quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12536: O que é feito de ti, camarada ? (4): Carlos Marques dos Santos, conimbricense (e não coimbrão!...), hoje aniversariante, ex-fur mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69)... No Hotel de Bambadinca, em março de 1969, em trânsito, vindo de férias...



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 1 > "Na primeira fila, veem-se os Furriéis Oliveira e Soares. Na 2.ª fila, eu (Marques dos Santos) mais o furriel Carlos Pinto... A foto foi tirada pelo Furriel Rei (Cart 2339), meu inseparável companheiro de férias. No interregno das nossas férias aconteceu o desastre do Cheche – Madina do Boé, em 6/2/1969, onde também a CART 2339 esteve envolvida com material auto e apoio logístico" (CMS)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 2 > "Aqui, já com o Furriel Rei na 1.ª fila" (CMS)...

[Como se pode ver pelas fotografias, não se passava sede no Hotel de Bambadinca e, a avaliar pela decoração das paredes dos quartos, os seus hóspedes tinham uma permanente ligação (espiritual, estética, mágica, poética, erótica...) com o mundo dos vivos (ou, melhor, das vivas...). Além disso, supremo luxo, tinham direito a lençóis brancos,  lavados,  e até a frigorífico, elétrico!]. (LG)



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 3 > "Eu, Marques dos Santos, no Hotel de Bambadinca" (CMS)...

[Se bem percebi, a foto é de Bambadinca. Março de 1969. Os furrieis Rei e Santos deveriam estar a aguardr transporte de Bambadinca para Mansambo, depois do  gozo da sua licença de férias na Metrópole] (LG)



Guiné > Zona Leste > Rio Geba > A caminho de Bissau > 1969 (?) > O Fur Mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339, Mansambo (1968/69), num barco civil, a caminho de Bissau.

[Era um dos típicos barcos civis de transporte de pessoal e de mercadoria, que fazia a ligação Bissau-Bambadinca, e Bambadinca-Bissau, passando pela temível Ponta Varela, na confluência do Rios Geba e Corubal e, a seguir, o assustador Mato Cão, no Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. Estes barcos (alguns ligados a empresas comerciais, como a Casa Gouveia) tinham, como principal cliente a Intendência militar. Pelo Xime e por Bambadinca passava a alimentação e tudo o mais que era preciso para saciar o "ventre da guerra" da Zona Leste.] (LG).

Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. O Carlos Marques dos Santos foi um dos nossos primeiros "tertulianos", termo que hoje tendemos a substituir por "membros da Tabanca Grande" ou "grã-tabanqueiros"... Apareceu, se não me engano, em dezembro de 2005, e trouxe com ele, uns meses depois, em março de 2006, o seu camarada Torcato Mendonça... Por razões de saúde, já não está tão ativo. Mas fazemos questão de o relembrar aqui, hoje, em dia de aniversário.  Quando eu ia à FCT da Universidade de Coimbra, em trabalho, cheguei a estar com ele várias vezes. Foi também ele o organizador do nosso I Encontro Nacional, em 2006, na Ameira, Montemor o Novo, juntamente com o Paulo Raposo.


Curriculum Vitae (abreviado)  [com data de 5/1/2006]:

(i) Assentou praça em Mafra (EPI), em Setembro de 1966;

(ii) Especialidade de Atirador de Artilharia em Vendas Novas;

(iii) Iniciou a formação da Companhia (CART 2339) no RAL 3, Évora, em 28 de Agosto de 1967;

(iv) Chegou a bordo do T/T Ana Mafalda (que "parecia uma traineira") (1), em 21 de Janeiro 1968;

(v) Esteve em Fá Mandinga e Mansambo, onde foi rendido pela CCAÇ 2404;

(vi) Realizou treino operacional com a CART 1746 (Xime) , entrando em intervenção no Setor L1 até 22 de Novembro de 1969;

(vii) Em 3 e 4 de Fevereiro de 1968 esteve  envolvido, com o seu Gr Comb,  no cordão de tropas que, à volta de Bafatá, fez segurança ao Presidente da República, Américo Tomaz ["Laranjas apanhadas das árvores e bolachas foi a nossa comida, em dia e meio];

(viii) Em 25 de Fevereiro de 1968, participa pela 1.ª vez numa operação de grande envergadura (Op Grão Mongol), com as CART 1646 e 2338, pelotões de milícia e Pel Caç Nat;

(ix) Em Fevereiro de 1968 inicia-se a construção, de raiz, do futuro aquartelamento sede de Mansambo, com a construção e ocupação programada para operacionais e serviços;

(x) O seu  Grupo de Combate (o 3º) só em Julho de 1968 se deslocaria  definitivamente de Fá para este aquartelamento fortificado [, o projecto era do BENG 447];

(xi) Foi inaugurado oficialmente em 21 de Janeiro de 1969, com a presença de diversas entidades e grande festa: a nova iluminação –  até aí era com bazookas [garrafas de cerveja grandes] e mechas embebidas em óleo – foi inaugurada com "fogo de artifício” – balas tracejantes a serem disparadas de G3];

(xii) Mansambo (a Cart 2339) foi atacado em 28 de Junho de 1968, pela primeira de muitas vezes;

(xiii) "Samba Silate, Demba Taco, Taibatá, Galo Corubal, Salicuta, Dando, Nova Lamego, Che-Che, Canjadude, Enxalé, Mato Cão, Geba, Cantacunda (onde os turras levaram 11 dos nossos – Abril de 1968), Sarabanda, Sincha Setu, Camamudo, Sare Gana, Banjara, Sambulacunda, Bantajã, Finete, Satecuta, Xitole, Burontoni, Poidão, Ganguiró, Bissaque, Moricanhe, Mussa Iero, Belel, Sinchã Camisa, Sambulacunda, etc., etc., etc.,: pelo menos um terço do Leste da Guiné (hoje Bissau) foi feita a pé. Sem água, sem comida, com abelhas e formigas, com mortos, feridos e desaparecidos";

(xiv) Regressou a casa, em Dezembro de 1969, no navio Uíge, a 13 desse mês, dois anos após a partida para a Guiné;

(xv) É natural de Coimbra (freguesia de Santo António dos Olivais); 

(xvi) Estudou no antigo Liceu Normal de D. João III e no Colégio S. Pedro,  em Coimbra; 

(xvii) Foi atleta federado de Basquetebol e Andebol, treinador e dirigente desportivo na modalidade de Basquetebol; presidente da Direcção e da Assembleia Geral do Olivais F. Clube e Vice-Presidente da Associação de Basquetebol de Coimbra;

(xviii) Diplomado em Educação Física, voltou ao Liceu D. João III como professor (hoje Escola Secundária José Falcão, nome alterado depois do 25 de Abril de 74, fazendo parte da Comissão de Gestão);

(xix) Efectivou na Escola  Secundária de Avelar Brotero, onde integrou como Vice-Presidente o Conselho Directivo;

(xx) Foi professor de Mobilidade (técnicas de Orientação e Bengala) de alunos invisuais durante 32 anos;

(xxi) Aposentado, e caravanista apaixonado, reside em Coimbra.


 2. Na decida altura, em 2006,  eu e o Humberto Reis escrevemos, a propósito das três primeiras fotos que hoje republicamos com melhor resolução e em formato "extra-large":


(i) Luís Graça:

Um felizardo do mato, com direito a férias (nem que fosse em Bissau, também conhecida por guerra do ar condicionado), ia de barco, civil, a partir de Bambadinca, ou apanhava uma LDG no Xime ou, ainda, uma boleia, de helicóptero ou de Dornier, DO 27 (o que era mais difícil, por causas das prioridades, do elevado custo do transporte aéreo e sobretudo do factor C - a cunha).

A sede da CCS (Companhia de Comando e Serviços) do BCAÇ 2852, em Bambadinca, funcionava como hotel para os militares em trânsito, oriundos dos aquartelamentos e destacamentos do setor (em especial, Xime, Mansambo, Xitole, Missirá e Fá Mandinga) ou até de outros setores da Zona Leste (Bafatá, Gabu, Galomaro...).

Comparadas com as do Xime, Mansambo ou Xitole, as instalações para oficiais e sargentos em Bambadinca eram as de um hotel de cinco estrelas... Daqui que a malta de Bambadinca (CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras unidades) arranjasse sempre poiso para os alferes e furriéis milicianos em trânsito... Mais do que cumplicidade, havia solidariedade para com os camaradas que viviam em piores condições do que nós... De resto, havia sempre camas vazias, nomeadamente da malta operacional que frequentemente dormia no mato ou estava destacada fora de Bambadinca (como era o caso da CCAÇ 12).


(iii Humberto Reis, legendando as fotos [com comentários de L.G.]:

"[Foto nº 1: ] Carlos Marques, acertaste em cheio. É ele mesmo, o Soares, sapador, que mora aqui na zona de Lisboa (mais concretamente, em Caneças, concelho de Loures).

[O Humberto Reis confirma que o Soares que aparece na foto é o José Manuel Amaral Soares, ex-furriel miliciano sapador de minas e armadilhas, pertencente à Companhia de Comandos e Serviços (CCS) do BCAÇ 2852. Foi um dos co-organizadores do convívio anual da malta de Bambadinca (1968/71) que se realizou em 2004, em Faro. Em 1999, realizou-se outro convívio, já aqui relembrado, na Quinta da Graça, em Riade, Resende, junto ao Rio Douro. A Quinta da Graça é propriedade de outro camarada do nosso tempo, e da mesma unidade (CCS do BCAÇ 2852), o Pinto dos Santos, que era furriel de operações e informações (se não me engano).]

"Fotos 1 e 2: O que está na 1ª fila do lado esquerdo é o Ranger Fernando Jorge da Cruz Oliveira, de quem sou visita habitual lá de casa. Temos dado uns belos passeios juntos com as nossas Marias (também mora aqui na região de Lisboa, em Fernão Ferro, cocnelho do Seixãl). O que está ao teu lado é o radiomontador Carlos de Oliveira Pinto que mora no Porto, aliás o Sr. Engº Pinto....

"Na foto 3 pode ver-se um frigorífico que eu comprei quando os velhinhos da CCS do BCAÇ 2852 se vieram embora e ficou para a malta da CCAÇ 12 que depois mudou para o meu quarto".

[Um frigorífico (eléctrico), naquelas paragens e naquele contexto, era um verdadeiro luxo! O nosso só funcionava à hora do almoço e à noite, quando estava ligado o gerador... Foi depois revendido aos periquitos que nos vieam render, em finais de Fevereiro de 1971. E julgo que terá chegado, heroicamente, até à hora da partida do último soldado português na Guiné. Provavelmente terá sido oferecido a um camarada do PAIGC. Por falta de energia eléctrica, terá morrido ingloriamente no montão de lixo que deixámos em Bambadinca, a começar pela tralha da guerra]...
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Notas de L.G.:

Último poste da série >  2 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12535: O que é feito de ti, camarada ? (3): "Agora estou na trajetória do vôo livre da borboleta, seguindo outros horizontes da memória, despreocupadamente ! Felizmente com saúde"... (Afonso M.F. Sousa, a residir em Ovar, ex-fur mil trms, CART 2412, Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)

2 comentários:

Anónimo disse...

carlos marques santos
4/1/204 12:06


CONIMBRICENSE

Luís Graça disse...

Meu caro Carlos: Está feita a correção, Conimbricense, sim, coimbrão, não!... Presumo que este último vocábulo xseja insulto.... se bem que o dicionário diga que são sinónimos...Aquele abraço!... Luis

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co•nim•bri•cen•se
(Conímbrica, topónimo, cidade da Lusitânia + -ense)
adjectivo de dois géneros
1. Relativo a Coimbra. = COIMBRÃO
2. Relativo a Conímbrica ou Conímbriga.
substantivo de dois géneros
3. Natural ou habitante de Coimbra. = COIMBRÃO
4. Natural ou habitante da antiga Conímbrica.

Sinónimo Geral: CONIMBRIGENSE
Palavras relacionadas:
coimbrão, conimbrigense, atravessadeira, saca-de-carvão, vespérias, runa, gandarês
.

"conimbricense", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/conimbricense [consultado em 04-01-2014].

co•im•brão |u-i|
(Coimbra, topónimo + -ão)

adjectivo
1. De Coimbra.
2. Relativo a Coimbra.
substantivo masculino
3. Natural ou habitante de Coimbra.

Sinónimo Geral: CONIMBRICENSE, CONIMBRICENSE

"coimbrão", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/coimbr%C3%A3o [consultado em 04-01-2014].