Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 11h11 > Baía do Porto Grande e Monte Cara, ao fundo.
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 14h45 > Praia da Lajinha, porto e Ilhéu dos Pássaros, e a silhueta da Ilha de Santo Antão ao fundo.
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 12h59 > O calçadão da Praia da Lajinha.
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 12h11 > Edifício da Câmara Municipal (trasnformado em hospital militar em 1941, com a chegada de tropas expedicionárias)
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 16h45 > Rua típica, de traça colonial, com vendedeiras ambulantes.
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9 de novembro de 2012 > Algumas das fotos do álbum de João Graça, que passou por aqui, e passeou pela "capital da morabeza", em trânsito para a Ilha de Santo Antão, com a sua banda, os Melech Mechaya, por ocasião do Festival Sete Sóis Sete Luas.
Mindelo, cidade cosmopolita com uma arquitetura de toque colonial que reflete a influência portuguesa e inglesa, é a capital cultural de Cabo Verde, a terra da Cesária Évora, B.leza, Bana, Luís Morais, Tito Paris, Bau, e de outros grandes músicos e cantores, terra da morna, da coladera, do funaná, do festival da Baía das Gatas... Terra que faz parte do imaginário da minha infância e à qual nunca cheguei a ir... Foi lá o João por mim, e pelo avô... em 2012. Espero ainda lá poder ir um dia, mesmo sem o meu pai que amou tanto aquela terra... (LG)
Fotos (e legendas): © João Graça (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Ao João,
que foi visitar o avô Luís Henriques (1920-2012)
ao Mindelo,
em 9 de novembro de 2012,
seis meses depois da sua morte.
Ouço os passos do meu avô,
arrastando as botas cardadas
ao longo do calçadão da Praia da Lajinha.
E, mais atrás, vislumbro
a sombra frágil do seu impedido, o Joãozinho,
que há-de morrer, meses mais tarde,
por volta de junho de 1943.
De fome. Da grande fome.
Ouço a voz do dr. Baptista de Sousa,
diretor do hospital:
- Então, ó nosso cabo,
há quantos meses é que estás na ilha ?
- 26 meses, meu capitão.
- Eh!, pá, estás farto de engolir pó,
vou te já mandar p'ra casa!
Ouço o meu avô falar, em verso,
em certas noites de luar,
com o Monte Cara,
a Baía do Porto Grande,
e o Ilhéu dos Pássaros.
Ouço o meu avô perguntar
ao Fortunato Borda d'Água
enquanto lhe escreve mais uma das suas cartas
às suas namoradas:
- Ó Fortunato, afinal, de quem é que tu gostas mais ?
Da que ri ou da que chora ?
Vejo uma multidão de gente,
portugueses, africanos, ingleses,
erguer-se do Monte Verde,
abraçar a ilha
e cantar uma morna
à doce e mágica cidade do Mindelo.
Luís Graça
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "A antiga cãmara [municipal] de Mindelo que hoje é hospital de soldados. Julho de 1942. Luís Henriques". [É hoje de novo, o edifício da Câmara Municipal do Mindelo]
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Hospital de São Vicente, fundado em 1899, no reinado do Rei Dom Carlos I (1889-1908). Foto do álbum do expedicionário, 1º Cabo Luís Henriques, nº 188/41. Foto; arquivo da família
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Título de caixa alta do “Diário
de Lisboa”, 3 de setembro de 1945.
7. Continuação da "história de vida" de Luís Henriques (Lourinhã, 18/8/1920 – Atalaia, Lourinhã, 8/4/2012), conhecido popularmente na sua terra natal como "ti Luís Sapateiro": “Morreu o Luís Sapateiro (1920-2012), uma figura muita popular e querida da nossa terra”, lia-se no jornal “Alvorada”, Lourinhã, nº 1103, 20 de abril de 2012, p. 26.
Recorde-se que, aos 13 anos, por volta de 1933/34, o meu pai terá uma nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco José de Sousa Jr. (de alcunha, “Fofa”), industrial de sapataria e músico, membro da então Banda dos Bombeiros Voluntários da Lourinhã ( atual Banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cujo presidente da direção é um seu neto, Paulo José de Sousa Torres). E é na empresa do tio, na Rua Grande (R João Luís de Moura) que aprende o ofício de sapateiro, que era a sua profissão antes da tropa.
Mas, no verão de 1945, ainda voltará a ser “chamado para a tropa”, para se integrar no desfile das forças expedicionárias portugueses que se iriam juntar às brasileiras, em Lisboa, em 3 de setembro de 1945. (Não sabemos se chegou a participar nesse desfile, uma vez que entretanto partiu uma costela quando estava no quartel.)
Recorde-se este episódio, documentado em filme da então SPAC –Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográfcias, documento hoje guardadoCinemateca Nacional:
(...) No dia 2 de setembro de 1945, aporta ao estuário do Tejo o navio “Duque
de Caxias”, levando a bordo um regimento composta 162 oficiais e 1.636
sargentos e soldados, parte da FEB (Força Expedicionária Brasileira) que lutara
na Itália, integrada no exército dos Aliados,
na segunda guerra mundial,
vem do porto de Nápoles com destino
final ao Rio de Janeiro .
No dia seguinte, 3 de setembro de 1945, o Exército Português recebe os
bravos militares brasileiros com um
desfile que envolveu mais de 14 mil soldados, viaturas militares de diversos
tipos, das armas de infantaria e cavalaria. A Força Aérea, voando
sob os céus de Lisboa, associou-se ao
evento. Milhares de pessoas assistiram entusiasticamente ao desfile.
O regimento expedicionário brasileiro desfilou igualmente, saindo do
Terreiro do Paço, passando pela Rua
Augusta, Rossio, Praça dos Restauradores, e subindo a Avenida da Liberdade até
chegar a Praça do Marques de Pombal. Aí o general António Óscar Fragoso
Carmona, presidente da república portuguesa, condecorou a bandeira do batalhão
de infantaria da FEB com a Medalha de Valor Militar em grau de Ouro, a mais
alta condecoração portuguesa.
O “Diário Popular”, desse dia, referiu-se ao evento, em título de caixa
alta como “uma epopeia jamais vista em terras lusitanas”. O “Diário de Lisboa”,
por sua vez, sublinha que “as tropas brasileiras (…) causaram esplêndida
impressão e foram muito aclamadas”.
À noite, houve jantar com fados para oficiais e sargentos, portugueses e brasileiros, em locais diferentes. Na Feira popular, militares e civis se misturaram numa confraternização raramente vista em terras lusitanas. (...)
Foto: arquivo da família.
Luís Henriques casa, entretanto, em 2 de fevereiro de 1946 com a Maria da Graça, natural do Nadrupe, criada de servir de senhores e senhoras de Lisboa, da Praia e da Lourinhã, desde tenra idade. Namoravam-se há já uns anos, ainda antes da tropa. [Foto à direita].
Ela era filha de Manuel Barbosa, natural do Nadrupe, e de Maria do Patrocínio, natural da Lourinhã. O apelido Graça não é de família: ela nasceu no dia 6 de agosto, dia da festa da padroeira da terra, a N. Sra. da Graça… A última (ou uma das últimas senhoras) onde ela serviu, foi a dona Rosa Costa Pina, professora primária, oriunda das Beiras.
Lourinhã, jardim da Senhora dos Anjos, c. agosto / setembro de 1947: eu, aos 8 meses, ao colo da minha mãe, Maria da Graça (1922-2014) e ao lado do meu pai, Luis Henriques (1920-2012).
A 29 de janeiro de 1947 nasci eu. E 18 meses depois, a Graciete (que riá casar com o Cristiano Sardinha Mendes Calado, Alter do Chão, 19/1/1941- Lourinhã, 21/5/2021).
(Continua)
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