos tempos da PIDE se foi tão longe.

Abraço,

Antonio Graça de Abreu

antonio graça de abreu disse...

À atenção do camarada Murta,e outros camaradas, retiro de um texto de um poeta e crítico literário,um homem de esquerda, António Cabrita, ontem,18 de Março, no jornal Hoje Macau:

"Muita da violência cega que reveste o furor identitário que hoje nos invade, à boleia do “politicamente correcto”, camufla dois factores: uma propensão para o vitimismo (acompanhada do complementar “remorso do homem branco”), e a auto-flageladora percepção emocional (nem sempre consciente) com que essas comunidades minoritárias (na Europa) sentem haver sido historicamente submetidas a uma ofensa irreparável."

E mais:

"O cobrador pode ser aquele personagem de um conto do Rubem Fonseca, que apanhou à má fila uma metralhadora na favela e desce do morro aos bairros dos grã-finos, “cobrando” à esquerda e à direita."

Abraço,

António Graça de Abreu

Mário Santos disse...

Caros amigos.
Recebi do Sr. Tenente General Pil./ Av. José Fernandes Nico, o seguinte texto, relativo a alguns comentários sobre o " livro A Batalha do Quitafine".
Esclareço, que por não ser membro do Blogue, o Sr. General, delegou em mim este procedimento, que publico na íntegra.

Abraço.
Mário Santos

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Caro Mário Santos

Fui imediatamente confirmar o que acabou de contar sobre a crítica que
apareceu no blogue do Luis Graça. Inicialmente fiquei desapontado não só
com o teor da crítica mas depois com alguns dos comentários que foram
acrescentados. Esta situação era inevitável a partir do momento em que o
livro foi tornado público, há já quase um ano.

Sei bem e aceito que cada um diga o que apetecer quanto à visão
estratégica que está reflectida no livro e que, como bem sabe, não só
diverge como é justificada pelos resultados do 25A. Espero é
razoabilidade e bom senso e, acima de tudo, que seja considerado o
interesse nacional que, à época, abarcava a nação que de facto se
estendia do Minho a Timor.

É pena que agora a discussão à volta da obra se centre no conteúdo da
crítica e não no conteúdo do livro. Duma penada a tese por mim defendida
foi substituída por uma crítica cuja abrangência é muito limitada e
ninguém parece aperceber-se disso. Era bom que as pessoas que se têm
estado a pronunciar lessem de facto o livro.

Por outro lado essa crítica do senhor Beija Santos deve ser pesada. Como
sabe recebi largas dezenas de comentários elogiosos de muitas pessoas
que leram o livro e que me quiseram transmitir a sua satisfação pelo
conteúdo da obra. Nestes termos a crítica feita agora tem um peso
relativo que só pode ser considerado diminuto.

No entanto surgiu um factor que tenho de considerar muito positivo. É
que, aparentemente, a polémica no blogue voltou a acelerar a venda do
livro. De ontem para hoje já recebi três novos pedidos de fornecimento
da obra.

Um grande abraço do seu amigo desde os tempos da Batalha do Quitafine

José Nico

Valdemar Silva disse...

Muito interessante e curioso.
Não esperando pela continuação das Notas de Leitura, de Beja Santos, sobre o livro "Batalha do Quifane", de José Francisco Nico, o autor resolveu delegar em Mário Santos, embora o pudesse ter feito em comentário ou directamente como em 3/11/2020-P21512 sem fazer parte do blogue, a comunicação dum curto comentário sobre este post.
Mas o curioso é ter sido através do nosso blogue e destas Notas de Leitura, do Beja Santos, e talvez a questão '...tido tempo para ler a Resenha das Campanhas de África, edição do Estado-Maior do Exército..' que fez com que vendesse mais uns livros, provavelmente por alguém querer confrontar a Resenha e o livro. Também é curioso verificar os vários comentários ao post serem mais em relação ao que escreve Mário Santos que ao conteúdo sobre o livro, exceptando a mítica menção da 'nação do Minho a Timor' por não se saber se devemos recuar até à conquista de Ceuta em 1415, se aos finais do século XVII, incluído o dote de D. Catarina de Bragança e a entrada de Timor, se ao Grito do Ipiranga ou até ao entusiasmo dos republicanos nos finais do século XIX.
Realmente Portugal teve possessões em todas as partes do mundo, desde o Lavrador, na América do Norte, ao Brasil e Sacramento na Américo do Sul, toda a África e costa Arábica, Ásia e Oceânia e se mais terra houvesse ...,, mas umas de curta ocupação, outras devido concessões, perdas ou abandono, outras devido a dotes e tratados chegou-se quase ao fim da monarquia com os republicanos apressadamente a obrigar a ficar com o que restou, para aprendermos na escola e outros a imperiosamente aguentar até custar a vida de milhares da nossa geração.

Valdemar Queiroz

antonio graça de abreu disse...

Curioso,leio hoje no facebook,o comentário do nosso camarada, embaixador Francisco H. da Silva que diz não responder no blogue Luís Graça, por falta de tempo. Muito curioso, falta de tempo. Transcrevo:

"Há muitas questões que se levantam relativamente àquele território. Antes de tudo, não se me afigura que estivéssemos à beira de um colapso militar. Estávamos numa situação difícil, mas não impossível. O próprio general CEMGFA, Francisco da Costa Gomes, afirmou, em 1973, após uma visita à Guiné, que o território era defensável, mas que o dispositivo no terreno devia ser alterado, designadamente pelo recuo dos aquartelamentos (ou seja, da tropa de quadrícula) para o interior, garantindo uma terra de ninguém a uns 10-20 km da fronteira que permitiria uma intervenção mais intensa da Força Aérea e das tropas especiais, que se concentraria nessa faixa. Tratar-se-ia de uma “retracção do dispositivo” a que o general Spínola se opôs. A maior parte das nossas operações militares eram já levadas a cabo por tropa africana local, como se sabe.
A passagem a uma nova fase da luta em 1973-74, que deixava adivinhar por um lado o emprego de uma Força Aérea do PAIGC e, por outro, de blindados, ou seja, transitava-se da luta de guerrilhas subversiva para a guerra convencional. Ora, tais receios eram infundados e essas previsões totalmente disparatadas, senão delirantes. Mesmo que o PAIGC viesse a dispor de meios áereos, o que era irrealista ou, no mínimo, altamente duvidoso, não dispunha de pilotos nem de pessoal qualificado para o fazer e, numa situação de combate, quaisquer aviões que dispusese seriam facilmente abatidos pela nossa Força Aérea, mais adestrada, experiente e eficaz. O potencial emprego pelo PAIGC de blindados seria um absurdo, pois seriam alvos fáceis para a aviação e dificilmente poderiam manobrar num território com as características hidrográficas da Guiné.
Não é menos certo que na frente diplomática o PAIGC averbou algumas vitórias (visita ao Papa Paulo VI – 1970 -, declaração da “independência” na região de Béli – e não de Madina do Boé, como erradamente ainda se apregoa – , em 24 de Setembro de 1973, e reconhecimento internacional dessa “independência” por vários estados, sobretudo, comunistas e afro-asiáticos muito embora não fosse minimamente exercido o controlo do território). Como se sabe, o general Spínola entabulou negociações secretas com Leopold Senghor em Cap Skirring (Senegal), em 1970, que se revelaram inconclusivas. Mais. Numa segunda fase, o governo português estava diposto a negociar com o PAIGC e encetaram-se as conversações de Londres entre o embaixador Villas Boas e Vítor Saúde Maria (Março de 1974), que, porém, não tiveram sequência, devido à eclosão do 25 de Abril.
Estou a responder um pouco ao sabor da pena, mas quero apenas concluir dizendo que, em minha opinião, a guerra não estava perdida na Guiné, mas a situação era difícil; que, a prazo, teria de ser encontrada uma solução política e que a parte portuguesa, bem como o PAIGC procuravam encontrá-la.
A história faz-se com factos e não com narrativas ao sabor de cada um e de acordo com preconceitos ideológicos e político."

Um abraço,

António Graça de Abreu