quinta-feira, 10 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13387: Blogoterapia (254): Nos encontros da malta, no meu tempo, no CTIG, ouvi milhentas histórias, onde tudo era possível, não havia limites para a imaginação (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421, Mansabá, 1965/67)

1. Mensagem de Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, poeta, algarvio]

Data: 3 de Julho de 2014 às 23:59

Assunto: Execuções

Boa noite, Luís:


Execuções sumárias!,,, Não me fez dar um salto, mas fez-me mexer !

Até 1967 a comunicação entre militares na Guiné era feita de duas maneiras:

(i) o bate estradas, atrasados na própria unidade quando eram enviados para SPM da Guiné;

(ii) encontro de militares

Esses encontros davam-se:

(i) quando faziam operações em conjunto;

(ii) quando faziam limpezas a estradas até se encontrarem;

(iii) e os que iam a Bissau.

Nestes encontros ouvi milhentas histórias, onde tudo era possível, não havia limites para a imaginação.

Eu sempre fui um tipo de tabanca! Sempre falei muito com gentes da tabanca, gentes antes da guerra. Incluindo o Mamadu Seidi.

Eles falavam, mas falavam com medo, notava-se, o medo imperava, era muito difícil conseguir a plena confiança de alguém, até por uma razão, muitos eram refugiados naquela tabanca, a tabanca deles era outra. E diziam que, quando as tabancas se revoltaram, e apareceu a tropa e policias, que se derramou muito sangue !

Mais tarde oiço aos Águias Negras [, CART 1525, Bissorã, 1965/67] que tinham feito o caminho que eu voltei a fazer mais do que uma vez, que tinha havido muito sangue.

Saíamos em operação a uma determinada área que estava, estavam todas cheias de população, havia uns tiros, a metralha disparava, quantos inocentes ficavam naquelas tabancas ? Execuções sumárias ? Não, não, eram execuções sumárias, no sentido exato da palavra, mas...

Eu ter pleno conhecimento de alguém, pura e simplesmente, abater uma pessoa, com convicção,,, não, não tenho, nem sei bem como foi. Mas sei que foram abatidos guias prisioneiros, por comandos que foram heróis nacionais, antes e depois, e que já morreram o que para mim ainda é mais penoso falar.

Havia aqui na minha região uns fulanos de 61, 62 e 63, mas não os encontrei, melhor encontrei uns fuzileiros de 62, mas sabem muito pouco ou não querem falar.

Claro que eu não lhe falei nas execuções, mas tentei que eles me falassem da época deles, época antes da minha !
Luís, não respondi, como pedias, mas eu não podia deixar de dizer duas palavras sobre o assunto, sem falar nos milhares e milhares de tiros que foram dados naquele OIO, com tanta população no meio.

E aqui ponho em duvida se o próprio IN estava organizado para não apanhar os seus, eu penso que não !

Só quem entrou numa dessas tabancas com tiros de todos os lados e morteiradas caindo, caindo, gente fugindo em todas as direções com animais à mistura!...

São cenas loucas de uma tragédia sem limites, só comparada a outra igual e que infelizmente continuam a realizarem-se por esse mundo fora, nos dias de hoje, com a mesma tragédia dantesca, imaginável !

Um grande abraço

Ernesto Duarte
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Nota do editor:

´Último poste da série > 1 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13353: Blogoterapia (253): Não é pessimismo, muito menos um lamento, quando muito um recado... (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, poeta, algarvio)

1 comentário:

José Botelho Colaço disse...

Ernesto mensagem que dá para ler e reler e pensar quanto à sondagem tinha por exemplo duas perguntas antagónicas nunca ouvi falar ou ouvi falar,
Tu citas uma realidade nestes encontros ouvi milhentas histórias, onde tudo era possível, não havia limites para a imaginação.
Até o Hélder disparava de rajada com a Bazuca.
Sondagens valem pela sondagem, opinião todos a podemos ter parece-me que é um assunto polémico e que deve ser encerrado.
Um abraço.
Colaço.