sábado, 12 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13392: Manuscritos(s) (Luís Graça) (36): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VII): O melhor edifício da cidade, a Associação Comercial, hoje sede do PAIGC, projeto do arquiteto Jorge Chaves, de 1949-1952

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Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).

Foto: © Agostinho Gaspar / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine (2010). Todos os direitios reservados [Edução: LG]




Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados



1. Manuscrito(s) (Luís Graça)

Nota de leitura > Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5)

Parte VII (*)

Continuação das nossas notas de leitura desta brochura da investigadora e professora do ISCTE -IUL, Ana Vaz Milheiro (que é também crítica do jornal "Público" e que, sabemo-lo,  utilliza
igualmente o nosso blogue como fonte de informação e conhecimento, graças ao seu valioso espólio documental sobre a ex-Guiné portuguesa).

Como temos referido em postes anteriores desta série, este livrinho, profusamente ilustrado com fotografias da autora, a cores, resulta de uma singular viagem à Guiné-Bissau, durante 10 dias, de 2 a 10 de outubro de 2011, .feita por ela e por outro colega arquiteto, bem como pelo antropólogo Eduardo Costa Dias, nosso grã-tabanqueiro.

Ironia da história (ou talvez não, os “vencedores”, em todas as guerras, ficam sempre com os melhores despojos…): “o melhor edifício” de Bissau, na opinião qualificada da nossa cicerone e especialista em arquitetura colonial estadonovista,. Ana Vaz Milheiro, é(era) a sede da nossa conhecida Associação Comercial. Industrial e Agrícola da Guiné, junto ao palácio do governador...

O propjeto é de um jovem arquitecto de Lisboa, Jorge Chaves, e a remonta a 1959-1953. Depois da saída dos portugueses em setembro de 1974,a sede da Associação Comercial  passará a ser, muito naturalmente, a sede do PAIGC, ou sejas. dos novos senhores do território, com Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral (1923-1973), como primeiro presidente da jovem república da Guiné-Bissau.

Mas quem era Jorge Chaves ? Um jovem (e ainda relativamente pouco conhecido) arquiteto de Lisboa que não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial. Nasceu em 1920 e morreu em 1981. Seu nome completo: Jorge Ribeiro Ferreira Chaves

 (…) “Activo profissionalmente entre 1941 e 1981, é considerado um dos mais perfeccionistas arquitectos portugueses.

Realiza, em atelier próprio, desde 1946, várias dezenas de projectos, para Portugal continental, Madeira, Guiné e Angola, dos quais se destacam a Pastelaria Mexicana, a loja Palissi Galvani, os Laboratórios Cannobio, um edifício de habitação na Rua Ilha do Príncipe e o Hotel Florida, em Lisboa, o Hotel Garbe, o Hotel da Baleeira e o Hotel Globo, no Algarve, a Câmara de Comércio de Bissau e a Caixa Geral de Depósitos de S. Pedro do Sul.” (..)
(Fonte: Jorge Ferreira Chaves, Wikipédia)

Nascido em Cabo Verde, Jorge Chaves fixou-se definitivamente em Lisboa a partir de 1931.  Mas deixemos à Ana Vaz Milheiro a apresentação do edício:

(…) “O projeto é escolhido em concurso lançado em Lisboa, no Porto e em Bissau, em 1949. O representante do Sindicato Nacional dos Arquitectos no júri é então João Simões, arquitecto experimentado em projetos para os Trópicos. De estrutura pavilhonar, em L, o edifício do PAIGC introduz uma qualidade de desenho que será difícil igualar em outros momentos da cultura arquitectónica luso-guineense. No interior o programa de decoração deve ter contado com a colaboração de Luís Possolo, arquitecto do Gabinete, ainda que treinado na Architectural Association, em Londres, No início dos anos cinquenta, a resposta portuguesa a uma arquitectura tropical encontra aqui, portanto, a sua melhor expressão” (p. 26).

Na opinião de outros arquitectos de renome que trabalharam para África, o edifício desenhado por Jorge Chaves (com murais de José Escada), pelo arrojo das suas linhas, conforto, mordernidade e até riqueza, não ficava atrás da arquitectura de Brasília, por exemplo, e era unanimemente considerado como o melhor edifício que nós deixámos em Bissau, do ponto de vista arquitectónico.

Jorge Chaves não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial (ou do Ultramar, como passou a ser chamado, a partir de 1951), e daí talvez a razão do projeto ter uma modernidade que não seria possível dentro do paradigma da arquitectura colonial de então, marcado pelos constrangimentos da funcionalidade, adaptação ao clima, resistência e uso de materiais de baixo custo de manutenção.

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