sexta-feira, 2 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24361: FAP (126): A que altura (quantos pés) voava a DO-27 quando fazia de PCV (Posto de Comando Volante)? (Fernando de Sousa Ribeiro)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Pista de Bambadinca... Ao fundo, o muro do cemitério... Uma DO-27 na pista... 

Era uma aeronave que  adorávamos  quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso, nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... 

Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes militares, bem como dos civis)... 

Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela...

Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os infantes, um "ódio de morte" (sic) quando se transformava em PCV (posto de comando volante) e o tenente coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante,  ou o major de operações,  ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato...  Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a Maria Turra... "Cabr..., filhos da p..., vão lá gozar pró c..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos corn...".

Também os nossos comandantes operacionais (capitães QP ou milicianos) não gostavam nada do "abelhudo" do PCV, em operações no mato...

Foto do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

.

Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, 
CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
 membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780


1. O nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro levantou uma questão que não é de lana caprina (*):

O que é de cabo-de-esquadra é o PCV, que eu tive que ir verificar do que se tratava, porque em Angola não havia disso.

É o cúmulo "comandar" uma operação a partir de um avião! Mas que diabo de ideia! Toda a gente que estivesse num raio de muitos quilómetros ficava a saber onde é que a tropa andava, o que destruía por completo uma das regras básicas da guerra de guerrilha, que é o fator surpresa. 

Os "brilhantes" cérebros militares não sabiam disso? Está visto que a guerra na Guiné era uma guerra rica, pois até majores e tenentes-coronéis passeavam-se em aviões, enquanto a carne-para-canhão morria ou ficava estropiada cá em baixo por culpa deles.

Para abater um DO-27 não eram precisos "strelas". Uns tiros de AK-47 bem apontados ao depósito de combustível ou à hélice do avião deitá-lo-iam abaixo, a menos que este voasse a mais de 300 ou 400 metros de altura, fora do alcance das espingardas, ou então que voasse muito baixinho, a roçar as copas das árvores. 

Portanto, aqui deixo a minha dúvida: a que altura é que os PCV costumavam voar?

2 de junho de 2023 às 02:04  (*)


2. Comentário do nosso editor LG:

Boa questão, Fernando... O "hino da CCAÇ 12", da época de 1971/72, que iremos publicar à parte, é uma paródia da cantiga do "tiro-liro-liro", mais uma bela peça do nosso humor de caserna  lá em cima o senhor major, no PCV ("posto de comando volante") e cá em baixo a "tropa-macaca"... 

Lá em cima anda o Heli-Canhão
Cá em baixo anda a 12 e anda o Xime. (...)

Juntaram-se os três numa operação
Lá para os lados do Poidão
Correu tudo que nem um mimo! (...)

Major... ó meu Major
Ora diga lá agora o que é que quer. (...)

Ora essa continuem cinco minutos,
não precisam que vos peça.
Continuem... ora essa! (...)

Comandante... ó meu Comandante
Estamos fritos, estamos agora a embrulhar! (...)

Tenham calma... tenham calma e não pensem
que eu daqui não vos estou a ajudar. (...)

Contra os canhões sem recuo...
VAI TU!

No sector L-1 o comando dos batalhões usavam e abusavam do PCV... "Para mostrar serviço" aos senhores de Bissau... Nunca dei conta que tenham sido úteis, bem pelo contrário..

Os pilotos de DO-27 podem dizer-nos a quantos pés costumavam voar em operações como PCV ? Vamos lá perguntar aos camaradas da  FAP. (**)
___________

Notas do editor:


5 comentários:

Carlos Vinhal disse...

Se se quiserem rir um pouco, e a propósito dos PCV, (re)leiam este poste do nosso Cap Mil Jorge Picado Guiné 63/74 - P5339: Estórias de Jorge Picado (10): Como fui a Fátima a pé, comandando a CART 2732
Também fui um dos intervenientes, embora não apercebesse da situação uma vez que a minha secção fechava o GRCombate.
Carlos Vinhal

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Acabo de colocar esta questáio do Miguel Pessoa, um dos nossos "her´pois dos céus da Guioné", hoje coronel pilav ref... Ele diz-me que a DO27 no apoio às tropas terresters e como PCV andavam e,m geral a 1500 pés... Façam as conats;:

1500 ft x 0.3048 m = 457.2 m

Era a ideia que eu tinha... 400 / 500 metros no máximo... A DO-27 vinha cá mais abaixo quando fazia fogo... Com o Strela, em março de 1973, acabou-se este tipo de apoio aos infantes... A D0-27 e o T-6 tinham que voar acima dos 10 mil pés ou então rente à copa das árvores...

Gil disse...

Em Maio de 65, vim numa Dornier de Cuntima para Bissau. Fizemos escala em Farim. No campo onde aterrámos vi o Cmdt. do BCav 490, tenente-cor. Fernando Cavaleiro, pedir ao piloto, tenente Lemos (já lá vão muitos anos mas julgo que se chamava Lemos), que sobrevoasse Canjambari (o 490 tinha acabado de ocupar a povoação) e largasse o correio e, logo a seguir, apareceu um soldade com um saco de pão acabado de sair do forno e pediu que largássemos também o saco. Entretanto por uma das portas laterais do aparelho entrou uma maca com um africano com uma perna entrapada, ar de sofrimento, casaco ou dólman verde escuro e um cabo maqueiro, julgo, com um frasco, talvez de soro. O piloto entregou ao camarada que ia sentado ao lado dele, o ten. capelão Serafim Alves da Gama. E aí fomo nós sobrevoar Canjambari. Instruções dadas pelo piloto, o capelão com o saco do correio e eu com o do pão. Depois de duas ou três voltas em cima de gente que se movimentava lá em baixo o piloto baixou e deu ordens p+ara lançarmos os sacos. Depois aconnteceram várias coisas, quase tudo ao mesmo tempo, o Dornier abanou, para cima e para baixoe de um lado para o outro, gritaria dentro do aparelho, o saco do pão fiquei com ele nas mãos, barulhos de vento a rasgar a fuselagem...o africano não parava de gritar, momentos depois o piloto confirmou que tínhamos sido atingidos, que não lhe parecia que tivéssemos problemas em regressar. Vi-o a contactar a BA 12, minutos depois 2 T6 apareceram e logo a seguir um heli. E acabou assim esta história. Ah, falta acrescentar que o ferido, guerrilheiro do PAIGC, tinha sido o único atingido pelos disparos dos seus camaradas.

V. Briote
Jan1965/Jan67

Tabanca Grande Luís Graça disse...

E esta, hem?!... Virgínio, és sempre bem vindo!... Mas parece que não ganhaste para o susto dessa vez, não queria estar no teu lugar...

A única vez que apanhei uma boleia de DO-27, para dar um salto a Bissau (já não sei para fazer o quê, talvez para ir apoanhar o avião da TAP e ir de férias...) tive que ceder o lugar a uma mulher africana que chegou, de emergência, gravidíssima...

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Também cantei o Hino da CCaç 12. Era uma maneira de a gente se rir.
Tive o Cmdt a voar por cima de mim, demasiado baixo e a perguntar onde que eu estava. Daí resultava que o ouvia mal e ele denunciava a minha posição mesmo nas imediações da aldeia do "insidioso". Pedi-lhe que saísse dali e enviasse o heli-canhão uma vez que ia fazer o assalto. Para o elucidar e satisfazer a sua intensa curiosidade de saber onde eu estava atirei uma granada incendiária para a primeira cubata. Depois foi em linha. Só que, embora o acampamento In estivesse a ser incendiado, eu não estava no "objectivo". Ele queria que eu fosse mais para o lado do Corubal o que (como era de calcular) era difícil uma vez que no meio do mato (malandro) era impossível saber onde era o tal Corubal. Não restam dúvidas de que fui mal conduzido.
Dias depois fiz eu um reconhecimento e lá vi o tal objectivo. Três semanas depois lá fui de novo agora mais orientado. Chovia e por isso foi difícil incendiar o outro objectivo, uma vez que não me foram fornecidas as granadas incendiárias que pedi...
Enfim, fiz o que pude e subitamente fui alertado para duas instalações do In que eu estava a deixar para trás... Ainda hoje eu e o piloto quando nos encontramos, nos rimos da situação. As tais "instalações" eram dois locais de culto do iran que deitámos abaixo a pontapé.
Enfim, não posso dizer que o meu Cmdt tivesse jeito para fazer PCV mas, sem treinasse, poderia vir a ser um grande especialista...
Um Ab. e bom domingo
António J. P. Costa