segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20679: Tabanca da Diáspora Lusófona (7): A história de mil anos de Portugal explicada numa hora à comunidade eslovena em Nova Iorque (João Crisóstomo) - Parte III


O nosso camarada e amigo  João Crisóstomo, luso-americano, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes...  Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun:

Conversa sobre Portugal: 19 de janeiro de 2020, Comunidade eslovena em Nova Iorque

por João Crisóstomo


[ O autor tinha preparado um guião original, já com cortes, para uma comversa de meia hora (*); como o tempo disponível acabou, entretanto,  por ser maior - cerca de uma hora - ele passou a ter liberdade  para introduzir notas e comentários extra;   a versão original está disponível em inglês, no final deste poste; o editor Luís Graça fez a tradução e adaptação livre para o blogue, com a devida autorização do autor](**)


(...) Logo, de Lisboa à Índia, China e Japão, os navios portugueses,  sob o comando de Afonso de Albuquerque,  haviam se tornado os donos dos mares. Com a conquista de Malaca, porta de entrada para todo o Extremo Oriente, Portugal teve o controle completo de toda a região. 


Embora sejam atribuídos aos ingleses os primeiros povoamentos da Austrália, há um crescente consenso entre os historiadores australianos de que os portugueses de Malaca foram os primeiros europeus que chegaram lá.




Japão > Arte nambam > Séc. XVII > Uma "carraca": obra atribuída a Kano Naizen, Kobe City Museum.
Fonte: Wikipedia (com a devida vénia...)

namban | s. m. pl.

namban
(palavra japonesa)

substantivo masculino plural

Palavra japonesa que significa bárbaros do Sul ou portugueses e geralmente empregada, nos séculos XVI e XVII, para designar obras num estilo inteiramente novo, de influência ocidental, quer na pintura, quer no baixo-relevo, de entre os quais se salientam os namban-byobu (= biombos dos bárbaros do Sul), que perpetuaram a chegada dos barcos portugueses ao Japão.

"namban", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/namban [consultado em 23-02-2020].

Os portugueses foram os primeiros ocidentais a chegar ao Japão, onde, entre outras coisas, mostraram e ensinaram  aos japoneses como construir em pedra, e introduziram a fabricação de armas de fogo que por sua vez levaria à unificação do Japão. Mais tarde, um grande número de colonos portugueses fundou e construiu a cidade de Nagasaki (P 146). 

Na China "os portugueses já conselheiros do imperador da China antes que Marco Polo alegasse ter chegado lá". (P.19) 


E, ao contrário de Hong Kong, que foi obtida pelos ingleses pela força, a cidade de Macau foi um presente dado aos Portugueses pelo imperador da China,  por terem, a seu pedido, corrido com os piratas que infestvan os mares da China. 


Como vocês se devem lembrar, Macau foi a última colónia de um país ocidental a ser restituída, e isso foi feito a pedido dos portugueses que tomaram a iniciativa, pois a China não mostrava nenhum interesse em recuperá-la.

Tudo isso parece muito difícil de entender, uma vez que Portugal tinha uma população de apenas 1,5 milhão de pessoas (em comparação com os 12 milhões de italianos, 6,0 na Espanha e 3,0 na Inglaterra); mesmo assim, Lisboa se tornou a nova capital mundial da riqueza no mundo ocidental, "a cidade mais fabulosamente rica da Europa "(p. 107/8).

Foi nesse momento da história, em 1494, que ocorreu o Tratado de Tordesilhas. O objetivo era resolver a confusão criada por Cristovão Colombo depois da descoberta  da América, que Colombo pensava ser a Índia. 


O Papa Alexandre VI criou então uma linha imaginária dividindo o mundo em duas  partes: quaisquer novas terras descobertas a leste desta linha passavam a ficar sob a posse de Portugal;  e as terras a oeste dessa linha seriam pertença da Espanha. No final do século XVI, Espanha e Portugal uniram-se [, a chamada monarquia dual: o último rei de Portugal [ da II dinastia, o cardeal dom Henrique, 1543-1580, tio-neto de Dom Sebastião,] morreu sem herdeiro e o "parente mais próximo" foi o rei da Espanha[, Filipe II, Filipe I de Portugal,III dinastia]. 


Os primeiros anos pareciam bons, mas logo essa união provou ser um desastre para Portugal. As colónias de Portugal,  agora sob o domínio espanhol,   ficaram sem proteção,  e sujeitas a ataques e invasões dos ingleses e holandeses, inimigos da Espanha.


 A maioria dos navios portugueses (embora sem suas tripulações originais, pois os espanhóis, por um bom motivo, não podiam confiar nos portugueses para combater os ingleses) foram integrados na gigantesca 'Armada invencível'  que atacou a Inglaterra e foi completamente destroçada. 



Os nobres portugueses começaram a perder poder à medida os cargos governamentais começaram a ser ocupados por espanhóis.

Quando os portugueses perceberam que o rei da Espanha pretendia fazer de Portugal apenas uma província   de Espanha, eles se revoltaram-se, expulsaram os representantes dos espanhóis,  e proclamaram um novo rei , [, Dom João IV, em 1 de dezembro de 1640].

Durante séculos, Portugal foi um refúgio para os judeus, a única nação europeia  que os não  perseguia. Em algumas partes do mundo, Portugal era até considerado um Estado judeu. Mas as coisas mudaram com a introdução da Inquisição na Espanha e logo a Inquisição foi introduzida em Portugal, forçando a maioria dos judeus a sair. O Império Otomano,  a Holanda e as cidades-estado italianas
 foram os principais locais de refúgio. Esses países beneficiaram dessa fuga. Portugal, por sua vez, perdeu muito com a partida dos judeus.


(Continua)(***)

__________

Bibliografia que consultei;

1. O livro de onde faço várias referências é o livro:” The First Global Village"- How Portugal changed the world , da autoria do escritor Inglês Martin Page, 12a edição. " Casa das Letras" ( comprei este aí em Portugal).

Outros livros que li e que “consultei" agora:

2. "Encompassing the World” Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries. Um daqueles livros grandes em todo o sentido, de se lhe "tirar o chapéu, pelo seu conteúdo fabuloso em todos os aspectos. Publicaçao da “Arthur M.Sacckler Gallery( da Smithsonian Institute em Washington)

3. Lisbon - War in the shadow of the city of light, 1939-1945 da autoria de Neil Lochery

4. The First World Sea Power—1139-1521; volume 1o. Autor: Saturnino Monteiro

5. 1494 How a Family Feud in Medieval Spain Divided the World in Half . Autor:Stephen R. Bown ( St Martins Press, New York)

6. 1808 (5a edição) Autor: Laurentino Gomes ( jornalista brasileiro). Editora Planeta. Brasil

7. Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton, do Dr. Manuel Luciano da Silva

8. Magellan autor ; Stefan Zweig,( version française) par Alzir Hella; Bernard Grasset- Paris

Jornais e revistas:

1. “ Luso-Americano” uma série de artigos sobre esta exposição, da autoria do jornalista /escritor/editor principal do" Luso Americano" . Publicadas neste jornal de 27 de Abri29 de Junho de 2007.

2. New York Times, Friday, June 29 2007

3. Washington Post, June 24 2007 e July 20 2007

4. "Portuguese in the making of America” da autoria de James H.Gill

5. Military History, July/August 2006, artigo do historiador Michael D. Hull, capa e artigo (páginas 24 a 31).

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores:


(**) Primeira versão do texto, em inglês:

January 19, 2020; Slovenian community :Talk on Portugal…
 

(...) Soon, from Lisbon to India, China and Japan the Portuguese ships under Afonso de Albuquerque had become the masters of the seas. With the conquest of Malaca, gateway to all the Far East, Portugal had complete control of the whole region.

Though it is attributed to the English the first settlements in Australia, "there is a growing consensus among Australian Historians that it were Portuguese from Malaca the first Europeans who arrived there".

The Portuguese were the first westerners to reach Japan where among other things they showed and taught the Japanese how to build in stone, and introduced the manufacturing of guns which in turn would lead to the unification of Japan. Latter on Portuguese settlers in large numbers founded and built the city of Nagasaki (P 146).

In China "Portuguese were advisors to the Emperor of China before Marco Polo claimed to have reached there." (P.19)

And, unlike Hong Kong, which was claimed by the English by force, the city of Macau was a gift to the Portuguese by the Emperor of China for having at his request, get rid of the Pirates who plagued the China Seas. As you will remember Macau was the last official Western colony to be given back, and it was done so at the request of the Portuguese who took the initiative, as China was not showing any interest in getting it back.

All this seems almost difficult to grasp as Portugal at this time had a population of only 1.5 million people, ( comparing with Italy's 12 million, 6.0 in Spain and 3.0 in England; Even so, Lisbon became the western world new capital of wealth, "the most fabulously rich city in Europe"( P. 107/8).

It was at this moment in history, 1494, that took place the Treaty of Tordesilhas. It was meant to solve the confusion created by Cristovão Colombo after he discovered America, which Colombo thought to be India. Pope Alexander VI created an imaginary line dividing the world in two, and awarded any new lands discovered to the east of this line to Portugal and lands to the west of this line to Spain.

By the end of the 16th century Spain and Portugal became united: the king of Portugal died with no heir and the "next of kin" was the king of Spain. The first years seemed OK but soon this union proved to be a disaster for Portugal.

Portugal colonies who had became under Spanish rule lost any protection when these were subject to invasions by the English and the Dutch, enemies of Spain. Most of the Portuguese ships ( without its original crews though , for the Spanish with good reason could not trust the Portuguese to fight the English) were included in the vast 'invincible Armada" which attacked England and was completely destroyed.

The Portuguese noblemen started to lose power as government posts started to be filled by Spaniards. So when the Portuguese realized that the King of Spain was intended on making Portugal just a royal province of Spain they revolted, threw out the Spanish king's representatives and proclaimed a new King.

For centuries Portugal was an haven, the only European nation not to persecute Jews. In some parts of the world Portugal was even considered to be a Jewish State. But things changed with the introduction of the Inquisition in Spain and soon the Inquisition was introduced in Portugal, forcing most of the Jews to leave. Turkey, Rome and Holland were the main places of refuge which benefitted from this escape from Portugal who in turn lost much with their departure.

(To be followed)

(***) Último poste da série: 

18 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20664: Tabanca da Diáspora Lusófona (6): Alô, Alô, Luiz Farinha, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil!!!... Daqui, João Crisóstomo, Nova Iorque, USA...

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

carraca | s. f.

car·ra·ca
(origem controversa)
substantivo feminino
Antigo navio português de grande lotação. = CARACA


"carraca", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/carraca [consultado em 24-02-2020].

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Quem eram os "bárbaros do sul"?
Público, 9 de Março de 2007

https://www.publico.pt/2007/03/09/jornal/quem-eram--os-barbaros--do-sul-179350

De elevada qualidade técnica, os dois pares de biombos do Museu Nacional de Arte Antiga foram executados por pintores japoneses da escola de Kano, e são um precioso testemunho visual da presença portuguesa no arquipélago nipónico.

Adquiridos no Japão no século XX, contam-se entre os mais antigos exemplares conhecidos em todo o mundo. Resultantes da encomenda de senhores feudais japoneses para os seus castelos, eles retratam o comércio realizado pela Nau do Trato, o grande barco negro português que aportava ao porto japonês de Nagasáqui.

O detalhe da representação oferece imagens ímpares do comércio desenvolvido pelos namban-jin (bárbaros do sul, como eram designados os portugueses). As mercadorias, transaccionadas em diversos portos do Oriente, são aí registadas com toda a minúcia, com destaque para as sedas da China. A presença dos missionários é aí retratada, tal como o cortejo, encabeçado pelo capitão-mor, que tanto impressionara os japoneses pelo seu exotismo.

Biombos NambanJapão, Kano Naizen e Kano Domi (atrib.)
1593-1602, Período Momoyama
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
Instituto Português de Museus