sábado, 20 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22021: Recordações do meu avô Fernando Brito (1932-2014) (Cláudio Brito) - Parte I: Angola, Teixeira de Sousa, 20 de janeiro de 1964: "A Pátria são os seus filhos e eu também os tenho"





Angola >  Leste > Província do Moxico > Vila Teixeira de Sousa [, hoje Luau]  > 20 de Janeiro, 1964 > O então 2º Sargento Fernando Brito convivendo com população considerada "terrorista"


Fotos (e legenda): © Cláudio Brito (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso amigo e membro da Tabanca Grande, nº 697, Cláudio Brito, neto do falecido major SGE, Fernando Brito (1932-2014), que fez duas comissões na Guiné, como 1º srgt, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74) (*):



[Foto à esquerda: O Fernando Brito, com o neto, pouco antes de morrer]



Data - domingo, 7 mar 2021, 14:36

Assunto - Fotos do meu avô Fernando Brito  



Olá, Luís Graça, Espero que esteja bem.

Prometi-lhe há uns anos enviar uma parte do meu espólio fotográfico militar, mas no meio de 4 mudanças de casa, só agora as coisas estão a ser desempacotadas. Mando-lhe 4 fotos e um texto que, sendo da minha opinião, pode utilizar como bem lhe prouver no blogue.

Muita tinta tem corrido ultimamente fomentada pelo debate do que foi o racismo estrutural (ou é), se Portugal é ou não um país racista, se o nosso colonialismo e guerra colonial foram atos criminosos ou heróicos e se temos ou tivemos essas atitudes, na nossa História. Chega a um ponto que as falácias históricas e o discurso carregadinho de ideologia (Esquerda ou Direita) começa a fartar na sua forma de querer ver as coisas preto e branco e cansa ouvir um diálogo sobre adjetivado que, a par e passo, faz juízos de valor sobre situações que, de todo, os interveninentes do diálogo não viveram ou não compreendem ou não se debruçaram sobre o seu estudo.

A conclusão que tiro é simples: é fácil julgar o passado e fácil usar o passado como carne para canhão e arremesso político. O passado já foi, as pessoas já morreram ou estão a morrer ou não falam ou não querem falar e, por isso, chamá-los de "Heróis", "Criminosos", "Racistas", "Intelectuais", "Desertores", "Apátridas", "Fachos", "Traidores", etc, são chavões que eles aguentam bem. Mas a simples verosimilhança de tal está longe de ser comprovada no preto e branco dessas palavras.

Deixo-vos quatro fotografias: Angola, Teixeira de Sousa, 1964, onde o meu avô, um simples 2º Sargento na altura, deleitava-se com um banho e abraçava as crianças do "inimigo" como se suas fossem. (Qual inimigo? Grupos marionetas numa Guerra Fria que apenas queriam a independência da sua terra?)

Numa das fotos escreveu: "Novamente, este terrorista que não tem culpa da ambição do Homem" e noutra escreveu "Jamais as minhas mãos se mancham em crianças".

A História tem estas partes cinzentas, amarelas, verdes, vermelhas e azuis, na qual um guerreiro patriótico é também um pai de família humanista que não vê heroísmo nenhum em matar uma geração de soldados de 18 e 19 anos, em apontar uma arma a um autóctone e a disparar contra um acampamento de mulheres, homens e crianças, por um interesse político/territorial (a ambição do Homem) e, mesmo assim, tudo fará para proteger estes jovens, jamais virando costas à Pátria, porque, como escreveu numa das fotos: "A Pátria são os seus filhos e eu também os tenho".

Urge sabermos respeitar esta gente, estudando friamente o que aconteceu, deixando de lado ideologias que idolatram fantasmas ou praticam a iconoclastia, mas sim compreendendo o que fizemos, porque o fizemos, quais as causas e consequências de tal e quem verdadeiramente praticou atos heróicos (humanistas) e quem verdadeiramente perpetrou crimes muito além do serviço militar. Urge para calar os politiqueiros que usam o passado como se um carregador de uma arma se tratasse.

Um forte abraço, Cláudio Brito.
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Anexo > Fotos: Teixeira de Sousa, 20 de Janeiro, 1964.
2º Sargento Fernando Brito
Um banho no mato, para refrescar as ideias.

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Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

4 comentários:

José Botelho Colaço disse...

Um grande agradecimento ao avô e ao neto.

Anónimo disse...

Ora aqui está um neto manifestando-se e fazendo jus ao legado do seu avô, coisa rara nestes tempos um pouco nebulosos.

Será que os políticos, jornalistas e outros não tiveram os seus avós em áfrica?

Carlos Gaspar

Antº Rosinha disse...

Hoje é Dia Internacional contra a descriminação Racial, dia 21 de Março, escolhido por ter acontecido neste dia em 1960, o massacre na África do Sul de quem lutava contra uma lei do apartheid.

Em Bissau não havia apartheid em 1960 mas também havia chatices.

O massacre do pijiquiti foi uma autêntica desordem, ainda hoje não se sabe quantos morreram e quantos ficaram feridos, uns dizem que foram 5 outros que foram 50 mortos.

O apartheid era desagradável aos olhos de quem via de fora.

Mas à maneira portuguesa, (sem apartheid)também era desagradável de quem via de fora, fossem pretos fossem brancos a olhar.

Principalmente se fossem sulafricanos a olhar para Angola, na fronteira ao lado.

Anónimo disse...

Pois é António Rosinha, os sul africanos praticavam o "apartheid" dentro da África do Sul.Mas quando vinham a Angola ou a Moçambique lá se ia o "Apartheid"