1. Mais um "postal" enviado pelo nosso (e)terno viajante António Graça de Abreu, em 10 de abril de 2025, 02:36. Publicado originalmente na sua página do Facebook em 25 de fevereiro de 2025, 17:52
Uma curta semana em Nova Iorque. Tentar, de pés bem assentes no chão, avançar na descoberta e leve entendimento da cidade.
Pela primeira vez metido lá dentro, em Manhattan, rua 46, um pequeno apartamento alugado, segundo piso numa vetusta construção de cinco andares entre arranha-céus. Logo por baixo, fumega um restaurante de churrascos argentinos, largando um cheiro a parrilhadas de carne magra e gorda que tresanda.
Ah, mas estou no coração da Big Apple. Aqui a norte, o Central Park -- um abraço a John Lennon, homem de todas as canções, de todos os sonhos --, ao lado Times Square e a Broadway, o excelso melting pot norte-americano, a Quinta Avenida, a ostentação e o luxo, o teatro das gentes.
Foram quilómetros e quilómetros a pé, por ruas e avenidas até ao sul de Manhattan. Chelsea, Tribeca, a Chinatown com estátuas de Confúcio (551 a.C - 469 a.C.) e Lin Zexu, o herói da Guerra do Ópio, em 1839/42.
Mais a sul, tristeza, o memorial às vítimas dos aviões loucos que em 2001 colidiram deliberadamente com os dois edifícios do World Trade Center, provocando quase três mil mortos. Hoje a construção toda em vidro com nome de One World, levantado sobre as ruínas dos dois World Center é o sétimo maior arranha-céus do mundo, com 540 metros de altura e 104 andares. Não longe, Wall Street, e anexos, a exaltação do dinheiro, o maior centro financeiro do mundo.
Desta parte da Lower Manhattan se viaja no itinerário curto por barco para a ilhota onde se ergue a Estátua de Liberdade, com paragem em outra pequena ilha, Ellis Island. Aqui se procedia no passado à quarentena e exame médico dos pobres emigrantes europeus que buscavam a América na ilusão da terra do feliz concretizar de todos os sonhos. E quanta tragédia e vilania.
Ah, Nova Iorque tem tudo. Vêmo-la quase todos os dias entrando em nossas casas, com infindáveis histórias na TV. Temos o embeber das aventuras das quatro desvairadas mas brilhantes mocetonas do “Sex and the City”, os intrincados enredos nova-iorquinos de Woody Allen, quase nada e tudo “once upon a time in America.”
Sim, mas os museus de Nova Iorque com tanta Europa transplantada lá para dentro, (o dinheiro compra quase tudo). Que maravilha! A lenta passagem pelo Metropolitan Museum of Art, o Guggenheim, o MoMA e a Frick Collection.
Fotografando e tomando notas do genial abrir da cor dos pincéis, dos encantos mil, do requintado alvoroço, corações batendo, o baloiçar do olhar. Escrevi:
- El Greco em Toledo, águas negras do Tejo, prata pendurada nas nuvens,
- Velasquez, o retrato da infanta triste, no rosto, maçãs róseas de futuro,
- Breughel, o Velho, as ceifeiras crescendo no ouro ondulante das searas,
- Vermeer, um beijo na menina sem brinco de pérola, um sorriso iluminando o mundo,
- Goya, gatos, pássaros e a criança imaculada como o nascer do dia,
- Ingres, a duquesa azul, formosa e serena, uma deusa no céu,
- Cézanne, no vale do Oise, pintando o chilrear dos pássaros,
- Van Gogh nos trigais de Arles molhando os pincéis no orvalho das nuvens,
- Renoir, as crianças azuis com o sol poente embalando a lua,
- Picasso, as mãos no decote das meninas de Avignon, não disse nada, pintou tudo,
- Modigliani, as mulheres nuas, sinuosos querubins, a dádiva, o prazer,
- Gauguin, o sol quente entrando por dentro do mar, gáudio no rubor das ondas,
- Chagall, o violinista verde e roxo, um sapato preto, outro branco, até um homem voa,
- Warhol e Marilyn, a boca entreaberta, um ícone, o desenho dos deuses.
Frank Sinatra e Lizza Minelli, ainda com memórias de Leonard Bernstein, entoando loas a Nova Iorque. Assim:
If I can make it there,
I'll make it anywhere,
Come on, come through,
New York, New York.
António Graça de Abreu
(Revisão / fixação de texto, edição de foto, links, itálicos e negritos, para efeitos de publicação no blogue: LG)
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Nota do editor:
Último poste da série > 11 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26907: As nossas geografias emocionais (51): Jerusalém, Israel (António Graça de Abreu, Cascais)
3 comentários:
Esse mundo louco que a civilização europeia inventou, de um dia para o outro, deixou meio mundo desnorteado, principalmente na desnorteada américa latina.
Criança latino-americana que não visse disneylândia não é gente.
Daí aquela invasão que trump quer combater, actualmente.
Foi uma verdadeira colonização que até a Europa foi atingida.
Só gosto de filmes de cóbois!
Só Fidel e Salazar, disseram não à cocacola!
A mais brilhante, poética e sintética apresentação da pintura europeia a ver em Nova Iorque... que eu até agora li. Obrigado, António.
Também eu fui a Nova York. Muitas e variadas vezes. De seis em seis dias, 2 ou mais grupos de combate da guarnição militar de Cuntima saíam por períodos de 48 horas. No regresso e quando estávamos perto do arame farpado essa era uma das minhas costuma das observações. Chegámos a Nova York.
O resto fica para a vossa imaginação duma realidade que também vos obrigaram a viver.
Grande abraço
Eduardo Estrela
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