sábado, 29 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20695: (D)o outro lado do combate (54): memórias do militante do PAIGC , Inácio Soares de Carvalho, cabo-verdiano, funcionário do BNU - Banco Nacional Ultramarino, em Bissau, detido pela PIDE em 1962, em seguida deportado para o Tarrafal, donde regressa em 1965, sendo colocado na Ilha das Galinhas... Liberto em 1967, é de novo preso em 1972 e 1973... Regressa à sua terra natal, em finais de 1970, afastando-se da vida política ativa... Morreu em 1994 - Parte I (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, CV)


Capa e contracapa do livro "Memórias da Luta Clandestina", de Inácio Soares de Carvalho. Foto: cortesia de Expesso das Ilhas, 30/1/2020.


1. As memórias de Inácio Soares de Carvalho já não são inéditas nesta data... O livro "Memórias da Luta Clandestina" já foi lançado, no passado dia 30 de janeiro, na Praia, capital de Cabo Verde, na Biblioteca Nacional.  

Dois meses antes, um dos filhos, Carlos de Carvalho, arqueólogo e historiador, que coordenou o projeto editorial, pediu-nos autorização para reproduzir uma foto do administrador Guerra Ribeiro, da autoria de Paulo Santiago (*). Autorizou-nos, ao mesmo tempo, a reproduzir alguns excertos daobra

Aqui vão alguns excertos das suas mensagens:


(i) sexta, 22/11/2019, 13:37


Exmo. Senhor Luís Graça

Antes de mais meus melhores cumprimentos.

Sou Carlos de Carvalho, natural da Guiné, de nacionalidade cabo-verdiana.

Estou concluindo as Memórias de nosso falecido pai, um Combatente de Liberdade da Pátria, Inácio Soares de Carvalho, de nome de luta Naci Camara, várias vezes preso pela PIDE durante o tempo que durou a luta pela independência.

As Memorias narram a vida politica dele desde 1956 a 1974.  (...)

(ii) sexta, 22/11/2019, 19:13

Caro Sr. Luís Graça,

Boa tarde.

Confesso ter ficado surpreso com sua pronta resposta. Pensava que levaria dias a me responder. Confesso também ter ficado surpreso, claro pela positiva, com o conteúdo de seu email.

É verdade que é um dever de memória resgatar parte de nossa história comum. É o que faremos publicando a obra de nosso velho.(...)

Envio em anexo, extractos do Livro para sua apreciação e com autorização de o publicar no seu/nosso blogue se assim entender. Será uma forma de divulgação do que será o livro.

Meus / nossos (da família) antecipados agradecimentos.
Carlos de Carvalho

(iii) segunda, 25/11/2019, 19:12

(...) Aceito com muito gosto fazer parte da “rede de memórias” que conseguiram criar, sem remorsos, sem ressentimentos. O passado nosso, quer queiramos quer não, foi comum. Tive a felicidade de ter estudado com muitos colegas portugueses que hoje não sei por onde andam mas que na altura éramos amigos, jogávamos à bola juntos, sem perguntarmos donde cada um vinha e quem eram nossos pais. (...)

Eu vivo na Praia, Cabo Verde, V, e sou historiador e arqueólogo de profissão. Trabalho no Instituto do Património Cultural de que fui Presidente largos anos. Faço mais é investigação no domínio da preservação do património e agora estou também me enveredando pela temática da luta de libertação. (...)


2. Na altura, escrevemos o seguinte:

Inácio Soares de Carvalho trabalhou no BNU - Banco Nacional Ultramarino, em Bissau,  até ser detido pela PIDE em 15/3/1962. Vamos publicar, em breve, um excerto das suas memórias políticas, até há pouco inédita,  com a devida autorização do seu filho, Carlos de Carvalho. 

Nasceu na Praia, foi em criança para a Guiné com os pais. Envolveu-se na luta política, filiando-se no PAIGC. Era compadre e colega de Abílio Duarte. Foi preso pela primeira vez em 1962. É deportado para o Tarrafal, donde regressa em 1965, sendo colocado na ilha das Galinhas. Em 1967, é liberto pela primeira vez. Em 1972, é de novo preso e encarcerado na 2.ª Esquadra de Bissau, sendo solto, 3 meses depois, sem culpa formada. Em 1973, é de novo preso, para conhecer a liberdade definitiva com o 25 de Abril de 1974, em Portugal. Nos finais de setenta, regressa a sua terra natal, Cabo Verde e afasta-se praticamente da vida política activa. Já faleceu. (Informações biográficas fornecidas pelo filho, Carlos de Carvalho).

Ficamos, em dois ou três, a sinopse do livro e alguns excertos.


3. Excertos do livro - Parte I

Sinopse

As « Memórias », que se traz a público, constitui o testemunho, em primeira pessoa, do combatente de Liberdade da Pátria, Inácio Soares de Carvalho (ISC),  que consagrou toda sua vida ao desígnio de ver livre suas duas pátrias, a Guiné e Cabo Verde.

Tendo nascido na cidade da Praia, foi, ainda criança, levado pelos pais para a Guiné, onde viveu quase toda sua vida.

Inácio Soares de Carvalho foi dos militantes da primeira hora da gesta libertadora dos povos da Guiné e Cabo Verde.

Milita no MLGC em 1957, Movimento que se transforma, segundo o próprio autor, nos inícios dos anos sessenta no PAIGC.

Conta que foi mobilizado, em 1956, pelo amigo e compadre Abílio Duarte, seu colega de trabalho no antigo Banco Nacional Ultramarino, na Guiné-Portuguesa.

É preso pela primeira vez em 1962.

Conheceu todas as prisões do regime salazarista na Guiné-Portuguesa: as de Bissau, Mansoa e Ilha das Galinhas.

Em 1962, é deportado para a Colónia Penal do Tarrafal.

Em 1965, regressa a Guiné e segue preso, com mais cinco companheiros, para a Ilha das Galinhas.

Em 1967, é liberto pela primeira vez.

Em 1972, é de novo preso e encarcerado na 2`ª Esquadra de Bissau. Porém, 3 meses depois é liberto.

Em 1973, é de novo preso para conhecer a liberdade definitiva com o Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, em Portugal.

Nos finais de setenta, regressa a sua terra natal, Cabo Verde, e afasta-se praticamente da vida política activa.

Após incessantes insistências dos filhos, ISC  resolve escrever suas “Memorias”, tendo-as dado por concluídas em 1992. Nelas o autor narra factos novos, desconhecidos da maioria dos militantes, pois, infelizmente, poucos foram os combatentes da clandestinidade, sobretudo na Guiné, que deixaram escritos sobre essa vertente da luta protagonizada pelo PAIGC.

A vida, em si, de ISC, do nascimento à morte, é também, como se poderá constatar lendo esta obra, o espelho da história dos povos da Guiné e de Cabo Verde.

O autor morre em Dezembro de 1994, sem ver suas “Memórias” serem do conhecimento daqueles para quem deu grande parte de sua vida.

No intuito de enriquecer a obra e melhor compreender a personalidade do homem e do político que ISC foi, os filhos decidiram publicar a obra introduzindo alguns capítulos. Assim, a obra final apresenta a seguinte estrutura: uma Nota Introdutória, onde se explica toda a história da obra; um Prefácio; os agradecimentos; um 1° capítulo, designado de Pré-luta; o 2° que constitui as “Memórias” propriamente ditas do autor; um 3°, designado de Pós-luta; um 4° capítulo denominado Depoimentos, onde são apresentados testemunhos de companheiros de luta de ISC ainda vivos e contactáveis e de pessoas que, de uma forma ou de outra, lidaram com o autor na sua vida normal e nas “coisas da luta” [1].
Índice:

i) Nota Introdutória ................................................................3-6

ii) Prefácio ..............................................................................7-8

iii) Agradecimentos ...............................................................9-11

iv) Pré-luta ...........................................................................12-23

v) Memorias de ISC ...........................................................24-185

vi) Pós-luta ........................................................................186-254

vii) Depoimentos ...............................................................255-290

viii) Anexos .......................................................................291-300

viii) Bibliografia consultada ..............................................301-302


Nota Introdutória

As « Memórias », que se traz a público, constituem a história da vida política de Inacio Soares de Carvalho, que a consagrou inteiramente ao desígnio de ver livre suas duas pátrias, a Guiné e Cabo Verde [2].

A vida, em si, de ISC, do nascimento à morte, é também, como se poderá constatar lendo esta obra, o espelho da história dos dois povos.

O autor deu por concluídas as “Memórias” em 1992.

Nelas, ele relata seu engajamento político, ainda de forma não oficial no MLGC, em 1956, através de seu compadre Abílio Duarte, até o dia 29 de Abril de 1974, dia em que os presos políticos, na Ilha das Galinhas - Guiné Bissau, receberam a notícia do golpe de estado havido em Portugal, à 25 de Abril desse mesmo ano, golpe que pôs fim ao longo período do império colonial português.

Terminada a escrita, ISC as dá aos filhos para leitura e preparação da sua publicação. Porém, estes lendo-as ficam algo “decepcionados”, pois, constataram que ISC omitiu episódios interessantes do período da militância clandestina mas, sobretudo, da sua vida política no período pós-independências da Guiné e Cabo Verde. Essa omissão não caiu no agrado dos filhos. Estes consideravam que, procedendo dessa maneira, o autor estaria, por um lado, “retirando” páginas interessantes de sua própria história e da história da luta no seu todo, o que, por sua vez, “roubaria” importância e objectivo à obra. Essa pretensão dos filhos encontrou acérrima e firme oposição do autor, aliás, espelho de seu carácter.

Mesmo vivendo já amargurado com seus companheiros de luta, opôs-se determinantemente às constantes “provocações” dos filhos, tendo ficado unicamente pelo relato dos factos vividos até a libertação das terras pelas quais lutou. Não acrescentou nem mais uma única página à história.

A posição de pai e dos filhos não se concilia. O impasse entre a contínua insistência dos filhos em fazer o autor das “Memórias” esquecer mágoas e “segredus di luta” e contar sua vida política completa, por um lado, e, por outro, a feroz resistência deste em fazê-lo, foi adiando a publicação do livro até que...ISC adoece e a degradação de sua saúde foi tão rápida que não resiste [3].

O autor morre a 26 de Dezembro de 1995/96, sem ver suas “Memórias” serem do conhecimento daqueles para quem deu grande parte de sua vida.

Com o desaparecimento do autor, o dilema continua. Ou os filhos acatam a decisão do pai e publicam as “Memórias” tal como escritas ou a obra ficava sem publicar.

Após algum período de indecisão, os filhos decidem por uma outra via alternativa, cumprindo, porém, o desígnio do pai. Decidindo publicar a obra, resolvem introduzir, em capítulos separados, os episódios vividos e não narrados pelo autor, mas que eram/são do conhecimento da família.

Toda esta situação explica o longo intervalo entre a conclusão das “Memórias” e a sua publicação.

Assim concertados e na expectativa de enriquecer a obra, se decidiu pela sua publicação com a estrutura que apresenta: uma Nota Introdutória, onde se explica toda a história da obra; um Prefácio; um 1° capítulo, designado de Pré-luta; o 2° que constitui as “Memórias” propriamente ditas do autor; um 3°, designado de Pós-luta e um 4° capítulo denominado Depoimentos, onde são apresentados testemunhos de companheiros de luta de ISC ainda vivos e contactáveis e de pessoas que, de uma forma ou de outra, lidaram com o autor nas “coisas da luta”[4].

Não tendo sido escritos pelo autor, impõe-se clarificar porque foram introduzidos o 1°, mas sobretudo o 3° capítulo do livro.

Em relação ao 1° capítulo, entendeu a família que o conhecimento da vida de ISC no “Pré-luta” faria todo o sentido, pois, as peripécias por que passou, nesse período, teriam contribuído certamente para a formação do carácter do “Homem”, o que, por sua vez, ajuda a entender sua postura na política. Assim, no capítulo, se retratou, resumidamente, a difícil vida de ISC, do nascimento até se tornar homem, ingressar no funcionalismo público ultramarino e constituir família.

Com a introdução do «Pós-luta», 3° capítulo, a família quis trazer a público parte dos episódios que ISC recusou narrar, escudando-se, como dito anteriormente, no “respeitável” “segredus di luta”. Os “segredus di luta” constituem normalmente o refúgio da grande maioria dos combatentes que resolvem deixar suas “Memórias”; este “escudo” serve, na essência, para evitar abordar episódios sensíveis passados durante a luta, para não “beliscar” ou “afrontar” camaradas, sobretudo quando estes ainda se encontram em vida.

Interessante seria se ISC contasse, nas Memorias, as inúmeras conversas tidas com os dirigentes máximos do Partido e com RB, no período pós-independência. Contadas essas conversas seriam, com certeza, um importante contributo para o conhecimento de vários episódios “obscuros” da história da luta, tais como o discurso de RB no Palácio, diante do Governador-General Spínola; o assassinato de Amílcar Cabral ou e sobretudo os desvios comportamentais do Partido, no pós-luta.

É essa “falha” que se quis colmatar, introduzindo o 3° capítulo.

O conteúdo do “Pré-luta” e do “Pós-luta” resulta das estórias contadas pelo autor e seus camaradas de luta, no seio familiar, e ao testemunho da mulher, Maria Rosa de Carvalho, companheira de todos os tempos e todas as lutas, mãe dos nove filhos de ISC.

Do ponto de vista estético, tentou-se que o livro, no seu todo, tivesse a linguagem simples que as “Memorias” propriamente ditas apresentam. De se referir que o nível académico do autor era o básico (4a classe ou 2° grau, como também era designado) que a maioria dos cidadãos guineenses podia alcançar na época.

Ao longo das narrações, o autor recorreu à constantes chamadas de atenção ao leitor para o facto de a luta de libertação não ter sido obra fácil e ter exigido muito sacrifício daqueles que nele participaram.

Em relação à este aspecto, a família decidiu não retirar as repetições precisamente para poder realçar o que o autor mesmo quis, procedendo dessa forma.

Recorrentes chamadas de atenção também foram dirigidas aos militantes de 1a hora. Estas últimas foram uma espécie de grito de desespero àqueles que “vieram do mato” no sentido de não se esquecerem de que o avanço da luta até a vitória final só foi possível devido aos enormes esforços consentidos e o inabalável empenho dos companheiros de luta na clandestinidade.

Com largos anos de atraso, eis que se cumpre o desígnio de um dos protagonistas principais da luta clandestina que foi dar (ver) a conhecer, através destas “Memórias”, o contributo duns e doutros fornecendo/disponibilizando mais elementos para o conhecimento de parte da história da luta de libertação dos povos da Guiné e de Cabo Verde.

É entendimento dos familiares que estas Memorias ou este pequeno livro, como lhe designa o próprio autor, constitui um marco, pois, crê-se ser o primeiro testemunho de quem viveu e relatou, em/na primeira pessoa, os diferentes episódios da luta clandestina do PAIGC, na Guiné, desde os seus primórdios até ao 29 de Abril de 1974, quando conheceram a liberdade os prisioneiros políticos encarcerados na Ilha das Galinhas. Os factos históricos narrados, as personagens elencadas ao longo das páginas que enformam o livro deixam pistas para uma melhor aprofundamento dos estudos da luta de libertação nacional protagonizada pelo PAIGC.

Com este “testemunho” fica o desafio à outros “testemunhos” dos protagonistas da “saga da independência”, nas diferentes frentes de luta, e à estudos mais aprofundados dos estudiosos do “processo” da independência dos povos da Guiné e de Cabo Verde. Como sabiamente afirma o autor destas “Memorias” a história da luta só seria completa com o testemunho dos que estiveram nas três frentes da luta: 1) os da clandestinidade, tanto na Guiné como em Cabo Verde; 2) os que estiveram nas frentes da luta armada nas matas da Guiné e 3) os que estiveram na sede do PAIGC, em Conakry. Só cruzando as histórias das três frentes de luta se poderia ter a verdadeira “História da Luta de Libertação da Guiné e Cabo Verde”.

(Continua)
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Notas de Carlos de Carvalho:

[1] O 1º e º 3º capítulo constituem recolhas e pesquisas efectuadas pela família junto de determinadas fontes, algumas já fora do mundo dos vivos, e das próprias vivências familiares que, querendo ou não, são partes integrantes das Memórias do autor.

No processo de recolha de Depoimentos, 4° capítulo, constatou-se que os mais velhos companheiros de luta de ISC, na clandestinidade, já não se encontram no mundo dos vivos; constatou-se ainda e com grande mágoa que a História quase que deles se esqueceu. Por isso, os entrevistados foram os que, na altura dos acontecimentos narrados, eram todos jovens: António Cabral, Brigido de Barros, Carlos (Carlitos) Barros, Constantino Costa, Mário Soares, Noberto (Kote) de Carvalho, Wladimir Brito, entre outros.

[2] Doravante encontrar-se-á também ISC, Inácio ou Carvalho,  para se referir ao autor.

[3] A família de ISC é “longevo” e ele sempre foi extremamente resistente pelo que os filhos nunca imaginaram que a doença o levaria assim tão cedo, apesar de saber das imensas torturas que sofrera nas mãos da PIDE. Terão sido, aliás, essas torturas físicas e psíquicas, sofridas nas constantes prisões, ao longo dos 12 anos de luta, que levaram ao seu “precoce” desaparecimento.

[4] O 1º e º 3º capítulo constituem recolhas e pesquisas efectuadas pela família junto de pessoas, companheiros de luta de ISC. A maioria dessas fontes não se encontra no mundo dos vivos. Foram também “recolhas” resultantes das próprias vivências / estórias passadas no seio da família.

Os Depoimentos, 4° capítulo, constituem, so por si, uma fonte importante da luta clandestina de libertação nacional.

No processo de recolha de Depoimentos, constatou-se que os mais velhos companheiros de luta de ISC, na clandestinidade, já não se encontram no mundo dos vivos. Por isso, os entrevistados foram os que, na altura dos acontecimentos narrados, eram todos jovens (António Cabral, Brigido de Barros, Caramo Sanha, Carlos (Carlitos) Barros, Constantino (Tino) Costa, Mário Soares, Noberto (Kote) de Carvalho, Wladimir Brito, entre outros). Constatou-se ainda e com grande mágoa que a História quase que deles se esqueceu.
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

16 de janeiro de  2020 > Guiné 61/74 - P20563: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (112): Vamos publicar, com a devida autorização da família, um excerto das memórias, ainda inéditas, de Inácio Soares de Carvalho, um nacionalista da primeira hora, militante do PAIGC, pai do nosso leitor (e futuro grã-tabanqueiro), o historiador e arqueólogo Carlos de Carvalho, cabo-verdiano, de origem guineense

15 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20559: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (67): pedido de autorização para uso de fotos de Guerra Ribeiro, em livro de memórias do "tarrafalista" Inácio Soares de Carvalho (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, Cabo Verde)

(**) Último poste da série >  29 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20396: (D)o outro lado do combate (53): Quando um comando das FARP, da Frente Nhacra / Morés, destruiu, em 6 de maio de 1972, o centro emissor regional de Nhacra...(Comunicado do PAIGC, em francês, assinado por Amílcar Cabral)... Afinal, a propaganda era uma arma, tão ou mais eficaz que as minas A/C, a Kalash, a "costureirinha", o morteiro 120 ou o RPG 7... Nesse aspeto, a "Maria Turra" ganhava ao "Pifas"...

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há um livro, moçambicano, com o mesmo título:

Mboa, Matias (2009), Memórias da Luta Clandestina. Maputo: Marimbique.

Carlos, qual é a editora do teu livro ? Onde encontrá-lo em Lisboa ?

Parabéns, a ti e aos teus manos, pela amor ao vosso pai e aos seus ideais. É um gesto de grande nobreza.

Mantenhas. Luis

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Parece-me que estamos perante um exemplo eloquente da repressão fascista "à portuguesa".
Tenho a ideia de que a perseguição a este guerrilheiro era mais pessoal do que outra coisa.
Ora digam mal do homem...
Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tó Zé, tanto quanto sei, este cidadão português, cabo-verdiano (como poderia ter sido transmontano ou angolano), que veio com os pais para a Guiné e trabalhava no BNU (, o tal banco emissor do nosso patacão...), meteu-se com "más companhias", o Abílio Duarte, o Rafael Barbosa, o Amílcar Cabral (será que alguma vez o viu ), o mesmo é dizer, meteu-se na "maldita política", perdeu o emprego, deixou a mulher e os filhos a morrer à fome,.. foi parar ao Tarrafal (para ser "reeducado" ?, nem isso, não havia reeducadores no Tarrafal, ao menos podíamos ter aprendido com os chineses que reeducavam / reeducam os "dissidentes"...).

O "pai da Pátria", o Salazar, o homem que nos salvou do holocausto da II Guerra Mundial, sempre nos avisou que a política só nos pode levar para maus caminhos... E quem nos avisa, nosso amigo é!...

... Enfim, tanto quanto sei, este cidadão português, de seu nome Inácio Soares de Carvalho, nunca andou no mato, de Kalashnikov russa ou de RPG 7 chinês, emboscado no baga-baga para f... o coirão a outros compatriotas, como tu e eu. Foi militante do PAIGC, como o Mário Cunhal foi militante do PCP, ou o Eusébio foi benfiquista... Passou por várias prisões (Bissau, Mansoa, Tarrafal, ilha das Galinhas...) e deve ter levado uns bons "safanões", para para dar à língua, como a gente fazia com os nossos prisioneiros...

Mas que será que alguma vez ele foi julgado e condenado ? E, se sim, que crimes cometeu este nosso compatriota?

... Verifico, por outro lado, que no final dos anos 70, talvez "desencantado" com o rumo que outros deram ao seu partido, retirou-se da política e voltou à sua terra natal... Notável é o facto dos filhos terem conseguido que ele falasse das suas memórias antes de morrer... Muitos portugueses, antes e depois dele, morreram, sem terem exercido o seu elementar "direito à memória"... Outros, pelo contrário, como os "pides", o Casimiro Monteiro que assassinou barbaramente o general Humberto Delgado, fez agora 55 anos (, em 13 d fevereiro de 1965), beneficiam do "direito ao esquecimento"...

Uma noite descansada... para ti, para mim e para todos os amigos e camaradas da Guiné...

Quantos portugueses, cabo-verdianos, transmontanos, angolanos, etc., não passaram por estes caminhos de provação, expiação e redenção ?

Antº Rosinha disse...

O final dos anos 70 foi o 14 de NOvembro de 1980, que deixou todos os caboverdeanos na Guiné desiludidos e perseguidos, que os levou a refugiarem-se na sua terra, cab'verde.

A desilusão foi tão grande que não devem ter ficado com muita vontade de escrever qualquer tipo de memórias, como este caso.

Não eram muitos, mas entre eles havia gente que não precisava que escrevessem memórias para eles, porque havia muitos que sabiam escrever bem.

No entanto poucas memórias desses militantes aparecem, a desilusão foi demais, também nas outras frentes (MPLA e FRELIMO)

Os caboverdeanos só entenderam mais ou menos os guineenses, enquanto lá esteve o "tuga" nos 500 anos antecedentes.

António J. P. Costa disse...

Camarada Luís

Subscrevo inteiramente!
Naquele tempo quem se "metesse em pelitica perdia o pãozinho dos seus filhinhos".
E era assim e isto eu não consigo explicar.

Tás a pensar cada vez melhor!...

A recusa à escrita das memórias deste e de outros deve ser um fenómeno que a "malta do psi" devia justificar e explicar. ~Mas não explica.
A mim o que faz espécie é o facto de o terem prendido tanto e durante tanto tempo e certamente nunca terem obtido elementos exploráveis na contra-guerrilha. Penso que a ideia era mantê-lo "guardado à vista" pois se saísse reincidiria nos maus hábitos e a PIDE era, essencialmente, uma "polícia de costumes". Deve ter estabelecido com ele uma espécie de cordão umbilical em que o PIDE do costume prendia ou vigiava o anti-fascista do costume, como cá também sucedia. O facto de se estar na democracia "orgânica" da Guiné explica o resto.

Bom domingo
Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...


Volta à antena para recordar o depoimento contino no blog em:
Guiné 63/74 - P12383: Memória dos lugares (257): Ilha das Galinhas em 1968 (José António Viegas).
Talvez pudéssemos começar por este camarada que até dá o QO da "Parte Militar". Haverá que localizar quem l
a prestou serviço e depois...

Um Ab.
António Costa