sábado, 29 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20693: Efemérides (319): O "Jornal do Exército", fundado em janeiro de 1960, faz 60 anos (Jorge Araújo)


Capa do 1.º número do «Jornal do Exército» - Janeiro de 1960 (Tiragem: 20 mil exemplares). 


Cabeçalho do "Jornal do Exército", ano I, nº 1, janeiro de 1960, Preço: 2 escudos (convertidos em euros, a  preços de hoje, equivaleria a 0,89 €)





Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; autor da série "(D)o outro lado do combate"; nosso coeditor.  



EFEMÉRIDES: A PUBLICAÇÃO DO JORNAL DO EXÉRCITO, ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, CULTURA E RECREIO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, FOI INICIADA HÁ SESSENTA ANOS (JAN 1960)



1. – INTRODUÇÃO

Numa das últimas pesquisas efectuadas a literatura de âmbito militar, foi com surpresa que dei conta das origens do «Jornal do Exército», informação que, sinceramente, desconhecia. Considerei, então, uma feliz coincidência.

Numa altura em que se comemorou o seu 60.º Aniversário (Jan 1960-Jan 2020), achei interessante dar conta, ainda que em síntese, de alguns detalhes que estão na génese do seu nascimento, e que fazem parte da História de uma época – a minha!

Sobre a existência deste órgão de informação do exército português, e como memória mais remota, recordo-me de ter manuseado/folheado alguns números, nomeadamente a partir do ano lectivo 1960/1961, ano em que ingressei no Liceu Camões em Lisboa, então disponíveis na Biblioteca e no Gabinete da Mocidade Portuguesa. Estávamos ainda, nessa ocasião, nos primeiros meses da sua existência.

Passadas que estão seis décadas, e porque não encontrei qualquer referência no blogue relacionada com este tema, entendi ser oportuno recordar, aqui e agora, esta efeméride.


2. – ANTECEDENTES HISTÓRICOS

De acordo com as fontes consultadas, foi a 7 de Dezembro de 1959, 2.ª feira, que a ideia da criação do «Jornal do Exército» é objecto de reflexão no seio militar, uma vez que a alínea c) do artigo 62.º do Decreto-Lei n.º 42564, de 7 de Outubro de 1959, aprovara a criação de um órgão de informação, cultura e recreio do exército português, na dependência directa da Direcção do Serviço de Pessoal e no âmbito das atribuições que a esta lhe estavam conferidas.

Assim, e para esse efeito, reuniram-se numa dependência do Colégio Militar, em Lisboa, o Brigadeiro David dos Santos (futuro 1.º Director do Jornal), os Majores Balula Cid (Professor de Desenho do Colégio Militar, caricaturista e futuro 1.º Chefe de Redacção), Pinto Coelho, Eduardo Fernandes e Tavares Figueiredo e o Capitão José Marques, onde os seus mentores redigiram a competente proposta para ser analisada superiormente.

Em 11 de Janeiro de 1960, 2.ª feira, decorridas cinco semanas, é publicado um despacho do Ministro do Exército, Brigadeiro Afonso de Almeida Fernandes [nome completo: Afonso Pinto de Magalhães Galvão Mexia de Almeida Fernandes (1906-1986)], com o seguinte teor:

"Aprovo com a maior satisfação a presente proposta que vem ao encontro de uma aspiração que há muito acalentámos e que as circunstâncias parecem tornar agora oportuna. Conviria que o primeiro número do Jornal saísse ainda no corrente mês, o que julgo possível, em face do trabalho preliminar já realizado. O Jornal intitular-se-á «Jornal do Exército» (…)."

Esse desejo foi possível concretizar ainda em Janeiro, com o primeiro número do Jornal a registar uma tiragem de vinte mil exemplares.

A 26 de Janeiro, 3.ª feira, ou seja quinze dias após a publicação do despacho do Ministro, o Jornal do Exército abandona o Colégio Militar e passa a ocupar o 2.º andar do n.º 61 da Rua da Escola Politécnica, em Lisboa.

A 14 de Julho de 1960, 5.ª feira, por Portaria do Ministério do Exército, é criado formalmente o «Jornal do Exército», definido como: Órgão de Informação, Cultura e Recreio do Exército Português.

(Fonte: https://historiadastransmissoes.wordpress.com/2016/06/18/as-tm-no-no-1-do-je-jan1960/), com a devida vénia.



Legislação que aprova a criação de um órgão de informação do Exército Português (Decreto-Lei n.º 42564, de 7 de Outubro de 1959 e Portaria n.º 17843, de 14 de Julho de 1960) – Adaptado do Jornal do Exército n.º 100, de Abril de 1968, p 47, com a devida vénia.


3. – A MISSÃO A CUMPRIR PELO «JORNAL DO EXÉRCITO»


Cumprindo com o protocolo institucional, o Brigadeiro Afonso de Almeida Fernandes, na qualidade de Ministro do Exército (1958-1961), e considerado ainda como sendo o fundador do «Jornal», pois foi através do seu despacho que a revista foi criada, explicitou os fundamentos da "Missão a Cumprir" por este Órgão de Informação Militar, mas também aberto à sociedade civil, referindo:

(…) "Trata-se, como se disse, de um elemento de informação geral, sem a preocupação de versar problemas militares de natureza demasiadamente técnica e especializada, os quais interessam fundamentalmente às publicações das respectivas especialidades." (…), (Jornal do Exército, nº 1, janerio de 1960, p 5.)

Como pequena nota biográfica é de relevar o seguinte:

Afonso Pinto de Magalhães Galvão Mexia de Almeida Fernandes, conhecido na estrutura militar como Afonso de Almeida Fernandes, nasceu na Freguesia de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, em 12 de Dezembro de 1906.

Foi oficial da Arma de Engenharia, tendo-se licenciado em Engenharia Civil (1928) pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, onde conheceu a sua esposa, a engenheira Maria Amélia Sousa Ferreira Chaves Almeida Fernandes (1911-2017), a primeira engenheira portuguesa formada por aquele Instituto.

Como actividade docente, foi Professor da Escola do Serviço de Saúde Militar (1942-1943) e, ainda, Professor do Curso do Estado-Maior do Instituto de Altos Estudos Militares (1943).

No âmbito das suas competências institucionais, fez parte da missão militar de estudo e observação na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial (1942), da missão oficial junto do Estado-Maior Francês e da NATO, em Paris (1954), e da missão oficial junto ao Estado-Maior Espanhol, em Madrid (1955).

Foi subsecretário de Estado do Exército (1956-1958).

Em 1958, foi nomeado Ministro do Exército na mesma remodelação que nomeou o General [Júlio Carlos Alves Dias] Botelho Moniz (Lisboa, 12.01.1900-30.09.1970) para Ministro da Defesa, mantendo-se no cargo até 1961.

No governo, reorganizou a Escola do Exército e foi um grande impulsionador da defesa dos territórios ultramarinos.

Foi o criador, em 1960, do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), em Lamego, Decreto-Lei n.º 42926, de 16 de Abril de 1960, onde se formaram as primeiras Companhias de Caçadores Especiais [CCE] que foram enviadas para Angola ainda antes do início da Guerra.

Nesta, o dia 4 de Fevereiro de 1961, sábado, surge-nos como o primeiro acto gravado na sua cronologia [outra efeméride, esta com cinquenta e nove anos], quando um grupo de cerca de duzentos angolanos, alegadamente ligados ao MPLA, atacou a Cadeia de São Paulo e a Casa de Reclusão Militar, em Luanda, com o objectivo de libertar alguns correligionários presos, mas sem sucesso.

Afonso de Almeida Fernandes, no final da sua vida activa, seria aposentado com o posto de Brigadeiro do Exército.

In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_de_Almeida_Fernandes, com a devida vénia.







3.1 – «NOTA DE ABERTURA» DO DIRECTOR DO JORNAL DO EXÉRCITO – BRIGADEIRO DAVID DOS SANTOS

Depois da descrição dos principais fundamentos que estiveram na base do lançamento do «Jornal do Exército» e da "Missão a Cumprir" por este órgão de informação militar, da autoria do Brigadeiro Almeida Fernandes, Ministro do Exército, apresentados no ponto anterior, coube ao Brigadeiro David dos Santos, na qualidade de seu Director, acrescentar mais algumas "Notas" consideradas de "Abertura".

Considerando que a impressão do conteúdo relacionado com estas "Notas de Abertura", que serviu de base na elaboração deste trabalho, não reunia a qualidade para a sua reprodução, decidimos transcrevê-las.

O texto que segue está publicado nas páginas 5 e 20:


"Por decisão de Sua Ex.ª o Ministro do Exército é dado à luz da publicidade, no presente mês de Janeiro, o primeiro número do mensário «Jornal do Exército», Órgão de Informação, Cultura e Recreio das Forças Terrestres e que se destina também a uma difusão que se deseja tão larga e profunda quanto possível, no meio da população civil.

Tal decisão levanta um problema ligado, em grande parte, às actividades específicas do Serviço de Pessoal; não se estranhará, portanto, que Sua Ex.ª o Ministro tivesse determinado – não por méritos próprios, antes, em certa medida, por inerência de funções – que a Direcção da referida publicação fosse atribuída ao Director dos Serviços de Pessoal.

Nesta qualidade, lhe compete e lhe é sumamente agradável dizer duas palavras, à laia de «Nota de Abertura».

O sucesso de uma publicação periódica assenta, em primeiro lugar, no pressuposto de que os elementos do seu corpo redactorial ponham toda a capacidade, entusiasmo e calor, no desempenho das suas atribuições, fazendo dela, por esta forma, um órgão vivo, ligeiro, dinâmico, sugestivo e pleno de interesse. Onde tais requisitos falharem logo aí se abrirá uma brecha insanável.

Estou sinceramente convencido – porque conheço os homens designados para este sector do jornal – que neste ponto podemos ficar descansados.

Em segundo lugar, todo o jornal ou, mais geralmente, toda a publicação periódica corresponde sempre a necessidades comuns de uma certa massa de indivíduos, tanto na ordem material, como na ordem espiritual, moral ou profissional. No caso vertente, este traço de união é garantido e vinculado, em prioridade, pela evidente comunhão de interesses, de toda a ordem, dos elementos do ramo terrestre das Forças Armadas, se bem que se possam reservas naturais quanto à eficácia e profundidade da penetração do jornal no elemento civil, eficácia e profundidade que dependerão, sobretudo, da forma como os problemas militares forem apresentados no seu livre exame e para sua inteira compreensão.

A comunidade de interesses, anseios e aspirações militares que pressupõem a excelência das respectivas instituições existe porém e primariamente, «em potências».

O seu desenvolvimento «em acto» será iniludivelmente favorecido com a publicação deste jornal, se cada militar, qualquer que seja a sua graduação ou grau de responsabilidade, for efectivamente um agente da sua propaganda e expansão. Neste domínio todo o Comandante ou todo o Chefe deve considerar como ponto de honra e até como uma responsabilidade de comando ou direcção, a adopção das medidas necessárias para aquele efeito. Não é que se não devam fazer as observações e sugestões que a experiência for aconselhando para melhoria do jornal e que serão sempre bem-vindas. Mas – antes de mais – há que o amparar e fazer viver e prosperar.

Por último convém notar que a massa dos leitores interessados não é, neste caso, homogénea, tanto sob o ponto de vista de preparação e cultura, como no aspecto da sua capacidade de apreensão. Este ponto terá, pois, de ser considerado, em permanência e a um tempo, pelo corpo redactorial e pela colaboração espontânea ou solicitada.

O ideal seria que os artigos e assuntos tratados pelas várias secções do jornal fossem igualmente interessantes para qualquer dos seus leitores.

Não negamos e antes preferimos sublinhar esta dificuldade que exigirá um esforço constante para a sua superação.

Seja como for, estou sinceramente esperançado em que todos nós, militares das Forças Armadas, faremos tudo para evitar que o sucesso do jornal nos fuja das mãos e com ele o factor de prestígio e consideração que os elementos da classe civil, naturalmente e mercê da sua leitura e meditação, nos poderão conceder."


David dos Santos, Brigadeiro


Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

08JAN2020
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Nota do editor:

6 comentários:

Anónimo disse...


Ramiro Jesus

28 fev 2020 13:14

Bom-dia.

Não, como o próprio texto desmente, o jornal não faz 70 anos. Desde 1960 só passaram 60.
Não me venham com avanços, pois, ao contrário que acontecia na Guiné, o tempo aqui está a passar muito rápido.

E... por falar na Guiné... que tristeza continua aquela terra!

Bom fim-de-semana!
Ramiro

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ramiro, ainda bem que topaste o erro... do editor, que já confunde sessenta com setenta... Peço imensa desculpa aos nossos leitores e ao nosso querido amigo, camarada e coeditor Jorge Araújo... Já corrigi... Deem-me o devido descontio: não estou no meu sítio, mas sim no Norte... Quero eu queira, ou não queira, eu sou sou... "mouro". Luís Graça

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando, da 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)... É bom saber de ti!

O Ramiro, que vive em Aveiro, é membro da nossa Tabanca Grande desde 9/12/2012...

9 DE SETEMBRO DE 2012
Guiné 63/74 - P10356: Tabanca Grande (358): Ramiro Jesus, ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

Valdemar Silva disse...

É só fazer as contas, como diria o outro, 2$00 não são actualmente 0,89€, mas sim 0,01€.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não, Valdemar, 2 escudos em 1960 era... 10% do salário de um trabalhador no campo, aqui no Norte (, escrevo-te do Norte, e sei quanto o meu sogro, ramadeiro, construtor de ramadas para vinhas, ramadas..., pagava aos seus trabalhadores: tenho a "escrita" dele, os livros de recibos, facturas, etc. dos anos 50 a 70.

Dois escudos era dinheiro, em 1960: eqhivalente hoje a 89 cêmtimos... Dpois escudos equivalerão a 1 cêntimo no ano 2000... Tens que ter em conta a depreciação da moeda. Dois escudos em 1960 não eram o memso que 40 anos depois...

Vê aqui o conversor escudos/euros/escudos (desde 1960 até hoje) do portal Pordata:

https://www.pordata.pt/Portugal


https://www.pordata.pt/Portugal

Valdemar Silva disse...

Luis
Pois em 1960. É isso mesmo, não reparei bem.
Nesse caso, era mais caro que qualquer jornal matutino ou vespertino publicados diariamente.

Ab.e umas boas malgas do das ramadas ou latadas como também se usa.
Valdemar Queiroz